Capítulo XV

Vestido amarelo

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Não quero ser

Quem te esconde a verdade

Não quero ser

Quem te rouba a liberdade

Quero te ver bem, Udora.

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- Por Deus, Jun! – Kakashi entrou bufando no quarto do hospital onde a morena estava, suor escorria pelo seu rosto. – Por que diabos você não antendeu as minhas ligações? – Reclamou e adentrou mais a fundo no quarto, batendo a porta as suas costas.

- Eu lhe disse que não precisava vir! – A morena disse contrafeita e lançou um olhar feio para Kakashi. – Hoje era o seu primeiro dia de volta ao trabalho, eu não queria estragar isso! – Exclamou. A última coisa que ela queria, era atrapalhar a vida de Kakashi.

- Então quer dizer que... – Kakashi se aproximou da cama e tocou levemente a mão de Jun. – Que se a Tsunade não houvesse me ligado, você não o teria feito?

- Mas é claro que não! – Exclamou. – Eu realmente não queria estragar o seu dia e...

- Baka! – Kakashi resmungou e lançou seus braços ao redor da morena, apertando-a contra o seu peito e acariciando-lhe os cabelos. Algum instinto lhe dizia que ela gostava disso. – Você não tem ideia do quão preocupado eu fiquei. – Suspirou e aperto os cabelos não tão longos entre os dedos.

- Gomen... – A morena murmurou e se aconchegou a Kakashi. Era quase que um sonho o ter tão perto de si. – Eu realmente não queria que isso acontecesse e...

- Shiiiiu. – Kakashi pediu silêncio. – Vamos apenas ficar assim, abraçados, ok? – Murmurou diretamente na orelha dela. O sentimento de medo que ele havia passado mais cedo, ainda residia no fundo do seu peito. E por algum motivo Kakashi não o conseguia afastar. Ele sentia como se fosse perder a Jun à qualquer momento. Ele, definitivamente, não gostava desse sentimento.

- Ok. – Ela murmurou de volta e levantou os seus braços, os passando ao redor de Kakashi.

- Ah, Jun... – Kakashi murmurou e sentiu seus olhos serem invadidos por lágrimas novamente. Ele quase que podia sentir que havia um outro motivo para aquelas lágrimas, o problema era que ele não se lembrava. – Nunca mais me dê um susto desses. – E fungou.

- Kakashi? – Jun disse preocupada e o empurrou levemente, assim podendo ver o rosto dele. – Mas por que você está...? – Ela se viu chocada diante das lágrimas de Kakashi. Haviam sido poucas vezes que as vira. E todas as vezes que as vira, ela estava nessa mesma situação. Na cama de um hospital. – Está tudo bem Kakashi. – Disse aflita. Estava com medo que isso pudesse trazer a tona lembranças esquecidas. Lembranças essas que ele ainda não podia recuperar.

- Eu sei que está, eu apenas... – Limpou as lágrimas com as costas da mão esqueda, enquanto a mão direita continuava mexendo nos cabelos da esposa. – Eu tenho um sentimento ruim, e isso me faz sentir medo. Pânico na verdade. Do quê, eu não sei...

- Está tudo bem! – Jun repetiu com mais convicção. – Não há motivo algum para você sentir esse tipo de sentimento! – Exclamou. E quem estava entrando em pânico agora era ela. Kakashi não podia se lembrar, ele não podia se lembrar exatamente disso. Havia muitas coisas dais quais ele poderia se lembrar antes. Da qual ele deveria se lembrar antes.

- Nós já estivemos aqui antes, não é? – Kakashi olhou ao redor. – Não exatamente nesse quarto, mas pelo menos numa situação parecida. – Kakashi não estava perguntando. Ele estava afirmando.

- Er... – Jun ficou sem saber o que dizer.

- Não minta Jun. – O grisalho disse sério. – Você, definitivamente, não sabe mentir. – Provocou e aperto a ponta do nariz dela.

