O Que Você Quer? escrita por Frozen Lotus


Capítulo 3
Caixas, ciúmes e esperanças


Notas iniciais do capítulo

Desculpa a demora gente.
Só pra avisar.. não desisti, nem vou desistir da fic.



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Adentrou em seu quarto e trocou de roupa, ficando apenas com uma calça escura, o peito desnudo.
Quando ia deitar percebeu, por fim, enorme caixa em sua cama. Grande mesmo. Uma caixa vermelha, com um laço prateado a atá-la.

Quem? Quem teria colocado-a lá? Por Zeus, o que teria aquela caixa tão grande?

....

Ele não acreditava. Como foi que a caixa aparecera ali? Quem teria sido ousado o suficiente para adentrar a casa de Áries?

Mu se aproximou da cama receoso e, ao mesmo tempo, curioso. Segurou a tampa vermelha da caixa e viu que era macia, encapada a veludo.
Poderia ser uma armadilha, ele era um cavaleiro afinal. Nada mais normal do que inimigos querendo matá-lo.

Talvez devesse avisar a mais alguém, talvez nem devesse abrir. Seu mestre sempre o ensinara a ser cauteloso. Mu desencostou-se da caixa e se afastou, indo em direção à porta de seu quarto.

Já passava pelos corredores do próprio templo quando a imagem da caixa voltou-lhe à mente. Mais intensa, mais forte... Quase... Chamando-o.
Queria sair do templo, mas sentia-se quase hipnotizado, impelido a voltar pra seu quarto e para aquela caixa tão misteriosa que o chamava em seu silêncio de veludo.

Fechou os punhos, cravando nas palmas das mãos as unhas. Maldita curiosidade ariana.

Desculpe, mestre Shion. Eu sei que não deveria ceder e que nunca fui de desobedecer, mas dessa vez... É mais forte que eu. – Pensou o ariano, voltando os pés e rumando para seu quarto.


Mais uma vez se aproximou da cama, devagar e temeroso, num misto de curiosidade, excitação e apreensão. Pensou em se ajoelhar no colchão para ficar melhor acomodado. Mas ainda podia ser uma armadilha, não podia estar tão desprevenido caso algo ruim acontecesse. Ficou em pé ao lado da cama mesmo. Tocou os dedos no veludo da caixa, deslizando-os nas bordas até tocar os laços prateados.

Fosse uma situação normal, Mu já teria rasgado tudo. Mas o nervosismo ainda freava seu impulso de descobrir logo o que lá havia.
A mente em fogo, o pensamento focado. Tirou os laços.
Respirou fundo e decidiu continuar, fechando os olhos e retirando por fim a tampa.

Mu abriu um dos olhos ao não ouvir explosões, nem vozes inimigas gritando. Nada aconteceu. Nenhum estouro, nenhuma surpresa desagradável. Ainda assim a caixa permanecia uma incógnita, pois que era alta demais para que visse o que tinha dentro. Subiu na própria cama com intenção de fazer seus olhos alcançarem o fundo da caixa, agora sem temor do que poderia haver ali.


O ariano arregalou os orbes verdes e seu sangue pareceu congelar dentro dos vasos, seu coração falhou algumas batidas e qualquer reação sumiu de sua mente. A única coisa que consegui fazer era ficar ali... Parado... Incrédulo... Olhando...

Olhando o corpo adormecido e lânguido, que se encolhia suave sobre os próprios joelhos. Como uma criança que dormira brincando. Alguns fios dos compridos cabelos loiros escondiam-lhe pedaços da face, os lábios rosados entreabertos a respirarem tranqüilos e pausados.

O que é que fazia Shaka adormecido numa caixa em sua cama??

Um turbilhão de sentimentos passou na cabeça confusa do jovem lemuriano.
Preocupação de como e quem havia colocado Shaka ali, alívio de entender em partes a razão pela qual ele sumira na festa, frio no estômago em pensar no que fazer com o amigo tão... Entregue ali, aquele calor voltando a seu peito sem razão. Coisas demais. Demais para um só ariano, desinibido pelo vinho, pensar.

Todas aquelas reações involuntárias, de seu corpo e mente, deixaram o lado racional do ariano em grande incômodo. Era só Shaka. Seu amigo. Porque era tão perturbador tê-lo ali naquela situação?

