–Corra Katniss!Corra!-Peeta gritava comigo enquanto ele tentava deter os bestantes que vinham em nossa direção.

Mais uma vez estávamos na arena. Em perigo. A sensação de pânico apoderou-se de mim.

Eu estava com medo. Não medo de morrer, mas sim de que Peeta sequer se ferisse.

–Corra!-Mais uma vez ele gritou comigo. Minhas pernas não se mexiam. Eu não poderia correr. Na verdade não queria. - Não vou deixar você morrer!- Ele gritou segurando meu ombro e me empurrando o máximo que conseguia.

Num ato ímpeto comecei a correr porque ele estava comigo, mas logo parei de sentir seu toque caloroso. Virei-me a tempo de ver os bestantes arrancando sua cabeça.

–Peeta!- Foi tudo o que consegui gritar, enquanto eles o devoravam. Logo senti as lágrimas descendo por meu rosto. Minhas pernas ficaram bambas e lembranças começaram a me atormentar.

Os bestantes agora se aproximavam de mim, mas já não poderia me mexer. Estava sem ele e isso significava estar sem vida.

Acordei aos gritos. Mais um pesadelo para a coleção.

O suor escorria por meu rosto e minha garganta estava seca. Sentei-me agarrando meus joelhos. Cada vez um pesadelo pior que sempre resultava na morte de Peeta.

A verdade é que sinto sua falta. Há um mês ele foi para Capital para fazer alguns exames mentais. Ele relutou em ir, mas tudo o que queria era que ele melhorasse e não sofresse mais com os flashes implantados em sua mente.

E agora estou sozinha. Haymitch o acompanhou na viagem e estou aqui e tudo o que ocupa meu tempo são as caçadas.

Mas mais do que tudo sinto sua falta, seu calor, suas palavras carinhosas e principalmente seus olhos. Olhos que conseguem ver meu interior, que sempre me acalmam e que sempre estão comigo quando mais preciso.

Saí de meus devaneios quando ouvi o barulho da porta batendo. Levantei-me em um sobressalto apurando os ouvidos. Nenhum som.

Fui em direção a porta pegando meu arco e flecha e segurando com força.

Abri a porta sem fazer nenhum barulho e dei passos leves em direção à escada. Assim como na floresta. Sem barulhos, sem ruídos. Olhos atentos e ouvidos mais ainda.

Posicionei meu arco e flecha, colocando uma flecha na aljava e desci as escadas. Mais um barulho, desta vez na janela.

Com os olhos atentos desci as escadas e parei imediatamente notei a figura ali parada próxima a janela. Alta e esguia.

Assim que ela se virou já estava pronta para atirar, mas logo ela levantou os braços em modo de rendição.

Procurei o interruptor ligando as luzes e notei que era pessoa que mais desejava ver. Peeta.

Assim que nossos olhos se encontram, larguei o arco e flecha.

–Peeta!-Falei correndo para abraçá-lo.

Ele me envolveu em seus braços apertando o braço que eu tanto buscava. Meu mundo estava de volta.

–Bela recepção Katniss- Ele falou brincalhão enquanto nosso abraço se desfazia.

– Não seja idiota!-Falei dando um soco de leve em seu ombro. O que nos fez rir- O que faz aqui tão cedo? Pensei que iria voltar só daqui a duas semanas. –Perguntei encarando-o. Ele ainda me segurava pousando as mãos em minhas costas. Ele sorriu e decidiu falar.

– É verdade, mas acho que foi um erro ir para Capital. O tratamento não surtia efeito e estar lá só me deixava mais louco!

–Mais louco?-Perguntei arqueando as sobrancelhas.

–Louco para te ver. –Ele falou tirando uma parte do meu cabelo do meu rosto. Não consegui responder e apenas o abracei mais uma vez. O abraço que eu tanto almejava.

O abraço não durou muito porque logo eu estava em seus braços, sendo carregada.

–O que você está fazendo?-Perguntei tentando me soltar.

–Te levando para o quarto- Ele falou natural.

–Você já reparou que enquanto você fica aqui, eu fico cada vez mais sentimental?- Perguntei, não querendo sair de seu encalço.

–Eu sei. É definitivamente eu sou a melhor coisa que já aconteceu na sua vida. -Ele falou convencido enquanto subia as escadas e ia para o meu quarto.

–Não seja convencido. Me coloca no chão.-Falei, mas já era tarde demais. Ele já tinha chegado ao quarto me depositando gentilmente na cama e deitando-se a meu lado.

Por longos minutos ficamos apenas ali, em silêncio. Porque palavras não eram necessárias. Estávamos juntos e apenas isso já era suficiente.

Logo o silêncio quebrou-se, quando ele decidiu me perguntar:

–Teve pesadelos?-A pergunta pairou no ar e apenas assenti com a cabeça.

–Você teve?-Perguntei sabendo que enquanto ficávamos separados os pesadelos eram mais frequentes e piores. Ele também assentiu me puxando de encontro com seu corpo.

Repousei minha cabeça em seu peito largo.

–Isso não vai mais acontecer!

– O que?

–Eu não vou te deixar mais sozinha Katniss.

–Peeta eu... -Não terminei porque ele pôs o dedo em meus lábios.

–Nunca mais. Não quero te ver sofrendo. –Ele falou. Posicionei o meu corpo para que eu ficasse próxima a seu rosto. -Quando estou longe sinto que algo ruim sempre vai acontecer e jamais me perdoaria se algo acontecesse com você. - O silêncio mais uma vez dominou. Ele sabia que eu não era inocente ou fraca, mas mesmo assim se importava. E a verdade, por mais que isso seja egoísta, eu não quero me afastar dele. Porque quando estamos juntos todos os temores se vão e a luz aparece.

–Você me ama? Verdadeiro ou falso?

–Quantas vezes vai ter perguntar isso. Já sabe a resposta e ela nunca vai mudar. Sempre será verdadeiro. - Assim que disse isso ele sorriu e selou nossos lábios.

Porque não importava quantos temores, pesadelos ou flashes aparecessem em nossos caminhos. Quantas brigas e discussões. Intrigas e rixas. No final o que realmente importa é que estamos unidos. Que saibamos que podemos contar um com outro.

E enquanto mantivermos essa ligação. Esse elo tangível entre nós, essa união sólida e concreta, estaremos Sãos e Salvos.

Just close your eyes
You'll be alright
Come morning light,
You and I'll be safe and sound...
Somente feche seus olhos
Você ficará bem
Ao chegar a luz da manhã
Nós ficaremos sãos e salvos...