1968 escrita por laraestrela


Capítulo 7
Capítulo 7 - Nitroglycerine




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Marty e eu andávamos tranquilamente até a casa de meus pais quando, de repente, seus olhos azuis se arregalaram e ele fez uma cara de bebê-foca-surpreso. Acompanhei seu olhar e vi um carro atropelando um garoto – com cara de lesado – que havia acabado de cair de uma árvore. Estranho... Conhecia esse menino de algum lugar! Eu até teria o encarado mais para tentar descobrir quem ele era, se não tivesse sido jogada com toda força atrás de um arbusto.

O pior não foi o impacto do meu corpo caindo na grama.

O pior foi o impacto do Mcfly caindo em cima de mim.

– MAS QUE PORR...

– Shiu! Explico depois! – Marty arregalou os olhos novamente em um ato de desespero e virou seu rosto para observar a cena pelo vão que havia entre dois arbustos. Agora – graças a Deus – ele apoiava seu peso em suas mãos, que estavam uma de cada lado do meu corpo.

Na rua, um homem de uns 40 anos saiu do carro e foi acudir o menino estirado no chão. Pegou o adolescente lesado no colo, colocou-o no carro e foi embora. Marty olhava a cena como se fossem dois elefantes dançando funk de biquíni numa praia.

– Se não for muito incômodo para Vossa Majestade, eu gostaria de saber o que diabos acabou de acontecer. – Perguntei assim que o carro arrancou pela rua.

– Você viu o menino que foi atropelado?

– O com cara de lesado?

– Ei! Aquele era meu pai! – Marty fez sua melhor cara de ofendido mas eu sabia que ele queria rir. Agora sim, já sei de onde eu conhecia o lesadão: ele era George Mcfly! Querido, lamento informar, mas essa cara de lesado não vai sumir com a puberdade.

– Você viu o seu pai ser atropelado e não fez nada para impedir? – E o prêmio de filho do ano vai para: Marty Mcfly!

– Você não entende: o cara que atropelou meu pai era meu avô! – Mcfly disse aquilo como se fosse super esclarecedor. Na verdade só serviu para me confundir ainda mais.

– ELE ATROPELOU O PRÓPRIO FILHO? QUE HORROR!

– Nãaaaao! Lara, aquele era meu avô materno, Grampa Baines! Ele acabou de levar meu pai para sua casa, e é onde ele vai conhecer minha mãe!

– Ahhhhhhhhhhh ta! Agora tudo faz sentido! Porém, por mais legal que tenha sido para você ver seu próprio pai ser atropelado, eu tenho que salvar o meu de se auto-explodir. Então, se me dá licença...

Nesse exato momento, a porta da casa abriu-se, revelando uma senhora de pantufas. Ela olhou horrorizada para nós e gritou:

– MAS QUE ABSURDO! VÃO PRATICAR O COITO EM OUTRO LUGAR! ESSA É UMA CASA DE FAMÍLIA! – Percebendo que eu e Marty não nos movemos um músculo, ela gritou ainda mais alto – VOCÊS TEM TRÊS SEGUNDOS SENÃO CHAMAREI A POLÍCIA!

– Coito...? Ah ta, entendi, ela acha que a gente estava transando no jardim dela! – Marty disse. Santa burrice!

– E o Capitão Óbvio salva o dia novamente! – Respondi com a maior ironia do mundo e já estava preparando a próxima piada quando olhei para a porta. O que a senhora estava segurando? Espera ai, aquilo era...

Um taco de baseball.

FUDEU!

– SAI DE CIMA DE MIM E CORRE! – Eu disse enquanto esmurrava o peito de Marty, fazendo-o cair ao meu lado. Levantei, agarrei a mão dele e sai correndo, nem dando tempo para o coitado se levantar direito. Qual é, velinhas com tacos de baseball são assustadoras!

– E NÃO VOLTEM NOVAMENTE, SEUS TARADOS! – A velinha disse, abaixando o taco de baseball, e eu ainda consegui a ouvir resmungar mais uma coisa do tipo “Essa juventude!”. Não parei de correr até o próximo quarteirão e muito menos olhei para trás. Minha única certeza de que Marty estava atrás de mim era porque eu ainda segurava sua mão. Ou eu havia arrancado seu braço e não percebi. Improvável, porém possível.

– Já deu Lara, a velinha nem deve nos enxergar a essa distância! – Mcfly disse e eu parei de correr.

– Eu sei, desculpa, mas aquela senhora me assustou pra caramba! Estamos no quarteirão dos meus pais já, até que foi bom dar essa corrida.

– Eu preferia correr sem velhas demoníacas me perseguindo, mas a vida é injusta, não é? – Mcfly disse e eu... Ri. Isso mesmo, eu dei uma gargalhada. Nunca na vida eu havia dado tanta risada de alguma piada de Marty, geralmente eu só ria pela sua burrice. Mas dessa vez eu estava rindo de verdade e logo ele me acompanhou. Ficamos os dois, parados na esquina (N/A: não, a gente não estava escoltando as meninas), de mãos dadas e rindo. Marty deu um puxão de leve em meu braço e enlaçou minha cintura enquanto eu enterrava minha cabeça na curva de seu pescoço. Ai que cheiro maravilhoso que aquele homem tinha! Não querendo estragar o momento – mas estragando o momento – eu sussurrei contra sua pele:

– Por que estamos agindo como amigos?

