Mas a resposta estava ali.

            E quando acordou naquela manhã, Annie soube. Quando viu que a cama dele estava vazia e o encontrou sentado nos degraus da varanda, os pés descalços sobre a grama úmida e a manhã levantando-se por trás das copas das árvores, ela soube. A resposta estivera ali o tempo todo, desde o começo, tão desesperadoramente óbvia que ela se recusara a acreditar.

            Annie havia tapado os olhos com as próprias mãos.

            E agora todo o seu sonho desmoronara

________________

            Salvatore com os lábios colados nos seus. Salvatore abraçando-a pela cintura enquanto a deitava sobre a cama — sobre a cama deles. Salvatore sussurrando que a amava. Salvatore sorrindo ao ouvi-la murmurar que sim, oh sim, que o amava como nada mais naquele mundo. Salvatore procurando o fecho de seu sutiã. Salvatore a fazendo sua, a noite inteira. Salvatore largando os tênis pela casa para que ela juntasse depois. Salvatore contando como fora no trabalho quando eles se sentassem para jantar. Salvatore lhe colocando um anel no dedo. Salvatore a puxando para si depois que ela dissesse sim. Salvatore lhe fazendo um filho — e por que não dois ou três? Salvatore montando o berço do bebê ao lado da cama deles. Salvatore a olhando com amor. Salvatore a chamando de “minha”. Salvatore ao seu lado para sempre.

            Salvatore.

___________

como um castelo de cartas.

            Sentiu os olhos cheios de água e fungou baixinho.

— Me desculpe. — ele disse sem se virar para olhá-la.

            Salvatore nunca ficaria com ela, e a verdade ignorada por tanto tempo a machucou. Abriu um buraco tão fundo em seu coração como Annie jamais havia imaginado que pudesse acontecer. Aquela coisa a atravessou e a deixou cheia de cacos por dentro. Cheia de dor.

            Ele ainda não estava pronto para amá-la. Talvez nunca fosse estar.

— Não... — sua voz saiu trêmula e carregada de ressentimento.

            Ela não queria perdoá-lo. Não podia.

            Depois de tudo o que ela tentara e fracassara, depois de dar tudo de si...

— Não posso dar o que você quer, Annie.

            Annie.

            Ele nunca havia dito o seu nome, e aquilo a chocou. Era como se, depois de todo aquele tempo em que ela fora a sua sombra por toda parte, ambos não passassem de estranhos. Sentiu-se subitamente tomada por uma onda de vergonha — ah, havia sido tão ridícula em todo aquele conto de fadas estúpido — e encolheu-se, abraçando a si mesma, como se estivesse nua.

            Nua diante de um desconhecido.

            Então juntou toda a sua dor, fracasso e decepção como a amante que, na manhã seguinte, junta as roupas deixadas pelo chão, e foi embora sem se despedir. Sem ao menos olhá-lo uma última vez.

            Aquele que tinha sido todo o seu mundo.

            Aquele homem que fechara a porta e a deixara do lado de fora.

            E não voltou mais a procurá-lo.