In Love With Her escrita por naty


Capítulo 18
Karina


Notas iniciais do capítulo

capítulo revisado e reeditado em 20/07/2017

heey girls! I'm back and I'm gay!
ok, agora algo que vcs não saibam né?
hehehe espero que gostem...



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EDUARDA

 

Eu estaria mentindo se dissesse que já estava preparada para o que vi. Porém, eu já esperava algo do tipo, mas minha irmã provavelmente nem sonhava. A sua cara de espanto seria cômica não fosse a situação em que nos encontrávamos.

—- Ka-ri-na! – respondeu a mulher alta e bonita parada no batente da porta do quarto de Márcia

Sim, era uma mulher quem eu via ali, nem de longe se parecia com o garoto magricela que tinha saído de casa quando eu tinha 12 anos. Eu sabia que quando nos encontrássemos ele estaria muito diferente...

ELA, Eduarda! Você não está vendo um homem, e, sim, uma mulher! Acostume-se com a ideia de ter duas irmãs – falei mentalmente

—- Nossa! Tá vendo como são as coisas, Marcinha? A gente fica cinco anos fora e quando volta nem um "oi" recebe!

Não esperei a resposta de Márcia, fui até a minha irmã e a abracei com toda a força que tinha, recebendo seus braços me apertando em resposta.

Até aquele momento eu não tinha percebido o quanto Diogo me fez falta nesses cinco anos. Agora ele tinha voltado como Karina, e eu esperava que não fosse embora de novo tão cedo.

—- Que saudades, maninha! Olha como você cresceu, garota, tá do meu tamanho – falou, ainda me abraçando.

—- Eu também senti muita saudade de você e só percebi isso agora - eu já me segurava para não deixar nenhuma lágrima escorrer

—- Não importa – disse me soltando aos poucos – Agora eu estou aqui e estou esperando um abraço de outra pessoa

—- Jéssica, cadê os modos? – perguntei

—- De-desculpa! Só tô... Tentando entender ainda... Co-como v-você ficou er... Assim? – disse indicando o corpo feminino a sua frente e fazendo Karina rir

—- Não precisa ficar embaraçada... Chamei vocês aqui pra isso, vou explicar tudo que vocês quiserem saber, eu sei que deve ser muito confuso tudo isso. E também quero saber de vocês, quero os mínimos detalhes de tudo que aconteceu nesses últimos anos – falou nos puxando para o sofá e sentando-se ao meu lado.

—- Se você queria tanto assim saber da gente, porque nem ao menos ligou durante todo esse tempo? Custava tanto assim pegar a droga do telefone? – perguntou Jéssica com uma expressão magoada que me cortou o coração, seus olhos já se encontravam marejados como os meus

—- Gente, vou dar um pouco de privacidade para vocês, se precisarem de mim, estarei na cozinha – falou Márcia retirando-se

—- Jéssica, não houve uma só semana que eu não liguei pra casa tentando falar com vocês duas. Mas parece que vocês é que não queriam falar comigo... Toda vez que eu ligava vocês estavam ocupadas demais para me atender – explicou Karina

—- Do que você está falando, Dio- Karina? – perguntei confusa – Eu nunca recebi notícia de uma ligação sua. Eu perguntava para a mamãe, mas ela sempre me disse que você estava ocupado demais e que não podia ligar, e foi assim até eu desistir de tentar entrar em contato com você.

—- Duda... Eu sei que vocês provavelmente não vão acreditar em mim, mas a mamãe mentiu, eu sempre procurei por vocês, e ela ou o papai diziam para eu parar de ligar, pois vocês não queriam falar comigo, mas eu não parei de ligar, Duda... O número lá de casa mudou misteriosamente assim que eu fui pra São Paulo, mas eu ligava sempre para o celular da mamãe. Eu não desisti... até conseguir o número do seu celular com a Márcia.

—- Porque ela mentiria, Diogo? – questionou Jéssica

—- Eu... É complicado, Jéss, eu não sei se posso explicar isso para vocês agora.

—- Entendo... – respondeu seca, demonstrando não acreditar em uma só palavra que Karina dissera.

Eu permaneci calada, sem saber o que pensar naquele momento, quanto mais falar alguma coisa. Eu estava confusa, nada se encaixava naquela história. Ao fundo, eu ainda podia ouvir Jéssica e Karina conversando, a primeira tentando repelir a segunda a cada explicação dada, a cada pedido de desculpas. Eu precisava entender o que estava acontecendo. Eu precisava saber de algo coerente para ter o que pensar a respeito.

