Lembranças De Um Verão escrita por Sarah Colins


Capítulo 44
Capítulo 43 – Missão


Notas iniciais do capítulo

Boa noite amigos! Tudo certo? ^^
Percebi que mesmo com a fic se aproximando do fim, novos leitores estão surgindo :D O que me deixa muito feliz!
Sabe o que me deixaria mais feliz ainda? Se vocês fizessem uma recomendação dessa história aqui no site! Se é que realmente ela é boa o bastante para ser recomendada rs ;)
Capítulo de hoje está bem itenso! Espero que gostem!



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- Em nenhum momento eu pedi para que me contasse o que é que viemos, ou melhor, o que é que você veio fazer aqui – disse Percy parecendo sincero e calmo.

- Mas você nem precisava ter aceitado vir até aqui. Correndo o risco de se deparar com todo tipo de monstros e criaturas – ao dizer aquilo percebi o olhar espantado do taxista pelo espelho retrovisor – O mínimo que eu tinha que fazer era te contar de uma vez do que se trata – eu estava reclamando pelo fato de ele não estar reclamando. Isso era uma coisa típica minha. Não entendia como Percy conseguia ser assim tão compreensivo o tempo todo.

- Eu vim porque eu quis, você não me obrigou a nada. Se não quiser me contar, tudo bem. E se quiser, faça isso quando achar que for a hora certa – ele sorriu ao terminar de dizer aquilo.

- As vezes acho que você não existe – disse enquanto não podia evitar colocar uma mão em seu rosto e o olhar com admiração.

O beijei dentro do taxi que ainda nos conduzia rumo a casa de minha família humana. Estávamos tão entretidos um com o outro que nem percebemos quando o veículo parou. O motorista pigarreou forte para que nós voltássemos nossa atenção a ele. Vi que tínhamos chegado então soltei um riso constrangido enquanto pegava o dinheiro na mochila para pagá-lo. Desembarcamos e eu ouvi o taxi cantar pneu antes de desaparecer dali em alta velocidade. Acho que eu havia assustado o pobre homem com aquela história de monstros. Peguei a chave que eu tinha da casa e me encaminhei até o portão. Depois me lembrei de que não tinha avisado que viria então achei melhor apertar a campainha. 

Esperamos alguns segundos e ninguém apareceu para nos atender. Apertei a campainha repetidas vezes por cerca de cinco minutos. Até que eu me dei conta de que o carro não estava na garagem e que provavelmente eles deveriam ter saído. Decidi entrar assim mesmo para que eu e Percy pudéssemos descasar da viajem. Ele já havia estado ali alguns anos atrás para pedir ajuda a meu pai na missão que salvara minha vida. Ainda assim ele ficou olhando o lugar com curiosidade. Não podia culpa-lo, essa estava longe de ser uma casa comum. Nas paredes havia quadros com fotos de família como em qualquer outra. Porém também havia muitos quadros com fotografias antigas de aviões militares e diversas outras coisas que só um ex-servidor das forças armadas poderia ter em casa.

Conduzi Percy até a cozinha e lhe ofereci algo para beber enquanto procurava alguma coisa na geladeira que pudéssemos comer. Não pude deixar de notar que havia louça suja na pia e um pouco de resto de comida ainda na toalha da mesa. O que indicava que os moradores estiveram ali há pouco tempo e que não tardariam em voltar. Tirei da geladeira uma travessa com ensopado de carne e umas batatas assadas. Nem nos demos o trabalho de esquentar a comida, ela estava suculenta mesmo fria. Comemos e resolvemos esperar até que alguém aparecesse. Fomos até a sala e eu liguei a televisão enquanto tomávamos acento. Coloquei em um canal de noticias local. Se fosse há cerca de um ou dois anos atrás eu não me surpreenderia ao ver nossos rostos estampando matérias nos jornais. Mas com a calmaria que estávamos presenciando nessa viagem, aquilo me sobressaltou imediatamente.

O local onde havíamos estado alguns minutos atrás encontrava-se destruído. Eu não sabia se a névoa permitia aos olhos humanos ver que as câmeras haviam registrado algumas dos Dracaenaes deixam o local. Eu não sabia dizer se eram os mesmos que havíamos aniquilado ou se eram novas criaturas. Provavelmente a segunda opção era verdade, já que seria impossível eles terem se reerguido do tártaro tão rapidamente. Percy e eu aparecemos mais ao final da reportagem numa daquelas imagens típica de câmeras de segurança. Os repórteres diziam que as únicas pessoas que foram registradas entrando e saindo do local antes do incidente fomos nós. Assim que a notícia teve fim olhei para Percy que depois de alguns segundos mirando a tela da televisão também voltou-se para mim.

