Quatro Anos Depois. escrita por mandikasilva


Capítulo 9
A discussão.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/244924/chapter/9


Passou a escova nos cabelos apressadamente e colocou um pouco de batom nos lábios. Tentava demorar-se o menos possível, devido ao convite que tinha recebido na noite anterior: Molly convidara-a para um almoço onde se iriam reunir todos os Weasleys e conhecidos (que é como quem diz, as namoradas dos filhos). Apesar de um pouco receosa, aceitou; achava que o que mais lhe custaria era ver toda a família e não encontrar Ron e Percy no meio deles. Mas tal como ela dissera antes, era preciso seguir em frente. Ficou combinado que os gémeos iriam buscá-la a casa, no carro mágico que Arthur lhes arranjara- o mesmo que recolhera Hermione na primeira noite após o coma.

- Precisas de alguma coisa?- perguntou Linda ao passar perto do quarto da filha.

- Não, obrigado, mãe. Só queria...acho que...sim, já encontrei a camisa!

Ela considerava aquele almoço especial, daí que se tenha arranjado de melhor maneira. Ao menos, não se demorou muito e ao meio-dia, quando Fred e George chegaram, já ela estava pronta!

- Olá, Hermione!- cumprimentou George- Hoje esmeraste-te! Se fosses mais velha, casava-me contigo!

- Obrigada, rapaz!- respondeu ela, entre duas gargalhadas- Adeus mãe, pai, avó!

Despediram-se e Hermione entrou no carro bege dos Weasleys. Brevemente, estavam a caminho da Toca, de maneira Muggle para evitar descuidos. Falaram muito, temas alegres, mas a ignorância de Hermione relativa aos quatro anos que dormira levou-a a tocar num assunto que ambos os gémeos não tinham interesse.

- Então e a loja das brincadeiras mágicas? Quando abrem?

Os ruivos olharam-se e ficaram sérios naquele instante.

- Talvez nunca!- respondeu Fred, finalmente- Os projectos estão parados e, se calhar, já não lhes pegamos outra vez. É difícil...

- O Lee Jordan estava também envolvido no projecto, mas ele... bom, não temos forças para prosseguir; tudo nos lembra o Lee!

Hermione baixou a cabeça e lamentou ter tocado naquele assunto. Lamentava também a morte daquele jovem; lamentava também o facto dos gémeos terem desistido da loja. Sabia que era o grande sonho deles e tinha a certeza que seria um sucesso. Era uma pena ver Fred e George Weasley derrotados!

Até ao fim da viagem (que já não demorou muito), não conversaram mais. O ambiente ficara um pouco pesado com a referência a Lee e os temas de conversa tinham-se esgotado. E foi com ansiedade que os três avistaram a casa da família de feiticeiros. Fred parou o carro no pátio e saltaram para a rua. Molly correu para eles, saindo da casa para os receber.

- Hermione, querida!- disse ela, de braços abertos.

As duas abraçaram-se. Um abraço demorado, apertado e carinhoso que quase deixou a rapariga sem ar! Assim que se soltaram, a matriarca Weasley levou a convidada para dentro, enquanto os gémeos as seguiam com um sorriso nos lábios.

- Podes sentar-te já, se quiseres- disse a senhora ao chegarem á cozinha.

Hermione olhou á sua volta e viu Fleur a um canto, a mirar uma embalagens; Harry estava sentado á mesa, enquanto lia um jornal; e viu outra rapariga que, embora não tivesse a certeza, parecia-lhe ser a mesma mulher que encontrara no Três Vassouras há uns dias atrás.

- Bom dia!- cumprimentou a mulher de cabelos negros.

- Bom dia! Eu penso que a conheço...

- Do Três Vassouras, pois! Naquela altura, pareceu-me reconhecê-la de uma fotografia, mas não tinha a certeza- disse ela, sem abandonar a expressão triste que Hermione se lembrava- Sou Lily Sommervile, colega de Charlie Weasley.

- Hermione Granger, prazer em conhecê-la!

Bastou pouco para todos os Weasleys se encontrarem na cozinha, enquanto ajudavam Molly a transportar tudo o que era necessário para o jardim onde iriam comer. E ela teve tempo para ver os outros presentes no almoço: Arthur, o pai Weasley, um pouco mais abatido que o costume; Bill, sem largar o brinco com dente de serpente, muito juntinho á sua bela namorada; o tratador de dragões Charlie, sempre bem-disposto e prestável! Falavam todos ao mesmo tempo, carregando copos, pratos e talheres.

- Então, miúda, como é que andas?- perguntou Charlie, ao se colocar ao lado de Hermione.

- Bem, apesar de ter torcido um tornozelo há pouco!- brincou ela- Não, estou bem.

- Não deve ser fácil, pois não?

Hermione deitou uma rápida mirada ás fotografias de Ron e Percy na lareira, antes de sair de casa. Não, nada era fácil! Nem com ela, nem com ninguém. Voldemort podia estar morto, mas como é que alguém se podia sentir seguro a seguir a uma guerra? Ninguém podia olhar para o passado e não ficar magoado com aquilo que lhe aconteceu!

