Opposite escrita por Giovana Marques


Capítulo 13
Veneno


Notas iniciais do capítulo

Consegui escrever até hoje! Bom, espero que gostem do capítulo.
E claro, reviews me fazem feliz... Hahaha. Não importa se forem reviews ruins, eu só quero as suas opiniões sobre a história.
Bom, não sei se vou conseguir postar o próximo esse Domingo, mas prometo que vou tentar. Minhas aulas começam semana que vem e elas vão me atrapalhar muito :P Portanto, esse é o último capítulo que posto na Quarta-Feira. Os próximos, só aos Domingos, ok?
Beijos e boa leitura!



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Com um movimento rápido, levanto-me e continuo de olhos fechados. E já pensando como se fosse o Shadow Ocean, mais uma vez, simplesmente imagino nossa canoa se movendo para longe. Não sei como, mas o barco começa a navegar como se fosse uma lancha extremamente potente, ligada a motor. Ou talvez bem mais veloz do que isso.

Passamos por cima de algumas serpentes que nos cercam e percorremos o oceano tão rápido, que somos obrigados a segurar na canoa com força para não cairmos.

Meus olhos se fixam somente no oceano e faço com que continuemos seguindo na mesma a direção que navegávamos. Talvez a alta velocidade adiante nossa viagem.

Quando já estou um pouco mais segura, olho para os lados e me surpreendo com Jeremy que grita com a adrenalina, feliz, como uma criança em uma montanha russa. Nina parece mais calma e Luke sorri de forma satisteita para mim.

Não devolvo o sorriso e nem comento sobre os gritos de Jeremy por medo de perder a concentração na velocidade do barco. Volto a olhar para o azul do oceano, evitando qualquer distração.

– Se continuar assim, chegaremos à ilha bem mais cedo do que imaginei. – Luke comenta, já sentado ao meu lado.

Continuo quieta, seguindo meu rítmo. Estou contente pelos meus poderes estarem funcionando até agora sem perdido o controle de vez, como costuma acontecer. Também estou aliviada por não ter ferido ninguém. Ninguém além das serpentes leão, pelas quais nossa canoa passou por cima, claro.

– Isso é incrível. – Nina exclama.

Sinto um leve orgulho do que estou fazendo, coisa que, sinceramente, não sentia há algum tempo. Descubro que a sensação de poder em junção da sensação de controle é a combinação perfeita.

– Incrível?! – Jeremy exagera, para variar. – Isso é perfeito, vamos chegar mais cedo! Já não estava mais aguentando ficar dentro dessa canoa.

Nina dá uma risadinha debochada e olha para Jeremy com desdém quando diz:

– Se não aguenta, deveria ter ficado na casa da mamãe.

Luke dá uma gargalhada escandalosa e eu sou obrigada a acompanhá-lo. Nina também ri e Jeremy parece ofendido. Todo mundo sabe que ele morre de vergonha da superproteção de Sra. Gray.

– É claro que eu aguento! Só estou dizendo que já estou cansado...

– Esqueça, Jer. Falou, tá falado. – Nina o interrompe, voltando a zombá-lo.

– Ah Nina, cale essa boca! – Ele diz irritado.

O fato dele ficar nervosinho nos faz gargalhar ainda mais. Jeremy cruza os braços e revira os olhos quase que imediatamente, fazendo um super esforço para ficar sério.

– Calma, Jer! Só estou brincando, tolinho. – Ela dá uma piscadela engraçada e ele é obrigado a sorrir.

Tenho de admitir que estou impressionada comigo mesma, quer dizer, acabei de ter um momento de distração e o nosso barco continua em movimento. Isso prova que além de estar no controle, eu consigo fazer duas coisas ao mesmo tempo, sem perder o foco.

Sinto Luke se aproximar um pouco mais de mim, me dando um tapinha no ombro.

– Eu sabia que você ia conseguir.