Vamos Mu, é só tirá-lo daí e acomodá-lo para que ele possa dormir em paz. E você também, porque está precisando. Tirá-lo e colocá-lo para dormir... Tirá-lo e colocá-lo para dormir. Era o que a mente do tibetano repetia, como um mantra.

Pegou o loiro no colo, tirando-o da caixa, e surpreendeu-se ao constatar que ele era mais leve do que sempre imaginara. O rosto sereno do loiro recostando em seu peito, os lábios rosados roçando a pele do tibetano, que se arrepiou. Uhn! Que calafrio.
Mu chutou a embalagem para o chão, arrependendo-se logo em seguida pelo barulho. Fechou um dos olhos e arqueou as costas como se isso fosse impedir o som de chegar até o loirinho. Logo o barulho passou e Mu aliviou-se ao ver Shaka ainda adormecido. Ajoelhou-se, pousando na cama com imenso cuidado o precioso “conteúdo”.
Viu Virgem se remexer, um pouco desconfortável com tanta mudança, mas logo se acalmou e voltou a seu estado inerte.

Desvencilhou-se do corpo do indiano, deixando-o descansar e sentou-se na cama. Encostou-se na cabeceira, um tanto aturdido, muito confuso. Por Atena! Por que sua mente lhe pregava tantas peças? Mu não conseguia entender como poderia haver medo, excitação, hesitação, felicidade e dúvida em seu peito. Pior... Todos ao mesmo tempo. E mais importante... Por quê?

O ariano abraçou os próprios joelhos e ficou observando Shaka dormir. Totalmente inerte. Pálido como se nunca houvesse sido tocado pelo sol, loiro como se o invejoso astro rei tivesse copiado-lhe a cor dos cabelos. Que era um rei perante um Deus?

Absolutamente nada. O discípulo de Shion tinha certeza.

O indiano respirava pausadamente hipnotizando a atenção de Mu, que olhava fixo o tórax do amigo subir e descer, calmo, sereno, dando imensa paz ao cavaleiro de Áries. Sua contemplação foi quebrada quando o rapaz, pela primeira vez, se mexeu. Arrancou o broche que prendia no ombro a túnica vermelha. Arrancou, incomodado, a parte de cima da túnica, deixando-a presa somente na cintura, enquanto a parte que cobria seu tórax, agora pendia solta na cama do lemuriano. Remexeu-se mais um pouco, esfregando os olhos e fazendo Mu prender a respiração por pensar que o loiro podia acordar a qualquer momento.

Mas não acordou. Apenas aquietou-se. Parecia ter calor. E realmente, a noite não estava das mais frescas. O tibetano abriu a janela, numa tentativa de amenizar a temperatura do quarto, e voltou pra cama. Deitou-se ao lado do loiro e desistiu de dormir. Pra que fingir pra si mesmo que iria? Sabia que não dormiria.
Limitou-se a continuar olhando o rosto de Shaka. Os orbes fechados. Nunca os vira abertos... Será que... Por que não? Um sorriso maroto, de garoto que faz arte, brotou nos lábios do ariano.

Levou um dedo à pálpebra esquerda da reencarnação loira de Buddha e tocou-a. Tocou-a apenas. Com o receio e a adrenalina de estar fazendo uma coisa escondido. Mordeu o lábio inferior pra não rir e começou a levantar bem de leve a pele do outro. O loiro contraiu forte os olhos, assustando Mu, que se afastou e fingiu estar dormindo. Repreendendo-se por não conseguir tirar do rosto aquele sorriso... Traquinas.

Passados alguns segundos, Mu abriu os olhos e constatou que o virginiano ainda estava dormindo. Respirou aliviado. Bom, era melhor deixá-lo quieto... Porque, e se Shaka acabasse o explodindo? Áries chacoalhou a cabeça, afastando aqueles pensamentos. Olhou o amigo, sereno e calmo como sempre. Não... Shaka não o explodiria. Não de propósito pelo menos. Mu riu-se... De qualquer forma, não queria acabar em pedaços.

X.X.X.X.X.X.X.X

Em gêmeos a festa ainda ia alta. Eram raríssimos os momentos em que Shion se ausentava à noite do santuário e eles precisavam aproveitar bem.

