PERCY

Meu corpo todo doía. Eu mal conseguia abrir os olhos, o que eu tenho certeza que era essencial para aquela situação.

Lembro-me da explosão da caverna, o vento forte que nos levou, as luzes brilhantes. E só. Circe teria nos ajudado, afinal, eu estava vivo.

Mas e os outros? E a guerra? O que aconteceria agora?

Forcei-me a abrir os olhos. Foi como se tivesse uma camada fina de poeira sobre eles, e eu estava tonto. Deitado em um piso de mármore, onde reconheci ser o Partenon. Tombei minha cabeça de lado para verificar onde os outros estavam.

Annabeth estava a poucos metros de distancia de mim, mas também pude ver os outros. Longe dali, uma guerra continuava, e tinha um detalhe muito importante do qual eu tinha esquecido completamente.

Efialtes.

Como eu pude me esquecer do gigante? Gaia perdeu, não perdeu? Por que ele ainda estava ali?

As perguntas jorravam na minha cabeça, me deixando ainda mais fraco e confuso. Queria levantar e ver como os outros estavam. Partir para a batalha contra Efialtes, mas era impossível. Eu mal conseguia piscar e abrir os olhos novamente.

Uma coisa que dificultava muito era que agora o Sol aparecia, sem o nublado e a nuvem de tempestade formada ali. O gigante devia estar dificultando o pôr do Sol, ou as Hespérides estavam nos dando tempo. Naquele momento, a única coisa que eu sabia era que eu não sabia de nada, o que não era uma grande novidade.

Notei Calipso se levantando em um canto, perto de Nico. Ela colocou a mão na cabeça, como se tivesse batido com força. Olhou confusa, até que seus olhos encontraram os meus. E então, ela veio até mim, me ajudou, e eu parti para ajudar os outros.

Ok, não foi isso que aconteceu. Eu só não queria achar que estava ficando mais maluco do que o normal.

Calipso olhou para Nico, que também se levantava. Eles murmuraram alguma coisa um para o outro, e ela lhe deu um beijo na testa. Isso é... Um absurdo! No meio da guerra os casais mais improváveis da história de casais improváveis se juntavam, enquanto eu estava aqui, como uma coluna do templo. Literalmente.

Depois da cena constrangedora, Nico olhou para mim. Finalmente alguém percebeu que eu estava acordado, afinal.

– Percy! – Ele disse, caminhando até mim. A cada passo dado, ele ficava ainda mais vermelho.

– O que aconteceu ali? – Eu murmurei quase ininteligível.

– Eu a ajudei quando... Você sabe. Não queria ficar parado sem fazer nada depois de tanto tempo. – Ele murmurou em resposta.

– Então você sabe como está a minha situação. Ajude-me a levantar, precisamos deter o gigante.

Nico me deu a mão, e eu levantei com dificuldade. Os outros estavam despertando aos poucos, Leo, Piper, Thalia... Porém, nossa provável salvadora não se encontrava em nenhum lugar dali.

– Onde está Circe? – Perguntei.

– Não sei. Ela estava perto de Thalia e Luke a ultima vez que eu a vi, e então, desapareceu. – Ele respondeu, sem se surpreender.

– Onde está Circe? – Thalia perguntou, levantando-se de repente. Ela ergueu os olhos em minha direção, como se eu tivesse três olhos.

– Por que está olhando assim para mim? Circe sumiu. – Respondi, indo em direção a Annabeth.

– Percy, você esta com um corte horrível na testa. Precisamos de um pouco de Ambrosia. – Thalia disse.

– O gigante está indo para algum lugar. – Comentou Calipso.

Virei-me para ver, quase causando um torcicolo.

Calipso estava certa; O gigante corria em direção contrária de nós. Os semideuses tentavam derrotá-lo, sem sucesso.

– Ele está indo para o Olimpo! – Exclamou Annabeth do nada. Pulei com o susto.

– Onde fica? – Perguntei.

– Deuses, Percy. – Disse Annabeth, revirando os olhos. – Nunca ouviu falar sobre o Olimpo Original?

– Hum... Não. – Respondi, me sentindo com 12 anos de idade novamente. Ela limitou-se a suspirar.

– A Grécia tem uma estrutura diferente de Nova York. O Olimpo não é encontrado em elevadores de edifícios famosos, e sim por estruturas mágicas que cercam a cidade. É complicado achá-lo, principalmente porque não fazemos ideia de onde ele possa estar nesse momento. A entrada pode estar tanto ao nosso lado quanto nos fins de Atenas.

– Precisamos segui-lo. – Disse Luke, vindo em minha direção ao lado de Thalia.

– Só para constar, eu estou me sentindo um lixo completo. Não consigo nem mover as minhas pernas direito. Então, não sei muito bem se isso vai ser possível. – Falei.

– Chame a Piper. – Annabeth disse. Piper se levantava tão lentamente que achei que até ela conseguir ficar de pé eu já estaria grisalho.

– Que seja, Percy, eu vou. – Thalia disse, com um ar de superioridade.

– Não, eu tive uma ideia. Annabeth, e se você usasse aquela coruja?

– O que tem? – Ela disse.

