El Beso Del Final escrita por Ms Holloway


Capítulo 13
Responsabilidade




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/24273/chapter/13

Capítulo 13


 


Responsabilidade


 


 


                Bryan estacionou o carro em frente à casa dos Toretto. Tudo estava muito quieto. Nenhum movimento ou luzes acesas.


- Você tem certeza de que sua amiga está em casa?- Mônica perguntou observando a casa.


- Você ouviu quando ela me ligou. A Mia parecia muito preocupada.


- Mia!- Mônica exclamou quando ouviu o nome. Não tinha prestado atenção quando Brian dissera da primeira vez porque ainda estava pensando sobre a estranha mulher que vira na corrida. – Eu me lembro desse nome. O Roman falou sobre essa garota pra mim. Disse que por causa dela você foi expulso da polícia. Que foi por isso que estava naquela missão disfarçado quando nos conhecemos. Prender o Verone foi a condição que impuseram para que você voltasse, não foi?


- Ah, você não sabe de nada!- Brian exclamou irritado, olhando os arredores e tentando entender o que estava acontecendo. Mia falara sobre um carro vigiando a casa dela, mas ele não via ninguém suspeito.


- Olha, Brian, só porque não deu certo entre a gente, não significa que você...


             Brian viu um movimento suspeito do outro lado da rua e seus olhos ficaram atentos. Com um gesto de sua mão ele pediu silenciosamente à Mônica que ficasse quieta. Eram dois homens e pareciam estar esperando alguém sair da casa dos Toretto.


- Droga! Eles estão esperando pelo Dom!- Brian concluiu, instintivamente tocando sua arma que estava escondida embaixo da jaqueta jeans.


- Você está falando de Dominic Toretto?- Mônica cochichou percebendo a presença dos dois homens à espreita.


            Ele não respondeu à pergunta dela e Mônica ficou inquieta.


- Caramba, Brian! Vamos ficar parados aqui a noite toda?


- Shiiiii – ele pediu silêncio e observou mais uma vez a casa. Foi quando viu um terceiro homem, esse estava encapuzado, pulando de uma das janelas da casa. Brian sacou de sua arma e sem pensar duas vezes desceu do carro, gritando:


- Parado aí! FBI! FBI!


          Ao perceber a presença de Brian, o sujeito começou a correr pela rua e Brian partiu em seu encalço de arma em punho, atirando. Mas os dois homens que aguardavam pela saída do terceiro estavam armados e começaram a atirar também.


          Mônica usou o carro para se proteger e começou a atirar de volta, protegendo a retaguarda de Brian. Um intenso tiroteio começou e um dos dois homens chegou a atravessar a rua para pegar Mônica, mas ela rolou pelo chão se protegendo das balas e conseguiu atirar no ombro dele. O homem gritou de dor e suas pernas fraquejaram, fazendo com que ele caísse ao chão. O outro conseguiu fugir.


         Enquanto isso, Brian perseguia o homem encapuzado que fugira da casa dos Toretto. O sujeito corria muito e parecia conhecer muito bem o bairro ao se infiltrar em vielas escuras e becos para escapar de Brian. Por um momento, o policial quase o alcançou, mas Brian acabou perdendo-o quando chegaram a um beco sem saída e o homem disparou pela escada de incêndio de um antigo prédio.


        Brian ainda chegou a subir as escadas e a invadir um apartamento onde uma família jantava, mas ainda assim perdeu o homem. As pessoas gritaram assustadas quando ele invadiu a cozinha.


- Cacete!- Brian gritou com raiva ao correr para a porta de saída do apartamento e não ver ninguém no corredor. O homem deveria ter entrado em algum dos apartamentos e para poder examinar um a um Brian teria que chamar reforço e conseguir um mandado. Até que conseguisse isso, o sujeito estaria bem longe.


       Frustrado, ele resolveu voltar à casa dos Toretto. Ele ainda precisava saber se Mia estava bem. Em seu impulso de querer pegar o homem que fugia da casa dela esqueceu-se de pedir à Mônica para que entrasse na casa e falasse com Mia. Esperava que ela tivesse feito isso por conta própria.


xxxxxxxxxxxxxx


 


             Mônica chamou uma ambulância assim que algemou o homem em quem havia atirado na grade do portão dos Toretto. Reforço policial também já estava vindo e chegaria em poucos minutos.


