Lembranças De Um Verão escrita por Sarah Colins


Capítulo 38
Capítulo 37 – Vingança


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, tudo certo? ^^
Hoje o capítulo está longo e cheio de emoções!
Espero que gostem ;)



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Passei o resto do dia cozinhando aquela ideia de vingança em minha cabeça. Eu sabia que não ganharia nada fazendo aquilo. Provavelmente só diminuiria as chances de eu me acertar com Percy. Mas mesmo assim eu não conseguia deixar de considerar aquela hipótese. Me agradava muito a ideia de dar uma lição naquela ruiva intrometida, como tinha dito Clarisse. Ela tinha que aprender de uma vez por todas a cuidar da vida dela e não da minha. Ela tinha que sentir um pouco do gosto de seu próprio veneno. É isso, eu estava decidida! Rachel iria me pagar pelo que fez.

O que eu ainda não sabia era como eu me vingaria. Nunca tinha bolado nenhum “plano maligno” como aquele antes. Não sabia se a minha habilidade em estratégias de guerra serviria para alguma coisa. Eu ia ter que usar toda a minha mágoa e principalmente minha raiva para inventar algo realmente bom, ou melhor, realmente mau! Se eu não conseguisse pelo menos já sabia que podia pedir umas dicas com alguém que devia ser especialista nesse assunto: Clarisse La Rue.

Continuei tentando evitar encontrar-me com Percy. Se eu queria pregar uma peça em Rachel, então ainda não poderia tirar satisfação daquela história com meu namorado. O que significava ter que continuar fingindo que estava tudo bem. Inevitavelmente ele acabou me encontrando, quase no fim do dia quando eu estava a caminho de meu chalé. Ouvi sua voz a me chamar as minhas costas. O som vinha de longe. Parei de andar e esperei que ele me alcançasse. Respirei fundo umas três vezes para me manter calma.

- Annie! – gritava ele ao se aproximar correndo. Eu apenas me virei em sua direção quando ele já estava a menos de um metro de mim. Olhei em seus olhos com uma expressão séria no rosto – Finalmente te encontrei! – ele me abraçou ao dizer aquilo e eu não consegui emitir nenhuma reação. Só fiquei parada enquanto seus braços me apertavam contra seu corpo.

- Soube que estava me procurando... – falei só pra não ficar aquele silêncio.

- Eu estava... Mas parece que você não está muito afim de ser encontrada hoje, né? – ele falava num tom de brincadeira, mas também transparecia preocupação – Onde você esteve o dia todo? Fiquei te esperando lá no píer, mas você não apareceu...

- Ahhh, me desculpe Percy. Eu esqueci completamente – falei tentando soar convincente – Eu encontrei Clarisse e ela foi me mostrar o navio de guerra que estão construindo para o chalé de Ares – reciclei a mesma desculpa que havia usado com Rachel - Acabei perdendo a noção do tempo...

- Eu entendo, não se preocupe – disse ele compreensivo – Por um momento cheguei a pensar que você estava me evitando – ele riu como se estivesse descartando completamente aquela possibilidade depois do que eu dissera.

- Eu te evitando? Que ideia! – falei no mesmo tom que ele havia usado – Por que eu iria querer fazer isso? – disse rindo, levando aquele assunto na brincadeira. Mas a minha vontade era de ter usado a minha melhor entonação irônica para provoca-lo. Porém eu tinha que me conter e aguentar aquela farsa por mais um tempo.

- Pois é, não tem motivo nenhum pra isso – respondeu ele, e eu me segurei para não soltar nenhum comentário mais sobre aquilo – Bom, então já que não pudemos aproveitar muito durante o dia, que tal aproveitarmos o dobro essa noite?

Ele fez aquela cara de travesso e me lançou um sorriso matador ao dizer aquilo. Quase esqueci todo o ressentimento pelo que eu tinha descoberto horas atrás. Senti um ímpeto de me jogar nos braços dele e deixar tudo pra trás. Mas resisti bravamente. Quando ele veio se aproximando para me abraçar novamente eu me esquivei.

- É... Então Percy, sobre isso... – pensei na melhor forma de dizer aquilo sem que ele notasse o que se passava comigo – Acho que hoje vou passar a noite em meu chalé mesmo.

