Dois Caminhos, Um Só Destino escrita por LEvans, Cella Black


Capítulo 27
Capítulo 26 - Não Há Nada Sobre Você


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal, tudo bem? Espero que sim!
Feliz ano novo atrasado! Espero que 2019 traga tudo de bom que 2018 não trouxe!
É a primeira vez nessa fanfic que o nome do capítulo é o nome da música que escolhemos como introdução. O nome trás uma dupla interpretação: uma positiva para os nossos pombinhos Harry e Gina, e uma não muito boa para John.
Espero que gostem do penúltimo capítulo! ;)



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The way you look, the way you laugh

The way you love with all you have

There ain't nothing bout you that don't do something for me

Ain’t Nothing ‘Bout You - Taylor Swift

Depois de tantos anos atraindo olhares e cochichos por onde passava, ela esperava, ao menos, já ter se acostumado com aquilo. Estava enganada. Acompanhada, havia acabado de almoçar num restaurante trouxa que Hermione a apresentara e que se tornara o seu preferido. Bem, dela e da metade do Profeta Diário, ao que parecia.

Gina contava animada as ideias para as próximas colunas envolvendo quadribol, mas Harry notou os olhares na direção da ruiva. Estavam tendo um momento bastante agradável, compartilhando comentários bobos e engraçados, simplesmente porque sabiam que poderiam ser eles mesmos um com o outro. Depois de anos separados, nenhum dos dois se preocupava em prestar atenção em outra coisa a não ser um no outro, até que Harry tocou a mão de Gina por cima da mesa e o barulho de um garfo caindo no chão os fez perceber que a vestimenta de muitos ali estava longe da última moda trouxa.

Ela viu Harry suspirar ao ver a moça desviar o olhar da mesa em que se encontravam para encarar o talher próximo aos pés dele. Gina, porém, não se preocupou em poupar, em um sussurro, palavras que deixariam Molly Weasley  mortificada, apesar do tom divertido ter permanecido.

—Perdeu alguma coisa? -Disse a ruiva, educadamente. Ela se inclinou para pegar o garfo do chão e estendeu em direção a bruxa sentada próximo a eles. - E não estou falando do garfo.

Gina e Harry podiam ser um casal há pouco tempo, mas juntos eram tão famosos quanto separados. Ela, a artilheira mais habilidosa dos últimos anos e ele, o sempre lembrado e temido Harry Potter, salvador do mundo bruxo. Juntos eram, de fato, uma manchete de sucesso para qualquer jornal.

Gina não se incomodou quando, naquela semana ao chegar na sede d’O Profeta, tomou conhecimento do seu rosto estampando a capa de revistas e jornais, sendo descrita como o mais novo amor de Harry. Ela não podia ligar menos. Pelo contrário, sendo uma jogadora de sucesso, aprendeu a lidar com a fama durante os anos no Quadribol, de modo que sabia tirar proveito de situações como aquela. Motivada, escreveu sobre as previsões para a próxima liga de competição do esporte bruxo, e sua coluna fora um sucesso.

Claro que houveram perguntas inconvenientes por parte de alguns companheiros de trabalho que, pelo visto, não deixavam de ser jornalistas nem em horário de almoço. Mas ela era Gina Weasley, confiante e feliz como nunca fora antes, umas respostas afiadas foi tudo o que ela precisou dar para que soubessem que ela jamais daria detalhes de sua vida pessoal para vender mais jornais. Além disso, do jeito que sua coluna ia cada vez melhor, ela apostava o próprio salário que a última coisa que seu chefe faria seria lhe mandar embora.

Com a fama ela estava acostumada a conviver, com fofoqueiros inconvenientes, no entanto…   

—Não! O-obrigada. -respondeu a mulher, rapidamente, e pegou o objeto das mãos de Gina.

Ela viu Harry colocou uma das mãos sobre a boca, fingindo conferir se havia mesmo se barbeado naquela manhã para tentar segurar a gargalhada querendo escapar de seus lábios.

—Eu não sabia que os bruxos começaram a apreciar a culinária trouxa. -Comentou ele.

Gina fez uma careta, dando de ombros.

—Aposto que só aqueles interessados em vidas alheias, talvez porque devem ser mais interessantes. -disse ela, apoiando o queixo em sua mão.