- Não fica muito alegre não que eu vou voltar logo, ouviu amor?- ela disse ao bandido que tinha uma feia careta de dor no rosto.


           Ela pulou a grade do portão e usando a arma arrombou a porta de entrada da casa. Tudo ainda estava escuro. Mônica colocou-se em estado de alerta caminhando pela sala de estar bem devagar. Tateou pela parede procurando o interruptor de luz e o encontrou. Apertou-o duas vezes, ouvindo o clique do botão, mas as luzes não se acenderam. Talvez o homem que estivera na casa tivesse cortado a energia elétrica.


          Sentindo suor frio escorrer pela testa devido à tensão do momento, Mônica orientou-se na escuridão com a ajuda da luz da lua refletida dentro da casa através das janelas de vidro. Os únicos sons que podiam ser ouvidos dentro da casa eram o barulho do salto de suas botas batendo suavemente contra o piso de madeira e o som abafado de sua respiração alterada.


          Caminhando devagar, pé ante pé, Mônica chegou à cozinha e virando-se em várias direções com sua arma engatilhada, ela quase alvejou um tiro direto no peito de Bryan que tinha acabado de entrar na casa pelos fundos naquele exato momento, chocando-se com ela. A sorte dele era que Mônica era perita em controlar sua arma.


- Caramba, Bryan!- ela gritou ao reconhecê-lo na penumbra.


         Por um momento ele deixara de respirar ao ouvir o clique suave do gatilho da arma dela.


- Eu podia ter atirado em você- acrescentou ela, aflita.


- Obrigado por não atirar.- disse ele antes de perguntar: - Encontrou alguém na casa?


- Ainda não.- Mônica respondeu. – Tentei acender as luzes, mas parece que a energia foi cortada. – Viu o sujeito que eu consegui prender lá fora?


- Não.- disse ele. – Como pode ver, entrei pelos fundos.


- Você conseguiu pegar o cara que estava perseguindo?


- Eu tentei!- falou ele. – Mas o desgraçado foi escorregadio.


- Bryan, eu não acho que a sua amiga esteja aqui... – começou a dizer Mônica e então eles ouviram um gemido de mulher, não muito longe deles. Atrás do balcão da cozinha.


- Mia!- Bryan gritou iluminando o ambiente com a lanterna do celular.


         Mia estava deitada no chão, os longos cabelos sobre o rosto.


- Mia!- Bryan disse outra vez enquanto se agachava ao lado dela. Tocou-lhe o rosto e percebeu que havia um pouco de sangue escapando de um ferimento no alto da cabeça. – Ela está ferida, Mônica.


- O reforço está vindo e eu já chamei uma ambulância.- disse Mônica. – Eu tinha chamado porque atirei no nosso amigo lá fora.


- Não me disse que tinha atirado nele?


- E como você acha que eu consegui prendê-lo?- retrucou Mônica. – Por acaso achava que eu pretendia travar um combate corpo a corpo com o sujeito e arriscar quebrar minhas unhas?


          Bryan revirou os olhos e voltou toda sua atenção para Mia. Tomou seu pulso, ela parecia bem apesar de tudo.


- Se ela bateu a cabeça, é melhor você não movê-la.- aconselhou Mônica.


- Mia, está me ouvindo?- ele indagou baixinho, acariciando os cabelos dela e segurando sua mão. – Sou eu, Bryan. Vai ficar tudo bem agora. Eu vou cuidar de você.


- Bryan...- ela gemeu suavemente e apertou a mão dele com a sua.


          Nesse momento eles ouviram as sirenes da polícia e da ambulância chegando.


- Vá avisar aos paramédicos que tem uma pessoa ferida aqui dentro!- Bryan pediu a Mônica e ela correu imediatamente para fora.


xxxxxxxxxxxxxxxx


 


          Durante o caminho para a casa de Vince, Dom e Letty seguiram separados em seus carros. Enquanto ela dirigia e Dom a seguia quase a seu lado, ela pensava no quanto idealizara o dia em que ele finalmente conheceria sua filha. Na verdade idealizava esse dia desde que descobrira estar grávida, imaginando se um dia Dom veria seu bebê.


          Ela acabou recordando-se dos longos meses em Azua de Compostela, grávida e sozinha, pensando em Dom e imaginando que jamais o veria novamente.


 


República Dominicana, 5  meses antes


 


- Isso!- disse Letty a Humberto, um dos mecânicos da oficina onde estava trabalhando. – Você vai ter que soldar as peças do motor outra vez. É por isso que o carro está esquentando tanto.