Sorrio com suas palavras de incentivo e viro-me para poder encará-lo, já que estou de costas. Sem querer, acabo ficando muito próxima de Luke. Próxima demais! Nossos narizes quase se tocam e isso faz com que meu coração acelere e minhas bochechas fiquem rosadas. Minha cabeça vira-se imediatamente e eu fico muito sem graça.

Isso é uma distração e tanto,mas graças a Deus, eu ainda consigo manter o foco na velocidade do barco.

– Aliás, eu queria perguntar, o que estava acontecendo entre vocês quando as serpentes apareceram? – Jeremy é tão inconveniente, que tenho de suprimir uma vontade de socá-lo.

Se eu achava que minhas bochechas estavam rosadas antes, então não são nada comparadas à agora. Percebo Luke olhando para mim com um sorrisinho maroto brincando em seus lábios, ou talvez seja apenas coisa de minha imaginação. Porém tenho certeza absoluta que me observa, esperando pela minha reação ao comentário. Fugindo de seu olhar, continuo olhando para o oceano, tentando parecer despreocupada.

– Estavamos conversando, para a sua informação. – Respondo, seca.

– Claro. – Jeremy responde, carregado de sarcásmo.

***

Estamos navegando por um bom tempo, talvez por umas três ou quatro horas.

Jeremy já está dormindo novamente e Luke apagou contra sua própria vontade. Noto olheiras cinzentas sob seus olhos, vestígios de noites mal dormidas. Não posso culpá-lo por não conseguir dormir tranquilamente em qualquer lugar, afinal, é o líder da missão. Se algo ou alguém perigoso aparecer, Luke é nossa principal proteção.

Descanso meu olhar em seu rosto sereno e fico feliz em poder vê-lo sossegar por uma só vez, pelo menos.

Nina está acordada e se encontra sentada em uma de nossas malas, bem próxima de mim. Percebo, com um sobressalto, que ela me pega olhando para Luke e abaixo minha cabeça imediatamente, encarando meus pés.

Ela dá uma risadinha desnecessária enquanto mordo meu lábio inferior, envergonhada.

– O que foi? – Pergunto, fazendo-me de desentendida.

– Ah Emily, qual é? Não pense que sou idiota. – Ela revira os olhos, com um sorrisinho malicioso no canto de seus lábios rosados. – Porque eu não sou, nem um pouco.

Balanço a cabeça confusa, como se eu fosse a idiota.

– Do que está falando?

– Do que mais? Talvez sobre você e Luke?! – Ela pergunta com ironia e em voz alta, o que me faz quase ter um ataque cardíaco.

Meus olhos se arregalam na mesma hora e, como sempre, sinto minhas bochechas queimarem.

– Shh! – Faço um gesto de silêncio.

– Relaxe, eles estão dormindo. – Ela dá de ombros, desencanada. – Jeremy está roncando e se Luke não estivesse com tanto sono, não conseguiria dormir com o barulho que Jer faz.

Isso parece fazer algum sentido, então fico mais tranquila. Mas realmente não tenho vontade falar sobre o assunto. Não aqui.

– Escuta aqui, Nina: Não é nada do que você está pensando! – Tento colocar um ponto final em o que quer que esteje passando pela sua mente.

– Então me diga, Emily, por que estavam abraçados a hora em que eu acordei? – Pergunta, insistente.

Bufo, com um tanto de raiva. Então digo a verdade, afinal, não tenho por que escondê-la.

– Estavamos desabafando sobre a vida e então o assunto chegou em Peter. Eu fiquei chateada e Luke me abraçou como consolo. – Respondo, levemente irritada. – Está bom para você?

Seu olhar de ansiedade e curiosidade se desfazem em um suspiro, como se eu a tivesse decepcionado. Ela balança a cabeça, demonstrando mágoa.

– Não, não e não. Não “está bom” para mim. – Nina age como uma criança mimada. Mas depois dá um sorrisinho esperançoso. – É só que... Vocês ficam bem juntos.

