A Garota Do Pão escrita por WaalPomps


Capítulo 1
Uma estranha


Notas iniciais do capítulo

Esperava algo melhor, mas foi o que saiu, então...
Ah sim... Quando aparecer o link da música, ouçam-a. É cliche, eu sei, mas eu a ouvi escrevendo HUAUHAUHAHUA



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Uma estranha. É assim que eu me sinto, novamente, ao ser colocada nesse belíssimo vestido. Uma grande estranha. Depois de quase seis anos, eu ainda não me acostumei a como minha aparência fica quando sou maquiada e arrumada pela minha louca equipe de preparação. E hoje, mais do que qualquer outro dia, tenho que ser arrumada.

Por quê? Ah, nada de mais, apenas meu casamento.

Oh sim. Hoje, depois de exatos seis anos da colheita que mudou minha vida, eu, Katniss Everdeen me tornarei Katniss Melark , esposa do menino do pão, meu melhor amigo, meu dente de leão na primavera... Peeta.

Mas, apesar da alegria que me consome por saber que hoje nos tornaremos um diante das leis, sinto que isso é de alguma forma errado. Não, não pelo fato de já sermos um em todos os outros sentidos emocionais e carnais possíveis, mas pelo fato que isso parece... Não Peeta e Katniss.

Vejam bem, se fosse por mim, iríamos até o prédio da prefeitura da cidade, assinaríamos os papeis, tiraríamos na sorte para ver em qual casa moraríamos, teríamos um jantar com nossos amigos mais próximos e minha mãe, Peeta faria um belíssimo bolo com tudo que eu gosto e no fim da noite, queimaríamos um pedaço de pão, como era costume no distrito 12.

Mas ao invés disso estávamos na Capital, agora totalmente reformulada, esperando para entrar na louca cerimônia que Plutarch organizou. Apesar dos ressentimentos que ainda rodam a morte de minha irmãzinha, Peeta me convenceu a que retomássemos um relacionamento no mínimo cordial. E eu, claro, relutei a principio e aceitei a final.

_ Linda. Absolutamente maravilhosa. – guincha Octavia com sua voz fina, batendo alegremente palmas. Flavius e Venia não demonstram tanto entusiasmo, mas parecem emocionados e excitados com o evento, especialmente por, além de tudo, serem parte da concorridíssima lista de convidados. Algumas coisas nem o tempo pode mudar.

_ Sabe, até que você está parecendo gente. – a voz irônica de Johanna também é algo que, (in)felizmente, o tempo não mudou – Nesse momento eu deveria fazer um emocionante discurso sobre a alegria de ser sua madrinha ou posso ficar quieta?

_ Sinta-se a vontade para manter-se calada. – digo, tentando não rir. De acordo com Plutarch, dezenas de anos atrás, as pessoas tinham padrinhos ao se casar. Como grande parte das pessoas que conheci na minha infância morreram no bombardeio, posso dizer claramente que Johanna é o mais próximo que tenho uma amiga, e nesse caso, de uma madrinha.

Peeta, atendendo as expectativas, convidou nosso antigo mentor e vizinho, Haymitch, para seu padrinho. E, dessa vez contrariando as expectativas, o mesmo concordou e até o momento se mantinha sóbrio.

_ Você está um pãozinho, docinho. – riu ele, entrando em meu quarto. Sorri para ele pelo reflexo do espelho e ele se aproximou – Não deixe Effie te ouvir, mas você está mais bonita que ela no dia que nos casamos.

Oh sim, a irritante Effie havia se casado com o louco Haymitch. E só haviam tentado se separar quatro vezes em três anos. Todas terminando com ‘férias’ longas e barulhentas dentro da casa dele.

_ Falando no diabo. – sussurrou Johanna, enquanto ouvíamos os saltos no corredor e logo a porta se abria.

_ Temos um maaaaaravilhoso dia. – cantarolou ela, dando um selinho no marido – Você, seu porco velho, saindo daqui. Seu lugar é com o noivo. Andando, vamos.

Ele puxou-a para um beijo e depois saiu rindo, deixando-a no mínimo roxa de vergonha.

_ Quem te viu quem te vê. – brinquei – Falando como uma verdadeira mulher do 12. Estou orgulhosa docinho.

_ Vamos logo Katniss. – disse ela revirando os olhos e abrindo a porta, por onde eu e Johanna passamos ainda rindo. Foi quando eu o vi.

Como eu não tinha pai e invocaram com a ideia que meu pai deveria me levar até meu noivo, pediram-me que escolhesse um ‘substituto’. A principio, relutei, não acreditando que alguém seria digno de assumir o lugar de meu pai. Mas então, me lembrei dele. Uma simples ligação ao distrito 2 e ele concordou.

_ Gale. – digo, imensamente feliz por vê-lo. Ele está mais encorpado da ultima vez que o vi e seus cabelos mais curtos, num estilo mais militar. Ele sorri para mim antes de, para minha total surpresa, dar um beijo em Johanna – Ninguém me avisa de mais nada aqui?

Ambos riem, enquanto ela se afasta para nos dar privacidade. Ele para me observando, antes de se aproximar e beijar meu rosto.

_ Está maravilhosa Catnip. – garante ele – Vamos? – pergunta me oferecendo o braço, que eu aceito rindo.

_ Vamos.

Ele caminha comigo até a porta do prédio principal da cidade. Ali fora, haverá um longo tapete vermelho de quase 30 metros, pelo qual deverei caminhar, até o lugar onde a presidenta Paylor e meu futuro marido estarão esperando.