- Ok... – A morena engoliu em seco. – Aconteceu cerca de um mês antes do nosso casamento. Eu fiquei muito doente. Fiquei internada por quase dez dias. O casamento quase foi cancelado por causa disso. Mas eu me recuperei. – Disse tentando dar um sorriso.

- O que lhe levou a ser internada? – Kakashi perguntou desconfiado e tocou a maça do rosto de Jun, que havia ficado pálida de repente.

- Etto... – Ela, com certeza, não era boa com mentiras, e Kakashi já havia percebido isso. Por isso, ela decidiu-se por dizer uma meia verdade. – Problemas de hormônios. – Disse com descaso, desviando seus olhos verdes dos de Kakashi.

- Problemas de homônios? – Repetiu. – E que diabos de hormônio foi esse que lhe fez ser internada? – Aquilo não parecia ser uma mentira, mas também não era toda a verdade. Ele ia ficar maluco se Jun continuasse com esse joguinho. Ele precisava saber, e precisava saber agora.

- Foi um hormônio que mecheu com o meu ciclo menstrual, tive algumas hemorragias, e por causa disso fique anêmica. Mas isso é algo que já foi tratado. – E tentou dar um sorriso.

- O nome, Jun. Me diga o nome do hormônio. – Kakashi estava cansado daqueles meias verdades. Ele estava com medo, e ele sabia que esse medo era relacionada a isso que Jun estava escondendo dele. Ele podia não se lembrar, mas ele podia sentir. Algo estava errado, MUITO errado, e Jun insistia em esconder-lhe isso.

- Eu não lembro. – A jovem deu de ombros.

- Claro que você lembra! – Kakashi praticamente gritou e a segurou pelos ombros. – Chega de mentiras Jun! Eu estou preocupado, por favor, me diga!

- Não há nada para se preocupar. – Jun desviou os seus olhos dos de Kakashi novamente e suspirou. – Eu já lhe disse, no tempo certo você saberá de tudo que precisa saber.

- Assim como foi com o Akachan? – Murmurou ressentido, se arrependendo na mesma hora. Jun recuou e um olhar ferido ocupou os olhos verdes. – Gomen. – Kakashi se desculpou e tentou se aproximar, mas Jun recuou.

- Eu não quero mais falar sobre esses assuntos. – A morena disse num suspiro. O último assunto que ela queria lenvantar era o do seu bebê perdido. Isso ainda doía demais.

- Tudo bem, me desculpe. – Kakashi pediu novamente, e dessa vez, quando ele se aproximou, Jun não recuou. Deixou-se ser envolvida pelos braços de Kakashi que sentou na beira do leito que ela ocupava. – Me desculpe... – Murmurou e beijou-lhe a testa. – Não vamos mais falar sobre isso... – Por enquanto. Era o que ele pensava. Pois ele ainda estava amendrotado. Ele havia esquecido de coisas importantas, mas aquele assunto sobre a saúde da esposa era de principal importância. Ele iria se lembrar. Ele tinha que sem lembrar. Antes que fosse tarde. E seus olhos se enxeram de lágrimas com esse último pensamento.

- Eu vou ter alta no final da tarde. – Jun disse alheia as lágrimas que Kakashi tentava esconder.

- Ok. – Assentiu. – Você ainda vai querer passar naquele restaurante?

- Talvez. Você não se importa?

- Claro que não. – Suspirou. – Mas hein, você vai estar bem disposta para ir lá? Se não nós podemos pedir uma pizza e...

- Nada de pizzas! – Jun exclamou indignada. – Antes de nós casarmos sua dieta consistia de pizzas e café, eu disse que ia dar um ponto final nisso!

- Sir, yes sir! – Kakashi bateu continência e Jun riu-se. – Nee Jun... – Kakashi a chamou, e ela levantou a cabeça. – Quando eu disse que nós já haviamos estado nessa situação de hospital antes, me pareceu uma situação mais antiga. Não algo que ocorreu antes do nosso casamento. Não sei... É só impressão? – Perguntou inclinando a cabeça. Ele poderia jurar que aquela lembrança tinha pelo menos mais de um ano.