- Certo, Letty!- respondeu ele lançando um olhar de admiração a ela frente à sua habilidade em descobrir os problemas mais complicados dos carros. Ele era um rapaz muito jovem, acabara de completar dezoito anos e idolatrava Letty como se ela fosse sua mestra na arte de consertar carros. – E qual peça eu tenho que soldar primeiro?- ele indagou.


- Avalie qual peça está fazendo o carro esquentar mais e então comece a partir daí.


- Obrigado.- disse ele, voltando a se concentrar na tarefa que estava fazendo.


        Letty sorriu para ele e caminhou pela oficina apertada repleta de carros e peças, com uma mão protetora sobre sua enorme barriga. Tinha acabado de completar sete meses de gravidez e seu bebê estava completamente saudável. Uma menina. Ela mal podia acreditar nisso, estava tão feliz, contando os dias para o nascimento da pequena mas ao mesmo tempo apreensiva porque Dominic não estaria lá para compartilhar com ela o nascimento da filha deles.


     Consuelo vinha sendo uma verdadeira irmã para ela. Letty não precisava sujar suas mãos de graxa na oficina, apenas orientava os mecânicos e Consuelo sequer a deixava ficar muito tempo lá dentro, lembrando-a dos odores tóxicos de gasolina e óleo na oficina.


    Naquela tarde, depois de orientar Humberto sobre o problema com um Mercedez, que parecia impossível de ser resolvido, ela foi sentar-se na varanda da casa de Consuelo que ficava ao lado da oficina do irmão dela.


  O calor estava escaldante e Letty prendeu os cabelos com os próprios fios uns nos outros para deixar a nuca livre e aplacar um pouco o calor. Ela sentiu o bebê chutar e sorriu colocando as duas mãos sobre a barriga para senti-lo.


- Ela está chutando?- indagou Consuelo vindo para a varanda. Ela trazia nas mãos um copo de suco gelado para Letty.


- Obrigada.- Letty respondeu ao pegar o copo de suco das mãos dela e tomar um longo gole. – Sim, ela está muito agitada hoje. Não para de chutar! Já estou ficando preocupada com as minhas costelas.- ela brincou e Consuelo riu. – Nunca pensei que ia ficar tão enorme!- Letty fez um gesto grande com uma das mãos envolvendo o próprio corpo em uma linha imaginária.


- Você está linda, mi cielo.- disse Consuelo. – Se o pai da sua filha a visse agora assim, lamentaria cada segundo por tê-la deixado.


   Letty franziu o cenho. Era difícil para ela falar de Dom e do quanto sentia a falta dele. O quanto queria que ele estivesse ao lado dela.


- O pai da minha filha é um homem que vive sob o seu próprio código moral.- disse Letty acariciando a barriga para acalmar o bebê. – Para ele, as coisas são o que são. A polícia estava procurando por ele e ele quis me proteger, mas não pensou que sempre estive mais protegida ao lado dele.


           Consuelo segurou a mão dela. Compreendia como Letty se sentia. Ela havia lhe contado a história dela poucos meses depois de estar morando em sua casa e Consuelo a admirava por sua garra e coragem de enfrentar aquela situação sozinha sem pedir ajuda aos amigos, ou aos padrinhos, seus únicos parentes no mundo.


- Sente falta dele, não sente?


         Letty pensou por um momento e respondeu:


- Sim, eu sinto muita falta dele e me odeio por isso!


- Letty, se for o destino de vocês ficarem juntos, então acontecerá algo no caminho que fará com que vocês se encontrem de novo.


- Não sei se acredito em destino... – disse Letty. – Oh!- ela exclamou com a mão sobre um ponto exato em sua barriga. – Essa niña está chutando de novo!


- Já sabe como vai chamá-la?- perguntou Consuelo colocando uma das mãos sobre a barriga de Letty para sentir o bebê chutar.


        Lettya sorriu e disse:


- Vou chamá-la de Anna Caterina.


 


Tempo presente


 


         Dominic estacionou seu carro em frente à garagem da casa de Vince. Já fazia muito tempo que ele não ia até lá. Mas sabia que Vince tinha herdado a casa dos pais depois que eles voltaram para o interior do Texas. Sorriu momentaneamente ao se lembrar dos tempos em que ele e Vince eram moleques e jogavam basquete em frente à garagem, ou quando se reuniam na casa junto com a turma quando os pais dele não estavam para beber cerveja escondido e falar sobre garotas.