– Cara, ta todo mundo tãoo bêbado. – Afrodite apertou as têmporas. – Olha o Aiolia vomitando! – Ele gargalhou.

– Vocês estão uns chatos, isso sim. Olha só! Tive até que tirar a minha túnica porque o Máscara entornou whisky em mim! – Kanon, que tinha trocado a túnica por um par de jeans escuros e uma camisa branca, reclamou. – Agora eu to diferente do Saga.

– E justo o Whisky! – O bêbado de peixes riu, alegre.

– Vamos. Amanhã aquele mala vai voltar! Saga! – Procurou o irmão entre as cabeças alegres no salão.


Kanon não gostou nada de ver o sorriso conquistador do irmão, debruçado sobre a mesa, para Shura de Capricórnio. Estreitou os olhos ao ver o olhar de soslaio que Saga lhe lançou, antes de voltar a atenção e os dedos para os cabelos curtos de Shura. O capricorniano olhava sério para seu gêmeo, mas nem mesmo seu jeito austero resistiria muito mais tempo ao charme de seu irmão. Kanon tinha certeza.

Era guerra que ele queria? Era guerra que ele iria ter. O gêmeo mais moço não fazia idéia do porque Saga agia tão estranho, mas que se fodesse. Isso estava o incomodando e muito. Talvez não devesse... Mas estava.

Kanon pegou o controle e mudou a música, aumentou o volume de tal jeito que já chamou a atenção. Era agora...

Na na na na.. Come on... Na na na na ... Come on


Kanon apoiou um dos sapatos na cadeira de acolchoado branco – foda-se se Saga não ia gostar da sujeira – e da cadeira para a grande mesa. Chutando alguns copos, toalhas e comida, deixou a mesa limpa para o que viria a fazer. Sorriu safado. Já tinha a atenção do gêmeo, que o olhava entre curioso e irritado por estar em cima da mesa... E de sapatos. Oh céus, por que tinha de ter um irmão tão desassossegado quanto Kanon?

Na na na na na .. Come on... Na na na na... Come on, come on, come on...

Ao ver o sorriso de Kanon, Saga concluiu que era só mais uma idiotice do irmão. Como sempre querendo ser o centro das atenções. Deu as costas para ele e voltou a conversar com Shura. Ahh, Saga não devia ter feito isso.
Não devia.


Feels so good being bad …Oh oh oh oh oh…. There’s no way I’m turning back…Oh Oh Oh Oh Oh… Now the pain is my pleasure cause nothing could measure… Oh oh oh oh oh

O mais novo dos gêmeos agora tinha todos os olhos sobre si. A música era um tipo de eletrônico que Afrodite adorava e que agora viria bem a calhar a seus propósitos de desviar a atenção do irmão de cima de Shura.

O som era intenso, tanto quanto o poder de sedução que o geminiano tinha. Todo o seu corpo acompanhava o ritmo acelerado e quente da música, afinal... Esse também era o SEU ritmo. As coxas bem feitas sob o jeans retesando ao rebolado de Kanon.

Ele sabia ser sensual e sabia quando estava sendo desejado. Os assovios altos de Afrodite apenas colocavam mais certeza de que Saga não olharia pra Shura naquela festa de novo. Uma camada fina de suor lhe cobria o corpo, deixando-o mais brilhante, mais chamativo. Kanon tinha um corpo de invejar qualquer soldado espartano e sabia usá-lo muito bem. Sua confiança só crescia ao ver a expressão zangada do gêmeo suavizar-se até tomar uma forma pasma e completamente hipnotizada aos seus movimentos rítmicos.

Os braços passavam do cabelo ao corpo, deslizando pelo abdome e ameaçando arrancar a camisa. Coisa que muitos ali torciam e se frustravam quando o gêmeo de Saga decidia por não fazer e sorria faceiro. Mordia os lábios, olhava quase com tesão, mexia os ombros de forma decidida a encantar. Afrodite fazia menção de subir na mesa, mas era contido por um canceriano incomodado, Aiolos deixou de perceber que o copo de cerveja transbordava e continuou enchendo sem tirar os olhos da exibição de Kanon. Nem mesmo Saga tirava os olhos do dançarino ardilosamente hábil que era seu irmão. Quando foi que Kanon aprendeu a dançar daquele jeito? Quando foi que ele passou a chamar sua atenção daquele jeito?