—- Por que você foi embora? – perguntei baixo, me direcionando a Karina, que de primeira não me escutou, então repeti a pergunta

—- Eu... Tive que me mudar para estudar

—- Karina, por favor... Eu preciso saber a verdade – pedi, olhando-a nos olhos

—- Papai me expulsou quando soube que eu estava namorando um garoto do meu curso – disse com a cabeça baixa

—- Te-tem certeza que foi por isso? Não houve nenhum outro... motivo? – perguntei, com medo da resposta

—- Não, Eduarda, o único motivo de eu ter saído de casa quando completei o Ensino Médio foi a homofobia do papai, ou melhor dizendo: a transfobia dele. O tão bondoso senhor Antônio Ribeiro me disse que não queria um viadinho nojento debaixo do teto dele. Depois disso, a minha única alternativa foi arrumar minhas coisas e me mudar para São Paulo, e o tio Bê me deu uma força por um tempo até eu conseguir um emprego - tio Bê era o irmão mais novo da mamãe

—- Não, o papai não faria isso... Ele sempre foi tão bondoso e compreensivo, tenho certeza que um filho gay não seria motivo para ele expulsar alguém de casa – eu repetia, tentando convencer a mim mesma, eu não poderia acreditar que o homem que me criara seria capaz disso.

Eu tentava, de alguma forma, me assegurar que não aconteceria a mesma coisa comigo...

—- Eu disse que ele... Ou ela, estava mentindo, Duda, o papai nunca faria isso com alguém – falou Jéssica.

—- Jéss... – falou Karina com uma voz entristecida pela rispidez com a qual era tratada pela irmã mais nova – Eu não posso te obrigar a acreditar no que eu falo ou mesmo me aceitar como eu sou, isso tem que ser uma iniciativa sua... Agora você, Duda, já tem mais discernimento e maturidade para lidar com essa situação, por mais complicada que possa ser, eu sei que lá no fundo, você sabe que o que eu digo é verdade. E outra coisa, eu sou hétero, a minha expulsão não tem a ver com a minha orientação sexual, mas com minha identidade de gênero.

—- Desculpe, eu estou meio perdida com isso tudo e apesar de saber que você não mentiria sobre algo tão grave, ainda é difícil digerir o que você acabou de dizer sobre o papai.

—- Eu sei, e você precisa de tempo para pensar sobre isso, então, podemos ir à próxima pergunta? – perguntou com um sorriso um pouco forçado, mas demonstrando que continuaria a tirar nossas dúvidas.

Aos poucos, eu percebi que Jéssica começava a baixar um pouco a guarda com relação a Karina, que visivelmente se alegrava por isso. Conversamos bastante, nos atualizando sobre o que aconteceu durante o tempo em que estivemos separadas.

—- Karina, posso te fazer uma pergunta? – perguntou Jéssica de repente.

—- Claro, maninha, pergunte o que quiser

—- Não precisa responder se não quiser, ok? – falou, e Karina assentiu – Eu sei que você gosta de homens, isso eu já entendi, mas... Porque você se veste de mulher? – perguntou meio receosa, e confesso que eu também gostaria de saber a resposta para aquela pergunta.

Foi difícil de admitir para mim mesma, mas eu sempre senti atração por garotas. Eu sempre ignorava aquilo como se não fosse nada demais, mas cheguei a um ponto que até a cegueira que me forcei a ter para não admitir que sou homossexual, não bastava mais.

Quando conheci a Manuela, tive plena certeza de algo que eu já sabia, porém, não queria aceitar. Ela me arrebatou de uma forma que eu não tinha mais como mentir para mim e para os outros: eu sou lésbica.

Eu entendia muito bem o que implicava ser homossexual, mas não conseguia entender direito por que meu irmão decidiu começar a se vestir como mulher. Eu sou lésbica, mas nunca senti vontade de me vestir ou de agir como um homem.

Prestei bastante atenção na explicação de Karina para a pergunta de Jéssica, pois também queria entender.

—- Jéssica... Não sei se você vai entender, mas a resposta na verdade é bem simples: eu me sinto uma mulher, estou satisfeita com o meu corpo atual. Eu me visto como uma mulher porque me identifico como uma. Eu sou uma mulher. Veja bem, nem todo homossexual sente essa necessidade de ser como o sexo oposto, mas algumas pessoas sentem-se melhor assim que de outra forma, e você não deve julgar essas pessoas. É diferente para cada indivíduo em si, mas eu, Karina, sou transexual, identifico-me como sendo do sexo feminino e, como disse antes, eu sou hétero! Sabe por que? Se eu sou uma mulher e me sinto atraída somente por homens, o caminho mais lógico é dizer que não sou gay – explicou

—- Entendi – falou Jéssica de forma pouco convincente

—- Entendeu mesmo ou eu só te confundi mais ainda? – perguntou, divertida

—- Acho que um dia eu entendo – falou Jéssica

—- E você, Duda?