- O que? – disse ele completamente confuso e desapontado – Por quê?

- É que eu não estou me sentindo muito bem – improvisei na desculpa – Minha cabeça está doendo e preciso descansar um pouco. Você entende né?

- Entendo. Mas não pode fazer isso lá comigo no nosso “santuário”? – só de eu ouvir aquele nome já me deu um calafrio. Eu acho que nunca mais conseguiria voltar lá, iria me sentir vigiada. Como se Rachel pudesse haver colocado micro câmeras para nos espiar.

- Não, porque sei que você não me deixaria dormir. E na verdade eu sinto falta da minha cama – aquilo era verdade em partes. Normalmente eu não me importaria em dormir num lugar menos confortável com tal de ficar ao lado dele. Mas como isso era exatamente o que eu estava querendo evitar, me pareceu uma boa saída.

- Bom, tudo bem – disse ele com tom de frustação, mas ao mesmo tempo com aquela compreensão de sempre – Só vou morrer saudades de você, mas fora isso acho que ficarei bem – ele sorriu e não pude deixar de sorrir de volta.

- Não seja dramático. Amanha já nos veremos de novo – tentei amenizar as coisas. Mesmo eu não querendo passar a noite com ele, e estando muito magoada pelo que fez, eu não conseguia vê-lo daquele jeito.

- Eu sei, vou tentar sobreviver! – ele riu fazendo graça. Depois segurou meu rosto e se aproximou para me beijar. Achei que não conseguiria retribuir naturalmente, mas foi só eu sentir o toque dos seus lábios nos meus e da sua língua na minha que o meu coração despertou. O beijei intensamente enquanto me dava conta do quanto eu sentira sua falta. Quando ele me soltou fique até mareada, sem saber o que dizer – Boa noite, amor. Até amanha.

- Boa noite... – foi só o que eu consegui dizer ao ver ele se afastar.

Chacoalhei a cabeça para fazer meus pensamentos voltarem ao lugar e recuperar a consciência. Corri para o meu chalé antes que eu perdesse a cabeça de vez e resolvesse ir atrás de Percy para passar a noite com ele.

***

Acordei bem cedo naquele domingo. Não havia conseguido dormir bem na noite anterior, mas precisava me levantar. Meus pensamentos estavam divididos entre o que eu faria com a Rachel e o que eu faria com Percy. Decidi que ocupar a minha cabeça com meu “plano maligno” seria melhor e ainda me ajudaria a esquecer da vontade que eu estava de estar perto do meu namorado.

Consegui penar em algumas coisas antes de pegar no sono, mas como sempre acontecia, eu me esqueci de tudo assim que acordei. Então me pus a pensar novamente. O que eu poderia fazer para deixar aquela garota irritada? Ela parecia sempre tão zen. O objetivo principal era fazer com que ela sentisse na pele tudo o que eu tinha sentido. Ela tinha que saber como era ruim quando os outros se metem em sua vida. Como era ruim ter sua privacidade invadida. Então eu tive uma ideia brilhante. Peguei meu celular e o liguei. Deixei ele desconectado para não chamar a atenção dos monstros. Eu só ia precisar da câmera mesmo.

Caminhei pelo acampamento em busca de meus alvos. Não seria difícil encontrar aquela cabeleira ruiva perambulando por ai. Perto dos chalés ela não estava. Passei pela arena de combate e nada. No refeitório também nada. Já estava começando a ficar frustrada quando uma cena um tanto quanto inusitada me chamou a atenção. Travis Stoll, o namorado de Rachel, conversava com Drew do chalé de Afrodite. Os dois estavam bem próximos e pareciam estar muito a vontade um com o outro. Sussurrei um agradecimento aos deuses. Aquilo era perfeito para o meu plano.

Fui me aproximando deles sorrateiramente. Fiquei a uma distancia razoável onde conseguia visualiza-los bem. Apontei a câmera do celular para eles e bati algumas fotos. Esperei mais um tempo ali escondida. Eu percebia que as coisas iam evoluindo entre os dois. O clima parecia estar esquentando. Como eu bem pude prever, segundos depois eles estavam se beijando. Tentei ser ágil o bastante para registrar bem o momento do beijo e tirei mais algumas fotos. Eles pareciam que continuariam ali por mais um bom tempo. Como eu já estava satisfeita com o “material” coletado, resolvi sair de fininho, antes que alguém me descobrisse ali espionando.