– Poderia chamar Íris. Ela nos transportaria para lá. – Eu falei como se fosse o óbvio.

– Claro, Percy, mas eu acho que se Íris estivesse aqui nós não teríamos problemas com um gigante. – Annabeth respondeu.

– O casal poderia fazer o favor de parar de brigar? Nós temos que seguir o gigante. Mesmo que Gaia não desperte, isso pode acabar com os deuses. Aliás, se isso acontecer, nós só iremos ganhar tempo, porque Gaia iria despertar de qualquer jeito, e os titãs iam dominar tudo. – Reyna disse.

– Então vamos logo atrás dele... – Eu falei.

– Percy, estamos feridos! Como... – Annabeth foi interrompida por um trovão estrondoso no céu.

Um cavalo que mais parecia um espírito do vento pousou levemente no chão, seguindo para Jason. Olhei para o céu novamente, esperançoso, e vi uma imensa forma negra chegando. Blackjack nunca me deixaria na mão. Fora isso, Sra. O’leary e Arion também tinham aparecido. Certo, devo admitir que isso foi muito legal.

O resto de nós já havia se levantado com um pouco de dificuldade. Montei em Blackjack com Annabeth, Jason montou em Tempestade com Piper, Nico montou na Sra. O’leary com Calipso (sem comentários), e Hazel ainda estava discutindo com Frank sobre o porque de ele não querer ir em Arion.

– E o resto? – Perguntou Annabeth.

– Ok, nós ficaremos aqui então. – Disse Leo, mau humorado.

“Ei, Blackjack.” Pensei. “Não tem como você chamar uns amigos?”

“Ih, chefe, tá difícil hoje. Mas eu vou tentar.” Ele respondeu. “Talvez, se tiver uns torrões de açúcar extras no meu celeiro...”

“Caham”

“Ok, chefe. Tudo que você precisar.”

Alguns minutos depois três pégasos desceram do céu. Phorpkie estava lá também, e Leo e Reyna montaram nele. Eu estava me acostumando com aqueles dois, mas não imagino como seria um romance após a guerra. Enfim, Hazel e Frank continuaram discutindo até que Frank decidiu voar como uma águia e Hazel parou de tentar argumentar. Thalia e Luke estavam prontos para montar em um pégaso branco que aparecera, mas Thalia desviou o passo, insegura. Imagino no que Ártemis ia pensar se visse aquela cena.

Finalmente seguimos o caminho do gigante. Naquele momento eu achava que não seria mais possível vê-lo ou coisa assim, mas até que encontra-lo foi fácil. Ele andava tão rapidamente quanto Piper levantando após a explosão da caverna.

– Ele sabe que estamos aqui? – Perguntei para Annabeth, que estava na minha frente.

– Não. Efialtes é conhecido por sua estupidez, Percy. Não é tão inteligente quanto os outros gigantes. Ele foi feito para destruir Apolo, portanto suas habilidades especiais são gabar-se o quanto ele acha que é poderoso.

– Reflete bem o seu inimigo. – Falei.

– Na verdade, ele é sim poderoso. Apolo é um deus muito importante, Percy, e muita gente não enxerga isso. Apesar de ser extremamente Narcisista e um pouco... Ahn... Fora do comum, ele é o deus dos advogados, dos médicos e é o deus do sol. Sabe curar qualquer doença, reconhece uma mentira e tem poderes que influenciam sobre a estrela mais importante do universo. Além disso, ele é o deus das artes e...

– Tá, tudo bem, Annabeth! – Eu a interrompi. – Você até está parecendo ele!

– Desculpe... – Ela disse envergonhada. – É que, depois daquele incidente com o carro, não sei o que pode vir a acontecer.

Apertei-a com mais força.

– Não se preocupe. – Eu disse em seu ouvido. – Nós estamos juntos. Tudo vai ficar bem.

Por mais que eu estivesse um pouco irritado, eu amava o fato de ter Annabeth ao meu lado. Fui arrancado dela duas vezes e quase não sobrevivi a isto. Juntos, poderíamos fazer o que quisermos. Annabeth era como se fosse... Era como se fosse a minha base. Sem ela, eu não existiria.

“Puxa, chefe.” Exclamou Blackjack emocionado.

– Não comente. – Eu murmurei para ele.

– O que? – Annabeth perguntou.

– Nada. Só estava falando com Blackjack. – Eu disse.

Continuamos voando acima do gigante. Até que, do nada, ele sumiu.

– O Olimpo! – Annabeth exclamou.

– O que... Passamos? – Perguntei confuso. Os outros se juntaram a nós.

– Sim. – Disse Annabeth, sonhadora.

Fiz sinal para que Blackjack continuasse indo, temendo que nós explodíssemos no meio da barreira. No fim, nada aconteceu. Quer dizer... Nada além de deixar todos nós impressionados.

