Já havia se passado uma semana desde que descobrimos que o Ivan era um de nós e que nós éramos os tais “Filhos da Natureza”, ainda tinha muita coisa pra gente descobrir, mas por enquanto ter aquelas informações já era o bastante. No encontro que havíamos marcado ele levou o livro com a história do tal William. Vimos que não fazia tanto tempo assim que tudo aquilo aconteceu, faziam mais ou menos 97 anos, e que ele tinha apenas 21 anos quando cometeu todos aqueles assassinatos.

Eu até fiquei com o livro pra ver se descobria mais alguma coisa, mas não encontrei mais nada. Também decidimos que as meninas iam treinar junto com o Ivan, já que ele sabia mais ou menos o que fazer, eu e o Diogo ficamos de fora do treinamento, mas continuamos tentando achar um modo de liberar os poderes, só que até então nada, não tivemos nenhum progresso.

O Ivan já havia terminado o trabalho na parede do meu quarto, ficou bem legal, e além de colocar o desenho da minha marca na parede, ele também colocou a dele e a dos outros. Ele era realmente muito talentoso, e era legal o jeito que ele controlava as tintas, ele nem usava pincéis, fazia tudo só usando os poderes dele.

As meninas estavam se saindo bem nos treinamentos, já conseguiam controlar um pouco melhor os poderes, até vi a Sophia congelar um copo de água outro dia desses, sorte que só tinha eu em casa, ia ser difícil explicar pro papai se ele tivesse visto. A paz entre a gente continuava reinando, às vezes ainda tínhamos pequenas discussões, mas nada serio, e logo estávamos bem de novo.

Eu percebi uma certa aproximação da Sophia com o Ivan, ela até me contou que naquele dia ele havia pedido desculpas e eles haviam  ficado amigos desde então, eu sei que ele quer ser mais que amigo dela, e acho que ela também, mas acho que tem medo depois que aconteceu com o ultimo namorado. Pensando bem, não me lembrava do nome dele, acho que a mesma não citou o nome ao me contar a história. Mesmo o Ivan não sabendo de nada, achava que ele queria ir devagar dessa vez e fazer tudo certo com ela.

As coisas entre mim e o Diogo estavam evoluindo, ele até me levou a um lugar onde dava pra fazer umas manobras legais com os patins, ainda não estávamos namorando, mas eu não me importava, pra mim o bom era estar perto dele. Às vezes no colégio ele ficava meio estranho e distante, como naquele dia na biblioteca, e cheguei a ver ele conversando com aquela garota do outro dia várias vezes, eu já estava muito incomodada com isso, e só piorou depois que a Lexis me falou que o nome dela era Diana, e que era ex-namorada do meu gatinho. Eu pirei quando ela me falou isso, mas o que eu podia fazer, eu não tinha o direito de cobrar nada dele, já que nem namorando estávamos. O jeito era aguentar o ciúme calada, mas sempre que eu os via conversando eu meio que ficava emburrada e deixava ele no vácuo depois.

E esse ia ser um desses momentos, ele estava conversando com ela a pouco, e depois que ela saiu ele foi falar comigo. Eu estava sentada em um banco de costas pra eles, a Lexis estava de frente pra mim e na hora que ele começou a se aproximar ela inventou que tinha esquecido algo na sala. Ele me abraçou por trás e me deu um beijo na bochecha.

- Oi Mandynha – falou ainda abraçado comigo.

- Oi – falei seca.

- Nossa que humor, o que aconteceu? – falou se soltando de mim e ficando em minha frente.

- Não aconteceu nada, eu só não estou de bom humor hoje – falei irritada.

- Bom então eu acho que eu vou ajudar a melhorar seu humor – ele falou se aproximando.

- Não vem não, se quiser um beijo acho melhor ir pedir pra sua ex, como é mesmo o nome dela, é Diana não é? – disse por impulso me desviando dele.

- Do que você está falando? Por que está metendo a Diana no meio da nossa conversa? – ele disse meio surpreso.

- Bom não era com ela que você estava falando agora pouco? – disse ainda irritada.

- Era mas o que isso tem.. espera aí você está com ciúmes? – falou rindo de canto.