Balanço a cabeça em negação, ignorando minhas bochechas que agora estão ainda mais coradas e mais quentes. Mordo o lábio inferior e mexo nos meus cabelos, nervosa.

– Nina... – Começo a protestar, mas sou interrompida pela feiticeira de cabelos ruivos, pequena e aparentemente irritante.

– Quer dizer, vocês brigam quase o tempo todo. Mas isso é o que faz vocês combinarem tanto, afinal, os opostos se atraem, não é? – Ela dá aquela piscadela engraçada, mas não rio dessa vez.

– Não quero saber sobre física! Nina, me escuta. – Digo, mais séria do que posso ser. – Não vai rolar.

Ela parece agitada e meio chateada, mas como se ainda tivesse esperanças, porém todas falsas. Eu tenho consciência de que nada pode acontecer entre eu e Luke. Não que eu seja contra acontecer, claro. Luke é lindo e apesar dos seus surtos de bipolaridade, ele é uma boa pessoa. Sem falar que eu me sinto levemente atraída por ele... Porém, é mais velho e deve me ver como uma pirralha. Além disso, minha aparência não é grande coisa. Não perto da dele, sinceramente.

– E por que não?

Bufo novamente nervosa. Olho para o lado, certificando-me de que os garotos ainda estão dormindo e me sinto satisfeita e aliviada ao saber que estão.

– Nina, uma das primeiras coisas que Luke disse quando me conheceu foi “Você é uma criança”, ou algo assim. Ele é quatro anos mais velho do que eu e não ficaria surpresa se não se interessasse em mim. – “Mesmo porque em dezesseis anos, nunca nenhum outro garoto se interessou” Pensei em dizer, mas soaria estúpido e carente demais. E carente é a última coisa que eu sou. – Além disso, ele é um feiticeiro negro e eu uma branca. Nunca daria certo. Não venha com essa história de “opostos se atraem”, porque se realmente se atraíssem os feiticeiros negros e brancos não se odiariam como se odeiam.

– Mas, Emy... – Ela tenta protestar, mas eu continuo falando.

– E depois de tudo isso, ambos estamos focados o suficiente nessa missão para deixar que nossos sentimentos nos atrapalhem. – Percebo que acabo de dizer uma besteira e tanto, então tento consertar. – Não que eles existam! Eu gosto de Luke, mas como meu amigo. É difícil de entender isso?

E realmente não estou mentindo. Gosto de Luke apenas como meu amigo, apesar de me sentir um pouco atraída quando está por perto, como já mencionei. Mas isso se deve ao fato de seu charme e sua aparente beleza. Tá bom, estonteante e incrível beleza. Com o tempo eu vou acabar me acostumando com essas suas características.

E sobre estar focada na missão, isso é mais do que verdade. Nada, nem mesmo uma paixonite me atrapalhará. Não que eu esteja apaixonada. Não mesmo.

Nina me encara com seus olhos negros, parecendo um pouco chateada.

– Quer saber? Você tem razão. – Ela diz, dando de ombros. – Desculpe, não vou voltar a tocar nesse assunto de novo.

– Obrigada. – Digo, dando um sorrisinho forçado.

***

Confesso que estou cansada. Bem cansada, já que está quase escurecendo e ainda estou a controlar o barco com meus poderes.

Estão todos acordados e eu ainda sinto um tanto de receio de Luke ter escutado minha breve conversa com Nina, horas atrás. Como ele não age diferente do normal, creio que não escutou. Não que fosse agir de forma estranha, se tivesse. Tudo bem, isso decididamente está me deixando confusa.

Estou sentada no canto do barco, com o rosto apoiado em meus joelhos. Respiro fundo, tentando ignorar o cansaço que tenta me abalar.

– Está tudo bem Emy? – Nina pergunta, percebendo minha indisposição.