Harry deu de ombros. A verdade é que já estava tão acostumado, que havia quase uma sensação de alívio ao poder compartilhar aquilo com outra pessoa e não ser mais o único centro das atenções. Após a guerra e quando tudo veio a tona, Rony se familiarizara com a fama, ainda mais quando se uniu aos gêmeos em sociedade na Gemialidades Weasley. Hermione, com sua dedicação e ascensão merecida dentro do Ministério, porém, preferia ignorar, embora ainda ficasse bastante vermelha quando alguém pedia seu autógrafo.

—Me incomodo só quando não passam despercebidos.

—Viviane costumava fazer sinais nada… educados, quando a fotografavam fora de campo. Ela sempre odiou essa parte. -Disse Gina, rindo ao se lembrar dos momentos em que a amiga fizera aquilo.

—Tem falado com ela? Já fazem alguns dias... -Quis saber Harry, realmente curioso. Ficou claro que ele havia se afeiçoado muito a jogadora de quadribol, principalmente após sua ajuda no caso Ryron.

—Ela me mandou uma carta. Ela tenta disfarçar, mas sei que há algo de errado. Mandou lembranças pra você. -Respondeu a ruiva, remexendo o que restava de molho no seu prato. -E o nosso pequeno amigo covarde?

—Ouch! Covarde, é? Você não pega leve mesmo, ruiva.

—Vai contra minha natureza. Mas me diga, acha que vai demorar muito pra ele ir atrás dela?

Harry pareceu pensar um pouco.

—Depende.

Gina levantou as sobrancelhas, como se não estivesse acreditando naquilo

—Do que? Por Dumbledore, Harry, não me diga que ele vai deixar passar 6 anos.

—Ok, eu mereci essa. -Comentou ele, pego de surpresa pela alfinetada da ruiva. Ela riu, e ele também, porque era tão Gina fazer piada de algo antes sério, que tocar naquele assunto não o incomodou.

—Não sei. John sempre foi… faminto. Mas com Viviane, pareceu diferente. Ando de olho nele, sabe. Viviane é legal demais para se magoar. -Continuou ele.

Ela o encarou, como se estivesse analisando suas palavras.

—”De olho” você quer dizer se certificando de que não vai encontrá-lo com uma outra mulher por aí.

Não foi uma pergunta, ele percebeu. Gina suspirou.

—Talvez se eles não fossem tão… absurdamente teimosos! -Disse a ruiva, revirando os olhos, sentindo-se impaciente.

—Viviane fez uma bagunça nele.

—Eu sei. - Gina deu uma risadinha. - Você vai dá folga para ele?

—Acho que serei obrigado. Ele está mais divagando do que trabalhando. Acha que 3 dias serão o suficiente para ele ir atrás dela?

Gina deu outra risadinha, admirando a preocupação de Harry com a felicidade do amigo.

—Viviane merece ser feliz -Disse ela, entrelaçando seus dedos nos dele.

—Concordo.

—Bem, sei que ela vai ficar bem com ou sem John.

—Sim. Já o contrário…

 

John estava tendo um péssimo dia.

Na verdade, seu humor não era dos melhores já tinhas alguns dias, não importasse o que fizesse. Ele tentou se distrair no trabalho, finalizando os papéis que relatavam o caso de Ryron. Não deu muito certo. A raiva que o dominou ao lembrar-se do ex companheiro de trabalho quase o fez rasgar tudo em sua mesa, e se não fosse por Harry - quem sempre o olhava sem dizer uma única palavra, como se esperasse algo do qual John não sabia o que era-, ele certamente o teria feito. Isso o irritou também.

Na noite anterior ele fora ao Caldeirão Furado na expectativa de melhorar seu humor com álcool ou, quem sabe, conhecer alguma mulher interessante. Não funcionou. Ele passou horas olhando para duas bruxas conversando no balcão do bar, muito bonitas e... Só. Bonitas. John se perguntou quando o adjetivo passou a não ser o suficiente e bebeu duas doses de whisky pensando na resposta óbvia: Antes de Viviane, tudo era mais fácil. Tal certeza também não lhe ajudava com o seu atual estado de espírito.