Tentando não parecer melancólica, esboçou um sorriso triste e respondeu:

- Não, nada é fácil!

Lily ouviu-a e esboçou também um sorriso triste, caminhando ao lado de Charlie com uma pilha de pratos nas mãos. Talvez também ela soubesse aquilo que Hermione sentia. A verdade, é que a tristeza aparecia não a largar aquela mulher; e Hermione gostaria de saber o porquê desse facto.

Mas alguém se mantinha aparte no meio de toda aquela confusão de pessoas a entrar e a sair na casa. Alguém com longos cabelos ruivos, rosto pintados por algumas sardas, de olhos castanhos e de manto amarelo-escuro. Mantinha- se no andar superior, observando tudo o que se passava dentro da casa; procurava alguém no meio da multidão. E encontrou-a.

- Olá, Hermione!- cumprimentou ela, com um sorriso forçado no rosto enquanto descia as escadas.

- Ginny! Olá também!

- Humm...sabes, eu queria falar contigo, mas em privado. Podes acompanhar- me até ao meu quarto?

- Claro, porque não?

A rapariga ruiva fez-lhe um sinal e ambas subiram até ao quarto da única rapariga no grupo total de sete filhos dos Weasleys. Continuava quase igual àquele que Hermione se lembrava; tirando os cortinados e a colcha, tudo era o mesmo. Ginny convidou-a a sentar-se na cama e virou-se para ela.

- Pareceu-me que quando cá vieste no dia em que acordaste, tu e o Harry estiveram a discutir!

- Foi- confirmou Hermione, envergonhada- Descontrolei-me totalmente! Mas o mais importante é que fizemos as pazes, apesar de achar que o Harry ficou magoado com que eu disse!

- Então...voltaram a namorar?

- Ah, por agora, ficamos apenas amigos. É uma altura da vida complicada da vida para mim, acho que não tenho cabeça para romances. Talvez voltemos a andar um dia...

Pareceu a Hermione ver um lampejo de alegria nos olhos da amiga á sua frente, mas pensou que se enganara. Em seguida, julgando que a conversa terminara, levantou-se, mas Ginny agarrou-a por um braço e obrigou-a a sentar-se.

- Essa discussão foi um pouco inútil, não achas?

- Sim, tenho de admitir! Desculpa lá, Ginny, mas estava um pouco desnorteada naquele dia; e ainda pior, descobri que sou uma ciumenta incontrolável!- riu ao falar- Não tinha argumentos para discutir daquela maneira.

- Porquê, foi o Harry que disse?

- Não...ele está muito confuso, não sabe o que fazer, não percebe o que lhe diz o coração. Diria que ele está dividido!

Ginny levantou-se como se estivesse sentada em cima de uma mola e olhou pela janela. Parecia remorder as palavras «confuso» e «dividido». Hermione quis saber o que se passava e perguntou-lho.

- Dividido! Claro que ele tinha de estar dividido... alguma vez conseguirei felicidade na minha vida?- murmurava Ginny.

- De que estás a falar?

A ruiva olhou para a amiga e companheira, que não conseguiu reconhecer a expressão no seu rosto.

- De que estou a falar?- repetiu ela- Estou a falar de ti e do Harry! Eu sempre gostei dele e tu sabes disso, Hermione, eu gosto dele desde o dia em que o vi na estação tinha eu 10 anos! Tu eras apenas a miúda de nariz arrebitado que ele detestava; mas quem leva a melhor és tu! Nunca escondi o meu amor por ele, por isso, não tinhas o direito de mo roubar daquela maneira para o fazeres sofrer mais tarde! Durante 4 anos, ele pensou que tinhas morrido; e quando parecia ter recuperado, apareces tu para estragares a sua estabilidade!

Hermione deixou cair o queixo. Aquela não era a Ginny Weasley que ela conhecia!

- Acalma-te, explica lá isso melhor que eu...

- Claro, alguma vez percebes alguma coisa? Nunca percebeste o quanto fiquei magoada com o vosso namoro! Eu amava-o, amo-o e irei amar sempre. Para ti, sempre foi o teu grande amigo, porque é que teve de ser o namorado? Nunca tive aquilo que realmente desejava na minha vida, e o Harry poderia ser a excepção, se não o tivesses levado! Para quê magoá-lo assim, Hermione? Não foste tu quem esteve ao lado dele nos maus momentos, quando a guerra destruía tudo à nossa volta e o meu irmão morreu!

Parou para ganhar fôlego. Mas a amiga de caracóis castanhos, ainda assustada com o que ouvia, achou que era a altura de intervir:

- Realmente, não percebo aquilo que queres dizer! Eu amo o Harry, tal como tu, eu sei. Começámos mal, é verdade, mas quem tem a culpa? Ninguém manda no coração, Ginny! Desculpa magoar-te assim tanto, mas a culpa de me apaixonar não foi minha, tal como não fui eu que quis passar 4 anos em coma e não ajudar o Harry quando o Ron morreu. Penso que é melhor pensares antes de falares, não vás dizer asneiras!...