         Letty parou o carro ao lado do dele e eles saíram dos veículos quase simultaneamente. Ele observou o carro dela com interesse e disse:


- Onde você arrumou essa máquina, baby?


- É do Vince!- Letty respondeu caminhando em direção à porta.


        Dom não queria admitir, mas estava nervoso em conhecer sua filha. Uma coisa era saber que ela existia, outra coisa era vê-la de verdade e ser o pai dela. Ele era um fora da lei e sabia que jamais escaparia dessa sina, sua filha merecia um pai como o que ele próprio tivera. Tony Toretto seria um excelente avô se estivesse vivo.


        Quando eles entraram na casa, Letty chamou pelos amigos:


- Vince, Leon!


- Leon?- Dominic retrucou. – Então o safado também sabia onde você estava e escondeu isso de mim?


- Eu pedi isso a ele. – disse Letty, mas antes que Dom pudesse dizer mais alguma coisa, ambos ouviram o choro desesperado de uma criança vindo da cozinha. – Nina!- Letty exclamou, preocupada e correu para lá. Dom a seguiu.


I’ll take you to the candy shop…I’ll let you lick the lollipop…Go ‘head girl, don’t you stop…”- Vince cantava balançando Nina em seu colo enquanto a pequena berrava em alto e bom som. Leon ao lado deles batucava na mesa da cozinha para acompanhar a cantoria de Vince em mais uma tentativa frustrada de acalmar a menina que não parava de chorar.


- Mas o que diabos vocês dois estão fazendo com o meu bebê?- Letty indagou, furiosa indo até Vince e estendendo os braços para pegar Nina imediatamente. – E que porcaria de música estavam cantando para ela?


- Desculpa, Letty, mas foi a única música que eu lembrei.- disse Vince.


- Caramba, Letty, a gatinha não parava de chorar. A gente não sabia mais o que fazer.


                Os dois conversavam com Letty sem notar ainda a presença de Dom à porta da cozinha. Ele ficou parado lá, estático, observando Letty tentar acalmar o bebê.


- Shiiii...não chora, mi cielo, mamãe já está de volta e não vai mais te deixar sozinha...não...está tudo bem agora...


               Ela ajeitou Caterina sobre o ombro e lhe deu suaves tapinhas nas costas enquanto o choro da criança diminuía de intensidade aos poucos.


- Vince, você deu a mamadeira pra ela?- Letty indagou ninando a filha.


- Eu dei, mas ela vomitou tudo na minha melhor camisa!- ele queixou-se. – Quando o Leon chegou, eu estava tentando limpar a nenê, mas aí ela sujou a fralda e as coisas ficaram piores...


- Pendejos!- Letty xingou em espanhol e abraçou a filha junto ao peito. Agora Nina apenas choramingava.


               Foi nesse momento que Vince e Leon notaram a presença de Dom. Vince ficou parado olhando para seu melhor amigo por alguns segundos, parecia emocionado em vê-lo. Leon quase riu do jeito dele quando ele correu e abraçou Vince com força, beijando-o no topo de sua cabeça raspada, como costumava fazer nos velhos tempos.


- Dom! Seu grande desgraçado! Quando foi que você voltou?


              Dom estava feliz em ver Vince, mas seus olhos ainda observavam Letty e sua filha, por isso, ele apenas abraçou o amigo, dando um tapinha em seu ombro antes de se desvencilhar dele e se aproximar de Letty.


              Leon observou os olhares dos dois e fez um gesto indicando que ele e Vince deveriam sair da casa e deixá-los a sós.


- Mas por quê?- indagou Vince em voz baixa, fazendo gestos para Leon. – Eu quero conversar com o Dom, já faz muito tempo que a gente não se vê, cara!


             Mas Leon insistiu no gesto de que eles deveriam sair imediatamente. Vince o acompanhou, mas saiu resmungando algo sobre não ver Dom há cinco anos e não poder conversar com ele, parecia um menino mimado, choramingando.


             Quando eles ficaram sozinhos, Letty disse a Dom sem tirar seus olhos dos dele:


- Eu sonhei tanto com o dia em que você conheceria sua filha, Dominic.