Queria esquecer Viviane como fizera com tantas outras antes dela, mas sua mente parecia não lhe obedecer.  Queria socar a cara de Harry por olhá-lo daquela forma irritante, mas provavelmente se veria sem um emprego no instante seguinte. Queria deitar-se com outra mulher, só que nenhuma lhe despertava interesse, nenhuma exceto Viviane.

Ela o havia enfeitiçado sem ele se dar conta? Porque pensava nela a todo instante, desde ao acordar pela manhã, trabalhar durante o dia e no segundo antes de se entregar ao sono pela noite. Nem mesmo quando fora visitar sua mãe no último domingo  esqueceu-se de Viviane. Mas, no dia, John atribuiu o ocorrido ao fato de saber que ela voltara para Gales naquela tarde.

Agora aqui estava ele, em sua mesa no Departamento dos Aurores, exatos 3 dias depois e nada mudara. Distraído com a própria raiva, não notou Harry o analisando.

—Isso não vai melhorar. - Disse o chefe dos aurores.

John levantou os olhos para olhá-lo, incrédulo. Havia momentos que ele odiava o fato de um de seus melhores amigos ser também o seu chefe. Será que se socasse a cara irritante daquele testa rachada, ainda teria um emprego?

—Isso o que? - Esbravejou, já irritado. Sua paciência, que não era das melhores nos últimos dias, caiu para um nível que certamente sua mãe reprovaria.

—Você sabe muito bem. E não vai melhorar. - Voltou a dizer Harry. - Vão se passar meses, anos e ainda vai pensar nela. É meio que incurável.

John não precisou perguntar para saber que o amigo estava pensando em Gina. E, como se houvesse levado um jato de água fria, John se paralisou por completo, enquanto seu cérebro e coração trabalhavam a todo vapor. Viviane jamais sairia de seus pensamentos? Fora assim que Harry vivera durante anos, almejando uma pessoa longe de seu alcance?

—Você devia fazer alguma coisa. - Continuou Harry, apoiando o corpo do lado esquerdo da mesa de John. - Já pensou se ela conhece outro cara?

John virou a cabeça na direção do amigo, as palavras mal haviam acabado de sair da boca dele.  

—Não ligo. - Mentiu, tentando não transparecer o quanto a ideia o assustava.

—Talvez ela tenha comentado com a Gina…

—Não acredito em você.

—Claro que não acredita! É mais fácil pensar na Viviane solteira do que com alguém que não seja você.

John quis gritar, mas se conteve. Parecia que tinha voltado a ter 8 anos, quando sua mãe lhe brigava por algo que ele tinha feito de errado, o obrigando a escutar sermões que pareciam intermináveis. Ela tinha razão, sempre tinha, e por isso John odiava brigar com sua mãe desde então. Estar errado era uma condição que ele não suportava estar, mas nada se comparava com a sensação de ouvir verdades que tentava ocultar de si mesmo. Era como estapear a própria cara. A Sra. Bennett tinha esse dom quando John era criança, e agora parecia tê-lo transferido para Harry.

—Eu tentei fazer ela ficar. - Revelou John, não acreditando nas próprias palavras.

—Não o bastante. Você não foi no domingo.

—Tá! E se eu tivesse ido? O que você esperava que eu falasse? - Indignou-se. Sentia-se um idiota porque, no momento, não sabia se discutia com Harry ou com a própria consciência.

—O que sente! - Falou Harry, como se fosse óbvio.

John riu sem humor. Era esse o problema. Antes ele responderia “desejo” sem pensar duas vezes, mas agora a palavra parecia vazia demais para descrever a tempestade em seu peito.

—Não sei o que sinto. - Foi sincero ao responder.

—Então sugiro que descubra. Você tem 3 dias de folga para pensar melhor. - Aconselhou Harry, andando para fora da sala. - Não seja um idiota como eu fui, John. Não espere 6 anos.

E saiu. John então afundou em sua cadeira, suspirando e olhando para o teto como se a resposta estivesse ali.  Costumava fazer isso depois de finalmente ouvir tudo o que sua mãe tinha pra falar, embora em uma situação diferente. Deitava-se em sua cama e olhava pro teto do seu quarto, pensando que deixara sua pessoa preferida do mundo triste. John não gostava de decepcionar ninguém, muito menos sua mãe, que sofrera muito com a morte precoce de seu pai quando ele tinha somente 4 anos.

