Jordan ouviu algumas palavras e sentiu algo o empur­rando. Abriu os olhos e viu Jane e Petra, olhando-o preocupadas.

            - O que... - disse enquanto se sentava – O que aconteceu?

            - Você teve um pesadelo – disse Jane. - Acordei assustada quando vi que você não es­tava na cama.

            Foi só naquele momento que Jordan percebeu estar deitado no chão, entre as camas. Petra chegou perto de seu rosto e lambeu-o depois de fazer um barulho baixinho bem no fundo de sua garganta. A mesma coisa que parecia dizer-lhe que ela es­tava bem na noite anterior, mostrava que estava preocupada. Olhou para trás, para o rádio relógio. Já eram seis horas.

            Levantou-se e foi para a sala. Entrou na primeira porta da direita, que dava para um ba­nheiro. Havia uma pia um pouco enferrujada ao lado da porta, um vaso na parede oposta e um box à esquerda. Jordan parou diante do espelho acima da pia e viu seu reflexo, estava horrível. O rosto estava marcado por oleiras, os olhos estavam sujos e uma casca enorme de ferida em seu nariz – que conseguiu na noite anterior ao esbarrar em galho.

            Lavou o rosto, o que melhorou um pouco sua aparência. Olhou para o lado e viu Jane pa­rada na porta, ainda preocupada.

            - Com o que você sonhou? Está tudo bem?

            Do jeito que se sentia confuso, parecia que Jordan sabia tanto quanto ela.

            - Não me lembro – mentiu com medo de novas perguntas. - Acho que vi algo explodindo, ou algo assim... sei lá. Mas, sim, está tudo bem.

            Viu a preocupação em seus olhos, o que não o deixou surpreso. Jordan era sua única famí­lia, e, até onde sabiam, não tinham mais nenhum parente vivo.

            O silêncio dominou por um tempo. Jordan odiava quando isso acontecia. Então mu­dou de assunto.

            - Vamos tomar café, o dia vai ser longo.

            Jane sorriu também feliz pela mudança de assunto.

            - Só se for para você. Eu estou de férias, esqueceu?  Na verdade, você também está.

            - Eu sei – disse, apesar de ter esquecido por um momento que já era janeiro.

            - Então, me explica de novo por que você continua trabalhando? São férias remuneradas. Você deveria estar curtindo a vida, sair para passear, coisas assim.

            - Está bem, eu paro de trabalhar. Depois a gente para de comer para você vai poder ter aque­las roupas que você viu na loja lá no centro.

            Ela riu.

            - Certo, mas não quero que faça nada que não queira por minha causa – ela disse abrindo um sorriso.

            - Ah, como você é mentirosa.

            Ambos riram e voltaram para a sala. Jane se sentou a mesa e Jordan foi para a cozinha Jor­dan foi em direção da pia e abriu uma das portas a direita sobre a mesma e tirou uma caixa de ce­real. Pôs sobre a pia, foi até o frigobar – não tinham uma geladeira então usavam este, pois econo­miza mais - e pegou uma caixa de leite. Levou-os a mesa e voltou para pegar as vasilhas.

            - Desculpe, esqueci de comprar pão ontem.

            Jane não disse nada, pois não se incomodava. Começaram a comer em silêncio, até que Jane perguntou:

            - Então, esse ano você vai pra escola, né?

            Ele a olhou seriamente. Já haviam falado disso várias vezes.

            - Já falamos sobre isso, Jane. Se eu começasse a estudar, teria que trabalhar apenas meio período, ou seja, meu salário seria menor. Mal conseguimos no sustentar com o que eu já ganho. Se eu ganhasse menos, então, estaríamos perdidos. Eu poderia pedir um aumento, mas depois de toda a ajuda que Michael e Matthew já nos deram... não vai dar. E também, acho que Michael não iria me dar o aumento, não trabalho mais que a maioria dos outros.

            - Você nunca vai saber se não tentar. E se for para tentar, tem que ser agora. Você já tem dezesseis anos, só terá mais dois anos na escola. E se não estudar não subirá na vida. Se estudar, pode arranjar um emprego melhor, ganhar mais e poderemos ficar um pouco mais tranquilos em relação ao dinheiro.

            Jane abriu um sorriso caloroso. Ela insistia no assunto todos os anos, mas ele sempre dizia a mesma coisa. Jordan já pensara nisso diversas vezes.

            - Está bem, maninha – disse após um suspiro -, quando eu tiver a chance eu pedirei.