Levanto a cabeça na mesma hora e a balanço positivamente.

– Claro. – Minto.

Se disser a verdade, tenho certeza que me mandarão parar. E parar nos atrasá.

– Não é o que parece. – Nina diz, preocupada. – Quer fazer uma pausa?

Suspiro, um pouco chateada. Não quero parar, pois quanto mais rápido chegarmos, mais rápido encontraremos o Oráculo. E mais rápido saberei quem são meus pais. E mais rápidos estaremos livres dessa missão.

– Querer eu não quero...

Mas então, um grito de felicidade me interrompe. É Jeremy, parecendo mais contente do que nunca o vi.

– Não vai ser preciso. Olhem! – Diz e aponta para a frente.

Todos nos viramos e olhamos na mesma direção. E com um sobressalto de alegria e alívio, vemos de longe a grande e assustadora Arcanum Island.

Luke também parece muito feliz e acima de tudo, aliviado. Mas depois de comemorar me encara, com um tanto de preocupação visível em seus olhos.

– Pode parar, se quiser, Emily. Podemos remar daqui em diante.

Balanço a cabeça em negação, persistente. Conseguirei controlar o barco até a ilha, que agora, já não está mais tão longe assim. É só ter um pouquinho mais de força de vontade e perseverança.

– Eu aguento. – São as únicas palavras que saem de minha boca.

Chegamos cada vez mais perto da ilha, já iluminada pela luz da lua que surge no céu.

– Não consigo acreditar... – Nina balbucia. – É imensa.

E realmente é. Sinceramente, não pensei que fosse tão grande, o que não é nada favorável para a missão já que teremos de procurar pelo Oráculo Mágico mata adentro.

Segundo Luke, a ilha também é repleta de criaturas perigosas, especialmente de dragões. Não que o fogo dos dragões possa ser perigoso aos meus amigos, já que são feiticeiros negros. Mas sim, muito perigoso para mim.

Olho para Arcanum Island sem conseguir acreditar. Tudo o que consigo ver é a praia a qual estamos chegando e atrás dela, um grande emaranhado de plantas, formando uma floresta densa e fechada.

Continuo a controlar o barco, mas o paro quando estamos na parte rasa do oceano.

– Onde vamos ancorá-lo? – Pergunto a Luke

Ele parece um pouco pensativo antes de me responder:

– Acho melhor levarmos conosco e depois arrumarmos um lugar para escondê-lo.

Concordo com a cabeça. Provavelmente é a melhor coisa a se fazer, não seria nada adorável se alguma criatura destruísse nosso único meio de voltar para Kingswood.

Estou tão exausta que não vejo a hora de deitar e descansar. E para falar a verdade, não sou uma pessoa que se cansa fácil. Usar meus poderes assim abusa demais da minha energia.

Com um sobressalto, me lembro que se tocar a água do mar minhas forças serão revitalizadas. Como posso estar sendo estúpida o bastante para não me lembrar disso até agora? Sou campeã em esquecer desses detalhes importantes à respeito dos meus poderes...

Ainda estamos no barco, mas todos se preparam para sair. Com ansiedade, coloco meu pé esquerdo para fora e toco a água esperando pelo alívio da minha extrema exaustão.

Meu pé se afunda na àgua escura do Shadow Ocean e eu mal toco a terra, quando acontece. Estou esperando pelo alívio, mas é a dor que me atinge em cheio. Sinto algo perfurar meu calcanhar e grito na mesma hora, debatendo-o e o puxando para dentro do barco novamente.

– O que foi, Emily?! – Luke se aproxima e passa um de seus braços por cima de meus ombros.

Olho para meu calcanhar já sangrando, assombrada por reconhecer o machucado horrível: Um rasgão cercado por marcas de dentes. Dentes bem afiados, até. Meu estômago revira e eu só não passo mal por causa da dor aguda que alastra-se na região do meu pé.

– Ai. – Gemo de dor. – Isso realmente dói.