- Eu ciúmes de você? Faz-me rir, eu só estou cansada de ser ignorada toda vez que ela aparece, você mal olha pra mim quando ela está presente – eu já estava muito irritada, quase gritando.

- Eu não te ignoro, eu só.. – ele não completou e mudou o rumo da conversa - olha eu terminei com ela há muito tempo, não tem motivos pra você ficar com esse ciúme bobo, ela é só uma amiga – ele falou, mas tinha algo errado na voz dele, eu sentia que ele não estava sendo sincero comigo.

- Eu já disse que não estou com ciúmes, e você está mentindo pra mim, eu sei disso – ele ficou calado, então eu perguntei – me diz o que tanto vocês conversam?

- Isso não interessa, e não me chame de mentiroso, você não tem esse direito – ele falou também se irritando.

- Você tem razão, eu não tenho direito de nada não é, afinal nós não temos nada um com o outro, quer saber, fique com ela, faça bom proveito, e esqueça que eu existo – eu disse e sai em direção ao interior da escola, ainda ouvi ele me chamar, mas eu fingi não escutar e continuei meu caminho.

Eu estava muito mal, eu nunca tinha brigado com ele, e acho que exagerei na dose, ele tinha razão, eu estava agindo como uma boba, esse meu ciúme não passava de insegurança. Não prestei atenção em nenhuma aula depois disso, eu só pensava nele, eu não sabia como ia olhar pra ele depois das besteiras que eu disse.

A Lexis ainda tentou me confortar dizendo que ia dar tudo certo, que ele não ia ficar com raiva de mim, e que o melhor era eu esperar o final da aula e procurá-lo pra conversarmos direito. Eu concordei, e assim que acabaram as aulas eu fui o mais rápido possível pro pátio pra ver se eu encontrava ele.

Procurei por todo o pátio, mas nem sinal dele, achei que ele estivesse com raiva e devia ter ido embora, então me juntei à Lexis e fomos em direção à saída do colégio.

Quando pus os pés na rua eu travei com a cena que vi, senti como se o chão embaixo dos meus pés desaparecesse, e todo meu mundo desmoronasse. Era o Diogo e a Diana se beijando, ele estava de costas pra entrada, então não me viu ali, mas por um instante ela me olhou como se dissesse que havia vencido.

Eu fiquei parada olhando aquela cena chocada e assim que dei por mim soltei minhas coisas no chão e sai correndo sem rumo, enquanto eu corria todo um flashback passou pela minha mente, da primeira vez que me senti sem chão.

Flashback on

Eu morava em Londres com minha mãe, e como eu e a Sophia fazíamos aniversário no meio do período das aulas, meus pais resolveram que nosso aniversário de 15 anos ia ser feito durante as férias, foi decidido que a festa seria mesmo em Londres, pois minha mãe não poderia viajar pra Night Ville pra ajudar a organizar a festa.

Na época eu ainda era BV, e achava que era apaixonada por um garoto que estudava comigo, o nome dele era Juan, ele era Espanhol, mas morava na Inglaterra há alguns anos. Como eu queria uma chance de ficar com ele, convidei-o pra ser meu príncipe, e ele aceitou na hora, eu estava muito animada, tudo estava indo saindo como eu tinha planejado.

Uma coisa me intrigava no início, a minha irmã estava sendo muito boazinha comigo, o que não era normal, mas eu não me atentei muito pra isso, eu inocente achava que ela havia mudado, e decidido ser minha amiga.

No dia da festa eu estava muito nervosa, e não conseguia comer nada, lembrava muito bem do meu vestido, era um tomara-que-caia longo, bem colado na parte de cima, era branco, com uma fita pink na cintura, a saia era rodada, cheia de camadas, e batia no chão com uns detalhes de flores na barra, era o vestido dos meus sonhos. Meus cabelos, na época longos e castanhos claros, estavam presos em um coque, que deixava alguns fios soltos. Ei me sentia uma verdadeira princesa, e aquele era pra ser o dia mais feliz da minha vida, pelo menos era o que eu esperava.

Vestido da Mandy : 

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O que eu não sabia é que a Sophia estava armando pra mim, ela estava se fingindo de minha amiga, e eu nem desconfiava disso.