Tirando isso, John teve uma infância muito alegre. Tinha tudo o que precisava para ser feliz, dinheiro nunca fora um problema, de modo que, para ter o que queria, lhe bastava pedir. Claro, houveram poucas vezes que sua mãe lhe dissera não, como quando ele roubou a varinha dela e a cozinha acabou, acidentalmente, alagada. Mas tudo se resolvia quando John mostrava-se verdadeiramente arrependido. Ele pedia desculpas e isso bastava. Tudo voltava a ser uma maravilha. No fim, ele sempre ganhava o que pedia. Era fácil.

Naquela época, era fácil ter o que queria.

A realidade, no entanto, era bem diferente e tudo começou com uma noite de sexo casual, algo que até então ele era acostumado a fazer. De surpresa, em algum momento entre os beijos trocados e as brigas bestas que compartilharam, Viviane simplesmente tornou-se a batalha mais difícil de sua vida. John jamais perdera uma luta e, como já lembrado, conseguia o que queria. Mas, dessa vez, o resultado caminhava a ser um bem diferente do que estava acostumado.

Bufando, John sentiu sua boca secar, desejando desesperadamente por uma gota de álcool, mas sua cabeça, doendo como o inferno, latejava o dizendo que não era aquele o remédio de sua angústia. Pior ainda, tinha consciência que um simples pedido de desculpas não resolveria seus problemas dessa vez, porque não havia nada para ser desculpado. E ele não sabia o que fazer! Talvez o fato de ter tido as coisas tão fáceis em sua vida não o preparou para o momento em que se via sem o que mais desejou ter em anos.

Aquela era a verdade incontestável, a única certeza que tinha em meio a confusão de seus pensamentos. John desejava Viviane. Não só em sua cama, mas em cada pedacinho do seu dia. Diabos, se ele pudesse prendê-la em si, ele o faria sem pensar duas vezes! Ao inferno se aquilo o faria um doente possessivo, não estava pensando claramente e a distância era a culpada! Se ter Viviane perto era o que devolveria sua sanidade, então ele a queria o mais perto possível!

Não espere 6 anos, a voz de Harry agora era voz da sua consciência, e a frase se repetia tão alta que parecia fazer eco na sala.  Por Deus, não aguentava mais! Ele tinha que fazer algo!

Precisava.

 

—XXXXXX-

Por mais que houvesse tido mais de uma oportunidade para devolver a capa de invisibilidade de Harry, foi somente 4 dias depois de almoçarem juntos que Gina apareceu na porta do apartamento dele com a pretensão de devolvê-la.

—Porque algo me diz que você não veio aqui somente para isso? -Questionou Rony, ao abrir a porta para ela.

—Deve ser um sinal de que você esteja ficando mais esperto, irmãozinho. Parabéns! -Respondeu Gina, enquanto acariciava o focinho de um Almofadinhas muito feliz em revê-la.

—Muito engraçado… -Resmungou Rony, jogando-se no sofá onde Hermione havia acabado de sentar.

—Hei, Gina! Eu ia lhe fazer uma visita hoje mesmo! Como está Bichento? - Quis saber a amiga.

—Pra ser sincera, ele nem parece sentir sua falta. - Admitiu Gina, olhando com pena para Hermione.

—Gato ingrato! - Gruniu Rony.

—Nada disso, Ron! Isso quer dizer que ele está sendo bem cuidado. - Justificou Hermione, nem um pouco abalada. - Sinto falta dele. Se Almofadinhas não fosse tão bravo com ele, talvez eu pudesse trazê-lo e…

—Não fale mal do meu cachorro, Mione. - Disse Harry, adentrando a sala com o cabelo molhado, trajando roupas despojadas e nada nos pés. Gina achava que ele parecia mais novo do que a idade que realmente tinha vestido daquela maneira.

—Não estou xingando, apenas falando a verdade. Almofadinhas nunca gostou de Bichento!

Gina riu diante da amiga, sabendo que ela sempre defenderia o velho gato com o mesmo engajamento com que lutava pela liberdade dos Elfos Domésticos.