- Tiveste culpa em apareceres agora, estragar a felicidade que ele começava a ter. Passei anos a ajudá-lo, a ampará-lo e a secar-lhe as lágrimas, para apareceres e destruir tudo!- Ginny estava já a ponto de gritar, de tão descontrolada que estava- Sempre tiveste tudo, Hermione: inteligência, dinheiro, coragem,... Eu era quem? A tolinha Weasley que sonhava com o dia em que o famoso Harry Potter olhasse para ela! Mas por muito que sonhasse, o príncipe encantado nunca olhou para ela, preferiu a melhor amiga da apaixonada! E ainda quero saber o que é que ele viu em ti! Tu foste atacada, ninguém dava a hipótese de ainda sobreviveres, e eu lá estava, como o ombro amigo dele. E como é que ele me agradece: parte para ti, quem nunca o ajudou quando precisou, porque foi fraca durante um ataque! Ao menos eu aguentei-me bem! Mas obrigada por estragares o meu grande sonho, para isto que vivo agora mais valia teres morrido, e nunca mais acordar outra vez!

Hermione ficou chocada ao ouvir estas palavras, e sentiu lágrimas turvarem- lhe a vista. Ginny nunca poderia dizer aquilo, ou podia? Não, ela não queria acreditar que a Weasley mais novinha desejava a sua morte.

Ginny apercebeu-se do que dissera e ficou atrapalhada.

- Não, Hermione...eu não queria...não queria que tu morresses. A sério!

Mas ela já não a ouvia. Saíra do quarto a correr, com lágrimas salgadas a escorrer pelas suas bochechas. Não queria acreditar que Ginny lhe dissera aquilo. Como é que alguém podia desejar a morte a um amigo? Ainda se estivesse ciumenta (e estava) era aceitável, ela própria também o fora, não a podia censurar; mas daí a desejar a sua morte...

Parou repentinamente, já no andar de baixo, junto ao espelho da cozinha. Olhou pela janela e observou o grupo de convidados no jardim, felizes e contentes. Entre eles, estava o causador da discussão: Harry, que ria descontraído, enquanto bebia um pouco de vinho. Olhou para o espelho, onde ainda podia ver o reflexo do grupo.

« E ainda quero saber o que é que ele viu em ti!» A frase de Ginny ecoava na sua cabeça. E agora pensava: o que é que Harry tinha visto nela? O seu cabelo castanho, agora com leves caracóis, fora horrível no passado, muito basto e sem brilho; os olhos da mesma cor possuíam um brilho especial, mas esse brilho era perdido em determinadas alturas, tal como aquela; a pele era pálida e apenas as bochechas tinham um tom mais rosado; não tinha corpo de super modelo, nem nada parecido. Então, porque é que Harry olhara para ela? Existiam 1001 raparigas em Hogwarts com quem ele podia andar, muito mais bonitas que ela; porque é que um rapaz tão famoso como Harry Potter se teria apaixonado exactamente por ela?

- O que é que ele viu em mim?- repetiu Hermione, mirando o seu reflexo e o de Harry- O que é que ele viu em mim?

- O que conta é aquilo que somos por dentro e não se somos a pessoa mais bonita do mundo!

Hermione virou-se e viu Lily na porta da cozinha. Limpou as marcas de lágrimas que ainda possuía e tentou parecer natural:

- Desculpe o meu atraso, eu vou já!

- Eu também não sou nenhuma beleza e tive romances na minha vida- Lily parecia não ter ouvido nada- As pessoas apaixonam-se devido ás características psicológicas, ou pelo menos, devia ser assim. De que vale um rapaz ser muito bonito se é mau como as cobras? O verdadeiro tesouro nasce dentro de nós.

A rapariga morena mirou o espelho de novo.

- Não existem pessoas feias, apenas bem ou mal cuidadas. E você é bonita, Hermione, não escute quem lhe diz o contrário. Basta ouvir aquele rapaz, Harry, falar, para perceber que deve ser uma boa menina. Não deixe ninguém deitá-la abaixo!

- Como é que sabia o que pensava?

- Sei! Bastou-me olhar para a sua face para perceber o que pensava...

Lily chegou perto da rapariga e abraçou-a. Hermione sentiu um calor confortável vindo daquela desconhecida. Quis perguntar-lhe o porquê daquela tristeza que parecia infinita, mas não achou o momento oportuno. Ao mesmo tempo, viu Ginny descer, de cabeça baixa, e sair para o quintal.

- Vamos almoçar?- perguntou Lily, assim que soltou Hermione.

- Sim. E, por favor, trate-me por tu; isso faz-me um pouco de impressão...

A mulher de cabelos negros e revoltos acenou com a cabeça e pegou-lhe na mão. Juntas, deixaram a cozinha e saíram para o jardim, onde Hermione se iria juntar ao grupo e animar-se, para esquecer a discussão terrível que tivera e divertir-se o mais possível. O que era, afinal, o grande objectivo daquele momento.

*Continua...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!