– Não sei. Na verdade, eu não entendo como pude te odiar por todo esse tempo.

– Eu penso o mesmo sobre você. Esses sentimentos estão me deixando confusa... – Eu disse ainda na mesma posição. Cara, aquela conversa estava mesmo acontecendo? Marty Mcfly não me odiava?

– Tive uma ideia! – Por um segundo afastei minha cabeça de seu pescoço e encarei Marty nos olhos com cara de: “Peraí, você tendo uma ideia?!?” Ele me mostrou a língua e eu apenas sorri, voltando meu nariz para aquele lindo pescoço. – Eu proponho uma trégua.

– Trégua? – Voltei a olhá-lo nos olhos – Como assim?

– Não vamos mais pensar em como nos matarmos enquanto estivermos em 1955. Afinal, temos coisas mais importantes para fazer! E ai, topa? – Ele me estendeu o mindinho.

– Sério mesmo? Selar acordos de paz com o dedo mindinho?

– Topa ou não topa? – Marty perguntou e balançou o mindinho na minha cara.

– Topo. – Eu disse e entrelacei meu dedo no dele.

***

– HOLY SHIT! É O DOC! – Marty gritou e eu amordacei-o com minhas mãos.

Estávamos sentados no jardim de meus pais há umas duas horas. O tédio nos venceu e então começamos a brincar de guerra de dedos até Marty quase me matar do coração com esse grito.

– Não grite! O que ele está fazendo aqui? – Disse enquanto me virava para ver Doc tocando a campainha. Ele não podia nos ver de jeito nenhum! A porta se abriu e Doc entrou junto com meu pai, e eles foram encontrar minha mãe na cozinha. – Vamos chegar mais perto! – Eu disse para Marty que apenas assentiu.

Fomos rastejando pelo jardim até chegar perto da janela da cozinha. O único problema foi que Marty perdeu um dos tênis no meio do caminho e quando foi pegá-lo, Doc olhou para o jardim e arregalou os olhos. Merda! Ele reconheceu os tênis!

– Ops – Marty disse.

– Cala a boca e se concentra na conversa! – Eu respondi, ríspida.

– E então Doc, o que acha?

– Nitroglicerina? Sinceramente Rupert, eu acho muito arriscado. É um composto extremamente explosivo! – Doc respondeu enquanto olhava para o tênis perdido.

– Eu concordo Doc, porém sem correr alguns riscos, nossa máquina do tempo nunca terá um combustível!

– Mesmo assim Emma, vocês deviam tomar MUITO CUIDADO. Pode ser letal. – Doc enfatizou a última palavra e todos sabíamos o por que. Foi a nitroglicerina que matou os meus pais. – Enfim, quando vão fazer os testes?

– Não sei. Como você bem sabe, temos que obter uma reação de nitração com glicerina. Embora eu esteja pensando que glicerina, ácido sulfúrico e ácido nítrico seria uma mistura mais eficiente. – Meu pai disse, coçando o queixo e minha mãe confirmou com a cabeça. Doc parecia aterrorizado.

– NÃO! Hã... Quer dizer, acho muito arriscado. E mesmo assim, onde vocês conseguiriam ácido sulfúrico?

– Eu conheço um cara que consegue me arranjar um pouco. Mas acho que vai demorar uns 5, 6 dias mais ou menos. – Minha mãe respondeu.

Parei de prestar atenção na conversa, mas ainda assim percebia os esforços que Doc fazia para impedir meus pais.

– O que raios é nitroglicerina? – Marty perguntou.

– É um composto químico altamente explosivo se entrar em contato com o calor. E os meus pais ainda querem fazer a primeira versão da nitroglicerina, que vai ácido sulfúrico e ácido nítrico! Ah como eu o odeio, Ascanio Sobrero! (N/A: químico que descobriu a primeira versão da nitroglicerina) Não faço a mínima ideia de como vou salvar esses dois suicidas! – Encostei minha cabeça na parede e fiquei olhando para o céu.

– Essa nitro sei lá das quantas não se parece com nenhuma outra substância? Algo que não vá explodir seus pais? A gente podia trocar os vidros... – Marty sugeriu.

– Eu sei lá Marty! Ah como é que... MEU DEUS, VOCÊ É UM GÊNIO! – Eu falei um pouco mais alto e dei um beijo estalado na bochecha de Marty. Ele ficou todo vermelhinho, awn! – Como eu não pensei nisso antes? Nitroglicerina é igualzinha ao mel!

– Viu? Eu sabia que você ia achar uma solução! Mas agora vamos dar o fora daqui antes que o Doc nos estrangule! – Olhei na direção em que Marty apontou e Doc passava pelo jardim e encarava o tênis perdido como se quisesse vaporizá-lo com a força do pensamento. Ele nos viu e dirigiu o mesmo olhar para nós.

– Concordo plenamente! – Eu disse enquanto já saia correndo, sem esperar Marty que foi resgatar seu tênis.



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