Os melhores músicos de toda Panem foram solicitados, incluindo o solitário violinista de nosso distrito. A música era uma composição dele, falando sobre se sentir seguro e protegido, algo totalmente Peeta e eu.

Quando as portas se abrem, Johanna e Haymitch já estão lá fora, um de cada lado. Eles se dão os braços, começando a descer as escadarias. Conto até três antes de eu e Gale começarmos a segui-los.

Todas as pessoas da Capital estão ali e aposto que outras dezenas vindas dos distritos. Vejo a mim mesma no telão, como naquela primeira noite, quando fui a garota em chamas. Meu vestido, infelizmente não é uma criação de Cinna, mas acho que ele aprovaria o modelo, simples e modesto como eu gosto. A trança de sempre e uma maquiagem que, mesmo não tão forte, não me deixa reconhecer a mim mesma. Estranha, mas ainda sim, perfeita.

O caminho parece extenuantemente longo, e na verdade é. 30 metros? Eu sei que a cidade toda queria estar presente, mas isso não quer dizer que todos eles têm de ficar grudados com as bordas do tapete pelo qual caminho.

Faltando pouco mais de três metros, há uma cerca viva alta, impedindo que os ‘não convidados’ vejam a cerimônia por ali. Assim que atravessamos, sinto-me melhor, vendo apenas as pessoas que eu mais gosto ali.

Annie com Finn, seu pequeno filho. Algumas pessoas do 12. Alguns poucos de outros distritos, como Beetee e até Enobaria. E minha mãe. Ela está de pé em frente ao primeiro banco, sorrindo esfuziante para mim.

E um pouco a sua frente está ele, de costas, balançando no lugar, ansiosamente. Quando Haymitch se posta a seu lado, vejo-o suspirar e se virar. Quando nossos olhares se cruzam, é como se o mundo sumisse.

Sinto vontade de soltar Gale e correr até ele, beijá-lo, arrancar suas roupas... Mas não o faço, em partes por Gale segurar meu braço com firmeza, em partes por esses saltos não me permitirem muito mais do que caminhar.

Ele caminha alguns passos até eu e Gale. Meu melhor amigo beija minha testa, visivelmente emocionado e aperta firmemente a mão de Peeta, antes de se encaminhar até minha mãe e sentar ao seu lado.

Meu noivo me olha, sorrindo como um louco. Ele beija minhas duas mãos e minha testa, antes de me dar o braço e nos aproximarmos de Paylor. Sei que Plutarch preparou um roteiro com um longo e meloso texto para ela falar, mas não dou bola. A visão de Peeta a meu lado é mais maravilhosa.

Mantenho-me no modo automático ao longo de toda a cerimônia, sem realmente prestar atenção. Concordo quando solicitado, assino quando pedido e quando ela afinal diz:

_ Eu vos declaro marido e mulher. Pode beijara noiva. – volto a mim e o puxo para um beijo, no mínimo embaraçoso.

A festa é tão ou mais cheia de pompa que a cerimônia em si e meu pânico já não é tão grande. O que me domina realmente é a louca vontade de ir para minha lua de mel. Recebemos cumprimentos, temos várias danças, incluindo as maravilhosas de nosso próprio distrito. O bolo, como esperado, é divino, perfeitamente decorado e enfeitado por meu, agora, marido.

E quando, horas depois, somos afinal liberados para nossa noite de núpcias, entro em nosso antigo alojamento pré-jogo e vejo-o romanticamente decorado. Sorrio, sentando-me no sofá e colocando os pés para cima.

_ Cansada?  - pergunta ele, sentando-se aos meus pés e tirando carinhosamente meus sapatos – Estão inteiros.

Eu dou uma gargalhada, sentando-me e puxando-o para um beijo. Ele fica sobre mim e continuamos a nos beijar, até que ele pergunta:

_ Como você se sente? Sabe, estando casada?

E então paro para pensar sobre isso. A verdade era que, apesar do anel em meu dedo, da grande festa e de um pedaço de papel dizendo que éramos casados, eu não me sentia diferente.

_ Honestamente... Não sei. – admiti e o vi abrir um sorriso torto – Ora Peeta, você sabe que eu não sou uma pessoa exatamente... Emotiva.

_ Não é isso. – garantiu ele, sentando-se e me puxando para ficar sentada – A verdade é que eu também não sinto nada diferente. – admitiu ele, dando de ombros – E acho que sei porque.

Ele se levantou, indo até a cozinha. Quando voltou, trazia em suas mãos um pão no perfeito formato de coração.

_ Acho que nenhum de nós vai conseguir se sentir casado até queimar o pão. – disse ele sorrindo e eu retribui. Era por isso que eu o amava tanto. Me levantei e juntos nos aproximamos da lareira. Seguramos juntos o pão e o jogamos o fogo, vendo-o queimar.

_ Olha que você vai se meter em encrencas por queimar o pão. - brinquei, referindo-me ao dia em que ele salvou minha vida pela primeira vez.

_ Se eu puder ajudar uma donzela indefesa. – retrucou ele, me abraçando pela cintura.

_ Ah você pode... Mas não com um pedaço de pão. Pelo menos, não agora.

E então suas roupas e meu vestido viraram lembrança e o mesmo fogo que queimou o pão nos possui. Ele seria sempre o garoto do pão e, a partir de hoje, eu era oficialmente a garota do garoto do pão.


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Notas finais do capítulo

É isso ai... Se gostarem comentem! =D