- Nem com a ajuda da sua poção mágica eu escapo de me tornar um fugitivo procurado pela polícia – disse ele brincando, mas ao mesmo tempo deixando escapar em sua voz um tom de receio,

- Não vamos ficar por aqui por muito tempo. Logo voltaremos para o acampamento e a névoa se encarregará de esclarecer o fato de outro jeito – tento tranquiliza-lo.

Percy, ainda nervoso com o que acabamos de assistir, pega um objeto que estava na mesinha de centro e ficou analisando-o e rodando-o entre os dedos. Deixei de reparar no estado de espírito do meu namorado quando percebi o que ele tinha nas mãos. Eu não consegui identificar logo de cara do que se tratava aquele estranho artefato de metal. Mas tive certeza que era algumas das criações de meu pai. Ela parecia inacabada, mas eu não me surpreenderia nada se descobrisse que aquilo estava terminado e que tinha uma utilidade. Nesse momento ouvimos o barulho da maçaneta da porta da frente se movendo. Instantes depois meu pai adentrou o cômodo. Ele não levou um susto tão grande quando eu esperava ao nos ver ali. Imaginei que talvez ele tivesse visto a tal reportagem onde aparecíamos. Mas afastei esse pensamento me lembrando de que havia algo mais importante a dizer no momento.

- Olá papai – fui até ele de braços abertos e o abracei. Ele retribuiu gentil mais contidamente – Acho que deve estar se perguntando o que estamos fazendo aqui, né?

- Oi filha – respondeu ele – Confesso que não esperava uma visita sua hoje. Mas estou feliz por te ver – ele falou aquilo ternamente apesar de eu perceber que a presença de Percy parecia incomodá-lo um pouco - Que ventos os trazem? – Frederick Chase ainda devia estar um pouco traumatizado das vezes em que teve que nos auxiliar em nossas missões. Ele devia estar pensando que estávamos em apuros de novo.

- Viemos apenas fazer uma visita, papai – me apressei em dizer.

- Que bom, querem que eu lhes sirva alguma coisa para beber ou comer? - Percebi que ele olhava para Percy que havia se levantado e se postado ao meu lado. Mas ele não o encarava nos olhos, estava concentrado em sua mão que ainda segurava o objeto de metal.

- Não, obrigada pai. Nós chagamos há alguns minutos e já assaltamos a geladeira – disse em tom de brincadeira tentando quebrar aquele clica de tensão que havia se formado.

- Boa tarde, senhor Chase – só agora Percy conseguiu cumprimenta-lo e lhe estendeu a mão vazia. Meu pai a apertou firmemente sem deixar de olhar para seu invento que seguia na outra mão de Percy. Ele devia estar tão apreensivo que nem se deu conta disso – Como vão as coisas por aqui? – conseguiu perguntar Percy, ainda que mais formalmente do que o necessário.

- Bem, estamos todos ótimos – ele então parou de olhar para a mão de Percy e o encarou com uma expressão séria – E vocês garotos?

- Estamos bem – fui eu quem respondeu – Aliás, aproveitando a ocasião, tem uma coisa que preciso lhe contar pai... – aquilo teria que ser dito cedo ou tarde, então resolvi acabar logo com o sofrimento de Percy e o meu também – Percy e eu estamos namorando. Já faz algum tempo e ele até me deu esse anel, olha – e levantei a mão direita para que ele visse a joia em meu dedo – Não é lindo?

- É sim, Annie. Fico feliz pelos dois. Sei que não precisam exatamente da minha aprovação para ficarem juntos, mas de qualquer forma eu a concedo – disse ele amigavelmente, mas ainda sem se desfazer de sua postura visivelmente incomodada – Se me permite Percy... – ele disse aquilo e logo em seguida tomou o objeto das mãos do semideus a sua frente – É que isso é bem frágil, e ainda não está terminado – Ele colocou o objeto de volta na mesinha de centro com todo o cuidado – Agora vou deixa-los à vontade – e se retirou rapidamente da sala.

Percy ficou um pouco mais relaxado sem a presença de meu pai, mas ainda conservava uma expressão preocupada no rosto. Não era para menos, afinal apesar de ter sido educado, meu não o tinha tratado da maneira mais calorosa possível. Ele não pareceu incomodado com nosso namoro. Mas algo me dizia que apenas nossa presença ali fazia com que ele mudasse totalmente seu comportamento. Fiquei feliz por ele ter aparecido sozinho. Se sua mulher e meus irmãos estivessem junto poderia ter sido pior. Mas eu sabia que já havíamos superado essa fase, sabia que meu pai já havia aceitado minha condição de semideusa. Provavelmente estava acontecendo mais alguma coisa que ele não quis nos dizer.