O geminiano mais velho tentava meditar sobre o assunto, mas era constantemente interrompido pela visão das mãos de Kanon passeando pelo próprio cinto e virilha. A concentração de Saga escorreu ralo a baixo por inteira quando o caçula passou a rebolar frente ao pisciniano, que agarrou o cós de suas calças.

Kanon sorriu safado ao perceber o pulo que o mais velho dera na cadeira, inconformado. Estendendo uma das mãos, passou a fazer sinal chamando o irmão, que não pensou muito e se levantou indo até o seu encontro. Saga apoiou-se na cadeira – Era branca? Quem ligava à uma hora dessas? – e, auxiliado pela mão de Kanon, subiu na mesa sendo recebido com gritos e assovios. Assim que subiu, o caçula o puxou mais perto e fazia questão de roçar o corpo no dele. Com as mãos ainda entrelaçadas, Kanon incentivava o gêmeo, que já parecia meio arrependido de ter subido ali, a entrar no embalo. Era incrível como mesmo bêbado, Saga parecia ter mais travas – e juízo - que ele.

Saga parecia meio tenso, ainda assim dançava muito bem compassado ao outro. Para Kanon, os olhares já não importavam, as pessoas já não importavam, se saíssem ele não daria falta. Saga estava ali.

…Cause I may be bad, but I’m perfectly good at it. Sex in the air, I don’t care, I love the smell of it…



O mais novo colou o corpo no do outro, segurou-o pela cintura e respirava perto de seu rosto enquanto certas partes de seu corpo já pareciam esquentar com o roçar da dança. Oh... Maldito e bendito álcool. Poderia culpá-lo por tudo no dia seguinte não é mesmo?
Saga parecia mais envolvido e atiçava o irmão mordendo-lhe o lóbulo da orelha, Kanon girou o corpo em torno do outro num passo rápido, que foi acompanhado pelo irmão com maestria, quase como se fosse ensaiado.
Usavam toda a mesa como palco, os olhares não se desviavam um do outro e nem por isso os movimentos eram menos precisos ou atraentes. Foi a vez do mais velho colar-se de novo ao irmão, ainda rebolando rente a seu corpo e arrancando suspiros de Kanon e sorrir vitorioso. Orgulhoso como era, Kanon não deixaria assim e logo suas mãos passaram a apalpar com vontade as pernas bem feitas de Saga. Subindo do joelho a bem alto nas coxas, já por baixo da túnica curta do gêmeo, que gemeu fraco.

– Eu vou subir! Não me segura! – Peixes já alucinava diante da visão hedônica que eram os cavaleiros de gêmeos. Mas já era quase arrastado por Máscara da Morte, que estava às beiras de se irritar com aqueles narcisistas.


Sticks and Stones may break my bones, but chains and whips excite me...

Saga surpreendeu o caçula ao arranhar-lhe as costas por debaixo da camisa, segurando forte a peça de roupa de Kanon, que abaixou-se remexendo-se ardilosamente enquanto sua camisa ia saindo... até deixá-la nas mãos de Saga e ficando frente a frente com a cintura do irmão. Os músculos fortes do mais novo clamando por serem vistos, tremiam de vontade de levar aquele jogo até o fim. Olhou pra cima com um ar sacana. Só Saga pôde perceber. O queixo relando a virilha do primogênito e o sorriso safado aumentando.
Como se de repente tivesse reparado o que acontecia, Saga soltou a camisa de Kanon e pulou da mesa um bocado assustado, deixando o irmão ajoelhado por lá mesmo.



X.X.X.X.X.X.X.X


Ali, dormindo, ele parecia tão indefeso e frágil. O lemuriano sabia que era bem o contrário, mas que parecia... Parecia. Fixou os olhos na pele clara do outro. Aparentava ser incrivelmente macia. E de repente Mu percebeu que não sabia bem como era. Tudo bem... Não era como se não se tocassem nunca, mas ele também não ficava reparando. Ele nunca havia tocado o outro com o intuito de sentir a textura da sua pele. E também... Porque o faria, não é mesmo?