—- E eu o quê?

—- Pergunta logo, garota... Pode ir falando, eu sei que você quer me perguntar algo

—- Eu... er... o que você quis dizer com “eu sou do sexo feminino”? – perguntei somente para confirmar, pois já sabia a resposta

—- É isso mesmo que você está pensando, Duda, eu sou operada, nunca me senti como um homem, portanto, não fazia sentido eu continuar vivendo como um. Mas não pense você que uma pessoa trans só é do gênero com o qual ela se identifica depois que faz a readequação de gênero. Eu não preciso ter um pênis ou uma vagina para ser homem ou mulher, porque quem eu sou independe do que eu tenho entre as pernas – falou

Balancei a cabeça em sinal afirmativo, e logo mudamos de assunto, uma vez que Jéssica parecia não se sentir muito confortável com aquele.

Márcia chamou-nos para jantar depois de cerca de duas horas batendo papo e rindo com minhas duas irmãs. Eu senti muito a falta de momentos como esse, em que nós três nos reuníamos. Provavelmente era algo novo para Jéssica, já que ela só tinha oito anos quando esses momentos foram tirados de nós três.

Sentamo-nos à mesa já posta pela dona da casa e jantamos em clima de descontração e brincadeiras, a conversa tensa de mais cedo foi deixada de lado. Jéssica e Karina não demoraram muito para entrarem em sintonia e começarem a implicar comigo.

—- Jéssica, me conta uma coisa... A Duda ainda tem aquele cachorro de pelúcia que ela falava que era filho dela? – perguntou Karina

—- Não se atreva! Eu te bato se você disser alguma coisa – falei para Jéssica

—- Pode falar, Jéss, eu não vou deixar ela te bater

Apenas recebi um olhar divertido da minha irmã antes de a traidora abrir a boca e me entregar

—- Se ela ainda tem aquela coisa velha e remendada? Se você for lá em casa agora, vai achar ele bem em cima da cama dela, ela dorme com ele do lado do travesseiro

—- Não acredito, Eduarda! Não tem vergonha na cara, não?

—- Ai, dá pra parar de me encher o saco? Que coisa, vamos comer, por favor? – pedi, fazendo com que os três rissem ás minhas custas

—- Humm... Márcia, você cozinha muito bem. Diferente de algumas pessoas – falou Jéssica, me alfinetando. Recusei-me a responder, apenas mostrei-lhe a língua

—- Lindos modos à mesa vocês duas têm – comentou Karina ironicamente

—- Obrigada, Jéssica, sempre que quiser pode vir aqui que eu cozinho pra você... E digo o mesmo para você, Dudinha, se quiser provar da minha comida, eu faço com muito prazer – falou, me olhando de forma maliciosa.

 

Que descarada! Agora até na frente das minhas irmãs? A Márcia já estava passando dos limites

 

—- Acho que vou comer aqui toda vez que a mamãe não estiver em casa então – falou Jéssica, alheia às provocações da mulher mais velha

—- Pode vir sempre que quiser – repetiu Márcia

Passei o restante do jantar calada, envolta em meus próprios pensamentos. A maioria girava em torno de uma baixinha linda, de olhos azuis a quem eu amava mais a cada dia. Manuela tinha que conhecer Karina, as duas se dariam muito bem. E minhas irmãs teriam que saber mais cedo ou mais tarde que eu estava namorando uma garota.

—- Ok, quem vai lavar a louça? A Márcia já fez o jantar, então vocês duas: uma lava, e a outra, seca! – falou Karina de forma autoritária

—- Ah, claro, e a senhorita vai fazer o quê, posso saber? – perguntei

—- Eu? Nada, talvez assistir um pouco de TV, vocês não precisam da minha ajuda para lavar a louça, precisam? – respondeu cinicamente

—- Não se incomodem, garotas, eu lavo a louça, adoro fazer isso. Vão curtir um pouco mais a companhia de uma irmã folgada que vocês têm – falou a professora de Biologia

—- Sendo assim, a Duda vai te ajudar, eu ainda tenho muitas perguntas para a minha mais nova irmã – falou Jéssica

—- Se não sabe, eu tenho vinte e dois, maninha, o que me torna bem mais velha que você – respondeu Karina, e as duas foram para a sala.

—- Bem, parece que sobramos nós duas - disse Márcia.