Analisei mais uma vez a fotos que tinha tirado. Elas tinham ficado ótimas. Dava pra ver nitidamente que eram Travis e Drew aos beijos. Cheguei a sentir pena de Rachel por estar sendo traída. Mas afinal eu estaria fazendo um favor a ela em mostrar-lhe aquelas fotos. Ela estava sendo feita de boba e nem imaginava. Se isso não a ensinasse a parar de cuidar da vida dos outros, então nada mais poderia. Me pus a procurar por ela pelo acampamento. Eu nunca sabia onde encontra-la. Ela estava sempre nos lugares menos propícios. Eu andava olhando para o celular e nem percebi quem vinha em minha direção. Só me dei conta quando esbarrei em alguém e quase cai.b

- Oh me desculpe... Percy?! – não pude esconder meu espanto ao me dar conta de quem era a pessoa que esbarrara comigo.

- Bom dia, amor – disse ele vindo para me dar um selinho – Não esperava me encontrar aqui?

- Não... Não é isso – falava toda atrapalhada, enquanto tentava não transparecer o meu nervosismo – É que eu estava distraída e não te vi chegando. Acordou há muito tempo?

- Pois é, quem diria! Eu acordando cedo em um domingo. Culpa sua!

- Culpa minha por quê?

- Por que não estava lá comigo para não me deixar dormir. Tive que ir pra cama cedo né... – ele fez cara de coitado.

- Estou morrendo de dó de você – disse num tom irônico enquanto ria.

- Tá fazendo o que com isso aqui? – disse ele ao pegar o celular que estava em minhas mãos. Eu gelei e fiquei desesperada no mesmo instante.

- Ei, pode me devolvendo! – eu tentava pegar o celular de volta, mas ele se desviava de mim habilmente enquanto olhava para a tela do aparelho. Eu tinha deixado as fotos que acabara de tirar abertas. Ele iria ver e eu não tinha como explicar aquilo. Sua expressão de diversão foi mudando quando ele se deu conta do que havia no visor do aparelho.

- Mas o que é isso? – ele olhava pasmo enquanto ia passando as fotos – Quando você tirou essas fotos?

- Há alguns minutos – disse eu entregando o jogo. Não tinha por que eu querer inventar alguma história agora, ele tinha me pegado com a prova do crime na mão – Percy, me devolve isso, por favor? Eu posso te explicar tudo...

- Por que você os fotografou? O que você pretendia fazer com isso? – em seu rosto eu podia ver que ele tentava entender aquilo tudo, sem sucesso.

- Eu não tinha a intensão de fazer isso – menti – Mas quando os vi achei que Rachel devesse saber. E não sei se ela acreditaria em mim se eu dissesse, então já que eu estava com o celular eu resolvi registrar pra ter como prova – vi que ele ainda me olhava com estranheza. Eu estava dando muitas desculpas para alguém que não tinha más intensões – O que foi? Por acaso você acha que ela não deve saber?

- Não. Acho que você está certa em contar para ela – disse ele voltando a olhar para o celular – Mas eu não entendo. A Rachel nem é sua amiga. Você nunca anda com esse celular ainda mais aqui no acampamento. E bem quando Travis estava com Drew você os viu e ainda conseguiu fotografá-los. É muito coincidência.

- O que está querendo dizer Percy? Acha que eu fiz de propósito? Que pressenti que Travis estava traindo a Rachel e fui lá com a intensão de pegá-los no flagra? – comecei a me irritar com as insinuações dele – Não sei o que está pensando, mas eu fiz o que achei certo.

- Eu sei. Me desculpe, só achei estranho...

- Estranho é um namorado trair e mentir para a namorada, isso sim é que é estranho...

