Shadow Touch escrita por Lady TMS


Capítulo 23
O dia seguinte.




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Quando já estava amanhecendo Johana poderia desenhar de mil maneiras diferentes a maldita pétala que se recusava a obedecer.

Havia pensado em vê-la crescendo, murchando, virando outra coisa, levitando, desaparecendo e na melhor das hipóteses pegando fogo. Não havia nada que queria mais do que a pétala fizesse algo, mas simplesmente não conseguia. E agora ia morrer de uma forma ou de outra.

Esfregou as mãos no rosto tentando espantar o sono e a fome que foram suas únicas companhias. Queria chorar, verdade, mas tinha prometido não fazer novamente. Ia ser forte e rezar por um milagre, por que alguém no universo não a achava malditamente merecedora de fazer uma pétala se mexer.

Não está tentando o suficiente...

A voz na sua cabeça lhe causava uma dor de cabeça e vontade de esmurrar a si mesmo.

Ficou pensando porque estava fazendo tudo isso.

Se conseguisse passar no teste teria responsabilidades com pessoas que nunca viu na vida, lutar para nunca voltar para casa, e viver para sempre em um mundo em que não conhecia.

Em seu íntimo, sabia o que era ser abandonada, por isso queria poder consertar o que havia acontecido. Se tinha alguma responsabilidade deveria cumpri-la. Deveria acabar com todo o sofrimento e morte que já havia causado para que as pessoas seguissem em frente.

De alguma forma era sua culpa que pessoas inocentes estavam morrendo.

Fechou os olhos suspirando, lembrando-se daquela noite em que homens inocentes gritavam na floresta enquanto ela só conseguia pensar em fugir.

Era normal se sentir tão incapaz?

Pegou a caneca de novo. Estava sem tempo. Essa seria possivelmente a última vez que tentaria.

Por favor! Por favor! Eu não posso morrer, eu preciso ajudar essas pessoas.

–Por favor florzinha – resmungou para si.

No entanto, não havia nada que pudesse fazer porque ela continuava ali flutuando na água da mesma maneira de que quando a entregaram.

Talvez devesse aceitar que só não tinha nada dentro dela.

A porta se abriu e um guarda loiro entrou. Uma batida forte de coração foi o que a acordou realmente, antes de perceber que não era ele.

–Me acompanhe, por favor.

Aparentemente nem se dariam ao trabalho de averiguar se havia conseguido.

Acompanhou o guarda até a mesma saleta da noite anterior. Pararam em frente de uma das portas e a porta se abriu.

A luz solar a cegou temporariamente enquanto dava um passo para dentro.

A porta se fechou e desapareceu atrás dela deixando-a em uma arena pequena com centenas de pessoas a observando na arquibancada.

As bruxas estavam sentadas em uma plataforma com uma bandeira com o símbolo de sua família atrás. Vestidas com longos vestidos cinza que deixavam mais a mostra suas faces manchadas e enrugadas, a olhavam de forma imponente como se fosse um inseto que queriam ver desaparecer rápido.

A direção de todas as cabeças estava voltada para ela em um silêncio impecável como se aguardassem que falasse.

Não que tivesse algo a falar, a não ser sobre sua mais recente derrota.

Não queria que todas as pessoas a vissem falhando e morrendo, logo depois que ela ofereceu para se responsabilizar pela família.

– Vamos começar então. Tenho certeza de que todos somos muito ocupados - a Senhora se levantou e caminhou para a arena – se você não puder evitar o ataque ou desviar teremos então o julgamento logo depois.

Johana acenou tentando evitar os tremores.

Não tenho poder! Não tenho poder! A voz gritava em sua cabeça.

A bruxa respirou e logo um flash escuro de luz saiu de suas mãos voando para o céu. Como se ela não pudesse mais conter, as palavras jorraram de sua boca quase causando dor física.

Johana tinha certeza que todos seguiram a direção do flash, e, no entanto, quando esta estava caindo ao que parecia em câmera lenta ela não conseguiu não desviar.

Como na noite anterior, teve um encontro com o chão e teve certeza que havia se machucado de novo. Enquanto a luz escura evaporou no ar logo atrás dela.

– É isso – a bruxa falou como se já esperasse – vamos ao julgamento ao que parece.

–Não! – Johana gritou – só... Me dê mais uma chance.

Houve um minuto de silêncio tão longo que ela poderia dizer que foi toda a sua vida.

–Tudo bem. Mais uma chance.

