Continuamos conversando até
que a caçadora arregalou os olhos. Ela apontou para o horizonte e nós nos
viramos. Era ela. A ilha maravilhosamente estranha do meu sonho, que ia
surgindo como uma miragem.

  Percy's POV

  A ilha era incível. A água ao
seu redor era cristalina, a areia era branca como a neve. Mas a coisa mais
estranha era a vegetação, era toda... colorida. Parecia que eu tinha entrado no
maravilhoso mundo de "O Mágico de Oz" - Sabe, quando tudo fica
colorido e aquela garota ruiva que me lembra a Rachel (Annabeth não me ouça)
joga a casa em cima da bruxa? Não sabe? Bem, a minha mãe gosta desse filme. Ela
colocava para eu assistir.

  Eu tentava me concentrar no
barco, mas aquele lugar estranho prendia minha atenção. Chegávamos cada vez
mais perto. E o majestoso castelo de cristal ficava visível. Ele brilhava com o
sol.

  - Uau - Thalia disse.

  - Bem, essa é a ilha do meu
sonho - Annabeth confirmou.

  - Será uma armadilha? - a caçadora
refletiu.

  - E se for? Que outra escolha
nós temos? - eu perguntei.

  - O Cabeça de Alga tem razão.
Essa é a ilha onde obteremos as respostas. A ladra está aqui, e tenho quase
certeza de que é aquela mulher ruiva.

  Mulher ruiva... Eu não me
lembrava de nenhuma que pudesse ter roubado as coisas de Neleu e Pélias.

  Mas Mare tinha certeza de que
aquela ilha era a chave. Mare... Ela e Nico tinham ficado para trás e eu não
fiz nada. Minha garganta se fechava quando eu pensava neles, meu amigo e minha
irmã. Não podia me dar o luxo de pensar nisso agora, tinha que terminar a
missão, salvar o reino do meu pai e, quem sabe, resgatar os dois vivos.

  Encostamos suavemente na areia.
Seguimos em direção ao castelo reluzente e nenhum monstro ou criatura tentou
nos impedir. Levando em consideração todas as minhas experiências, eu sabia que
algo estava muito errado.

  Quando chegamos à construção de
cristal, percebi o quanto era grande. Nós entramos em um grande salão, um pouco
menor que a sala dos tronos, no Olimpo. Estava vazio. Ou era o que eu pensava.

  - Finalmente chegaram! – Uma
mulher pálida e de cabelos negros saiu de trás de uma pilastra.

  - Ceto – eu disse.

  - Sentiu saudades, Perseu? – A
mulher perguntou com uma cara de louca. – Você ainda vai me pagar... Vai me
pagar por ter matado...

  - Já chega Ceto. Eu cuido deles
agora.

  Uma mulher ruiva apareceu em uma
carruagem de conchas puxada por cavalos-marinhos que flutuavam. A mulher era
muito bonita, seus cabelos pareciam fogo em contraste com seus olhos, que eram
como o mar.

  Fiquei olhando para ela até que
percebi o olhar mortal de Annabeth. A Sabidinha não entendia que ela era única
para mim, não importa quem eu achasse bonita.

  - Quem é você? – Thalia perguntou. Uma flecha
apontada para a moça.

  - Ora, que educação é essa? – A
mulher riu, abanou as mãos e transformou o arco da caçadora em pequenos
caranguejos.

  - AH! – Thalia parecia muito
irritada. Ela amava aquele arco e eu sabia disso.

  - Mas acho que devo responder a
sua pergunta. Eu sou esposa daquele que tentou usurpar o trono dos mares na
grande guerra.

  Usurpar o... Espere aí, seria
Oceano? Aquele velho titã do mar tinha uma esposa bonita? Mas eu continuava sem
saber quem era ela, eu não tinha escutado nenhuma história sobre a mulher de
Oceano, mas, aparentemente, Annabeth tinha. Ela soltou uma exclamação.

  - Tétis! – ela disse.

  - Ora, muito bem, filha de
Atena!

  - Espera aí, Té... O que? – eu
perguntei

  - Tétis, a esposa de Oceano.
Você continua faltando as aulas de mitologia, não é, Cabeça de Alga?

  - Talvez... – admiti ficando
vermelho. Mas não era só eu, Thalia também não parecia conhecer a história de
Tétis.

  - Por quê? Por que causar
discórdia no reino de Poseidon? – perguntei.

  - Você deveria saber. – ela
sussurrou – Meu marido foi derrotado e se isolou nas profundezas do oceano, eu
não consigo encontrá-lo desde o fim da guerra! Você é o culpado disso, Perseu
Jackson, você, seu pai, aqueles semideuses e as caçadoras! Se não tivessem
derrotado Cronos nada disso teria acontecido e agora eu seria a rainha dos
mares!

  Ela tinha uma expressão tão
triste e desamparada que eu quase pedi desculpas. Quase.

  - CETO! Acabe com eles. Vou assistir de
camarote a guerra civil no reino de Poseidon, as coisas estão ficando boas por
lá, sabe?

  - Claro, minha senhora.

  A ruiva desapareceu em sua
carruagem.

  - O que eu faço com vocês? – Ceto ponderou –
Talvez Nêmesis possa me dar uma ideia. Sabe, ela está nos ajudando e acho que
gostaria de se vingar de vocês. Não mataram o filho dela também? Que mania
vocês têm de matar os filhos dos outros! Ah Equidina, pobre Equidina!

