“Não há vergonha em ser louco,

dependendo em como você encara isso

Palavras que parafraseiam esta fase do relacionamento na qual estamos”

– Jason Mraz

Acordei no outro dia com um feixe de luz do sol entrando por uma brechinha aberta da cortina. Abri os olhos preguiçosamente o cocei-os com os nós dos dedos. Me sentei na cama, olhei pro lado e vi que Bianca ainda estava dormindo. Levantei os braços para me espreguiçar e depois fui lentamente saindo da cama, ainda com preguiça.

Abri minha mochila, tirei uma roupa de lá e fui tomar banho – ainda bem que o quarto era suíte e eu não ia correr o risco de encontrar Nico (ou pior, seu pai) vestida numa camisola -. Entrei no banheiro, coloquei minhas coisas em uma prateleira que tinha ao lado do espelho e abri a torneira para lavar meu rosto e escovar meus dentes. Quando fiz isso me despi das minhas roupas e entrei no chuveiro, tomando um calmante banho morno.

Quando sai do chuveiro me enrolei numa toalha e comecei a pentear meu cabelo. Depois vesti a roupa que eu tinha pegado e sai do banheiro, encontrando Bianca em pé em frente a janela – que já estava aberta – e vendo a paisagem. O quarto dava com vista para o lago, que eu devo dizer que era lindo.

– Bom dia! – ela disse se virando em minha direção.

– Bom dia! – eu respondi enquanto sentava na cama para calçar meus tênis.

Ela caminhou em direção ao banheiro e eu fui para onde ela tava, em frente a janela. Fiquei ali observando a manhã – que estava ensolarada - quando ouço alguém batendo na porta.

– Entra! – gritei de onde eu estava e só depois fui perceber que talvez fosse o Percy e não seria muito legal topar com ele a essa hora da manhã. Mas depois eu me lembrei de que o Percy não bateria na porta pedindo para entrar, ele simplesmente entraria, com toda a educação do mundo.

Me virei para ver quem tinha entrado e vi que era Nico.

– Hey. – eu disse.

– Hey! Cadê a Bianca? – ele perguntou passando o olho pelo quarto e vendo que ela não tava lá.

– Tomando banho. – eu disse apontando para a porta do banheiro.

– Ah tá. Mas então, gostou da casa? – ele disse com um sorriso.

– Claro, é linda! – eu respondi rindo. – Deve ser ótimo passar o tempo aqui com a família... – eu disse me sentando em uma das camas.

– Você precisa ver quando o resto da família chegar, ai sim fica mais animado. – ele disse se sentando na cama da frente.

Comecei a conversar com Nico sobre assuntos dos mais variados tipos enquanto Bianca não saia do chuveiro, de modo que quando ela se juntou a gente eu me peguei falando sobre a minha professora chata de química enquanto Nico ria da minha imitação dela dando aula.

– Olá pessoas! – Bianca disse animada enquanto terminava de pentear o cabelo.

– Olá pestinha! – Nico disse se levantando e bagunçando o cabelo dela.

– Nico! – ela exclamou bagunçando o cabelo dele de volta, mas ele apenas deu de ombros rindo.

– Bom, bora tomar café?

– Bora! – eu assenti e nós três descemos a escada.

Quando chegamos à sala de jantar me dei de cara com uma linda e muito recheada mesa de café da manhã, que continha vários pãezinhos, panquecas, ovos, bacon, presuntos, queijos e tudo o que mais se pode imaginar ter em um café da manhã. Meu estomago roncou com essa visão e eu me dei conta de quanto eu estava com fome.

Me aproximei da mesa e dei bom dia a todos (Maria, Hades, Sally, meu pai e, a contragosto, Percy). Puxei uma cadeira perto de meu pai, sentei e comecei a comer o café da manhã que, assim como o jantar de ontem, estava delicioso.

Quando todos terminamos de comer, tiramos os pratos da mesa e colocamos todos na máquina de lavar pratos. Depois disso saímos e ficamos conversando na varanda, onde soprava um leve e gostoso vento. Meu pai, Sally, Hades e Maria se sentaram nos sofás que tinham na varanda, enquanto eu, Nico, Bianca e Percy puxamos almofadas e nos sentamos.

– E ai Nicolau, qual são os planos para hoje? – Percy perguntou e eu não pude deixar de dar uma risada interna. Nicolau? Por favor, não me diga que esse era o nome dele.

– Não Percival, alguma ideia? – tá, era só uma brincadeira.

– Não, eu acho q... – Percy começou a dizer alguma coisa, mas foi interrompido pela buzina de um Camaro amarelo conversível – e cada vez eu mais me surpreendo o quanto essa família é rica – e todos olharam na direção do carro.

– E os gêmeos chegaram! – Bianca disse.

Aprimorei minha visão e vi que quem estava no carro era um casal. No volante estava um loiro lindo, ele acenava com a mão livre, estava usando uma blusa branca e óculos Ray-Ban. A mulher que estava do lado dele tinha cabelos castanhos meio avermelhados (apesar de eles serem gêmeos, a cor do cabelo era diferente) e deu um sorriso para todos de dentro do carro. Ambos aparentavam ter trinta anos.