– Caramba! O que foi que te mordeu? – Jeremy pergunta, com o rosto retorcido em uma careta.

A mão de Luke acaricia meus ombros, como uma tentativa de consolo pela mordida terrível em meu calcanhar. Não que fosse adiantar alguma coisa, já que a dor em meu machucado aumenta cada vez mais.

– Não sei. Não consegui ver.

Na mesma hora, Nina faz com que suas mãos peguem fogo e se aproxima do mar. Acredito que esteja tentando reconhecer a coisa que me atacou. Ela parece nervosa e agitada quando faz as chamas cessarem, e então, recolhe seu braço.

– Acho que são poisonies. – Ela balbucia, um pouco nervosa demais para o meu gosto. Como se desse a pior informação do mundo. – Luke, e agora?!

Meus batimentos cardíacos tornam-se mais rápido diante do que Nina acaba de dizer, apesar de eu não fazer a menor ideia do que sejam poisonies. O nervosismo e ansiedade aumentam quando olho para cima e vejo que Luke parece tão assustado quanto Nina, assim como Jeremy.

Estou prestes a perguntar se eles podem parar de ficar se encarando feito idiotas e me darem logo o veredicto, mas meus pensamentos são interrompidos por uma onda de dor intensa, vindo de meu calcanhar.

É uma dor muito mais poderosa do que a simples dor da mordida, como se subisse, crescesse e se espalhasse pela minha perna. Por um segundo, posso jurar que estou sendo rasgada de cima a baixo por milhões de lâminas afiadas e queimantes.

Sem eu mesma perceber, um berro de agonia escapa pelos meus lábios, assustando ainda mais meus amigos.

O braço de Luke me segura com mais firmeza agora, passando dos meus ombros às minhas costas e o outro, pelas minhas pernas. Quando me dou conta, estou sendo carregada por ele.

– Remem até chegarmos à areia! – Ele diz, parecendo furioso. – Não podemos descer aqui.

Envolvo o pescoço de Luke com as mãos, equilibrando-me, e espero ansiosamente que a dor diminua mas o que acontece é exatamente o contrário. Ela se espalha, crescendo pela minha perna, na direção de minha cintura, e sobe gradativamente, causando mais gritos e calafrios. Uma dor tão profunda, como se meu corpo estivesse pegando fogo, queimando cada centímetro de minha alma.

Cravo minhas unhas em meus braços, com o desespero e cerro os dentes com tanta força, que por um momento tenho a impressão de que vou quebrá-los.

Luke me aperta com seus braços contra seu abdômen, como se estivesse incomodado com a minha agonia.

– O que diabos está acontecendo?! – Consigo dizer, sufocada, em meio aos meus gritos.

Luke encara a ilha com desgosto e olha em meus olhos preocupado. Minha visão torna-se um tanto turva, embaçada e tudo o que sou capaz de ver são suas íris azuis-esverdeadas bem acima de mim.

– Você foi mordida por um poisonie. É uma espécie de peixe que possui um veneno poderoso em suas presas. – Diz, abatido. – Mas fique calma, Emy.

Como posso ficar calma com uma espécie de “veneno poderoso” correndo em minhas veias? Sinto uma grande vontade de perguntar, mas não tenho força suficiente para que as palavras saiam da minha boca. Tudo o que faço é balançar a cabeça, totalmente confusa com os pensamentos desordenados voando pela minha mente.

Minhas pernas queimam tanto que é como se eu as não sentisse mais. Isso me deixa ainda mais desesperada e de repente posso jurar que estou a ponto de ter um ataque cardíaco.

– Vou morrer? – Sou direta e pergunto arfando.

Luke respira fundo, porém não responde à minha pergunta. Isso me deixa possessa, mesmo que não esteja aguentando de dor. Mordo meu lábio inferior, tentando reprimir um grito. Isso faz com que outro calafrio percorra minha espinha.

