Lembranças De Um Verão escrita por Sarah Colins


Capítulo 2
Capítulo 1 – Reencontro




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O ônibus parou no meio do nada e as portas se abriram para que eu descesse. Os passageiros, humanos que não sabiam da existência do acampamento meio sangue e nem mesmo conseguiriam vê-lo por causa da névoa, olharam-me com estranheza a me ver descer naquele lugar. Caminhei beirando a floresta lentamente enquanto o veículo se afastava pela estrada de terra batida. Quando ele sumiu numa curva eu conferi pra ver se não tinha mais nenhuma alma penada por ali e então me embrenhei pela mata fechada em direção a grande colina com um pinheiro no topo.

Caminhei por alguns minutos e quando cheguei ao topo e vi o portal de entrada do acampamento, já estava ofegante. Meu cabelo estava na habitual forma de trança caída ao ombro e eu usava um jeans e a camiseta laranja do acampamento. Assim que adentrei a área protegida pelo encantamento do Velocino de Ouro, já pude perceber uma movimentação ao redor da Casa Grande, por conta da chegada dos campistas que passaram o ano fora.

Enquanto me aproximava, meu olhar percorreu o amontoado de gente que se concentrava por ali. Em meio a tantas camisetas laranja e tanta euforia ficava difícil tentar reconhecer alguém de longe. Mas meu olhar logo se cruzou com aquele brilho da cor do mar, tão intensamente verde que dava vontade de mergulhar dentro. Sorri. Meu primeiro impulso foi o de sair correndo pelo caminho de pedras a minha frente e pular no pescoço dele. Mas me segurei um pouco. Fui caminhando lentamente. Ia deixa-lo continuar a conversa que estava tendo com Grover e outros semideuses que o recebiam, mas ele parecia ter parado de prestar atenção ao que falavam e retribuía o meu sorriso.

Quando eu estava apenas há alguns passos dele parei e tirei a mochila dos ombros. Esperei que ele viesse até mim e parasse na minha frente. Levantei um pouco a cabeça para olhá-lo nos olhos. Tentando não me perder neles, eu levantei as sobrancelhas enquanto falava:

- Bem vindo de volta, cabeça de alga. Como foi o último ano na escola? – tentei não rir enquanto ele pegava na minha mãe e estreitava a distancia entre nós.

- Você sabe muito bem como foi meu último ano na escola, numa escala de 10 a 0 eu não passei do -1... Mas não quero falar de escola agora. – ele então segurou minha outra mão e se aproximou me dando um beijo. Um selinho terno e demorado.

Então, como se a conversa não tivesse sido interrompida, eu continuei:

- Espero que essa escala não inclua os momentos ‘extraclasse’ que passou comigo! – Falei elevando um pouco o tom da voz e já ameaçando fechar a cara.

- Claro que não, todos não... Ei! – Reclamou ele ao sentir que eu soltava suas mãos e me afastava – Volta aqui, sabe que eu sou o rei das piadas sem graça não é? – Disse ele enquanto suas mãos passavam pelos meus ombros e ele voltava a se aproximar me envolvendo em um abraço.

Senti seus lábios tocando meus cabelos no topo da cabeça, e depois ele deslizou a boca até meu ouvido dizendo em voz baixa.

- Será que vou precisar repetir o quanto foi maravilhoso cada momento que passamos juntos, mesmo antes de eu acabar com Cronos e você ficar caidinha por mim? - Rimos juntos. Eu passei os braços pela sua cintura e também procurei seu ouvido para poder falar baixo.

- Não, e também não me esqueci do quanto você ficou convencido depois disso! E quem disse que estou caidinha por você? – Senti seu tórax subindo e descendo enquanto ele ria de mim na cara dura. Ele então afastou o rosto apenas o suficiente para conseguir olhar pra mim.

- Ninguém, mas achei que isso tinha ficado óbvio depois do que você disso no nosso último encontro – Ele continuava com aquele tom de brincadeira de sempre, mas eu já não estava rindo. Fiquei tensa em seus braços enquanto tentava desviar o olhar.  Em menos de 2 segundos bolei um plano de fuga pra não ter que continuar aquela conversa.