—- É o que parece – respondi, juntando os pratos que estavam sobre a mesa e levando-os para a pia, dando as costas para ela enquanto começava a lavá-los em silêncio.

Assustei-me quando senti lábios em meu pescoço e mãos em minha cintura.

—- Mas que..? – perguntei, desvencilhando-me de Márcia

—- Você é tão cheirosa, Dudinha – falou, me olhando - E tem um corpo maravilhoso, sabia?

—- Márcia... por favor! Eu sou sua aluna, e, acima de tudo, somos amigas, então controle-se – falei irritada

—- Por que, Duda? Eu não consigo controlar, você é tão linda – falou, aproximando-se novamente, e eu me afastei mais um pouco – Eu sempre gostei muito de você, mas de uns tempos para cá... Você está mexendo demais comigo

—- E-eu tenho namorada, Márcia! E não se faça de boba, porque eu sei que você sabe disso.

—- Eu não tenho ciúme daquela biscatezinha! Acha que só porque já chegou na escola se assumindo que ela pode ter você?

—- Olha como fala da Manuela! – irritei-me, quem ela pensava que era para ofender a minha namorada?

—- Me dá um beijo, Duda, só um beijo e você vai ver o que é estar com uma mulher de verdade e esquecer daquela garota

Ia respondê-la, mas ela foi salva pelo meu celular, que começou a tocar naquele momento. Olhei o visor e saí dali nervosamente, indo em direção à pequena varanda que havia no quarto de Márcia.

 

 

—- Alô

—- Oi amor, tudo bem aí?

—- Claro, meu anjo, tá tudo bem, sim— não tinha por que eu contar para Manu e deixá-la zangada com aquilo, eu mesma colocaria fim às insinuações e investidas de Márcia – E você, como está?

—- Bem também— percebi sua voz meio anasalada e desconfiei um pouco

—- Tem certeza, amor? Parece que você andou chorando— falei preocupada

—- Agora tá tudo bem, sim, eu apenas estava me lembrando de algumas coisas mais cedo e acabei pegando no sono, acordei agora, acredita?— falou rindo nervosamente, eu sabia que ela não estava me contando tudo

—- Mas é muito preguiçosa mesmo, né?— desviei um pouco do foco do assunto, depois conversaríamos melhor

—- Claro! Não tinha ninguém aqui para me manter acordada, sabe...— falou provocantemente

—- Mas cadê a sua namorada que não estava aí?— entrei no jogo

—- Ah, ela teve que ir resolver algumas coisas, e eu fiquei aqui sozinha

—- Você tem que rever isso aí, moça. Que namorada é essa, que não te dá atenção?

—- Pra você ver, né? Acho que vou disponibilizar vagas para namorada suplente. O que acha?— perguntou, e eu quase podia ver uma de suas sobrancelhas erguida, deixando-a ainda mais linda

—- Onde eu me inscrevo?

—- Aqui, na minha casa mesmo, te passo o endereço depois

—- Claro! E tem taxa de inscrição?

—- Vem aqui, e a gente combina o preço— agora eu podia vê-la piscando um olho charmosamente

—- Amanhã passo aí pra acertar então— falei rindo

—- Combinado! Agora, mudando de assunto... como estão as coisas aí com suas irmãs?— perguntou

—- Tudo ótimo, como eu disse, a Karina é ótima, e, olha, eu não pensei que o Diogo pudesse ficar tão gata assim! Está uma mulher perfeita, você tem que ver, amor. Quero que você a conheça e não quero que seja como minha amiga— contei com empolgação

—- Tem certeza, Duda? Eu não me importo de me apresentar para a sua família como sua amiga, não me importo mesmo, não se apresse em se assumir se não estiver pronta ainda

—- Eu não sei se estou pronta para contar para a Jéssica e os meus pais, principalmente depois de algumas coisas que a Karina me disse... Mas isso eu te conto depois com calma. Porém, eu quero que a Karina saiba sobre você, até porque eu não vou conseguir esconder por muito tempo dela— expliquei

—- Se você tem certeza do que quer, é só marcar, não vejo a hora de conhecer sua outra irmã— falou com sinceridade

—- Eu te amo, sabia?— perguntei

—- Sabia, não, moça— respondeu com um sorriso na voz

—- Eu falo de novo, eu te amo

—- Também te amo, Eduarda, muito. Bom, só liguei mesmo para saber como você estava. Te vejo amanhã na escola?

—- Claro, nos vemos amanhã. Beijos e boa noite pra você, pequena!