—Não o culpo. - Falou Harry e Rony concordou com o amigo ao dizer mais alguma coisa que Gina não fora capaz de escutar porque Harry a envolvera em um abraço tão gostoso que a fez desligar-se de tudo ao seu redor.

—Obrigada pela capa. - Sussurrou a ruiva, entregando uma sacola a ele.

—Sempre que quiser...

Almofadinhas latiu diante da cena, ainda não acostumado a ver seu dono paparicando outro que não ele.

—Muito manhoso, Almofadinhas, mas eu te amo mesmo assim! Você é muito parecido com o Rony, sabia? - Falou Hermione, embora a última parte não tenha saído mais alto que um sussurro.

—Tenho boas notícias! -Revelou Harry, com o braço direito por sobre os ombros de Gina. - Já que nossas férias foram interrompidas, você ganhou uns dias de folga, Rony.

—Mesmo? - Rony parecia maravilhado.

—Mesmo.

—Obrigada Harry! Agora ele terá tempo de finalmente encomendar o traje para o casamento! -Impôs Hermione, parecendo sugar a felicidade repentina do noivo ao seu lado.

—Encomendar? Mas não posso usar o meu de sempre?

—Claro que não! Dá azar casar com roupas velhas.

—Droga, Hermione. Não podemos simplesmente casar e pularmos para a lua de mel? Aquela velha cegueta sempre me espeta com aquelas agulhas malditas. - Reclamou Rony.

Gina nem precisava saber o fim da conversa, Rony faria o que for preciso para casar com a Hermione, mesmo que isso significasse alguns furos em sua pele. Aproveitando a distração dos noivos, ela puxou Harry pela mão em direção ao quarto dele com Almofadinhas logo atrás.

Mal chegaram ao compartimento e ela teve sua boca ocupada com os lábios dele, beijando-a com o carinho de alguém que não a via há dias, mesmo que fizesse apenas algumas horas.

—Nunca vou me cansar de beijar você. - Falou Harry contra sua boca, e Gina sorriu com a revelação.

—Sem plateia é bem melhor. - Concordou, lembrando-se daquele almoço um tanto desastroso.

—Feliz? - Perguntou Harry, ao vê-la sorrir de repente. Estavam agora deitados na cama, abraçados e vestidos, infelizmente. Gina descansava a cabeça no ombro dele, deliciando-se com o carinho que ele fazia em sua cintura. No chão, Almofadinhas ressonava tranquilamente.

—Muito.

—Mesmo sem dias de folga? - Zombou ele, e Gina riu sabendo que estavam falando da cara de Rony ao receber a boa nova.

—Rony se contenta com pouco. Comida e férias, todos conseguem! - Gina apoiou o queixo no peito de Harry para olhá-lo melhor. - Tenho coisas melhores para me gabar.

—Como?

—Como ser a dona do coração do temível e poderoso Harry Potter. - Falou ela, a voz imitando o locutor de uma partida de Quadribol. Harry riu, sabendo que a frase estampou a capa de alguma revista de fofoca.

—Você deve ser muito poderosa, Srta. Weasley.

Gina sorriu com uma arrogância fingida.

—A mais poderosa de toda Grã-Bretanha!

Ambos riram com a brincadeira.

—Rony teve as férias interrompidas, mas você também teve. - Lembrou ela, a pergunta implícita em seu olhar.  

—Não posso ficar sem 3 aurores no Departamento.

—3? - Gina franziu a testa, surpresa.

—Ryron foi preso, Rony de férias e Jean foi embora. - Revelou Harry, ficando sério de repente. Gina balançou a cabeça, absorvendo a informação. Lembrou-se que não vira Jean no baile e em nenhum dos outros dias que o sucederam no Ministério.

—Isso é um problema? - Perguntou. Não tinha pretensão de questionar Harry sobre Jean, mas achou que merecia a resposta daquela pergunta.

—Não. Nem um pouco. - Revelou ele, a olhando nos olhos. - A decisão partiu dela e sei que foi melhor assim.