– Não se encontrarmos as ervas certas para fazer um antídoto. – Nina responde, já que Luke não o faz. – Arcanum Island é enorme, vamos encontrá-las sem dificuldade. Não vamos, Luke?!

Mas Luke simplesmente a ignora. Ele para de olhar para frente e franzindo o cenho, me encara.

– Emily, já vou avisar: logo você vai começar a ter alucinações. Mas por favor, mantenha a calma e tente se lembrar que é apenas efeito do veneno. Qualquer coisa que passar a ver, será somente fruto da sua imaginação.

Recebo a notícia como teria recebido um soco na cara: Imprevisivelmente. Não tem como isso ficar pior! Como se já não bastasse a dor horrível e incessante, logo as alucinações começarão a me perseguir.

Meu estômago, de repente, parece se revirar loucamente por dentro do meu abdômen e eu me arrependo por ter pensado que não tinha jeito de ficar pior. Respiro com dificuldade, fecho minha boca e por um instante sinto um gosto metálico e familiar: Sangue.

Simplesmente tusso, colocando tudo para fora. Vomito sangue não só em minha roupa, mas também em Luke. Isso é tão nojento e terrível, que quero mesmo me desculpar, mas meu corpo dói tanto que não consigo ao menos falar.

Luke olha para mim com pena e preocupação, dizendo que tudo vai ficar bem.

Então minha visão também decide falhar. Não vejo mais Luke e nem nada além

da escuridão. E o mais estranho é que estou de olhos abertos. É como se algo tivesse me cegado, de repente.

Sinto o barco parar e Luke me carregar em terra firme. Escuto meus amigos gritando um com o outro, preocupados. Não sei onde estamos e isso me desespera.

Um berro sai de minha garganta, involuntariamente e começo a me contorcer de forma descontrolada. A dor já se espalhou pelo corpo todo, inclusive para a cabeça.

Minha visão volta, porém tudo é meio vago e embaçado. Abro os olhos com força para olhar Luke, mas algo me assusta. Não é ele que me carrega, e sim o homem envolto com o manto branco do sonho que tive há alguns dias atrás. Meu pai.

Grito com o susto e isso se mistura à minha dor. Meu pai parece se divertir com a minha aparente agonia, o que me deixa mais assustada ainda.

– Me coloque no chão! – Minha voz sai como um rosnado. – Me coloque no chão, agora!

O que diabos ele quer comigo? Ainda mais agora que eu estou machucada. Estou machucada? Onde estou mesmo? Tudo se mistura em minha mente e a dor se intensifica em meu corpo. Debato-me, lutando contra o homem sinistro que me carrega. Só consigo ver seus lábios por baixo do manto, se curvando em um sorriso maldoso.

– Não chore, minha querida. – Ele rosna, com uma espécie de alegria doentia. – Opposite logo estará em nosso poder.

Só percebo as lágrimas rolando pelo meu rosto agora. Não estou apenas chorando, também grito alguns palavrões e outras palavras que nem eu mesma consigo entender.

A paisagem atrás de nós se muda e de repente, estamos naquele jardim medonho outra vez. O jardim do meu sonho, repleto de flores brancas.

– Me leve para casa agora! Não quero dominar Opposite, eu só quero ficar em paz. Você pode me deixar em paz?! – Imploro, em meio às lágrimas.

Mas ele continua andando, como se eu não tivesse dito absolutamente nada. Outra onda de intensa dor percorre meu corpo, fazendo com que grite novamente. Por que meu próprio pai está fazendo isso comigo?!

– Por favor, faça a dor parar! – Imploro novamente.

Ele finalmente abra a boca para falar, mas sua voz é outra. Não é a mesma voz quase gutural, assustadora., e sim uma voz rouca e familiar, que me faz sentir reconfortada apesar da dor.

– Emy, são só alucinações! Sou eu, Luke!