 


República Dominicana


 


3 meses antes


 


           Sentir dor nunca tinha sido um problema realmente para Letty. Ela já tinha sentido mais dores do que gostaria de se lembrar. A primeira delas foi a morte de sua mãe. Era muito pequena para se lembrar de tudo, mas de alguma forma o vazio que a morte dela lhe deixou a perseguira por anos e Letty ainda podia senti-lo, mesmo tendo sido criada por seus padrinhos amorosos.


        Depois disso veio a dor de amar Dominic Toretto e não ser correspondida. Ele se transformara no seu herói desde o primeiro momento em que se viram, quando seu padrinho a levou para brincar com a filha de seu melhor amigo, Tony Toretto, o pai de Dom.


     Mas ao invés de brincar com Mia, tudo o que Letty queria era estar perto de Dominic e dos carros. Sempre fora fascinada por carros. Seu padrinho, embora tivesse uma loja de autopeças, não era muito fã de velocidade, ao contrário de seu amigo Tony. Letty gostava de velocidade e de tudo que dizia respeito a carros. Ela gostava até do cheiro forte de combustível e óleo queimado que exalava da oficina dos Torettos.


   E foi assim que ela começou a trabalhar lá. Primeiro como aprendiz, depois de muita insistência com seus padrinhos. Para Carlos não havia nada demais que a pequena Letty ficasse na oficina, mas Amália detestava a idéia de ver sua sobrinha todos os dias com as roupas encardidas e com graxa debaixo das unhas.


- Letty já é quase uma mocinha, Carlos!- Amália dizia. – Não gosto de deixá-la sozinha em uma oficina suja e cheia de homens.


- Amália.- ele retrucava. – Não é qualquer oficina. Eu confio no Tony. Ele é um homem íntegro, assim como seus filhos e seus funcionários. Eu prefiro que a Letty fique na oficina do que pelas ruas com os garotos da escola fazendo coisas que não deve.


   E dessa forma Letty continuou na oficina, ano após ano, especializando-se na arte de consertar carros ao lado de Dominic. Mas ele a ignorava por completo. Ficava aborrecido quando ela lhe fazia perguntas. Mas ao mesmo tempo, havia algo de protetor nele em relação a ela que sempre a fizera ter esperanças, mesmo que esse instinto protetor não passasse de uma preocupação fraternal..


  Com o passar dos anos, a paixão que sentia por Dominic ganhou novas dimensões e ela passou a tentar chamar a atenção dele de todas as formas possíveis até chegar ao extremo de se declarar com todas as letras. Desde então não havia mais Letty sem Dom, nem Dom sem Letty. Era o que todos diziam. Eles eram um só.


  E foi assim que surgiu a segunda grande dor de sua vida. Tony Toretto sofreu um acidente durante uma corrida e Dominic enlouqueceu com isso. Partiu para cima do “culpado” e quase o matou em sua dor. Por causa disso, Dom foi preso, julgado e condenado. Letty ainda sentia o peito arder ao se lembrar do momento em que se viram pela última vez antes dele ser levado à Lonpoc. Foram dois anos de muita dor e sofrimento longe de Dom. Carlos não permitia que ela o visitasse e Letty tinha apenas dezessete anos, não podia contrariar o padrinho, embora tivesse tentado fugir para vê-lo com a ajuda de Vince muitas vezes.


   Quando Dom saiu de Lonpoc, Letty tinha acabado de completar dezoito anos. Sem pensar duas vezes, ela arrumou todas as suas coisas e disse que ia morar com ele. Seu padrinho ficou chocado e quase a amaldiçoou por isso. Ele queria que ela fizesse faculdade, tinha guardado dinheiro a vida inteira para que ela estudasse. Mas Letty disse, “que se dane a faculdade, tio Carlos! Eu amo o Dom e vou viver com ele.”


- Você não é melhor do que sua mãe foi!- foram as últimas palavras de Carlos para Letty quando Dom foi buscá-la em seu chevelle.


  Ela nunca mais viu seus padrinhos então. Apenas enviava e recebia cartas da tia vez por outra e esta foi mais uma dor com a qual ela teve que lidar. A rejeição de seu tio a quem ela amava como a um pai.


A sucessão de dores não parou. Letty foi muito feliz com Dom depois que passou a morar com ele, mas a traição dele com a irmã de Johnny Tran trouxeram tempos difíceis para o relacionamento. Houve também a separação forçada quando eles tiveram que fugir dos Estados Unidos e ficar longe um do outro por meses.