—- Boa noite pra você também, grandona— falou rindo

—- Palhaça

—- Idiota

—- Tchau

—- Tchau

—- Não, não, pera aí

—- O quê?— perguntou em falsete de irritação

—- Te amo — falei antes de desligar e ficar sorrindo igual boba olhando para a rua abaixo de mim pela sacada

—- Eu sabia! – dei um pequeno salto com o susto que Karina me deu

—- Quer me matar, é? Me joga daqui de cima que é mais fácil – falei enquanto ela encostava-se à sacada ao meu lado olhando para a rua assim como eu

—- Então... Quando vou conhecê-la?

—- Conhecer quem?

—- A minha cunhada, oras

—- Cunhada?

—- A sua namorada, Eduarda, não se faça de sonsa

—- Namorada?

—- Dá pra para de repetir tudo que eu falo? Engoliu um papagaio agora?

—- Não! Mas quem te disse que eu tenho uma namorada?

—- Você não tem então?

—- Você deu para escutar conversa dos outros por trás da porta agora? – questionei, desviando o assunto

—- Para a sua informação, eu só peguei a sua última frase

—- Se só pegou minha última frase, quem te garante que era uma garota do outro lado da linha?

—- Sério mesmo, Eduarda? Já ouviu falar em gaydar, radar gay, anteninha do arco-íris?

—- Eu dou tão na cara assim? – perguntei em dúvida

—- Não sei para os outros, meu amor, mas eu sou expert no assunto e ainda te conheço desde que nasceu... E eu senti o cheiro de couro de longe – falou rindo

—- Não sei o que você quer dizer com “cheiro de couro”, mas nem ligo também – falei dando de ombros e fazendo-a rir ainda mais

—- Mas me fala, quando eu vou conhecer a minha cunhadinha? Quem é ela? Há quanto tempo vocês estão juntas? Não me diga que é aquela garota que sempre estava como você... A Ana? – colocou a mão na boca com a surpresa – De você eu tinha uma desconfiança, mas nunca suspeitei dela! O tio Jorge deve estar desconsolado

—- Para de falar bobagens, Karina! A Ana é hétero até demais! E somos amigas, melhores amigas e nada mais

—- Então quem é a felizarda? Vamos, vamos, pode ir me dando detalhes sobre essa garota

—- O nome dela é Manuela, a garota mais linda que eu já vi, a minha baixinha – falei sonhadora

—- Iiih... Já vi que vou ter que ver com meus próprios olhos! Mulher apaixonada não vê defeito, só qualidades, e eu preciso avaliar para saber se essa Manuela é adequada para você – falou com um ar sério

—- Nossa, que foi Karina? Vai dar uma de irmão mais velho, é? – provoquei rindo

—- Tenho que zelar por minha irmãzinha linda! Tá achando que é qualquer gavioa que pode ser minha cunhada? – disse com as mãos na cintura, me fazendo rir ainda mais

—- Ok então, né? Tava falando agorinha com a Manu que quero te apresentar pra ela como minha mais nova irmã mais velha

—- Ótimo! Quero conhecê-la mesmo e falar algumas coisinhas que ela talvez não saiba sobre você – riu

—- Você não teria coragem! – falei

—- Você acha mesmo que não? Sua namoradinha vai saber de todos os seus podres, irmãzinha

Jéssica e eu não ficamos por mais muito tempo na casa de Márcia, que logo nos levou para casa em seu carro, já que estava um pouco tarde para irmos a pé e sozinhas.

Karina preferiu não nos acompanhar para não correr o risco de encontrar-se como nossos pais. Reforçou as recomendações de que não falássemos nada sobre a sua volta para a cidade, dizendo que depois explicaria o porquê de tudo isso.

Não troquei uma só palavra com Márcia durante o curto trajeto de seu apartamento até a casa de meus pais.

Cheguei e fui direto para o meu quarto, coloquei meu pijama e logo me enfiei por debaixo das cobertas para dar continuidade à leitura de “O Morro dos Ventos Uivantes” que tinha iniciado naquela tarde.

Fiquei pensando na noite perfeita que tive com minhas irmãs, deixando de lado, é claro, a tentativa de Márcia de ter algo comigo. Ela não poderia atrapalhar a minha felicidade aquela noite. Karina tinha voltado para preencher o lugar que tinha deixado no meu coração quando foi embora.

Adormeci com o livro em mãos e um sorriso no rosto pensando no que iria fazer para a Manuela no nosso aniversário de um mês.


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Notas finais do capítulo

comentários? alguém?
can anybody hear to me, or am i talking to myself?
okay, deixando simple plan e o meu inglês horrível de lado... oq vcs acharam do capítulo???
bjs e até a próxima (: