Era um dia lindo, finalmente. Sexta chegou com um sol quente e sem nenhuma nuvem, já que a semana toda choveu. Fiquei na cama olhando para o teto e afundando nos meus pensamentos. Olho para o relógio e já estava na hora do almoço, e antes que minha mãe gritasse por mim pulei da cama e fui me trocar. O chão estava quente e o quarto abafado, mas como de costume botei um short, uma blusa azul com manga até os cotovelos e um tênis.

Sou do distrito 5 , poder. Fornecemos eletricidade para a Capital. Lá é o centro de comando do nosso país chamado Panem, que foi dividido em 13 distritos, mas muita coisa aconteceu por aqui, e isso deixa marcas até hoje.

  Depois dos dias escuros a Capital bombardeou tudo no distrito 13, que havia se rebelado contra ela. A opressão era muito praticada, mas não quer dizer que alguma coisa mudara por aqui, ou em algum lugar. E então com o tratado da traição criaram-se os Jogos Vorazes. O causador de tanta infelicidade, famílias incompletas. Corações vazios.

    As chances que temos nos Jogos são iguais as chances de conseguirmos a liberdade. Quase zero. Na realidade eles manipulam os Jogos através de alguns distritos...

  Os distritos carreiristas (o 1,2 e 4) treinam desde pequenos, são os favoritos pelo povo e geralmente todos os anos dos Jogos eles saem como vitoriosos. Para eles tudo aquilo é somente algo para provar o quanto são superiores aos outros. A colheita, como chamamos o dia que escolhem os tributos está chegando. Isso fica em repercussão em todo o distrito.

O que eu acho dos Jogos? Um crime. Que tipo de nação é essa? Que pega crianças e jogam em arenas sem nenhuma dó e esperam que se matem até que sobre somente um? É exatamente disso que se trata os Jogos.  Tantas famílias que sofrem por esse massacre que acontece todos os anos. Porém, aqui estou eu ainda com a sorte de não ter sido escolhida para esse Jogos inúteis. Além disso, tenho 4 papeizinhos acumulativos escritos com meu nome já que tenho 15 anos, e nós começamos a participar com somente 12 anos. A covardia é bem grande. 

     É somente disso que se trata os Jogos. Matar e morrer. Quem ganha leva baldes e baldes de dinheiro e uma casa na vila dos vitoriosos. Isso significa ficar na única zona nobre da cidade enquanto seus amigos ficam na miséria sem poder ter a segurança de comida todos os dias. É isso que nós nos baseamos.

Ainda não peguei nenhuma téssera que significa colocar mais papeizinhos com seu nome em troca de um ano de grãos e óleo para sua família. Não precisamos disso ainda, mas lutamos muito para conseguir o mínimo para uma família.

Depois que concluo meu pensamento sobre Jogos estupidamente vorazes, bato palmas e a luz desliga e sigo para cozinha. Muita gente acha que sou rica quando veem que num bater de palmas a luz me obedece. Mas não. Como meu distrito é tudo aquilo de energia nuclear, solar e elétrica meu pai trabalha em uma usina e eu o considero um gênio, então desde pequena ele me ensinou muitas coisas, e aí criamos um dispositivo que ao bater palmas as luzes me obedecem. Ele é uma das poucas pessoas que trabalha e é feliz do que faz.

E minha mãe trabalha na escola, ela é cozinheira de lá e também me ensinou alguns truques na cozinha. Também tenho dois irmãos, o mais novo tem 5 anos e não anda. Ele sofreu um acidente quando pequeno e está de cadeiras de rodas. Sempre cuidei dele, na verdade ele é como se fosse uma parte de mim. Eu o amo tanto. Meu irmão mais velho já tem 17, mas não nos damos muito bem. Ele sempre me irritou, minha mãe dizia que tinha muito ciúmes de mim. Desde que minha nota na escola em eletricidade veio maior ele consumiu um ódio de inveja tão grande que nem eu aguentei e comecei a gritar com ele. Nós nos suportamos na hora das refeições porque senão vamos pro quarto sem comida. De repente ouço um grito e volto ao mundo real:

- Filha! Vem logo para cozinha! Cadê você, hein?

- Desculpa mãe, estava no quarto. Acordei tarde – Minha mãe deu um sorriso e assentiu

- Tudo bem, surpresinha. Só que você precisa almoçar logo. Hoje é você que leva seu irmão na escola. – Puxei a cadeira e comi meu almoço, não foi muito rico, mas dava para família toda. Minha mãe sempre me chama de surpresinha, de acordo com ela sou uma pessoa muito quieta e observadora, mas surpreende qualquer um. Depois do almoço fui para a escola a pé enquanto eu empurrava meu irmão na cadeira. A escola não é muito grande, algumas paredes descascando e uma cerca para proteger, e o caminho tem muitos buracos e dificulta levar meu irmão até lá.

     A paisagem e desagradável e não há nada do que se ver além de cores cinzentas, fumaças e doenças espalhadas por aí. As belas paisagens que um dia existiram foram extintas. As poucas que restam são difíceis de chega. Depois de uns 20 minutos chegamos a escola.

Os professores pegaram meu irmão e levaram-no, e mais tarde enquanto estávamos na sala ouvia murmúrios sobre vários assuntos, mas principalmente sobre os Jogos. As vozes saiam fraca enquanto tentavam desvendar como seria arena, os Tributos e tudo mais. A professora entra e começa a acalmar todos, ela explica sobre a Colheita, fala sobre as arenas e por fim, com uma cara murcha e lágrimas, diz com uma voz abafada:

- Algum dia esse pesadelo acabará. - Ela levanta a cabeça e limpa as lágrimas rapidamente. Ela adora crianças e vê-las morrendo é um pesadelo á ela. – Bem... Ruivinha? Pode nos explicar o tratado da traição? – Ela disse apontando para mim, todos me chamam assim pelos meus cabelos. Puxei da minha mãe e meus irmãos também.

   Muitos já não aguentam mais me ouvir falar sobre isso. Todo ano os professores são obrigados a falar sobre isso, caso contrário: Morte. Então a professora me escolhe já que sou a única que presto atenção na sua aula:

- O tratado da traição aconteceu devido as guerras que o distrito 13 provocou, por conta da opressão que a capital... Ainda faz. Depois criaram os Jogos Vorazes para que nada mais aconteça assim. É como lembram o passado. É como asseguram o futuro. E o grande dia... É amanhã.