Virou-se de costas para o indiano. Talvez não o olhando pudesse controlar seus impulsos curiosos. Fazer o que? Ele era assim mesmo. Ariano, com curiosidade sem limites, uma impulsividade frenética – que Shion insistia em dizer para o pupilo controlá-la – quando fixava a mente em algo. Mu, por si só, era um bocado reservado e buscava não chamar atenção, mas seu instinto ariano não permitia que tivesse muitas inibições quando se tratava de satisfazer sua inquietação mental que sempre buscava algo para entreter-se. Portanto, era melhor que virasse de costas e sossegasse as ideias.

– Hmmmm... – O ariano ouviu o outro resmungar e virou-se rápido.

Shaka remexia-se incomodado e acabou por abraçar-se à cintura do lemuriano, que ficava cada vez mais pálido de surpresa.

O tórax desnudo de Shaka, agora roçava o seu. E Mu sentia a tal da pele que quisera antes. Abraçou o amigo, apesar de estar cheio de receios, e permitiu que uma de suas mãos corresse tímida pelos ombros e costas do indiano. Afinal, fora ele quem começou! Se Shaka não o tivesse abraçado, ele não estaria fazendo isso.

A pele do loiro era macia e aveludada, um bocado quente Por Athena, estava se arrepiando todo. Como nunca houvera notado como o loiro lhe deixava? Aquela brincadeira estranha servira-lhe para uma coisa: Mostrar o quanto tinha sentimentos.. afogueados .. Pelo garoto de virgem.

– Sinto seu cheiro, Mu... Porque não para de gracinha e fecha as cortinas? Estou com frio agora. – O loiro resmungou e apertou-lhe um pouco mais. Tinha uma voz extremamente entorpecida, mas também tinha consciência de que estava ao seu lado.


X.X.X.X.X.X.X.X.X.X.X.X.X.X


Milo se sentia bobo. Sentado na frente da casa de escorpião, mirava a de Aquário longamente. Gostava do francês emburrado, sabia disso. Mas se pudesse escolher, escolheria não amar nunca. Não se lembrava de uma vez que gostasse de alguém, que não ficasse desse jeito... Assim perdido, assim bobo, “suspirante”, sonhador... Feliz. Mesmo sem motivo, estava feliz. A lua estava mais bonita do que nunca fora. Claro, ela lembrava Camus. De uma cor branca, num tom pálido quase apático... E frio. Distante, inalcançável... Inigualavelmente linda. Era felicidade não era? Então não deveria ser ruim, mas era. Apesar de feliz, sofria. O loiro balançou forte a cabeça, buscando jogar todos os pensamentos para longe. Ah, que confuso era seu coração naquele instante.

Mágico? Fora disso que o chamara, não foi? Enfiou as mãos no rosto, envergonhado. Que coisa mais estúpida de se dizer. Bagunçou os cachos, deixando-os ainda mais revoltos.

O escorpiano era assim mesmo. Mergulhava de cabeça em tudo o que fazia e sentia. Era intenso, flamejante quase. Buscaria com todas as suas garras alcançar o apático aquariano. Será que ele nada sentia por ninguém? Era isso que muitas vezes passava pela cabeça do loiro. O aquariano jamais sentiria nada por ele. Mas se essa certeza é tão grande, porque não desistia logo?

Olhou mais atentamente à arquibancada do campo de treinos e reconheceu pelo porte altivo, pelos fios azuis petróleo tão incomuns. O que estaria fazendo ali sozinho? O escorpiano sorriu tentado enquanto se aproximava do francês. Não, desistir não era para ele. Porque Milo gostava mesmo do que era difícil. E Camus valia a pena, valia muito a pena.

– Não pareceu muito entretido na festa. – Sorriu para o aquariano.

– Eu não deveria ter ido. Essas situações nunca me agradam. – O rapaz respondeu sem interesse, olhando a lua como se esta fosse melhor de se conversar do que o escorpiano.

– Talvez... Só não tenha achado a companhia certa. – Passou a mão pela franja, visivelmente tentando seduzir o outro.

– De fato. E lá eu realmente não encontraria. – Levantou-se e fez menção de sair, mas o escorpião segurara-lhe o antebraço e o puxara de volta.

