Demorou um pouco para que eu entendesse aquela frase, uma vez que Harry voltou a me beijar com total voracidade. Pra ser sincera, eu só fui dar por mim quando a voz falou novamente, dessa vez em um tom um pouco mais irritado.

-Taylor, eu sei que você está aí... - foi como se algo estalasse dentro de mim, e uma luz se acendesse, clareando o meu mundo e me puxando de volta para a vida real.

Automaticamente travei sob o corpo e os lábios de Harry e o afastei com a respiração mais irregular impossível, o empurrei até que saísse de cima de mim, mas acidentalmente usei força demais e ele caiu no chão.

Que pena.

-Eu vou ter uma conversa com esse filho da...

- Harry, ele é importante pra mim, ok? Fique aí. - disse na direção do chão onde se encontrava o ser que há segundos atrás estava fazendo coisas das quais eu definitivamente não me orgulharia mais tarde. Tentei desesperadamente desamassar meu vestido e arrumar o meu cabelo. Fiz o melhor que pude, torcendo pra que estivesse com uma aparência normal e que minha boca não estivesse tão vermelha como eu achava que estaria. Claro que era inútil. O babaca havia me deixado em um estado deplorável.

- Como assim vai embora? Você acabou de chegar... – disse abrindo a porta e fitando o chão, evitando ao máximo seu olhar.

- Meus pais não me obrigaram a vir, Taylor. Na verdade, - Ben olhou para o lado, claramente desconfortável. Como se eu estivesse super à vontade. - eu vim porque sabia que você estaria aqui. - Eu ia falar algo, mas ele me cortou antes que minha boca se abrisse. - Mas pelo que eu estou vendo você já tem outro compromisso. - Só eu senti que aquelas palavras tinham mais de um sentido?

- Ben... – comecei sem saber ao certo o que falar. A verdade só foderia com tudo, mas eu não via outra opção. In(felizmente) eu fui interrompida.

- Cadê o Harry? – Eu poderia ter sido interrompida por alguém realmente interessante... Mas não... A dona da voz que indiretamente me ajudou (e eu nunca a agradeceria por isso) era fina, aguda e irritante.

- Sophie, - o nome soou como um xingamento, e era. - ele não está aqui. - disse rapidamente. Vi Ben arquear uma sobrancelha, mas fiz sinal para ele calar a boca, e para a minha sorte ele não disse nada.

- Até onde eu sei, esse é o quarto dele... Você mesma quem escolheu. Então o que você está fazendo ai? - ouvi o som oco do seu salto se aproximando. - Quem é esse? - Oh, que legal, parece que Sophie percebeu que nós não estávamos sozinhas.

- Não te interessa! Eu estou falando que ele não está aqui! Você não precisa entrar! - minha voz foi aumentando várias oitavas até que eu estava praticamente gritando.

- E por que não? Eu sou a namorada dele. Acho que posso entrar no quarto sem pedir permissão. - Vi o queixo de Ben cair quando ouviu a palavra namorada. Novamente lancei-lhe um olhar suplicante e ele continuou quieto, embora visivelmente chocado.

Ótimo, eu tinha mais tempo para pensar em uma desculpa que não fosse a verdade. Porque a verdade era que eu tinha uma complicada relação de pegaçāo e ódio com o garoto que supostamente não existia quando eu vim morar aqui, e que eu descobrir que era um ser extremamente pervertido, idiota, retardado, e irritantemente sensual. Que por acaso era um galinha, que tinha uma namorada maníaca, que por mais acaso ainda, era a minha inimiga desde a infância, o que acabava me tornando uma amante.

Nesses curtos segundos em que eu estava refletindo sobre a minha triste realidade, Ben decidiu quebrar o silêncio. Com péssimas palavras, vale ressaltar.

- Espera... Então você está ficando com o cara que mora com você, mesmo sabendo que ele tem uma namorada? - Merda, merda, merda! -Eu não sei quem é pior Taylor, você, ou esse filho da puta.

- EPA, EPA, EPA. FILHO DA PUTA, NÃO! - Claro que Harry não podia continuar no quarto, quieto. Tinha que aparecer atrás de mim com o cabelo bagunçado, sem camisa e com a boca um pouco rosada. Certo... Ainda dava pra dar um jeito nisso...

- ENTÃO É VERDADE, HARRY? - Sophie estava beirando a um ataque.

- Sério maninha? Tão tapada e lerda a esse ponto?- Ah, oi Matt...

- Harry, como você tem a cara de pau de me trocar por uma vadiazinha dessas!

- O que? – Ok, as coisas estavam piorando um pouco...

- É isso mesmo Sra. Evans, seu filho está me traindo com a garota que você deixou que morasse aqui!

- Como assim, Taylor? - o pai de Sophie disse espantado chegando também ao corredor.

-É verdade isso?-pude ver uma veia em sua testa careca e gorda querendo saltar. Bem, as coisas não podem ficar piores...

- Não é possível... Eu te conheço desde pequena, Taylor... Você não pode ter feito uma coisa dessas... - o pai de Ben começou, mas sua mulher (mãe de Ben) fez com que ele se calasse apertando seu braço. Sua expressão era de decepção. É agora não dava pra piorar mesmo.

- Mas eu sei que fez. Eu sabia que você era esse tipinho. - a mãe de Sophie quase gritou. Realmente, a filha teve a quem puxar... – Todos aqueles anos... Você aprontando um milhão de coisas pela minha casa! Quebrando lustres, jarras, pratos, copos... Parecia que as coisas se atiravam no chão no momento em que você aparecia! Sempre no meu caminho e no da minha filha! E sempre impune pelos seus pais que não sabem domar uma peste como você. - Nossa, depois desse discursinho eu tenho que ir ali chorar em um cantinho.

- E quem é você pra dizer alguma coisa da minha filha?

- Puta que pariu. - é não eram bem as palavras que eu pretendia dizer no momento, mas resumiam bem meu estado de espírito.

Será que ninguém tinha uma bomba pra me emprestar, não?