Assim que o homem estacionou o carro os dois desceram e vieram em direção à varanda. Sally e os outros se levantaram para cumprimentar os gêmeos e logo depois nós fizemos o mesmo.

– Bom, Apolo, Ártemis, esse são Frederick, meu marido, e Annie, a filha dele. Fred, Annie, esses são meus irmãos mais novos.

Meu pai trocou um aperto de mão com Apolo e depois Apolo me deu um abraço. Já mencionei que o irmão mais novo da Sally é lindo? Já? Então, estou mencionando de novo. Depois eu dei um abraço em Ártemis e todos nós voltamos para onde estávamos, perto do sofá.

– É, eu sei, eu sei, podem dizer “Ainda bem, a diversão (Apolo fez um movimento com os braços indicando ele mesmo) chegou!”.

– Sinto muito em dizer tio, mas ela já tava aqui... – Percy brincou se referindo a ele.

Eu soltei uma risada meio fingida e disse pra ele:

– Só se for outra pessoa né? Porque você tá meio difícil. – eu conclui com um sorriso cínico. Apolo e Nico riram da minha ‘piada’ (que era verdade, venhamos e convenhamos).

– Annie! – meu pai me reprimiu baixinho.

– Quê? Foi só uma piadinha. – eu falei no mesmo tom de voz.

Nesse meio tempo Bianca se levantou indo em direção à cozinha para pegar um copo de água.

– Bianca, minha sobrinha linda e querida, pega um pra mim também? – Apolo pediu da poltrona em que estava sentado.

Bianca olhou pra ele por uns segundos depois disse:

– Não.

– E pra mim? – Ártemis perguntou, sentada no braço da poltrona do irmão.

– Claro!

– Ei, que favoritismo é esse?! – Apolo exclamou.

Bianca pareceu – ou fingiu - pensar por uns segundinhos e depois respondeu.

– Bom, não era a tia Ártemis que me colocava no armário quando eu era pequena, nem colocava Coca-Cola na minha mamadeira e melava minha chupeta em refrigerante. – ela disse e se virou em direção à cozinha.

– Ei! Eu sei que você gostava da Coca! – Apolo retrucou rindo enquanto Bianca entrava em casa.

Eu dei uma risada e percebi que a família da Sally era, até onde eu tinha conhecido – e eu tinha quase certeza que o resto era também – muito legal e divertida.

•••

Como estava um dia fresco hoje, todos nós almoçamos em uma grande mesa de piquenique que tinha embaixo de uma grande árvore perto do lago. Depois do almoço – que foi servido quando já eram umas duas horas da tarde - ficamos a tarde toda ali, conversando e rindo. Sally e Maria pegaram umas flores para fazer arranjos e eu e Bianca a ajudamos a montar os últimos detalhes da decoração. Com o tempo mais algumas pessoas da família da Sally ia chegando aos pouquinhos, e o grupo reunido em volta da mesa de piquenique ia só crescendo, mas não era a família toda dela, já que uma boa parte ia chegar somente para o jantar, assim como os amigos da família.

Depois de passar a tarde toda sentada na mesa eu me levantei ‘de fininho’ e caminhei até a beira do lago, observando o sol que se punha no horizonte. Quando cheguei a um local mais distante da ‘minha quase outra família’ me sentei na grama e abracei os meus joelhos contra o corpo. Fiquei admirando a paisagem, que era realmente linda e ouvindo ao fundo as risadas baixinhas – pelo menos a essa certa distância - vindas da mesa na qual eu acabara de ‘sair de fininho’ e fiquei pensando sobre vários assuntos (que seu eu fosse listar aqui eu gastaria um considerável tempo) quando ouço alguém se aproximando e se sentando ao meu lado.

Quase levei uma surpresa ao ver Percy sentado ao meu lado.

– Sabe, eu sei que você pode não conhecer todo mundo lá, mas também não precisa fugir e se isolar aqui viu? – ele disse.

– Mas eu não tou ‘fugindo e me isolando’, eu tava lá faz pouco tempo.

– E o que veio fazer aqui?

– Uma coisa que você não faz muito, pensar. – eu disse com um riso.

– Haha, cada vez me surpreendo mais com suas piadinhas.

– Fazer o que né... – eu disse ainda rindo e olhei para Percy e então percebi que ele também olhava para mim.

Ficamos um tempo apenas nos encarando quando percebi que algo totalmente absurdo, irracional e louco estava acontecendo.

Nossos rostos começaram a ficar mais próximos e apesar de uma pequena parte consciente do meu cérebro me avisar que isso o que aconteceria dentro de instantes era uma grande besteira eu simplesmente não consegui me afastar. Quando me dei conta nossos lábios estavam a apenas poucos centímetros de distância então Percy colocou a mão no meu pescoço selando a distância que faltava com um beijo.

...

“Não há vergonha em ser louco,

dependendo em como você encara isso

Palavras que parafraseiam esta fase do relacionamento na qual estamos”

– Jason Mraz