  - Mas, Ceto, eu nunca... –
Tentei falar, mas ela nos amarrou e amordaçou. As correntes pareciam de ferro,
elas apertavam meus pulsos, que deviam estar ficando roxos. Olhei para
Annabeth, ela estava bem ao meu lado. Queria me desculpar por tê-la envolvido
nessa loucura, mas sabia o que ela iria dizer. “Eu vim porque quis, Cabeça de
Alga”. Eu amava aquela sabidinha, ela pareceu entender o meu olhar. E eu
entendi o dela “Eu te amo, Cabeça de
Alga. Vamos sair dessa”. Relaxei um pouco.

  Ceto voltou acompanhada de uma
mulher estranha. Ela lembrava alguém, talvez no jeito de andar, eu não sei.
Tinha cabelos pretos, curtos e encaracolados, a pele morena e os olhos cor de
Âmbar.

  Annabeth arregalou os olhos.

  - Ora, vejam só – A mulher riu.

  Ela usava roupas de motoqueira,
uma jaqueta laranja, calças apertadas e botas de combate. Uma verruga no nariz
que me fazia lembrar as histórias de bruxas que eu escutava quando criança.

  As cordas que nos prendiam se soltaram.

  - Mas senhora... – Ceto parecia indignada.

  - Assim fica mais divertido,
querida – a outra disse.

  - Nêmesis – Afirmou Annabeth.

  Nêmesis? A Nêmesis?

  Annabeth’s POV

  Nêmesis, a deusa da vingança e
do equilíbrio estava aqui na minha frente, e ela ajudava os inimigos. O que
faríamos agora? Eu precisava pensar em algo, e rápido.

  - Nêmesis – eu disse

  - Olá, filha de Atena – a voz da
deusa era carregada de ironia, e isso me irritou.

  - Você vai pagar Perseu Jackson!
– Ceto cuspiu.

  - Ceto...ah...como eu vou dizer
isso? Bem, você está enganada. Eu não matei Equidina, na verdade foi ela que
quase me matou. Eu me joguei do Arco e ela desapareceu. – O Cabeça de Alga
tentou explicar.

  - Mentiras!

  - Não estou mentindo. Foi
exatamente o que aconteceu.

  - Equidina está morta. Desde que
fui chamada de volta do Tártaro por Tétis não pude falar com ela.

  - Ela pode estar morta, mas não
fui eu quem matou.

  - Percy está dizendo a verdade,
eu estava lá! – eu falei

  - Por que deveria acreditar em
vocês, semideuses imundos?

  - Porque eles falam a verdade –
Nêmesis disse simplesmente e o queixo de Percy caiu – Sabe quem matou a sua
filhinha? Tétis. Ela mentiu para você. Te enganou, e você caiu direitinho,
Ceto. Foi divertido.

  Todos estávamos chocados. Tétis
tinha enganado Ceto para usá-la em seu plano, isso era óbvio, mas eu não
conseguia entender o porquê de Nêmesis ter contado a verdade. De que lado ela
estava, afinal? Ela parecia estar saindo fora, desistindo do plano de Tétis.

  Ceto estava inconformada. Seus
olhos estavam arregalados. Quando ela assimilou as palavras de Nêmesis cerrou
os punhos, centenas de monstros surgiram ao seu redor.

  - Então ela vai pagar – falou entredentes.
Desapareceu com todo o seu exército de criaturas.

Nêmesis gargalhava.

  - Por quê? Por que contou isso a ela? Tenho
certeza de que não foi para nos ajudar. – Eu falei.

  - Em uma luta deve haver
equilíbrio, não? – a deusa riu – E eu não estava gostando do plano de Tétis, de
qualquer forma. Você não pode deixar pontas soltas em uma vingança, e foi o que
ela fez, agora vai pagar por isso.

  - Eu não estou...entendendo nada
– confessou Percy – A senhora não quer nos matar? Afinal, eu matei Ethan.

  - Ethan sabia o que estava
fazendo. Você atendeu ao seu último desejo e restaurou o equilíbrio. Posso não
gostar de você, Perseu Jackson, mas eu lhe devia isso. Agora, tome cuidado,
pois eu fiquei sim com raiva quando meu filho morreu. Talvez, algum dia eu ainda
queira me vingar de você, e, se isso acontecer – ela chegou bem perto do Cabeça
de Alga, e sussurrou em seu ouvido - não adianta fugir e nem se esconder, pois
será seu fim.

  - Mas você estava ajudando
Tétis. Não estava? – Thalia perguntou

  - Bem, sempre que alguém trama
uma vingança eu tenho que me envolver, mesmo que seja algo bem pequeno. Imagine
a de uma titânide louca de raiva por ser separada do seu eterno amor. No
começo, tenho que admitir, estava até gostando, mas depois... fiquei entediada.
E, como disse, devia uma a vocês, semideuses, por terem respeitado o pedido de
Ethan e, não posso me esquecer, terem construído um chalé para mim. – ela riu,
mas seus olhos não acompanharam – Agora, peguem as coisas de Neleu e Pélias, vocês
vão encontrá-las, e salvem o reino de Poseidon. Eu vou embora agora. E...Perseu?
Fique sempre de olhos bem abertos.

  Com isso a deusa sumiu. Eu
estava aliviada por Nêmesis ter nos ajudado, mas intrigada por não entender claramente
o comportamento da deusa. Era um enigma e eu gosto de desvendá-los, quando tudo
isso acabasse, me focaria em encontrar uma resposta cabível. Também estava com
raiva, Nêmesis tinha ameaçado Percy, e isso me fez ficar irritada, muito irritada.

  - Annabeth? – Percy chamou – Acho que não
temos escolha. Vamos achar os pertences de Neleu e Pélias.