- Bem... – Jun mordeu o lábio inferior, indecisa. Havia ocorrido outra cena como essa, ela só não sabia se deveria a mencionar, afinal, poderia desencadear memórias que ela não queria que Kakashi tivesse de volta. Mas ela também não podia lhe mentir a toda hora. Suspirou e decidiu-se pela verdade. A verdade era sempre a melhor resposta, pelo menos na maioria das vezes. – Você me pediu em casamento num quarto de hospital.

- Eu o quê? – Os olhos de Kakashi se abriram em choque. – O meu pedido de casamento foi num quarto de hospital? Essa é a coisa menos romântica do mundo!

- Não é não. – Jun riu, um pouco aliviada por Kakashi não ter tido nenhum flash ou coisa do tipo. – O seu pedido foi muito romântico. Você até me troxe girassois!

- Girassois? – Perguntou sem entender.

- Sim. – Jun assentiu. – Girassois são as minhas flores favoritas. Você as fez ser as minhas flores favoritas.

- É mesmo? – Kakashi se interessou por isso, e curioso, a incentivou a continuar com o olhar.

- Hai. – Assentiu e sorriu. Havia ficado feliz por Kakashi ter se interessar por isso. Isso demonstrava que ele se interessava por eles. – Certa vez, você me levou num campo de flores, e lá havia um lugar especial para os girassois. Eles eram tão grandes! Maiores do que eu! Por algum motivo, você me disse que essa flor fazia com que você se lembrasse de mim.

- E eu disse o motivo?

- Não. – Jun balançou a cabeça. – Eu sempre lhe perguntei, mas você nunca quis me contar. – Bufou. – Espero que você faça o favor de um dia se lembrar disso e me contar!

- Ok. – Riu-se. – Quando eu me lembrar... – E estacou.

- Kakashi? – Chamou preocupada.

- Amarelo. – Murmurou. – Vestido amarelo.

- Como é? – A morena perguntou sem entender. – Que vestido amarelo?

- Você estava usando um vestido amarelo... – Divagou. Ele havia tido um pequeno flash. Ele havia visto a Jun, num esvoaçante vestido amarelo e com um chapéu de palha na cabeça, os longos cabelos presos numa trança, enquanto alguns fios, que haviam escapado, eram balançados pela briza suave. E completando essa cena, havia um florido e amarelo campo de girassois ao fundo.

- Sim... – Murmurou descrente. – Eu estava usando um vestido amarelo sim...

- E um chapéu de palha que... – Franziu a testa, forçando a memória. – Que eu havia comprado para você na estação de trêm, porque estava muito sol e eu fiquei com medo que seu rosto ficasse vermelho, já que sua pele é tão clara.

- E-Exatamente... – Gaguejou. Kakashi lembrava melhor daquele dia do que ela mesma. – Como você...?

- Terceiro...? – Ele disse incerto, a interrompendo e a deixando confusa. – Terceiro. – Dessa vez disse como uma afirmação, certeza na voz.

- Terceiro? – Jun arregalou os olhos. – Terceiro o quê? – Será que era o mesmo que ela estava pensando que era?

- Nosso terceiro beijo. – Kakashi disse e sorriu. – Nós demos nosso terceiro beijo naquele campo de girassois.

- VOCÊ SE LEMBROU?! – Jun quase que gritou, e apertou o braço de Kakashi nas suas mãos. – Como você pôde se lembrar de algo tão específico?!

- Não sei. – E deu de ombros. – Isso foi importante, nunca deveria ter esquecido disso, para começo de conversa e... – Kakashi se interrompeu, para começar a rir. – Eu me lembro de mais uma coisa.

- Mais uma coisa? – Jun teria ficado preocupada, mas já que Kakashi estava rindo, não deveria ser nada relacionado à sua saúde.

- Me lembro de você ficando na ponta dos pés. – E sorriu ao ver as bochechas de Jun se tingirem de vermelho.