– Se você desse uma chance, quem sabe não veria o óbvio. – O grego aproximou-se do rosto do outro, olhando fundo os olhos do francês. Tentava descobrir, ler, o que tinha no interior do outro. Não via muito, além da surpresa estampada em poucas linhas de expressão. A temperatura em torno deles caía gradualmente, era Camus não tendo o controle sobre o próprio cosmos, e Milo já se sentia arrepiar com o frio. Sabia que estava se arriscando demais, mas a ligeira falta de reação por parte do companheiro de armas o fez prosseguir. Era tão difícil ver Camus daquele jeito... Em expectativa. Logo ele, que sempre parecia saber de tudo e prever tudo. Segurou o rosto do francês com uma das mãos. – Camus, eu...

Porém, aquário não permitiu que continuasse. Passado o susto, Camus parecia ter voltado a si e afastou Milo. Uma falta de expressão irritante bailava novamente nas faces claras do francês. Era pior do que se o visse nervoso, com certeza.

– Não sei do que falas. E não é hoje que pretendo descobrir. Não te dei permissão pra tanta intimidade e espero que não volte a ocorrer. – Aquário rumava de volta ao seu templo, deixando um frustrado escorpião para trás. – Passe muito bem... Milo.

X.X.X.X.X.X.X.X.X.X.X.X.X.X

Kanon despediu-se do último convidado, em poucas horas nasceria o sol. Estava exausto, mas não poderia ter deixado escapar a oportunidade de fazer uma festa durar a madrugada inteira, porque Shion nunca concordaria com bebidas alcoólicas dentro do santuário. Recostou-se em uma das colunas e olhou o templo, estava uma bagunça. Sorriu de lado, Saga daria um verdadeiro chilique pela manhã, quando seu senso de organização e limpeza voltasse ao normal. Conhecia o gêmeo que tinha.

Rumou para o quarto de Saga arrastando-se de sono, fechou a porta já jogando camisa e calça para os lados.

– Saga, onde está meu pijama? – Olhou o gêmeo que jazia em sua própria cama. Deitado de barriga pra cima, enquanto um braço descansava sobre os olhos tapando a claridade da lua.

Kanon esperou a resposta, mas só ouviu grunhidos irritados e viu o irmão virar-se de bruços e enfiar a cabeça debaixo do travesseiro. Era impressionante como Saga ficava de mau humor quando estava com sono.

– Saga... - Sentou-se na beirada da cama de casal e cutucou-o com o indicador.

– No meu quarto não está! – O primogênito jogou o travesseiro em Kanon, que ria baixinho, e se enrolou em posição fetal nos lençóis.

– Ok então... – Kanon cobriu a cabeça do irmão com o travesseiro de novo e ajeitou-se na cama com outro travesseiro que Saga já tinha atirado ao chão antes mesmo dele chegar. – Eu fico de cueca.

Rolou um pouco procurando uma posição confortável, remexeu os lençóis cobrindo-se e tomando cuidado para não descobrir o outro. Espreguiçou-se um pouco, rolou mais um tanto. Festas o inquietavam. Levantou-se e fechou a cortina, barrando a luz que tanto incomodava o mais velho. Voltou num pulo e aconchegou-se de novo nos lençóis.

– Kanon... Que está fazendo na minha cama? – Saga resolveu-se por perguntar. Tinha tentado, com todas as forças que ainda lhe sobravam, ignorar a presença do irmão, mas Kanon parecia ter formiga nas calças, porque simplesmente não parava no lugar.

– Vomitaram na minha. – Afofou o travesseiro e viu Saga conformar-se com a resposta e dar-lhe as costas para dormir.

Sentiu um peso na consciência de repente por tanto perturbar e atiçar o irmão. Que diabo dera em si para fazer aquelas coisas todas? Se Saga parecia estar interessado no capricorniano, devia incentivá-lo não é?

Não.

Tinha medo de perder o irmão para outra pessoa. Ele tinha fortes laços com Saga e não estava preparado para perder aquilo. Saga era a única pessoa que o entedia por completo. Via suas virtudes e seus defeitos e o amava apesar de tudo. E ele também era assim para como irmão. E o que tinham era bom. Definitivamente não queria perdê-lo. Mas se Saga quisesse... O que poderia fazer?
Abraçou o irmão pelas costas tocando sua nuca com o nariz. Saga sequer se moveu.