 A última e desesperadora dor tinha sido quando ele a deixara para trás na República Dominicana, grávida e sozinha. Agora, Letty estava prestes a enfrentar mais uma dor, e dessa vez esta dor seria física e emocional, ela sabia.


  Tudo começou por volta das três da manhã. Letty acordou com a sensação de que estava indo sufocar. Sentou-se na cama com muita dificuldade e tocou sua barriga que se contraía de maneira dolorosa.


 Letty gemeu de dor e tentou chamar Consuelo que dormia em um dos quartos da frente. O quarto de Letty era o último da casa e ficava depois da cozinha. Tinha sido construído apressadamente, especialmente para ela quando viera viver com a família. Como a casa era cheia de remendos e os quartos principais ficavam antes da cozinha, era difícil que eles a ouvissem.


- Droga!- Letty xingou com voz abafada, sentindo a dor aumentar, querendo levantar, mas não conseguindo.


  Foi então que ela viu que estava sentada em uma poça de líquido amniótico e sangue. Sua bolsa tinha se rompido sem nenhum aviso. Mas por que isso? Letty pensou. O médico na cidade tinha garantido que o bebê ainda levaria três semanas para nascer.


- Consuelo! Ayudame! (Ajude-me)- Letty conseguiu dizer finalmente, mas não sabia se sua voz tinha soado audível o bastante. – Dios!- ela gritou sentindo uma contração ainda mais forte e voltando a se deitar na cama.


  Lá fora, a tempestade caía e a água batia contra o telhado, dificultando com que os gritos de Letty fossem ouvidos pelos outros moradores da casa. Ela estava muito assustada e só conseguia pensar em Dom. Se ele estivesse ali, ele a teria ouvido na primeira vez em que ela gritou. Ele teria vindo correndo ajudá-la. Não a deixaria sozinha, ou deixaria? Ele já tinha deixado.


  Letty começou a chorar, sem saber como agir pela primeira vez em toda a sua vida. Mesmo diante de todas as dificuldades anteriores que ela tivera que enfrentar sempre havia um plano. Mas dessa vez não havia. Era como estar sendo transportada de novo para aquela noite sombria em que ela quase fora morta por Fênix.


  As dores aumentavam, assim como suas lágrimas e seus gritos em meio à tempestade tortuosa. Letty não soube precisar quanto tempo passou gritando e implorando por ajuda até que alguém aparecesse para acudi-la, só conseguia ouvir a si mesma, berrando:


- Dommm! Dommm!


  Consuelo a encontrou pálida e sangrando na cama. A testa coberta de suor.


- Santa Madre de Dios, niña!- Consuelo gritou ao vê-la naquele estado. – Maria! Carmen! Mercedes!- ela chamou por suas filhas e sobrinha. Sua sogra veio também, assim como alguns dos homens da família e logo havia uma confusão de vozes alteradas na casa. Mas Letty não conseguia se concentrar no que diziam, a dor era insuportável demais.


- Vamos levar a chica ao hospital no meu caminhão.- Joaquin, o marido de Consuelo sugeriu.


- Não temos tempo para isso, hombre, a criança está nascendo!- Consuelo gritou. – Quero água fervida, toalhas limpas, agora mesmo!


        Doña Joana, a mãe de Joaquin expulsou todos os homens que tentavam entrar no quarto de Letty, apenas as mulheres que ajudariam no parto eram permitidas lá dentro.


- Vai ficar tudo bem, cariño.- Consuelo assegurou a Letty, passando um pano molhado na testa dela.


- Minha filha... – Letty murmurou.


- Ela vai ficar bem!- disse Consuelo.


- O Dom...ele não está aqui...


- Fique calma, mi cielo, você precisa nos ajudar agora, está bem?


   Ela levantou-se da cama e foi ajudar a sogra que havia erguido a camisola de Letty e agora a examinava atentamente.


- E então?- Consuelo perguntou.


- A criança está nascendo, não há tempo para o hospital...mas o bebê não está na posição correta...


- Está virado?- Consuelo indagou, temerosa.


- O que está acontecendo?- Letty gritou. – Oh, droga! Isso dói tanto!


- Não está virado.- Joana esclareceu. – Mas ela vai precisar fazer muita força para colocar o bebê na posição certa para podermos tirá-lo daí!


  Letty relaxou por alguns segundos quando as contrações diminuíram um pouco de intensidade, mas logo voltou a gritar de desespero.


- Cacete! Isso dói demais! Eu não vou agüentar...