- Ok, acho que se eu soubesse que era isso que você queria fazer aqui, eu iria ter exigido que me contasse antes – disse Percy interrompendo minhas reflexões. Olhei para ele e por um momento eu ri de sua indignação – Não tem graça nenhuma, sabidinha!

- Tem sim! – continuei rindo enquanto me aproximava para abraça-lo – É claro que não foi só para isso que eu te arrastei até São Francisco, cabeça de alga. Contar sobre nosso namoro para meu pai foi uma consequência, e nem nos saímos tão mal assim.

- Fala isso porque não foi você que foi repreendido por mexer no que não devia – disse ele ainda lamentando o fracasso de seu encontro com o sogro.

- Deixa de ficar se lamentando, ainda temos algo muito importante a fazer aqui.

- E será que isso tem algo a ver com me mostrar o seu quarto? – ele encostou os lábios em minha orelha e sussurrou a última parte da frase. Aquilo me fez rir e corar ao mesmo tempo.

- Evidentemente que não! – respondi para seu total desapontamento

***

Acabamos tendo que ir ao meu quarto de qualquer jeito para deixar nossas mochilas lá antes de sair. Meu pai ainda estava na casa então mesmo que eu quisesse ceder as investidas de Percy eu não poderia. Mandei ele se comportar enquanto eu usava o banheiro. Depois disso peguei meu boné de invisibilidade que estava dentro de minha mochila e minha faca, caso outros monstros cruzassem nosso caminho. Saímos pela porta dos fundos depois de nos despedirmos do meu pai. Percy ainda parecia extremamente envergonhado pelo que acontecera há alguns minutos atrás. Acabei ficando aliviada de poder tirá-lo dali.

A parte de trás da casa dava para um pequeno jardim e mais adiante havia um bosque. Eu segurava a mão de Percy enquanto andávamos até lá. Passamos por muitas arvores e chegamos a ouvir o barulho de alguns pequenos animais que viviam por ali. Conforme avançamos a mata ia ficando mais densa. As folhagens cada vez mais iam impedindo que a Luz do sol chegasse ao chão. Fomos ficando envoltos em uma escuridão um tanto quanto sinistra. Pensei que esse seria o tipo de lugar que Nico di Ângelo iria gostar muito. Estranhei um pouco a princípio porque aquele lugar estava diferente do que eu me lembrava. Mas a última vez em que estive lá eu tinha cerca de cinco anos de idade. Era normal que tudo estivesse mudado. Percy não hesitou em momento algum e seguiu me acompanhando.

Enfim consegui avistar um antigo balanço com sua estrutura de metal bem enferrujada. Mais alguns passos a frente e consegui enxergar também um velho escorregador e um tanque de areia, que agora estava coberto completamente por folhas. O pequeno playground estava completamente abandonado. Fui diminuindo a marcha até pararmos há poucos metros de uma imensa árvore que ficava próxima ao escorregador. Fiquei olhando para ela sentindo uma imensa nostalgia ao me recordar a época em que eu brincava ali quando criança. Diversas vezes eu havia subido nessa que era uma das árvores mais altas do local. Lá de cima eu podia observar quase todo o bosque e também fugir de alguns monstros. Sem que eu pudesse evitar as lembranças de um dia fatídico assaltaram minha mente e eu senti que meus olhos se enxiam de lágrimas.

- O que houve? – perguntou Percy preocupado quando viu que eu chorava.

- Não sei se já te contei alguma vez, mas eu tinha um gato de estimação quando era criança. Meu pai o adotou desde que eu era um bebê e ele cresceu junto comigo aqui. Nós brincávamos muito nesse lugar. Ele era o único amigo que eu tinha. As outras crianças sempre me acharam estranha, mas ele não. Ele gostava de mim, gostava de ficar comigo – comecei a contar a história que havia me trazido novamente a esse lugar e Percy ouviu atentamente – Ele não parecia se assustar quando os monstros vinham atrás de mim. Acho que gatos devem enxergar através da névoa porque algumas vezes ele até tentava me defender.