—Bem, espero que ela seja feliz onde quer que tenha ido. - Gina foi sincera, e viu pela expressão de Harry que ele acreditava nas suas palavras. Trocaram um sorriso cheio de significados e ela o beijou carinhosamente. Teriam prolongado o momento caso não tivessem ouvido barulho de pratos e copos vindo da cozinha, os lembrando da presença de Rony e Hermione.

—Não vejo a hora de ver esse casamento. - Suspiro Gina, e Harry riu complacente com o comentário.

—De férias de novo, Rony não vai mais embromar. - Afirmou ele, confiante. Logo depois, ele se manteve em silêncio por alguns minutos, e a ruiva ergueu uma das sobrancelhas, curiosa pois Harry abrira um sorriso enigmático que ela não conseguia desvendar. Ele nunca foi um homem de muitas palavras, mas também nunca fora o mistério em pessoa. Gina podia ver isso agora, enquanto ele nitidamente pensava em algo cujo ela não fazia ideia.  

—Você tem que voltar pro jornal hoje? - Perguntou ele, de supetão.

—Não. Estou livre.

—Quero te mostrar uma coisa.

10 minutos mais tarde, o céu já estava laranja, dando os primeiros sinais do fim do dia. Eles aparatam em uma pequena colina coberta com uma grama tão verde quanto às folhas das poucas árvores ao redor.

Era um campo vasto onde o verde da natureza e o vento um tanto frio eram os personagens principais da bela paisagem. Gina não demorou muito para reconhecer o lugar palco de quase todas as suas brincadeiras quando criança. Ainda de mãos dadas a Harry desde que aparataram, ela o olhou com um meio sorriso demonstrando o reconhecimento.

Costumava brincar por ali e até mesmo voar quando, pelos seus 7 e 8 anos, roubava a vassoura de seus irmãos mais velhos e se aventurava pelos campos ao redor d’A Toca.

Um pouco mais a frente, Gina avistou uma casa. Olhou para ela e então para Harry, a pergunta iminente em seus olhos.

Harry apenas sorriu misterioso e a puxou pela mão até a porta da pequena casa. Ela era adorável, e podia ser facilmente confundida com um chalé caso fosse de madeira.

Abriu a boca para questionar de quem era a casa mas um pensamento repentino a fez perder a voz. Tentou afastá-lo e demonstrar tranquilidade. Aquilo não poderia significar o que ela achava que significava, não é? Ela e Harry estavam juntos há tão pouco tempo, simplesmente não parecia certo morarem juntos. Ou era?

A ideia assustava Gina, e quando ele abriu a porta para que entrassem na casa, a imaginação dela trabalhou rápido. Podia vê-los ali naquela sala de tamanho ideal, a lareira os aquecendo e as chamas reluzindo em suas peles suadas depois de um sexo noturno. Nem se preocupou com a mobília.

Largando a mão dele e já totalmente rendida pela imaginação, a ruiva andou para o meio daquela sala e olhou ao redor. Havia duas janelas de madeira e o vidro entre elas era o que possibilitava a luz do sol iluminar o cômodo. Andou até a porta mais próxima e vislumbrou o que seria a cozinha, com um balcão bem no meio e um armário também de madeira no canto esquerdo. Em sua mente, a imagem de Harry só de cueca cozinhando algo que ela amaria comer apareceu, lhe arrancando um sorriso que mostrou todos os seus dentes.

Morar juntos. Bem, era de fato algo que a assustava levando em consideração que acabara de se acostumar ao novo apartamento, e ao tempo relativamente pequeno em que ela e Harry se consideravam um casal. No entanto, nesse pouco tempo, seria mentira se dissesse que não pensara em como seria maravilhoso acordar ao lado dele todos os dias.

Sorrindo e de sobrancelhas arqueadas, Gina voltou para a sala para encontrar Harry sentado nos primeiros batentes da escada que levava ao segundo andar da casa.

—O que achou? -Perguntou ele, levantando-se para se aproximar dela.

—A casa é incrível. Não lembrava dela aqui antes. -Disse ela, cruzando os braços porque ele havia aberto uma das janelas por onde o vento frio entrou.

—Ainda estávamos em Hogwarts quando ela foi construída. -Explicou Harry e Gina assentiu em entendimento, ficando mais uma vez sem saber o que falar.

O olhava curiosa e ele parecia se divertir com tal fato.