Peguei o celular da mão dele de volta. Dei meia volta e sai pisando forte. Ele não me chamou nem tentou vir atrás de mim. Provavelmente percebeu o quanto fiquei irritada com a desconfiança dele. No fim das contas ele estava até que certo. Por que eu fiz tudo aquilo com má intensão. Mas ele também não era santo. Tinha mentido pra mim da mesma forma que Travis fizera com Rachel. Fiquei feliz por ter aquela desculpa para sair dali e não ter que continuar olhando para sua cara.

Tudo naquele dia parecia estar colaborando para que meu plano funcionasse. Exceto pelo fato de eu ter encontrado Percy no caminho e ele ter visto as fotos. Mas fora isso, eu tive sorte no resto. Encontrei Rachel sentada perto de algumas ninfas da floresta. Parecia conversar com elas. Respirei fundo tomando coragem para o que eu estava prestes a fazer. Caminhei até ela e fiquei parada a sua frente sem dizer nada. Ela me olhou com curiosidade.

- Hey, Annabeth. Bom dia - disse ela com aquele mesmo tom de surpresa que fazia toda vez que eu ia falar com ela.

- Olá Rachel – respondi seca – Você deve estar se perguntando por que eu estou aqui, já que nós não somos amigas e que evidentemente nós nunca tenhamos nos dado muito bem.

- É exatamente isso que estou me perguntando...

- Pois bem, então eu vou direto ao ponto! – olhei para as dríades que prestavam atenção a nossa conversa e elas desviaram os olhares na hora – Eu sei que é você quem vem ajudando Percy a montar as coisas na barraca próxima a cachoeira. E sei também que ele te contou tudo sobre as noites que passamos lá... Não sei se você acha isso normal, mas é uma sensação péssima ter suas intimidades expostas assim...

- Ok, espera ai... – disse ela me interrompendo e tentando processar as informaçãos que eu tinha acabado de despejar em cima dela - Primeiro, como você sabe disso? Segundo, Percy não me contou todos os detalhes. E terceiro, eu nunca pedi para ele me contar nada, não tenho culpa...

- Você pode não ter pedido para ele te contar, mas tampouco impediu que ele o fizesse. Você iria gostar que alguém que você nem ao menos considera amiga ficasse sabendo dos seus segredos mais preciosos?

- Claro que não! Mas Annabeth, isso não tem nada de mais! Percy e eu somos amigos, ele precisava dividir aquilo com alguém. Ele tem confiança em mim, sabia que eu não contaria a ninguém. Ainda nem imagino como foi que você descobriu isso...

- Não interessa como eu descobri. De qualquer jeito fiquei arrasada quando soube! Esses momentos eram para ser algo só nosso, ele não tinha o direito de contar a ninguém e você não tinha o direito de ouvir – eu já quase gritava conforme ia sendo dominada pela raiva e pela mágoa – Sabe o que você precisa? Para de cuidar da vida dos outros! Se cuidasse mais da sua própria vida, talvez isso não aconteceria – disse enquanto tirava o celular do bolso e mostrava pala ela a tela com a foto de Travis e Drew.

- Não... – sua voz quase não saiu ao dizer aquilo. Ela mirava o visor do aparelho com uma expressão de pavor, tristeza e desespero – Não pode ser verdade!

- Não acredita nem nos seus próprios olhos? – eu disse com um tom de vitória – Eu sabia que você não acreditaria se eu dissesse, então tive que trazer a prova! Esta sentindo agora como é ruim ter a sua privacidade invadida?!

- Eu não acredito que ele possa ter feito isso comigo! – exclamava ela enquanto lágrimas caiam de seus olhos sem parar!

De repente eu me dei conta do que estava fazendo. Rachel chorava descontroladamente quando saiu correndo dali. Eu fiquei parada com o celular na minha mão sentindo um profundo e amargo arrependimento. O que foi que eu fiz? Eu tinha usado aquele fato para matar minha sede de vingança sem nem ao menos pensar na dimensão dele. Eu havia esfregado a verdade na cara de Rachel sem que ela tivesse tempo de se preparar para aquilo. Eu não havia lhe dado lição alguma, apenas despedaçado seu coração em mil pedaços. Eu me sentia um monstro pelo que tinha acabado de fazer. E não haveria forma de me redimir. 


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Notas finais do capítulo

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beijos ;**
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