Galatea

Tinha tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo, que eu realmente não sabia se alguém deveria dizer algo. Muito menos eu.

Estavamos todos na sala em um clima tão tenso que realmente me perguntei o que podia ser pior. Bom na verdade tinha algo que Rigardo pretendia que era bem pior que aquela tensão.

—Como tem sido a viagem? Aposto que Teresa tem uns rompantes bem interessantes na hora de dar broncas e treinamento. –Anfitrite parecia estranhamente gentil comigo comparado com o que Percy contará.

Ao lado de minha madrasta, minha mãe servia chá com um sorriso tão agradável que me fazia querer chorar.

—Sim, ela tem alguns ataques histéricos muito interessantes durante os treinos. –Admiti um tanto contrariada com o sentido da palavra “interessante” naquela conversa.

—Típico dela. Apesar de que ela é uma garota muito gentil e sempre foi uma mãe excepcional. –Minha mãe disse isso com um sorriso tão caloroso que meu peito doeu.

Nesse momento Rigardo levantou e me olhou intensamente. O momento de falar com eles era esse. Não importava o que eles falassem já era nossa escolha. Principalmente por que desde o ataque das Quimeras eu e Rigardo podiamos ver coisas que, sabiamos, só Teresa via antes.

Podiamos ver a vida de Annabeth se extinguir dia após dia. Como Percy parecia prestes a quebrar ao ver os estado físico dela. Podiamos ver a razão de Thalia evitar ficar perto de Nico e dele fazer o mesmo. Mas agora havia uma nova possibilidade com mais dois filhos especiais de Hades e Poseidon, junto com os dois filhos de Zeus no acampamento.

Aquilo ia mal.

Rigardo foi até Poseidon, se curvou perante ele. Depois fez o mesmo para Anfitrite, minha mãe e Atena.

—Senhor, sobre o pedido que fiz no acampamento antes daquela confusão, queria saber se o senhor permite que um dia me case com sua filha?

—Como é? –Percy parecia confuso.

E com razão já que nunca comentamos com ele sobre o incidente da cabana.

—Você é bem corajoso garoto. Me diga Galatea, o que você acha disso? –Poseidon parecia um misto de preocupação e descrença.

—Se o senhor não tiver nada contra, eu realmente quero aceitar esse pedido. –Respondi indo para o lado de Rigardo.

Poseidon pareceu surpreso.

—Perai. Como assim aceitar esse pedido? Vocês tem idéia do perigo dessa decisão? –De seu lugar Percy parecia apavorado e com razão.

—Nós sabemos, mas isso não te diz respeito... –Me virei para encarar Percy, mas quando meus olhos bateram em Annabeth tudo o que vi foi demais.

Dor demais. Apavorante demais. Os espíritos da morte ou sua vida se esvaindo da pior forma possível não eram o bastante para explicar o que eu vi.

—KYAAAAAAHHH!!!

Só podia gritar. Rigardo deve ter se virado no segundo em que fechei os olhos e gritei.

—AAAHHH!!! Mas que... que merda é essa?!?!?!

Nessa hora os deuses reagiram.

—Vocês são capazes de ver isso? –Atena

—Ao que vejo, eles já tem uns cinco portões dos Sojesed novos abertos. –Anfitrite veio até nós. –Morte. Vontade. Coragem. Sobrevivência. Amor. E um que sempre esteve aberto, Destino. Quantos deles vocês poderão abrir?

—Para verem tanto significa que sua decisão realmente é verdadeira. Só não esperava que isso fosse tão rápido. Cinco portões. Tudo bem que existem cerca de cem deles, mas mesmo eu e Ísis só temos dez deles abertos em mais de cem anos. –Minha mãe pareceu demonstrar medo com tudo o que dizia.

Quando olhei de relance para Annabeth novamente a visão que tive nem de longe tinha melhorado. Pelo contrário estava dez vezes pior.

—O portão do Medo abriu. –Anfitrite

—Afinal do que vocês estão falando? –Thalia pareceu assustada.

—Dos portões que movem os humanos e os deuses. Desde que Teresa nasceu eles surgem um após o outro e começam a integrar o mundo celeste dos deuses e humanos rapidamente. –Atena explicava tudo com calma, mas eu podia sentir que ela não gostava disso.

“Eles são chamados de Sojesed, mas nada mais são que um anagrama básico para Desejos. Coisa da Teresa. Para cada desejo que o humano ou deus firma em seu coração com toda a sua alma e é retribuido pela vontade dela um portão novo se abre e lhe dá o direito de ver algo mais. No momento seus dois companheiros tem sete portões, sendo dois deles um tanto quanto cruéis.”

Ela tinha razão. Os portões da Morte e do Medo davam uma visão terrível de tudo ao meu redor. Mas ainda assim eu e Rigardo tinhamos feito uma promessa que não iriamos quebrar.

—Os portões do Compromisso e da Vida. –Anfitrite pronunciou em um tom um tanto surpreso.

