Depois de uma noite cheia de sonhos agitados, em que eu estava corria de algum bicho ou lutava contra alguma coisa, acordei e encontrei um par de olhos verdes me encarando com um meio sorriso.

– Oi. - Harry disse abrindo um sorriso estonteante para mim.

– Hmm... - murmurei e virei de costas pra ele tapando minha cabeça com o travesseiro.

– Não esconda o seu rosto. Gosto de olhar pros seus olhos. - ele disse como se dissesse "cabelo legal" e é claro que não percebeu a reação que provocou em mim quando disse aquilo. - Por que o mau humor logo de manhã ein, pequena? - ele deu um beijo na ponta do meu nariz.

– Estou com sono, grandāo. - ironizei o apelido fazendo uma careta.

– Mas você acabou de acordar! - ele disse divertido. Nossa, como o humor dele estava diferente essa manhã. Muito diferente de mim.

– Mas eu acordo com sono. Algum problema? - perguntei voltando a me tapar com o lençol que ele tinha acabado de tirar de mim com a intenção de que eu acordasse.

– Acorda bem estressadinha também ein, dona Hill? - ele fez uma pausa e suspirou - Tay, desculpe, mas você precisa ir. A Sophie vai passar por aqui me procurando daqui a pouco. - ele disse com a voz monótona. - Na verdade - ele acrescentou rindo sem humor - eu não sei como ela ainda não veio me procurar. Desde que eu "sumi" com você ontem, ela anda na minha cola.

– Ah. - de repente lembrei que não estávamos na nossa casa, e que Harry ainda tinha uma namorada. - Esqueci da senhorita perna longa.

– Dá pra você me explicar por que todo esse ódio pela sua altura? - ele disse levantando da cama e indo até o closet e pegando alguma peça de roupa no cabide. Percebi que Harry estava com uma calça jeans e seu cabelo estava molhado.

Demorei um pouco a responder, observando enquanto ele se movia pelo quarto procurando o pé de um sapato perdido. Eu tinha que admitir que estava me segurando pra não sair correndo e agarrá-lo.

– Vai sair? - perguntei de repente meio assustada com meu tom de voz decepcionado.

– Sim. - ele disse olhando pra mim com um sorriso. - E você também. - Harry achou o pé do sapato e sentou na cama novamente me puxando pros braços dele. - Agora não mude de assunto. Por que você não gosta da sua altura?

– Não gosto de ser baixinha. - lancei a novidade do ano e olhei pra Harry que estava esperando por mais explicações. Quando eu não disse nada, ele falou:

– Isso eu já percebi. Mas por que?

– Hm... é muito ridículo. Sério. - eu disse ficando vermelha. Eu nunca pensei que fosse admitir aquilo pra um garoto. Eu nunca pensei que fosse admitir aquilo pra mim mesma. - É que as garotas mais altas... tem sempre mais vantagem em tudo. Elas chamam mais atenção... são mais bonitas e mais populares. - desviei os olhos de Harry ficando, se era possível, mais vermelha do que eu já estava. - Quando se é baixinha e invocada, não são muitas as pessoas que se simpatizam por você. Não que eu reclame disso, eu gosto de ficar sozinha e ter a minha privacidade... mas as vezes eu fico pensando em como seria ser uma garota alta e popular... - não terminei de completar a frase e Harry estava me fazendo cócegas.

Eu já estava deitada na cama, com ele por cima de mim, vermelha e sem ar de tanto rir, quando ele finalmente parou e me deixou respirar. Quando consegui recuperar um pouco a minha respiração, fitei Harry que estava, como na noite anterior, por cima de mim.

– Posso ser sincero? - ele finalmente disse depois de vários minutos de silêncio - Não me importa se você é baixinha, ou tem dois metros.

– E por que não? Não seria muito melhor que eu tivesse uma altura e um corpo proporcional ao seu? Você combina muito mais com a Sophie do que comigo. - admiti olhando pro lado e evitando seu olhar.

– Não me importa, porque a sua você ser mais alta ou mais baixa não muda o fato de você ser minha. E eu não me importo com proporcionalidades... e quanto ao corpo... - ele me lançou um olhar perverso - isso é discutível.