Se levantou do chão e dessa vez jurou não sair do lugar. Não tinha sentido fazer isso Fazia um pouco mais de duas semanas que estava em Ebon...

Tinha que acabar logo. Estava cansada emocionalmente.

E depois sentiu indignação.

Era ridículo que a tratassem de qualquer maneira só por não ter ninguém que a defendesse. E estava deixando.

E depois raiva.

Por permitir toda essa situação. Estava pensando em ser morta só porque era o caminho mais fácil!

Respirou fundo. Se tivesse um poder ele teria que sair agora ou senão ia morrer tentando.

A bruxa se preparou e outra bola de energia escura saiu de suas mãos na sua direção.

A bola logo se transformou em uma neblina escura a atingindo e se espalhando ao seu redor como uma grossa parede.

No começo não sentiu a dor que esperava receber. Estava presa em uma pequena bolha. Tentou sair, só para comprovar que era impossível.

Os rostos de fora foram sumindo quando a escuridão da bolha se intensificou. E embora a plateia também não a enxergasse mais, ninguém afastou o olhar em nenhum momento.

Aos poucos se sentiu aterrorizada, mas não ia gritar pedindo ajuda. Todos foram muito claros de que se não conseguisse evitar o golpe iria morrer, ela não tinha utilidade se não morresse.

Ficou parada tentando invocar qualquer meio que pudesse sair.

Estava cada vez mais difícil respirar e conseguir pensar consequentemente, tudo o que vinha em sua mente eram rostos que poderia culpar pela sua desgraça.

Josh seria o primeiro da lista mexendo com ela daquele jeito na plataforma de trem, só para depois saber que ele tinha causado sua entrada fácil nesse mundo.

Logo depois viria Jonh, que a fez em primeiro lugar correr para Ebon, e depois a convenceu a fugir de Morgan.

Pensando bem, ela talvez tivesse mais chance se tivesse acabado na Floresta sozinha, sem precisar passar por toda essa humilhação.

Caiu de joelhos quando não conseguiu mais ficar em pé, arfando desesperadamente. Então a bolha estava tirando lentamente o ar... O que a deixava com tempo... Tempo que só servia por se culpar mais e mais por coisas de que não era culpada.

Agora arranhava sua garganta em busca de oxigênio. Ela sentia as unhas curtas e sua pele possivelmente avermelhada, mas não conseguia parar, sua mente já estava em uma confusão e qualquer coisa que passava por ela logo era esquecida.

Sentiu que alguém gritava em seu ouvido, mas não conseguia responder.

Inspira e expira... Antes forte e ficando cada vez mais fraco.

Se arrastou até a parede da bolha e a golpeou uma...duas... Até que desistiu.

– Te levanta. Herdeira dos Pútridos.– continuou a voz autoritária– Minha herdeira.

– Não consigo respirar – sussurrou engasgada.

– Deseje que saia – a voz continuou mais nitidamente– e sairá.

Como se não estivesse desejando permanecer viva o suficiente.

– Saia – ela tentou.

No entanto, a bola negra continuava circulando como uma neblina em volta dela.

Ficou esperando que a voz masculina voltasse para ela, em um gesto de teimosia, provar que estava certa. Só que tudo ainda estava em silêncio e ela já estava apagando.

Sabia que se fechasse os olhos como todo seu corpo pedia não iria mais acordar. No entanto, era uma doce tentação só se deitar e esperar que acabasse logo enquanto sufocava com os últimos restos de oxigênio no ar.

Ficou em pé dificilmente e cambaleando. Tinha que tentar uma vez. As unhas na garganta fazendo feridas.

Alguém pegou em sua mão a levantando vagarosamente, mas quando olhou para trás não havia nada. Estava sozinha dentro da bolha.

– Agora – a voz falava em seu ouvido – o que você mais quer agora?

O que ela mais queria? Ela podia listar um monte de coisas...

Mas cenas de mortes de todos que estavam ali a observando foi o que passou em sua mente. Pessoas sufocando e sentindo as mesmas coisas que ela sentia. Enquanto brincavam com a vida dela.

Sentiu o sorriso se espalhar pelo rosto do homem, mesmo que não pudesse vê-lo.

–Isso. A raiva te faz mais forte... Agora, deseje... – e a sensação que ele estava presente sumiu.


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Notas finais do capítulo

Obrigada pelos comentários a cada capitulo o/
Esse é especialmente para Amy Collins e Lillith!



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