Enrolados Pelas Mentiras escrita por Amanda Killer Queen


Capítulo 3
Por favor, Permita Que Eu Me Apresente


Notas iniciais do capítulo

Alguns trechos deste capitulo foram inspirados na música dos Rolling Stones- Sympathy For The Devil
Espero que todos gostem e não se esqueçam de deixar um review com criticas construtivas, elogios e até reclamações.



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Agora Lola estava começando a sentir um misto de emoções que ela jamais havia sentido antes, mesmo quando ela tinha quebrado a vidraça do moinho de seu pai, enquanto jogava bola com algumas crianças do vilarejo, ela levou uma bronca daquelas, mas mesmo assim não havia sentido esta sensação, era totalmente nova para ela, era um misto de ansiedade, com medo, pavor, desespero e é claro aquele friozinho na nuca, o que era um sinal de que algo muito ruim se aproximava.

Ela passou as mãos pelos seus lindos cabelos castanhas escuros, que eram lisos na raiz, mas encaracolados no final, apesar de que a pequena penugem em seu antebraço fosse loira, devido a sua exposição contínua ao sol, ela tinha o cabelo escuro como à noite, o que era um tanto quanto estranho devido ao seu tronco germânico e seus pais eram ligeiramente loiros, mas sua mãe sempre disse que ela havia puxado sua bisavó que tinha descendências hispânicas.

Seus grandes olhos cor de âmbar percorriam todo o cômodo na procura de alguma alternativa para escapar, ou até mesmo se enforcar, será que tinha como fazer isso com os lençóis da cama? Seria possível subir nessa roda de madeira e prender o lençol... Prender a onde? Não tinha nada no teto, nem um lustrezinho para que ela pudesse realizar esta ação, e suicídio era a única alternativa.

Apesar de se considerar uma pessoa corajosa e invicta, Lola temia muito pela chegada do terceiro dia, não pela dor da punição, mas sim pela vergonha de ter mentido descaradamente.

No momento a única alternativa viável era chorar, chorar e quem sabe com sorte alagar o quarto e morrer afogada!

— Que tolice ficar chorando igual a uma garotinha! Eu sei que chorar não vai fazer com que a palha vire ouro, mas se houvesse uma maneira, apenas uma maneira de contornar essa situação, se houvesse uma maneira mágica de transformar isso em ouro, puxa quão maravilhoso isso seria! — Enquanto Lola se lamuriava algo lhe chamou atenção, em um canto um pouco iluminado do quarto, próximo a grande roda de madeira e da palha, algo parecia brilhar, se assemelhava a dois grandes pares de olhos castanhos, e isso lhe despertou séria curiosidade, Lola se levantou da cama e caminhou em direção aos grandes olhos.

— Que tolice, além de chorona devo estar maluca! Onde já se viu, agora minha mente esta me pregando peças! Não há entradas nesse quarto, não há como ter mais alguém aqui junto á mim, e é o fim da linha! — Lola se jogou no monte de palha e ficou deitada, enquanto a palha lhe espetava, olhando para o teto e chorando mais um pouco.

— Não achei que você fosse desistir tão fácil, minha querida — Uma voz sinistra, com uma mistura de sarcasmo e empolgação disse em algum lugar do cômodo.

Lola mais que depressa se levantou toda cheia de palha emaranhada em seu cabelo, e sacudindo o vestido começou a procurar de onde vinha esta voz.

— Quem disse isso?? Quem é você? O que você quer? Que isso minha gente, agora além de ficar vendo as coisas eu estou ouvindo também?

— Sim a mente nos prega algumas peças, mas acredito que não seja este o caso, neste momento. Aliais se eu fosse você, parava de ficar desperdiçando a preciosa palha, rolando em cima dela, se você tem uma cama bem confortável para deitar.

Lola sentiu cada membro de seu corpo paralisar.

—Apareça! Quem quer que seja, é um dos homens do rei?

—Oh, minha cara, eu não sou um homem, quero dizer não um homem comum.

— Ai meu Deus! Olha, escute bem, onde quer que você esteja eu tenho um crucifixo no pescoço — Lola disse pegando seu colar— e não terei medo de usá-lo!