– Está chateado comigo? – Tinha uma voz tristonha e preocupada.

– Hm... – O primogênito gemeu de sono. Não dormiria àquela noite. – Do que está falando?

– Da coisa toda com a mesa... E a dança...

Saga esfregou os olhos, tentando espantar a letargia, e saiu do abraço de Kanon passando a olhá-lo no rosto.

– Não. Porque estaria?

– Sei lá... Todo mundo viu a gente pagando mico. Pensei que fosse te incomodar. – Ouviu o irmão rir com o nariz.

– A maioria nem vai lembrar amanhã. – Coçou a cabeça e passou a fitar o teto. – E eu danço muito bem. Não paguei mico nenhum.

Kanon prendeu uma risadinha interna. Era bom saber que Saga não estava irritado com tudo aquilo. Ajeitou o próprio cabelo atrás da orelha, sem jeito e em recusa de completar o que tinha a dizer.

– Pensei que talvez tivesse atrapalhado suas... Coisas... Com Shura. – Fez um bico inconsciente só de ter as lembranças de volta à mente.

– Não seja estúpido! – Voltou a buscar os olhos do irmão. Coisas assim deviam ser ditas olhos nos olhos. Pelo menos era o que seu íntimo dizia-lhe pra fazer. – Não tenho nada com Shura.

Kanon tinha um sorriso interno naquele instante, embora não expressasse muito na face. Um sorriso daqueles que aquece todo o peito. Tocou a bochecha do irmão. Acariciando-a de leve com o dorso do indicador. Permitiu-se um sorriso leve, cúmplice do que seu gêmeo tinha agora e sentiu aquele medo esvaindo-se aos poucos.

– Idiota. Você não vai me perder. – Saga abraçou o mais novo, trazendo-o junto a seu pescoço e acarinhando-lhe os cabelos.

Um abraço fraternal, como sempre tinha sido. O mais novo entristeceu-se de novo. Era só o que seriam. Mas não era assim que devia ser? Eram irmãos... E gêmeos! Havia tentado de tudo pra esquecer aquelas ideias. Nem estava dando a Saga toda atenção que era de costume. Porque sua cabeça estava tão confusa? Como se permitira ter aquele tipo de dúvida?

Saga sentia o gêmeo tremer em seu abraço. Que havia de errado com seu Kanon? Já tinha algum tempo que o sentia estranho, mais distante, mal ficavam juntos. Até estranhara o caçula vir dormir com ele e estar tão carinhoso quanto há meses não o via estar. Tinha de admitir, o afastamento de Kanon o estava incomodando demais, fora por isso que resolvera se aproximar de capricórnio. Queria trazer a atenção de Kanon de volta pra si. Mas talvez, agora nem fosse a hora de se preocupar com isso. Tinha algo a mais chateando o caçula.

– Que há contigo, Kanon? – Afagou-lhe um pouco mais, enquanto o apertava contra o peito.

– Nada, oras. – Forçou um sorriso amarelo, que o mais velho reconheceu imediatamente como falso.

– Não minta pra mim. - Puxou o queixo do mais novo, obrigando-o a olhar em seus olhos.


– Saga, não consigo por em palavras... Eu...imaginei meu discurso desse momento por várias vezes, mas... Nada me vem agora. Só me resta te explicar com atos. – Olhou o mais velho, que parecia não entender uma palavra do que dizia e com certeza julgava-lhe bêbado demais para falar coisas racionais no momento.

Não poderia mais esperar. E com este pensamento, Kanon atirou os lábios sobre os do irmão num beijo sôfrego que buscava passar-lhe todo o amor que tinha no coração e o sofrimento, as dúvidas e a frustração que vinham acompanhadas daquela sua loucura. Kanon sabia-se arriscando muito, talvez tudo, naquele beijo.

Espero não me arrepender... Mas se arrepender, ainda posso culpar o álcool.




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Notas finais do capítulo

Então.. obrigada a todo mundo que ta acompanhando. Vcs me ajudam demais.
E eu postei meio de sopetão.. não esperava postar hj.
Então não respondi todas as reviews AINDA.
Mas vou responder TODAS.
É o mínimo q eu posso fazer pra retribuir o carinho de vocês.
Obrigada, beijos