Jack suspirou e sentou-se, olhando a sua volta. Martha e Mickey estavam sentados com as costas contra a TARDIS, falando baixinho.

"O que aconteceu? " ele gemeu, apoiando-se nos cotovelos.

"Aquele cara atirou em você" disse Mickey amavelmente. "Atirou em você e sumiu com o Doutor. Grande pedaço de gordura que você foi."

Jack ignorou, olhando para Martha. "Por que não entramos?"

"Não dá. Nossas chaves não funcionam." Martha disse, acenando com a sua chave na mão.

"O que? " Jack se colocou em pé, tirando a sua chave da TARDIS do bolso e colocando na fechadura. Não girou. "Huh", ele disse, perplexo. "Eu a usei ontem."

Mickey se levantou e ajudou Martha a ficar em pé.

"Então, a TARDIS vai nos manter fora agora?" Martha perguntou. "Ótimo", ela se encostou a caixa azul em questão, olhando para a floresta escura. "Sem Doutor, sem TARDIS, presos neste planeta cheio de estranhos alienígenas de três olhos... "

"Como nos velhos tempos", Jack e Mickey disseram simultaneamente. Eles sorriram um para o outro e Martha revirou os olhos.

"É melhor procurarmos a Rose", disse Jack, preocupado.

"Como é que nós saberemos que ela não está lá dentro?"

"Bom ponto", Mickey disse, virando-se e batendo nas portas da TARDIS.

"Não há nenhum ponto nisso. Não podemos começar por dentro", eles se viraram para ver Rose em pé a poucos metros de distância, cercada pela escuridão das árvores. "Ela está nos bloqueando para fora."

~

"Para onde estamos indo?" Martha perguntou. Eles estavam caminhando pela floresta escura por cerca de 15 minutos, seguindo Rose.

"Eu preciso encontrar uma maneira de chegar a ele", disse Rose, nem olhando por cima do ombro, nem abrandando o passo. "Há uma aldeia por este caminho. Eu vi mais cedo."

"Rose", Mickey disse gentilmente. "A TARDIS nos bloqueou. E se ele-"

"Ele não está", Rose disse categoricamente.

"Eles tinham esta coisa", disse Martha, "esta arma. Eles disseram que poderia parar ambos os seus corações de uma vez só."

Rose parou, mas não se virou. "Ele não está morto. Eu sei, está bem? Ele só não..." Ela caminhou, para as luzes da aldeia.

Eles entraram na praça principal e foram subitamente cercados. Os aldeões eram claramente da mesma espécie dos que eles tinham encontrado a bordo da nave, mas eles estavam mais sujos, suas roupas gastas e puídas. A multidão se abriu para revelar uma mulher andando em direção a eles, sua expressão sombria.

"Quem é você?" ela perguntou para Jack.

"Capitão Jack Harkness", ele disse. "Estes são Martha Jones, Mickey Smith e Rose." Ele hesitou um pouco antes de deixar escapar o sobrenome dela. Afinal, eles sabiam sobre ela na nave.

A mulher olhou-o seriamente por um momento antes de assentir. "Eu sou Mriske. O que você quer aqui?"

"Nós só precisamos de algum lugar para descansar", disse Martha.

"Receio que não poderemos lhes oferecer nenhum conforto", Mriske disse categoricamente, seu olhar voltado para Jack. "Alguns de nossos membros foram feridos e devemos cuidar deles."

"Eu posso ajudar", Martha disse. "Sou médica".

A cabeça de Mriske virou para olhar para Martha, enquanto ela estreitava os olhos. "O que você disse?"

"Ela é uma curandeira", disse Rose. Em seguida, ela engasgou e caiu de joelhos. Martha ajoelhou-se ao lado dela, verificando seu pulso. "Eu estou bem", Rose murmurou. "Apenas cansada."

"Você está com muita dor", disse Mriske, seu tom suave. Ela olhava para Rose, sua expressão perplexa.

"Traga-a para minha casa", ela olhou para Martha. "Enquanto ela se recupera, há outros que poderiam se beneficiar mais da sua experiência do que ela."

***

Acabou que não eram tantos feridos. Principalmente porque a maioria deles parecia estar com ferimentos de trabalho. Cortes e entorses que ela associou ao trabalho em uma fábrica de algum tipo. Houve, no entanto, um jovem macho que tinha sido claramente sujeito a uma dosagem mais baixa do choque que Jack havia recebido.
No momento em que Martha terminou de limpar e vestir os feridos, a luz já estava aparecendo no exterior. Ela encontrou Mickey e Jack sentados na meda da cozinha de Mriske. Rose parecia estar dormindo em um banco contra a parede.

"Nós ainda não temos nenhuma maneira de chegar lá", Mickey estava dizendo.

"Se pudéssemos entrar na TARDIS, eu poderia voar com ela", disse Jack.

"Sim, mas não podemos", Mickey respondeu. "Então pare de trazer isso à tona."

Martha entrou na sala e sentou-se ao lado de Mickey, que automaticamente levou seus braços ao redor dos ombros dela. "Estou preocupada com Donna", ela disse. "Eu estava sedando-a quando estávamos lá em cima, mas ela vai acordar logo..."

"Eu sei", disse Mickey. Todos olharam para a mesa por um momento.

"Estou surpresa de que ela consiga dormir", disse Martha, apontando para Rose.

"Eu não acho que ela esteja dormindo", disse Jack baixinho, os olhos em Rose. "Eu acho que ela está inconsciente."

"A maneira que ele costumava falar sobre ela, eu esperava que ela fosse... não sei... diferente, de alguma forma. Melhor do que o resto de nós. Como se ela pudesse apenas aparecer com a resposta, sem sequer tentar."