—De fato é uma linda jóia, estou me perguntando se é feita de aço? Mas guarde á para você minha querida, eu não sou muito fã de jóias, não me entenda mal, mas não faz o meu tipo. — E uma gargalhada que era um misto de relincho com gritinhos foi solta.

Lola estava revirando todo o quarto, a procura do dono, ou seja, lá o que fosse que tinha essa voz estranha.

— Eu não vou falar de novo! Apareça ou... Ou... Ou...

— Ou o que, querida? Irá mentir para mim? — Após dizer isso um homem saiu de baixo da cama de Lola, era um homem não muito alto, nem robusto, mas que ostentava uma pele escamosa e aparentemente áspera, se vestia muito bem até, apesar da aparência suja de seus cabelos, usava uma calça justa de couro e uma blusa que lembrava a casca de uma barata.

— O que? Não é possível, da onde você saiu? Quem é você? O que faz aqui?

—Calma minha querida, são muitas perguntas para apenas uma pessoa, sai de baixo da sua cama, acho que você acabou de ver isso, não é? Bom, por favor, permita que eu me apresente
sou um homem de riquezas e bom gosto, estive por aí por muitos, muitos anos roubei a alma e a fé de muitos homens.

— Você é alguma espécie de demônio, ou algo do tipo, o próprio...

—Não minha querida — após mais uma de suas risadas estranhas — assim você me ofende, deixe-me, por favor, apresentar-me, sou um homem de posses e bom gosto e espero que você tenha alguma cortesia, tenha simpatia e tenha bom gosto, use toda sua educação bem-aprendida e não me bombardeie de perguntas, certo?

— Qual o seu nome?

— Sabe, acho que você não entendeu muito bem a parte de CHEGA DE PERGUNTAS! É um pouco condescende de sua parte me perguntar meu nome, já que você nem sempre revela o seu, se apossando de um apelido tolo, para um nome tão bonito, não é mesmo, Dolores?

—Como você sabe meu nome?

O homenzinho pega uma espécie de garrafa de seu paletó e toma um gole.

—Minha paciência está começando a se esgotar minha cara, mas não vamos nos prender a formalidades, eu sou aquele que você estava á alguns minutos atrás pedindo ajuda, eu sou o que tem mágica, e veja só, hoje é seu dia da sorte! Minha especialidade é transformar palha em ouro! — e mais uma de sua risada/relincho foi deferida a Lola

—Eu não pedi ajuda nenhuma. Mas hipoteticamente, se eu tivesse pedido você saberia transformar toda esta palha em ouro?

—Eu não acabei de falar que esta era minha especialidade, você é um pouco lenta, não é mesmo? Sim, eu sei transformar palha em ouro.

— E o senhor... Poderia fazer isso para mim?

—Agora sim nós estamos falando minha língua, é claro que eu poderia, mas há uma pequena condição, nada é de graça.

—Olha moço, eu não sei se eu passei a impressão errada para o senhor, mas não estou tão desesperada assim, sabe? Nada contra sua aparência, mas julgando pelos seus dentes, acho que eles nunca viram uma escova, e teu cabelo é meio desgrenhado, suas unhas então, melhor nem falar, não é porque tem uma cama aqui nesse quartinho que eu vou sair topando tudo.

—Do que você está falando? — O homenzinho se fez de surpreso— minha querida, quantos anos você tem? Você está meio precoce pra sua idade, não acha? Eu não estou sugerindo nada com esse tipo de conotação, e você não faz o meu tipo.

Lola olhou envergonhada para seus próprios sapatos, para disfarçar.

—E saiba que é muito feio, julgar as pessoas sem nem ao menos conhecê-las, e você também não é muito lá aquelas coisas, não é minha querida? Pois bem, o preço não é algo tão banal, como alguns minutos de alegria, claro, sua alegria, ali naquela caminha ao lado, mas sim algo mais precioso que posso obter de você um dia.

—Ah sim, e o que seria não tenho nenhum dinheiro, caso você não tenha notado, eu estou meio que, presa aqui.

—A única pessoa lerda aqui, é você minha querida, não sou nenhum tolo, e ao contrario de você, não prometo nada que eu não possa cumprir. Um dia você terá o que eu desejo obter, então temos um acordo?