Levantei meu rosto e a imagem de Annabeth parecia mais suave. Ainda tinha tudo aquilo que tinha me assustado a poucos minutos, mas estava tudo mais suave. Como se o fato de poder ver vida nela já tivesse melhorado sua condição.

—Vocês tem que para-los. Se eles não desistirem dessa idéia serão os próximos da Profecia Divina. Não podem permitir isso. –Percy parecia furioso.

Eu e Rigardo nos recompomos, olhamos para os deuses e para minha mãe.

—Vamos seguir o caminho que escolhemos. Não só por que parece certo, mas por que já vimos nas últimas semanas enquanto esses portões eram destrancados e abertos que esse é o único caminho para terminar a Profecia antes que nossos irmãos e primos sejam envolvidos. –Rigardo falava com uma certeza que me fez sorrir.

—Não importa se é perigoso. Nosso destino ainda pode mudar, mas tem algo que é sempre igual: nós dois estamos sempre juntos. Ainda não contamos a Teresa, mas ela já deve ao menos desconfiar. Mesmo sabendo dos riscos é tudo que podemos fazer. –Mesmo minhas palavras pareciam mais firmes que eu me sentia agora.

Todos se entreolharam.

Percy e Annabeth pareceram trocar uma informação nova. Thalia e Nico tremiam de cima a baixo. Os deuses e minha mãe já não pareciam mais conversas entre olhares, apenas esperavam.

—Vamos esperar a Teresa voltar para terminar isso. –Poseidon falou um tanto abatido.

Todos concordaram. Eu e Rigardo sentamos novamente um ao lado do outro. Estavamos ao mesmo tempo tensos e aliviados.

Ainda teríamos de esperar Teresa, mas isso nos daria tempo de dormir.

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Depois de um pequeno tempo, de três horas, Teresa vez o favor de voltar a nossa companhia.

Ainda pude ver ela se despedir do senhor Apolo antes se juntar a nós na sala. Parecia incrivel, mas sua aparência estava ótima.

Ela parecia relaxada, descansada, despreocupada e até sorridente. Eu não tenho certeza do que poderia causar aquele tipo de reação feliz naquela deusa, mas esperava que isso durasse algumas semanas.

Teresa se sentou em uma poltrona recém-conjurada.

—Conseguiu dormir? –Anfitrite

—Sim. Aproveitei pra fazer isso de forma relaxada já que Apolo estava por perto. Tomei um bom banho e peguei algumas roupas. –Teresa respondeu sorrindo

—Você dormiu por três horas e tomou banho... Como dormir pode te deixar tão sorridente? –Foi idiotice minha dizer isso.

Teresa sorriu maliciosamente e respondeu sem pestanejar

—Claro, por que não? Dormi por quase uma hora. Na hora anterior eu fiquei...

Então uma dúzia de mãos cobriram a boca da ruiva com um grito.

—Não fale besteiras na frente de crianças. –Atena pareceu preocupada

—Toda vez que vê Apolo você começa a falar coisas depravadas. Isso é um mal habito. –Miria estava brava, o que pareceu incrivel

—Já não basta você ser maluca ainda é pervertida. Que maravilha. –Percy, bom... ele estava furioso.

—Tudo bem pessoal. A culpa é minha por deixar um ponto em aberto. Afinal é obvio que ela não dormiu por três horas. –Respondi indecisa entre se era certo continuar com aquilo ou deixar estar.

—Claro que nós não somos burros a ponto de não saber como essa frase pode terminar. As escolas dão aulas sobre isso sabiam? Mas, afinal faz diferença o nome, ao menos ela não nos tratou como crianças. –Rigardo respondeu um tanto distraído.

—O fato é que esse é o assunto sobre tudo que aconteceu e vai acontecer. É por isso que meu sobrinho vai nascer e você sabe o que eu e Rigardo decidimos, não é? –Olhei para Teresa

—Claro. Um dia vocês farão suas escolhas e sua roda do destino vai girar. Só não muda o fato de que realmente o destino dos dois é ficarem juntos, posso dizer que isso meio que me alegra. –Teresa parecia um pouco mais gentil. –Mas tomem cuidado da próxima vez. Crianças tem que medir suas palavras. Não deveriam falar tanta besteira assim de uma vez.

Aquela frase me pareceu fora de contexto, mas achei melhor não discutir com ela.

—Acho que isso é um acordo dizendo que as escolhas e consequências são nossas, estou certa? –Olhei para ela sorrindo.

—Sim. A partir do momento que começaram a abrir esses malditos portões que eu criei, seu destino foi definido. Apesar de poder criar não sou eu que posso abrir, nem ao menos poder para fecha-los eu tenho. Então está tudo definido desde aquele momento em São Francisco. –Teresa.

Todos ficaram em silêncio.

Aparentemente não havia como eles fazerem mais nada.

Estava decidido. Todo o resto era questão de tempo.

Continua...