O Olimpo original era cinquenta vezes maior do que o que eu conhecia. Muito mais estruturado, com várias estatuas dos deuses distribuídas pela plataforma de mármore. Colunas com dez metros de altura seguiam pelo salão, levando-nos para um daqueles templos sagrados gregos que vemos em filmes, só que muito melhores. A plataforma tinha pequenas barras também de mármore, com deuses desenhados delicadamente sobre elas, assegurando com que ninguém desabasse dali. Dava para ver as nuvens invadindo o chão, junto com as flores e plantas incomparáveis que ali surgiam. A única coisa que arruinava aquela visão era o gigante, que começava a erguer uma estátua de Hera.

– EI! – Gritei. – Grandão!

O gigante virou-se abruptamente para mim, com olhos tão dourados quanto o de Hazel. Seus cabelos eram de um loiro branco que chegava queimar meus olhos. Ele não era tão alto quanto os outros gigantes, mas tinha uma aura de poder tão forte quanto.

– Percy Jackson. – Falou o gigante com uma voz sombria. – Você veio presenciar a morte dos deuses.

– Errado. Eu vim te matar. – Eu disse, tentando soar confiante. Efialtes riu.

– O exército está chegando, Jackson. E eu sou um gigante. A menos que você transforme seu cavalo com asas em um deus, não tem como me matar.

“CAVALO COM ASAS!? CHEFE, ISSO É INACEITÁVEL!”

– Ham... Não vai ser fácil para você, Efialtes. Gaia não vai despertar tão cedo. – Eu disse.

– Dane-se Gaia! Os deuses cairão, e eu dominarei o mundo! – Efialtes berrou. Jason olhou para mim nervoso.

– Acho que devemos atacá-lo agora. – Ele disse. Sorri em resposta, enquanto o gigante ria.

– Certo. Vai nessa que...

– AGORA! – Berrei.

Descemos de onde estávamos e corremos para Efialtes. Tentei de todas as maneiras enfiar minha espada em um ponto que ele ficasse ferido e incapaz, mas apesar da aparência, ele era muito forte.

O pior é que os monstros estavam mesmo chegando, para derrotar-nos. Piper, Jason e Thalia estavam lutando contra eles.

Corri para ajudá-los, e naquele momento um cão infernal pulou para Piper, que tropeçou em uma das barras.

– NÃO! – Gritou Jason, correndo para salvá-la. Eu também fui, mas ela tinha caído. Era tarde demais.

Thalia empurrou o irmão, que estava para levar um golpe certeiro na cabeça, e como se já não fosse o suficiente, ela pulou nas barras.

– THALIA! – Gritei, juntamente com Jason. Ele não conseguia se mover, porque um ciclope o segurava no chão. Segui para ele.

– NÃO! SALVE ELAS! – Jason gritou para mim.

O gigante rugia alto, no fundo. Algumas estátuas já estavam quebradas, inclusive tinha uma cabeça de Atena muito bem encaixada nas mãos de Poseidon, o que imaginei deixá-la muito irritada.

Fui para Jason, cravando contracorrente contra as costas do monstro que estava prestes a o atacar. O ciclope virou pó diante de mim, e Jason me olhou com ódio.

– Como você... – Ele ia dizer, sendo interrompido por algo atrás de mim.

Thalia voava com Piper nos braços, de olhos fechados. Não sei como ela conseguiu encontrar o caminho e Piper parecia tão enjoada como ela, significando que não foi uma queda muito agradável.

– Thalia! – Exclamei.

– Viram isso, não? – Ela disse, ficando verde. – Porque eu não vou fazer de novo.

Eu estava preparado para dizer o quanto fiquei impressionado, quando um grito do gigante encheu a sala. Annabeth colocava sua adaga fundo em seu peito, pendurada em uma parte da camiseta de Efialtes. Os monstros começaram a nos ignorar e avançar para eles.

Até que doze figuras poderosas começaram a brilhar diante de nós.

Os deuses do Olimpo vieram salvar seu território. Já não era sem tempo!

– Não olhem! – Exclamou Afrodite.

– NÃO! – Gritou Efialtes.

Fechei os olhos antes que o brilho me queimasse por dentro. Os deuses se juntaram a nós, no fim. Pude ouvir atentamente o som dos monstros se desintegrando, incluindo o gigante.

– E esse é o fim. – A voz de Hera ecoou pelo salão. Abri os olhos, e os deuses olhavam para nós, nos avaliando. – Sua missão foi completa, heróis do Olimpo. Vocês prestaram para nós grande serviço, e agora, com gratidão, iremos recompensá-los. Antes, algumas explicações. Sigam-nos e decidiremos o que será dado.

Hera sorriu ternamente. Meus amigos estavam exaustos do meu lado, cambaleando. Os deuses começaram a seguir para dentro do templo sagrado, e os seguimos.

Fui para o lado de Annabeth e a abracei.

– Conseguimos. – Eu disse. Ela sorriu.

– Ainda não, cabeça de algas. Mas, por ora, o mundo está a salvo. – Ela disse. Dei um beijo de leve em sua testa.

Subimos as poucas escadas que davam para o templo principal. Era realmente uma dó que o salão tivesse sido em parte, destruído. Eu nunca achei que me impressionaria tanto com algo.

E como sempre, me enganei. Os deuses ergueram suas mãos, e as portas do Olimpo se abriram, me deixando total e absolutamente deslumbrado com a visão que eu tinha.