- Mou! – Reclamou. – Tanta coisa para se lembrar, e tinha que se lembrar logo disso?! – Virou o rosto, muito corado, por sinal.

- O que eu posso fazer se eu sou alto? – E Kakashi riu-se. O grisalho não se lembrava nem do primeiro e nem do segundo beijo deles, mas ele poderia apostar que eles haviam ocorrido quando estavam sentados, ou pelo menos com os rostos na mesmo nível. Mas esse terceiro... Ah! Esse terceiro havia ocorrido enquanto eles estavam em pé.

- Você deveria ter se condoido da situação da baixinha aqui e ter arranjado, não sei... Um banquinho! – Exclamou contrariada. Aquela era uma ótima lembrança, mas um tanto quanto contrangedora.

- Um banquinho? – Gargalhou. – Sério que você ia querer um banquinho?

- Melhor do que ser pega no colo daquela maneira... – Disse e fechou os olhos com força, muito envergonhada. Ela amava aquela lembrança, mas também sempre enrubrescia quando se recordava dela.

Naquela época, Jun tinha cerca de 165 cm, cinco centímetros a menos do que atualmente. E naquela ocasião em especial, ela estava com sandálias sem nenhum salto, então, quando ela se pôs na ponta dos pés para beijar Kakashi, muito mal conseguiu alcançar o seu queixo. A morena se lembrava claramente do quanto Kakashi havia rido, e também, que para resolver o problema, ele a havia pego no colo.

- Mas parece que agora isso não é mais preciso, não é? – Kakashi disse, interrompendo a linha de pensamento de Jun. – Você cresceu.

- Etto... – Murmurou. Sua mente ainda na lembrança de anos atrás. – Sim, eu cresci, uns cinco centímetros, eu acho. – E deu de ombros.

- Cinco centímetro, ka... – Kakashi suspirou. – Eu gostaria de me lembrar... – E ele começou a ficar depressivo.

- Ei, ei, ei! – Jun se virou para Kakashi e tomou o rosto dele nas suas mãos. – Você vai se lembrar, ok? Você se lembrou do do vestido amarelo horroroso que eu estava usando, naquele dia, então por que não se lembraria de outras coisas? – E sorriu.

- Vestido horroroso? – Disse e franziu as sobrancelhas. – Eu achei aquele vestido incrível!

- Que seja... – Resmungou e rodou os olhos verdes. Ela sempre detestou aquele vestido, diferente de Kakashi, que por algum motivo, sempre havia gostado dele. Motivo esse que a havia feito usá-lo naquele encontro.

- Creio que eu já falei isso antes, não é?

- Sim, muitas vezes por sinal. – Sorriu ao sentir a mão de Kakashi ser sobreposta a sua.

- Você ainda o tem? – Perguntou esperançoso.

- Na verdade... Eu ainda o tenho sim!

- TEM? – Kakashi se inclinou para mais perto. – Você realmente o tem?

- Sim, eu o tenho! – E Jun riu-se. – Por um acaso você quer que eu o vista? – Disse brincando.

- Mas é claro que eu quero! – Kakashi afirmou, sério.

- Espere aí Kakashi... – Os olhos de Jun se arregalaram. – Eu disse isso brincando e...

- Você não vai vestir o vestido para mim? – E aquela não era uma simples pergunta. Aquela era uma pergunta feita por Kakashi. Que possuia uma voz baixa e naturalmente rouca, ao qual ele sabia exatamente como usar. – Você realmente... – Murmurou se aproximando. – Não vai usar o vestido... – Agora o rosto dele estava a cerca de cinco centímetros do de Jun. Ela quase poderia contar os cílios claros dele. – Para mim?

- Bem... – Jun murmurou, já praticamente ganha. – Talvez eu possa e...

Mas ela não pode terminar a frase. Kakashi tomou-lhe os lábios, dando a cartada final.

Ela vestiria o vestido.

Continua...