Avistei Grover há alguns metros à frente conversando com algumas de suas amigas dríades. Virei-me tão rápido, me soltando de Percy, que ele quase se desequilibrou. Levantei a mão e acenei para Grover enquanto gritava para chamá-lo.

- Ei, Grover! Não cumprimenta mais os amigos, é? – Não ousei olhar para o lado, mas já imaginava a expressão que se lia no semblante de Percy naquele momento: “O que foi isso?”. Ele se limitou a virar-se na direção onde eu olhava e também acenar para Grover que vinha em nossa direção.

O Sátiro estava com seus cabelos estilo rastafári mais compridos do que nunca. Usava calça Jeans e tênis nos cascos de bode, ainda dentro de seu ‘disfarce’ para andar entre os mortais. Juníper, namorada de Grover provavelmente não gostou de ter que dividir a atenção dele com mais semideuses, mas ficou observando de longe com uma expressão serena no rosto.

- Ei Annabeth, como esta? Eu já tinha te visto chegar, mas não queria interromper o reencontro do casal apaixonado – Disse ele sorrindo de orelha a orelha assim que chegou perto de nós. Senti meu rosto esquentar e ao olhar de leve para Percy, vi que ele também não se sentiu muito confortável naquela situação. O que não o impediu de responder e ainda manter o bom humor.

- Sátiro esperto! Mas sabe que para os amigos a gente sempre abre uma exceção! Como foi o ano por pra você? Conseguiu levar a mensagem de Pã a muitos lugares?

- Sim e não! Consegui mobilizar muitos outros sátiros para ajudar nessa empreitada, mas o difícil é convencer os espíritos da natureza de que estou falando a verdade, de que Pã realmente está morto... – O olhar do sátiro fixou-se nas pedras que havia no chão e ele nem tentou esconder sua decepção. Esse assunto ainda o deixava pra baixo. Então resolvi mudar o rumo da conversa.

- Chegou há muito tempo aqui no acampamento? Como estão as coisas por aqui depois que Dionísio se mandou?

- Pra falar a verdade cheguei há uma semana, mas ainda não me inteirei de como estão as coisas por aqui. Vocês sabem como é, Juníper exige muito da minha atenção – e se virou para lançar um olhar a sua namorada que ainda o esperava próxima as outras dríades. Quando Grover voltou a olhar em nossa direção ainda conservava aquela expressão de abobalhado no rosto. Fiz uma nota mental pra pedir aos Deuses que Percy nunca ficasse daquele jeito.

Decidi que já era hora de dispensar o sátiro que já tinha cumprido seu papel de entrar no meio de minha conversa com Percy, fazendo-o esquecer daquele assunto do qual eu não queria falar, pelo menos não agora.

- Melhor você não deixa-la esperando então Grover! Depois nos falamos com mais calma... – Nem conclui direito a frase e ele já estava se virando pra voltar de onde veio, quase que saltitando. Fiquei olhando aquela cena com as sobrancelhas levantadas e os olhos arregalados. Depois soltei um riso debochado.

- Acho que nem em um milhão de anos eu conseguiria entender essas criaturas! – Falou Percy, que já voltava a se aproximar de mim segurando a minha mão – Não esqueça de pedir aos Deuses pra que eu não fique assim nunca por favor!

- Não sei, vou pensar! Talvez fosse engraçado ver você com cara de bobo, saltitando como um sátiro ai pelos cantos.

- Ah é? Melhor então eu nem falar o que você seria se eu fosse um sátiro...

- Se você tem amor a sua vida, melhor não Percy Jackson!

- Com certeza tenho muito amor a minha vida! Lutar contra o rei dos Titãs não é nada comparado a provocar uma filha de Atena.

- Que bom que sabe! – Sorri e segurei seu rosto com as minhas mãos, me aproximando devagar para beija-lo mais lenta e profundamente que antes. O beijo durou apenas alguns segundos que já conseguiram me fazer perder a noção de tempo e espaço. Fiquei ainda de olhos fechados alguns momentos depois de nos afastarmos. A voz de Percy me fez voltar colocar os pés na terra outra vez.

- Vamos guardar o melhor pra mais tarde, tenho uma surpresa pra você! Agora vem, preciso encontrar Quíron... 


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