- Você vai agüentar sim!- Consuelo falou sério com ela. – Agora faça toda a força que puder e nos ajude a trazer sua filha ao mundo! Eu não conheci Dominic Toretto, o pendejo desgraciado que te abandonou, mas juro por Deus que irei encontrá-lo e matá-lo se algo acontecer a você e sua filha esta noite, então comece a empurrar, Letícia!


    Letty assentiu. Consuelo sentou-se ao lado dela e a ajudou a apoiar-se na cama o suficiente para que ela pudesse se segurar no estrado. Joana posicionou-se entre as pernas dela e disse:


- A criança está vindo, empurre menina!


   Letty gritou e empurrou com toda a força que conseguiu. Consuelo segurou as pernas dela e as manteve separadas.


- Isso, Letty, força! Empurre!


  Letty ergueu o corpo e empurrou de novo, as lágrimas não paravam de escorrer de seu rosto devido ao enorme esforço que estava fazendo.


- Ahhhhh! Ahhhhh!- Letty gritava, extravasando sua dor.


- Pronto, a criança está no caminho certo agora!- Joana vibrou. – Mais um pouco e a terá em seu braços, menina, empurre!


- Vamos Letty, só mais uma vez!


  Letty fechou os olhos e pensou rapidamente em todas as coisas boas que já vivera em sua vida. Pensou em Dom e seu melhor sorriso que ele guardava somente para ela e então empurrou, pela última e dolorosa vez.


 Ela pensou que fosse desfalecer quando juntou todo o resto de força que tinha para dar à luz sua filha, mas o choro alto dela ao nascer quebrou toda e qualquer tensão que houvesse no quarto, mantendo Letty desperta.


- Aqui está ela!- disse Joana erguendo a menina para que Consuelo cortasse o cordão umbilical.


- Minha filha!- Letty gritou. – Me deixem pegá-la!


   Sorrindo, Consuelo entregou o bebê para Letty, ainda sujo do parto e enrolado em uma manta, mas para a nova mamãe era o bebê mais lindo do mundo.


- Hola, mi hija!- disse Letty suavemente, sentindo-se aliviada agora que o bebê tinha nascido.


- Ela é maravilhosa, Letty! Estou tão orgulhosa de você.- disse Consuelo.


- Ela é linda e é só minha...minha filha...Anna Caterina...


 


Tempo presente


 


                Dom ouviu Letty dizer o quanto ela tinha sonhado com o dia em que ele conheceria sua filha. Ele estava tão emocionado com aquele encontro que mais uma vez não sabia o que dizer. Letty estava tão linda com o bebê nos braços, sua filha, ele ainda não podia acreditar que ele e Letty tinham posto no mundo uma criatura tão perfeita. Naquele momento, Dominic sentiu que morreria e mataria por Letty e sua filha. Não havia nada mais importante para ele do que a família. Era sua responsabilidade maior, a cláusula número um de seu próprio código moral. Sentiu-se culpado, nunca deveria ter deixado Letty para trás.


- Letty, se eu pudesse voltar no tempo e apagar a enorme besteira que eu fiz, eu o faria, só para poder estar ao seu lado enquanto ela estava sendo gerada, no dia em que você deu à luz...


- Mas você não estava.- Letty disse com mágoa na voz tentando inutilmente evitar as lágrimas que se renovavam em seus olhos escuros.


          Dominic se acercou dela e de sua filha, envolvendo ambas num abraço protetor, que Letty não rejeitou, embora também não estivesse correspondendo. Ele observou Nina. Ela era pequena e roliça, seus gordos dedinhos apertavam o dedo indicador de sua mãe, enquanto a outra mãozinha estava pousada sobre o seio dela de forma possessiva, como se estivesse dizendo a ele que ela lhe pertencia. Os cabelos dela eram escuros e abundantes, os olhinhos negros e pequenos lembravam muito os olhos de Mia, os olhos dos Toretto.


        Ele sentiu a garganta embargar, os olhos ficando úmidos de repente. Ele era pai. Não havia responsabilidade maior e a partir daquele momento Dom assumiria a responsabilidade que lhe cabia.


- Letty, eu sei que está me odiando agora pelo que eu fiz, e sei que mil pedidos de desculpas não serão o bastante para que você me perdoe, mas eu estou de volta e não pretendo ir a lugar nenhum. Eu te amo, baby.


 


Continua...


 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!