Na festa ela usava um vestido tomara-que-caia preto, é eu disse preto, com uma faixa pink na cintura, que só estava lá por insistência da mamãe , em todo o vestido haviam rosas desenhadas em um tom prateado, apesar de chocante pela cor, o vestido era lindo, e foi o único que ela aceitou usar. Tinha seus cabelos curtos cacheados, com algumas presilhas pequenas presas em algumas mechas na parte de cima da cabeça.

Vestido da Sophia : 

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Nós duas usávamos uma maquiagem leve, que foi feita pela maquiadora que minha mãe havia contratado, a Sophia brigou pra usar algo mais forte, mas no fim acabou aceitando o que a mulher fez.

Na hora do baile eu estava pra surtar, o Juan ainda não havia chegado, e não ia demorar muito pra hora da valsa, minha mãe disse pra eu não me preocupar, e a Sophia resolveu por seu plano em pratica, ela me deu um suco de maracujá, dizendo que ia me acalmar, e eu aceitei, o que eu não contava era que ela havia misturado com suco de abacaxi, o qual eu era alérgica, não era uma alergia grave, mais fazia meu rosto inchar e meu corpo ficar cheio de pintinhas vermelhas.

Eu tomei o suco tão rápido que nem prestei atenção no sabor, e pouco tempo depois eu comecei a me sentir estranha, eu sai um pouco pra tomar ar, mas quando dei por mim percebi que era hora da valsa, quando voltei me deparei com a cena que me fez perder o chão, a minha irmã estava não só dançando com o Juan, mas também beijando ele, eu comecei a chorar naquele momento, e quando entrei no salão de baile algumas pessoas começaram a olhar pra mim e algumas soltavam risos, eu só vim entender quando vi minha imagem refletida em um dos vários espelhos que haviam no salão, me vi com o rosto todo inchado, chorando e meu corpo cheio de bolinhas. Me desesperei, e quando olhei pra Sophia, que estava rindo, me lembrei do suco que ela me deu. Fiquei com muita raiva e corri pra cima dela, e começamos a brigar, rolando no chão, meu pai e um amigo dele correram e me tiraram de cima dela. Depois que me tiraram da festa, me deram um antialérgico e acabaram com a festa.

Acabaram descobrindo que foi minha irmã que armou tudo, e ela e meu pai resolveram voltar naquele dia mesmo pra Night Ville. Eu me sentia muito humilhada, e estava com muito ódio da Sophia. Então quando apareceu a proposta pra minha mãe ir trabalhar nos EUA alguns dias depois, eu a convenci a aceitar, queria ficar bem longe de tudo e de todos. Só me despedi do meu pai, que foi me ver um dia antes da viagem, e parti pra uma nova vida.

Flashback off

Mas nesse momento não me importava mais o que a Sophia tinha feito, eu já a havia perdoado. Só lembrei dessa cena pois foi a primeira vez que havia me sentido sem chão. Agora eu sentia um misto de raiva, nojo e pena, não só do Diogo, mas de mim mesma por ter me apaixonado por ele. E dor, muita dor, uma que só eu sabia o quanto machucava, e que ninguém poderia arrancar de mim, sentia como se tivessem esmagado meu coração e feito um buraco em minha alma.

Eu corria sem rumo, e não percebi o que estava acontecendo comigo, meu corpo estava em chamas, mas eu não estava queimando, era como se as chamas fizessem parte de mim, minhas lágrimas caiam no chão e deixavam um rasto, como se fosse fogo, mas era isso mesmo que elas eram, lágrimas de fogo.

Eu sabia o que estava acontecendo, e meu medo voltou, estava com medo de colocar fogo em tudo e acabar machucando um inocente, me lembrei de um terreno que tinham ali perto, que era vazio, e eu poderia ficar sem machucar ninguém.

Assim que cheguei ao local, percebi que estava deserto, corri pra um canto mais afastado e me sentei no chão. Eu estava muito abalada, e chorava desesperada, depois de um tempo olhei ao meu redor, tinha fogo por todo lado, fiquei mais assustada ainda, eu não conseguia me controlar, de repente meu braço começou a formigar e percebi que a marca estava brilhando, só me lembro de ver minha irmã me olhando de longe, parada e me gritando, depois disso tudo ficou turvo e eu fiquei inconsciente.