“Um dia quando estávamos empoleirados nessa árvore uma empousa veio me fazer uma visita. Ela estava disfarçada de uma doce e gentil garotinha. Eu nem me dei conta do perigo até que Lilo, esse era o nome do meu gato, se colocou a minha frente em um galho e começou a fazer uns ruídos raivosos para a menina. Estranhei a atitude dele e então percebi que menina subia rapidamente pelo escorregador com uma agilidade anormal. Então Lilo pulou para cima dela para ataca-la. Obvio que ele não teria nenhuma chance contra aquela criatura. Nesse momento eu via que ela retomava sua forma natural e tirava uma longa faca da cintura. Eu estava num lugar bem alto da árvore e ficava mirando o chão, medindo a distância até o escorregador, tentando calcular se eu conseguiria pular para salvá-lo. Mas eu hesitei demais e então já era tarde. A empousa tinha tirado a vida de minha mascote.”

“Ela teria vindo atrás de mim sem problemas se um bando de crianças não tivesse aparecido ali naquele momento. Não sei o que eles viram quando a criatura se debandou dali rapidamente, mas eu sabia que eles podiam ver o gato ferido no chão e eu olhando de cima da arvore assustada. Posso presumir o que eles haviam pensado daquela cena já que desde então ninguém mais além de mim veio até esse lugar. Por dias eu fiquei me culpando pelo que havia acontecido. Pensando que poderia tê-lo salvado. Mas então meu pai me proibiu de voltar aqui e eu nunca soube se teria conseguido ou não pular da árvore até o escorregador...”.

Terminei a história e Percy não havia mostrado nenhum sinal de tédio ou espanto. Ele estava até bem interessado em minha história e agora parecia analisar os fatos e tentar relacioná-los com a minha vinda ali. Não sei se seria tão fácil assim deduzir o que diabos eu queria fazer no lugar onde eu vivera um dos primeiros traumas da minha vida. Deixei que o silêncio seguisse por mais alguns minutos, andei até bem perto da árvore e toquei nela. Então sem parar para pensar muito no que eu estava fazendo, comecei a escalar. Ao chegar ao topo eu olhei para baixo e percebi que parecia estar bem menos alta do que quando subira aqui pela última vez. Atribui aquilo ao fato de que eu crescera enquanto a árvore continuou do mesmo tamanho ao longo dos anos.

- Eu sei o que quer fazer – disse Percy lá de baixo ao pé da árvore – Apesar de eu entender de certa forma como se sente, não acho que seja uma boa ideia.

- Você não entende Percy, eu me senti culpada por isso minha vida toda – eu me aproximei dos troncos mais finos que ficavam nas extremidades e olhei meu namorado lá de cima – E eu nunca soube se seria capaz de salvá-lo se não tivesse hesitado tanto, se não tivesse sido tão covarde e tivesse pulado de uma vez dessa árvore.

- Mas você não tem como saber disso, Annie – ele me dizia calmamente tentando me convencer - Mesmo que tente pular daí, você já não é aquela criança de cinco anos que esta amedrontada com a ameaça de um monstro. Você é uma semideusa preparada que já enfrentou perigos muito maiores que esse. Precisa superar isso de outra forma – ele parecia que iria subir na árvore para vir atrás de mim a qualquer momento caso eu não o ouvisse – Fora que esses brinquedos estão muito desgastados e no mínimo vão desmanchar se tocarmos neles...

Ele conseguiu me arrancar um sorriso com aquela última frase e me tirar do meu estado de transe. Eu estava tão obstinada em tirar a prova daquilo e havia me atormentado por tanto tempo que não estava raciocinando direito. Ele tinha razão, era uma bobagem fazer aquilo. Era uma forma de tentar enfrentar aquela situação que eu guardara só para mim. Mas percebi que só estando ali e dividindo aquilo com Percy eu já havia tirado um peso enorme de meus ombros.

No fim das contas a poção acabou funcionando bem. Eu tinha obtido sucesso. Tinha alcançado meu objetivo. Tinha enfrentado o meu trauma. Não da maneira que eu pensava que deveria fazer, mas de uma maneira muito melhor. Havia compartilhado aquilo com a única pessoa que eu sabia que jamais me daria as costas em momento algum. A única pessoa que poderia me compreender inteiramente qualquer que fosse a situação. Percy era tão leal e companheiro quanto Lilo havia sido. Mas ele era melhor, porque fazia com que eu sempre visse o melhor das coisas e o melhor de mim. Ele estava ali, de novo, mesmo sem se dar conta, salvando minha vida. Da mesma forma como eu o havia salvado um dia atrás. 


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Notas finais do capítulo

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beijos ;**
@SarahColins_ (me siga no twitter para acompanhar as atualizações da fic)