Antes que Jack ou Mickey pudessem responder, Mriske entrou na sala. Ela sentou-se à mesa, olhando para cada um deles. "Os viajantes de outro mundo", ela disse. Eles concordaram. "Vocês conhecem a nossa história?"

"Nós-", Mickey começou.

"Meio que terminamos aqui por acidente", Jack disse apressadamente. "Não tenho certeza de onde estamos, na verdade."

"E o nosso motorista foi e-", disse Mickey.

"Se perdeu", Martha terminou.

"Vocês foram sequestrados", Mriske disse simplesmente, " e seu "condutor designado" está sendo examinado pelos cientistas. "

Jack levantou uma sobrancelha. "Isso resume tudo."

Mriske assentil. Ela olhou para a mesa por um longo momento antes de falar. "Nossa raça sofreu dois grandes tormentos. O primeiro foi o cataclismo."

"Qual foi o cataclismo?" Martha perguntou.

"A Guerra do Tempo", Mriske disse, olhando para eles. "Vejo que vocês sabem do que estou falando. Somos seres sensíveis. Empática e sensível com o movimento do tempo. A Guerra do Tempo devastou o nosso planeta. Os Senhores do Tempo prometeram assistência assim que a Guerra terminou, mas nenhum veio."

Houve silêncio por um momento, então Jack disse "Você disse que foram dois tormentos. "

"Sim", concordou Mickey, "qual foi o segundo? "

"O Lobo Mau. O Lobo Mau foi trazido aqui, gerações atrás. Ela escolheu alguns de nós. Deu-lhes presentes. E agora seus descendentes sangram o planeta seco. Mantém-nos vivos em casebres como este. Levam a nossa força para construir suas máquinas. "

"Eles não puderam vir", a voz de Rose era suave, instável. Eles olharam para onde ela estava sentada, com os olhos fixos no chão. "Os Senhores do Tempo. Morreram todos. Houve apenas um sobrevivente. E após o tempo de guerra, ele não poderia ter vindo. E nem por um longo período de tempo depois."

Martha levantou-se e caminhou para Rose, sentou ao seu lado no banco e pegou sua mão. Rose olhou para ela, surpresa, então olhou de volta para o chão.

"Nós sabemos sobre o último dos Senhores do Tempo. O Doutor. A Tempestade Que Se Aproxima, que trouxe o Lobo Mau para o nosso mundo."

"Ele não-", Rose começou. "Eu não queria que isso acontecesse."

"Eu acredito em você. Por anos eu pensei que o que você fez aqui foi destinado. Mas vendo você... Eu sei que não foi." Jack e Mickey olharam para a mulher. Ela sorriu tristemente para eles. "Eu sei que ele é amigo de vocês. Eu não seria muito empática se não soubesse". Mriske disse, sorrindo suavemente. Ela olhou para Rose, "O Senhor do Tempo – o seu Doutor, ele é quem os cientistas tem? "

"Ele pode te ajudar-", Martha começou.

Mriske balançou a cabeça. "É tarde demais para ele. Vocês deveriam sair daqui o mais rápido possível."

"Não", disse Rose.

"Eles vão terminar de estudá-lo logo. Em seguida, seu corpo será encontrado na floresta. Esse é o jeito deles."

"Não", Rose disse mais uma vez, seu tom exatamente o mesmo. "Eu estou indo salvá-lo.”

"Ele pode ajudar o seu planeta inteiro", Martha disse, apertando a mão de Rose. "As coisas que eu o vi fazer..."

"Ele é brilhante", acrescentou Mickey. "E ele nunca desiste. Nunca desiste de ninguém."

Jack se inclinou sobre a mesa e descansou a mão na de Mriske. "A sentença é: ele pode te salvar. Mas temos que salvá-lo primeiro."

"E nós precisamos da sua ajuda", disse Mickey.

"Você quer que arrisquemos nossas vidas – as vidas de nossos filhos, por ele? Pelo último membro sobrevivente de uma espécie cuja guerra causou tantos danos para o nosso planeta? O homem que trouxe o Lobo Mau aqui?"

"Não", disse Rose, olhando para ela, seus olhos duros. "Queremos que arrisquem suas vidas por si mesmos. Para consertar o seu planeta."

"Você fez isso!", disse Mriske, sacudindo a mão de Jack e se levantando.

Rose balançou a cabeça. "Eu dei-lhes poder. Foi um acidente. Eles decidiram como usá-lo. E eu sinto muito pelo que tem sido feito pra você..."

"Mas você quer que a gente lute por você! Por seu Doutor!"

Rose estava de pé, com os olhos brilhando. "Eu quero que você lute ao nosso lado! Por vocês!"

Mriske olhou para ela por um momento. Quando falou, suas palavras foram suaves. "Você está marcada."

"Sim", Rose disse, seus olhos perfurando os de Mriske.

"E você sente profundamente", Rose olhou para longe, então. Mriske assentiu para si mesma. "Eu suspeito que o Doutor também." Ela caminhou ao redor da mesa, colocando os dedos embaixo do queixo de Rose e levantando-o. "Eu creio que Motlok acredita que lobos são como cães. Que podem ser domados. Espero que isso não seja tão delirante."

Rose olhou para ela, e Martha viu lágrimas marcarem suas bochechas. "Me ajude."

Mriske assentiu, recuando. "Nós vamos ajudar. Vamos lutar para libertar o nosso mundo. E enquanto estivermos fazendo isso, você vai para a nave. Salve o seu Doutor, e pare aqueles que você criou."