—Acha que um casal seria feliz aqui? -Voltou a questionar Harry, e o coração de Gina palpitou tão rápido em seu peito que ela se questionou se ele conseguia ouvi -lo.

—Sim. -Gina esfregou as mãos nos próprios braços, um tanto impaciente. -Harry...

Mas ela não pôde completar a frase porque ele disse:

—Pretendo comprá -la...

—O que disse?

—... e dá de presente de casamento a Rony e Hermione.

O sorriso de Harry era tão grande quanto o espanto nas feições de Gina. Vendo a expressão divertida dele, ela demorou uns segundos para entender tudo.

—Você estava brincando comigo! -Exasperou-se, embora não estivesse com raiva. Pelo contrário, simplesmente não conseguia segurar o riso.

—Não estava não! -Rebateu ele, levantando as mãos enquanto mordia os lábios tentando, sem sucesso, não rir.

—Me fez pensar em algo que não era verdade -Gina riu das próprias palavras, sentindo-se uma boba - Harry Potter, seu grande idiota!

Escutou ele gargalhando enquanto batia os pés no chão, tentando parecer com uma raiva que estava longe de sentir.

—Eu não fiz e nem falei nada. Você que imaginou coisas. -Defendeu-se Harry, chegando mais perto dela lentamente, como se a temesse.

—Coisas!?

—Uhum. -Ele a enlaçou pela cintura e a levou para mais perto dele. -Mas é bom saber que você pensa em morar comigo.

Gina segurou o riso quando ele deu leves beijinhos em sua bochecha. Era consciente do bico teimoso em sua boca, não queria se render fácil, mas Harry a olhava com tanta felicidade que ela sabia não conseguir seguir com a farsa por muito tempo.

—E quem lhe disse isso? Não lembro de ter tocado nesse assunto. Acho que é você que está imaginando coisas demais. -Disse ela, dando um sorriso nada inocente.

Harry riu novamente antes de roubar-lhe um beijo nos lábios e virá-la de costas para si.

—Falando sério, o que achou da ideia? Acha que Rony e Hermione irão gostar? - quis saber ele, apertando a cintura dela contra seu peito.

—Eles vão amar, Harry! -Admitiu Gina.

—Certeza?

—Certeza!

—Então vou fechar negócio com o dono amanhã mesmo.

Gina desvencilhou-se dos braços dele e o encarou. A ideia era incrível e certamente não teria presente melhor do que aquele, então não hesitou em dizer:

—Divida o presente comigo.

E Harry, surpreso, tentou negar dizendo:

—Você quer roubar o meu presente!

—Nosso- corrigiu Gina - Vamos lá, você sabe que assim será mais fácil pro Rony aceitar sem reclamar. Ele tem o orgulho maior que a fome.

Gina o viu considerar a oferta. Felizmente ela tinha um bom dinheiro guardado, acúmulo das temporadas como jogadora de quadribol. Mas a questão não era sobre dinheiro. Dinheiro jamais fora um problema para Harry, e agora não era para ela também. O maior empecilho era Rony, que tinha um orgulho e uma necessidade de não depender de ninguém desde que saíra da casa dos pais. Gina não poderia julgá-lo. A vida toda viram Molly e Arthur contar moedas para criá-los da melhor forma que, quando finalmente alcançaram a independência financeira, não se preocupar com o custo de coisas que antes parecia pesar muito era a melhor coisa do mundo.

No entanto, tanto ela quanto Harry não consideravam aquela casa uma ajuda. Era um presente, e Rony teria de aceitar de uma forma ou de outra.

—Tudo bem. Você venceu. -Concordou Harry.

Gina, radiante, abraçou-o pelo pescoço.

—É ótimo fazer negócio com você, sr. Potter.

A noite, após combinarem como fariam com o dinheiro do presente que compartilharíam, aparataram ao redor do apartamento de Gina. De mãos dadas, deram boa noite ao porteiro e subiram pelas escadas até o andar certo, felizes com a decisão que haviam tomado. Durante o percurso, Harry encurralava Gina na parede e roubava beijos que ela aceitava de bom grado, embora risse com medo de algum morador trouxa aparecer.