Eu estava pronta para rebater com uma resposta irônica qualquer, mas nesse momento ouvimos passos vindos do corredor se aproximando do quarto de Harry. Olhei pra ele que me lançou um olhar assustado e isso estranhamente me fez sentir naqueles tempos em que se o marido pegasse a mulher na cama com outro cara, ele mataria os dois. E eu sabia bem no fundo, que se eu não saísse dali naquele segundo, meu fim não seria diferente. Sem falar nada, rolei para debaixo da cama e no segundo seguinte Sophie arrombou a porta do quarto de Harry.

– Bom dia, meu amor! - Sophie entrou no quarto saltitando. Coitada. Senti uma onda de pena dela, mas logo depois me lembrei de quem era aquela garota e a pena se transformou em prazer.

– Oi Sophie. - ouvi Harry responder.

– Só vim ver se estava tudo bem com você. - o que ela realmente queria dizer era "Só vim ver se você estava com a Taylor". - Saímos em meia hora, ok?

– Ah... ok. - os passos se distanciaram do quarto de Harry, e senti que ele levantou. Só quando ouvi a porta sendo fechada, sai de baixo da cama.

– Pra onde vocês vão?

– Nós - ele me corrigiu colocando uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha. - vamos ao shopping comprar roupas novas pra você. Quer dizer, você vai comprar roupas novas... Sophie, Matt e Zack vão porque são uns inúteis que não tem nada pra fazer da vida.

– Hey, eu gosto do Matt ok? E do Zack também! - eu disse dando um tapa fraco em seu braço. - E você? Vai por que? - perguntei abrindo a porta do seu quarto com a intenção de ir embora, mas fui surpreendida por Harry que me puxou e me deu vários selinhos.

– E vou pra ficar de olhos em uma certa baixinha. É como dizem, quanto mais baixinha, mais fácil de sumir. - ele deu de ombros e me soltou pra que eu pudesse sair correndo para o meu quarto, mas na metade do caminho, voltei e dei um selinho demorado. - E essa eu não posso perder de jeito nenhum.

Na porta do meu quarto tinha uma roupa dobrada e um bilhete em cima dizendo "A última roupa minha que você vai infectar. Vista isso e desça pro café. Vamos ao shopping comprar lixos novos pra você vestir. Com amor, Sophie."

Revirei os olhos e peguei a roupa, que se resumia a uma blusa meio grande e uma calça colada. Tive uma ideia brilhante. Se era pra infectar as roupas da Sophie, eu tinha que fazer isso com estilo. Peguei uma tesoura que achei em uma gaveta, e fiz um alguns cortes na parte de trás da blusa, até que o corte se parecesse com uma caveira. Peguei a calça e a desfiei um pouco nos joelhos. Perfeito.

Tomei meu banho e vesti a roupa. Calcei o coturno que Sophie tinha deixado ali e desci. Quando sentei na mesa fiz questão de dar um grande sorriso pra todo mundo.

– O QUE VOCÊ FEZ COM AS MINHAS ROUPAS SUA VADIA! - Sophie gritou.

– Bom dia pra você também, Sophie. Mas quanto mau humor!

– Essa blusa me custou dois meses de mesada! E essa calça era de grife! - revirei os olhos e expliquei.

– Mas as minhas roupas foram roubadas! E eu queria me sentir mais a vontade. Se é que me entendem, senhor e senhora Foster. - fiz uma cara triste e eles caíram.

– Sophie, chega. A nossa convidada foi assaltada. O mínimo que você podia fazer por ela era emprestar suas roupas e deixá-la usar como ela quiser. - É Sophie. Parece que você está engolindo o pão que o diabo amaçou.

Depois do café fomos direto para o shopping do centro da cidade. Devia ter uns mil andares, mas só um me importava. O andar de lojas e artigos de rock. O pai de Sophie tinha me dado um cartão com limite de mil reais, e falou que se eu precisasse de mais, era só ligar.

– Ok. - eu disse quando o carro nos deixou na entrada. - Encontro todos vocês na praça de alimentação em uma hora. Agora vão fazer o que vocês tem pra fazer e me deixem em paz comprar minhas roupas. - e, com alguma sorte, achar uma girafa substituta.

Entrei no elevador e fui para o quinto andar, onde tinham roupas e artigos de rock. Senti um braço envolver meus ombros e falar no meu ouvido.

– Esse não é mais o seu andar de compras, maninha.