Mas tudo volta à escuridão novamente e quando abro os olhos de novo, estou nos braços de Luke, que parece branco feito papel.

– Emily, aguente firme. Aguente firme! – Ele diz, quase que gritando.

Então, finalmente meus olhos se fecham e tudo desaparece.

***

Abro os olhos, desorientada. Tento manter-me calma, mas o fato de não fazer ideia de onde estou, certamente, não ajuda. A dor terrível ainda percorre meu corpo, como fogo incendiando uma tora de madeira.

Olho para cima, para o que parece ser uma cama. Uma cama com grades. O que eu estou fazendo em uma cama com grades? Boa pergunta.

Grito por ajuda, mas ninguém aparece. Então escuto algo distante vindo em minha direção. Passos? Talvez.

Alguém, de repente, começa a cantar uma melodia calma e suave, como se fosse uma canção de ninar. Para minha surpresa, a reconheço. Uma canção de ninar, esquecida no fundo de minha memória.

É uma mulher que a canta, com uma voz tão bela e fascinante, que tenho de parar de gritar e pensar em qualquer outra coisa para finalmente escutá-la.

Fico apreciando a doce melodia, até que ela para, de uma hora para a outra. Escuto mais passos em minha direção e alguém se inclina nas grades da minha cama.

Parece a mesma mulher que estava cantando, porém não consigo vê-la com tantos detalhes. Seu rosto parece estar coberto por uma espécie de névoa. É tudo tão turvo, que estico minhas mãos para tentar tocá-la, mas não obtenho nenhum sucesso.

A misteriosa figura fica em silêncio e eu tenho a leve impressão de que está me observando. Ouço seus pulmões trabalharem poucos centímetros acima de mim.

Algumas gotas caem em minha direção e ouço-a soluçar. A misteriosa mulher, quero dizer. Isso me deixa intrigada, de certa forma, e fico tentando imaginar por que é que está chorando.

– Emily, minha pequena. – Ela diz com uma voz doce e calma. – Eu prometo que não vou deixar ninguém machucá-la. Ninguém!

Suas palavras me causam um certo impacto, deixando-me mais confusa ainda. Os fatos se embaralham em minha mente e de repente eu perco o ar, entendendo tudo. Percebo que estou em um berço e essa é nada menos do que uma vaga lembrança de quando era um bebê, talvez guardada em meu subconsciente.

Noto também que a mulher misteriosa é ninguém menos que minha mãe. Sim, minha mãe.

– Mãe? – Eu grito exaltada, mas, para variar, nada sai de minha boca.

Ela para de chorar e sorri de um jeito gracioso, fazendo-me perguntar como é que pude vir de uma pessoa tão doce. Logo eu, que sou tão exasperada e impulsiva.

O desejo de vê-la por trás dessa névoa é tão grande que e isso me desespera e mata por dentro, mais do que a própria dor que já estava sentindo.

Então finalmente abro os olhos e com um flash, volto à realidade.

Estou em uma caverna, que apesar de escura, está iluminada com a luz do sol, lá fora. Isso faz com que eu me questione: Por quantas horas estive apagada?!

Me encontro envolta em um cobertor e usando roupas de frio, deitada em um colchonete. Estou tremendo tanto, que meus dentes chegam a bater.

Nina está sentada ao meu lado e segura algo parecido com uma tigela.

– Está acordada! – Alguém que reconheço ser Jeremy exclama, à minha direita.

– Emily, por favor, beba. – É tudo o que Nina diz, empurrando o líquido amargo da tigela para dentro de minha boca.


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Notas finais do capítulo

Nunca sei o que escrever nas notas finais, mas tudo bem. Espero que tenham gostado do capítulo, não esqueçam de dar suas opiniões sobre ele... Hahaha :P
Bom, eu reviso o capítulo umas três vezes antes de postar, mas se tiver algum errinho, por favor, me avisem! Obrigada.
Beijos e até o próximo.