Ele a provocava e Gina adorava isso. Dentre todas as coisas que pareciam combinar perfeitamente, o sexo era a melhor delas. Sempre empenhados em dar prazer um ao outro, sempre com desejo de mais. Eram nessas horas que o pensamento de morar junto a ele não a assustava nem um pouco.

Quando enfim chegaram no andar certo, sedentos para evoluírem os beijos para algo mais interessante, alguém estava encostado a porta de Gina, de cabeça baixa e braços cruzados. Parecia estar naquela posição por muito tempo, porque demorou a erguer a cabeça.

Era David.

Gina sentiu o corpo de Harry se tornar uma pedra atrás de si, assustado tanto quanto ela. Intimamente agradeceu por estar entre eles.

—David? -Falou, para quebrar o silêncio agoniante.

Ele estava da mesma forma que o deixara da última vez que o vira, até as olheiras não pareciam tê-lo abandonado, certamente fruto de muito trabalho.

—Oi. - Falou o médibruxo, parecendo um tanto intimidado com a presença de Harry. -Eu estava te esperando faz um tempo. Será que podemos conversar?

Gina o encarou, cogitando se a proposta era realmente uma boa ideia. Olhou para Harry e o viu com uma expressão impassível. Ele não parecia com raiva, mas também não esbanjava alegria como minutos atrás. David, por sua vez, parecia ignorá-lo, encarando somente a ela.

—Hum, é claro. - Aceitou Gina, porque simplesmente não viu motivos para que respondesse o contrário. Queria mesmo conversar com ele, porque a última não fora exatamente uma conversa, e isso a incomodava. Foram poucas as noites que voltou a pensar nele, mas sempre que o fazia, perguntava-se se ele estava bem, feliz e se sentia culpado pelo relacionamento deles não ter dado certo. Ela odiava pensar que a felicidade dele era dependente da presença dela, e queria ter a confirmação disso. David merecia ser feliz como ela era agora.

Um pouco nervosa, Gina abriu a porta e esperou que David entrasse primeiro. Harry veio logo atrás dele. Não trocaram nenhuma palavra. O chefe dos aurores continuou a encarar David e esse a o ignorar. A ruiva pensou então que, se quisesse realmente ter uma conversa, precisava mudar aquele cenário. Então disse:

—Harry, será que pode nos dar licença?

Ele demorou a reagir à pergunta, mas Gina o amou mais quando ele, assentindo, lhe deu um beijo na testa antes de responder:

—Estarei na cozinha.

Quando Harry sumiu pela porta do cômodo, a ruiva então voltou-se para David, já no meio de sua sala.

—Então você quer conversar -Gina andou em direção  ao sofá, onde Bichento estava deitado. - Sou toda ouvidos.


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Notas finais do capítulo

Cella aqui! Antes de qualquer coisa, eu sei que a maioria tava esperando uma cena de John e Viviane depois do capítulo anterior, mas eu e a LEvans achamos que John precisava do espaço dele. Ninguém toma decisões importantes do dia pra noite, ainda mais quando não se está habituado a elas.
Harry e Gina são famosos, e isso é algo que penso com bastante frequência. Não deve ser fácil ser famoso no mundo trouxa, imagine no mundo bruxo! Então trouxemos algumas reflexões dos personagens a respeito disso. Além disso, eu adoro escrever sobre esses dois juntos! Espero que gostem de ler!
O presente que eles darão a Rony e Hermione é algo que eu realmente acho que o casal faria. Essa cena ficou por tanto tempo na minha cabeça que foi um alívio dar vida a ela.
Quanto a David, eu e a LEvans sentíamos que a história dele na fanfic não tinha acabado. Ele precisa de redimir porque jugá-lo enquanto bêbado nos parece algo um tanto injusto. Mas a razão mais importante pra essa cena existir é a reação do Harry. Ele respeitou a decisão da Gina, passou por cima do ciúme e foi pro canto. Eu, Giks e Gina o amamos mais por isso. Depois dos erros que ele cometeu no passado, isso foi um acerto e tanto!
Bom, acho que é só! O desfecho dessa fanfic virá no próximo capítulo e sinceramente não sei se estou feliz ou triste por isso! Sempre é difícil dizer adeus.
Um beijo e até breve! :)
—Cella Black



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