—Deixe me ver se eu entendi você vai transformar toda essa palha em ouro, e um dia você irá me cobrar alguma coisa que eu ainda não tenho?

—E o céu é azul, é, exatamente isso que eu acabei de propor, então eu não tenho o dia todo, e nem você, mais precisamente apenas 2 dias e meio, já que você perdeu metade de um dia chorando, e ai temos um acordo?

—Você tem certeza que eu terei como pagá-lo?

—Olha, isso depende, você tem certeza que é uma mulher?

—Sim, absoluta, mas o que isso tem a de ver com nosso acordo?

—Então, sim em um futuro não tão distante você me dará exatamente o que eu quero.

—Ótimo, então temos um acordo! Espera um instante, mas eu não sei do que se trata e...

—Não, não, tarde demais, você já selou o acordo, agora se sente em sua cama, tire um cochilo, faça algo útil e me deixe trabalhar com a palha. — e mais uma risadinha macabra foi solta.

—Tudo bem.

O misterioso homem sentou se próximo a roda, e em um passe de mágica começou a transformar a palha em ouro, ele pegava a palha, a passava pela roda, e em alguns instantes um lindo fio dourado e brilhante saia dali de dentro. Lola o observava com espanto, curiosidade, e certa admiração. Ela não ousava perturbar seu ‘’salvador’’ lhe importunando com perguntas, já que ele não gostava de respondê-las. Ela apenas o observa em silencio, e quando os guardas vinham para observar se ela estava realizando seu trabalho pela porta, eles rapidamente trocavam de lugar, ele ia para de baixo da cama, e ela para a roda. É claro que ela tinha muitas duvidas sobre o caráter deste misterioso homenzinho, e mais duvidas ainda sobre o que ela teria que lhe dar em troca, mas como ele a estava ajudando, não parecia ter tanta importância lhe perguntar.

Ele trabalhava na roda dia e noite, sem parar e sem descanso, ocasionalmente ele tomava um gole do liquido que ele trazia em sua garrafa, mas apenas isso, nem uma palavra, e nem uma reclamação.

Magicamente no terceiro dia,quando Lola acordou pela manhã, toda a palha havia sumido, e em seu lugar havia muitos e muitos fios de ouro. Lola procurou pelo pequeno homem, mas ele havia sumido, ela até olhou embaixo da cama, mas nem sinal dele. Como combinado, logo pelo inicio do dia, os guardas e o rei destrancaram sua porta, e ficaram surpresos, não mais surpresos do que Lola, é claro, com o que seus olhos lhe mostravam.

—Realmente você é uma garota de palavra, devo me redimir por ter duvidado de sua lealdade, e apenas tenho que lhe agradecer por salvar todo o nosso reino e também parabenizá-la por sua entrada em nossa família, minha estimada nora — o Rei Leonidas se curvou diante de Lola e beijou delicadamente sua mão. Lola não pronunciou nenhuma palavra, apenas o olhava com indiferença.

—Já ia me esquecendo, Lars, meu filho, entre aqui, e venha conhecer sua noiva, e Dolores, espero que goste de meu filho, ele é um homem muito bom, e vocês serão muito felizes, e trarão muitos filhos para nosso reino.

O tímido Lars, um príncipe jovem, muito bem apessoado, alto, de postura atlética e lindos cabelos loiros e sedosos, com um sorriso branco e encantador, tão galanteador quanto seu pai, e com lindos olhos azuis e penetrantes como uma lagoa entrou no quarto e a observava.

—Meu pai tinha razão, você é tão linda quanto uma noite de luar.

Lola ficou corada, e momentaneamente sentiu um novo sentimento percorrer seu corpo, ele era novo, suave, e caloroso, se isso fosse amor, devia ser dos bons. Lola mal podia acreditar que sua vida iria mudar para melhor, para sempre, mas mal sabia ela que estes seriam apenas alguns lapsos de felicidade, que logo seriam interrompidos pela agonia e é claro, seu fiel amigo, o desespero.



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Notas finais do capítulo

Vocês já adivinharam quem é o nosso ''homenzinho''??