The Ruler And The Killer escrita por Marbells


Capítulo 19
My mind is on fire




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Aquela estúpida “Garota em Chamas” estava prestes a pagar por tudo. A pagar por ter nascido, por ter tirado melhor nota que eu e Cato e, pirncipalmente, por se meter no caminho entre Cato e a vitória. Isso era o pior de tudo. Ela era um obstáculo que Cato teria de ultrapassar, mas eu queria morrer e ter a certeza de que valeria a pena. Ter a certeza de que ela não o mataria depois. E, por isso mesmo, estou a olhar para Katniss, sentando no ramo da árvore cuja sombra alivia o calor que sinto. O calor tem sido terrível e já torci o meu pé direito várias vezes, até acho que ele está um pouco inchado. Mas isso não tem relevância. Cato está bem melhor. Sinceramente, acho que ele até já está completamente curado. Mas eu não estou e por isso não pude escalar á árvore e atirar Katniss para o chão, fazendo-a sofrer uma queda tão grande que, quando chegasse ao solo, estaria morta ou prestes a morrer. De qualquer forma, o plano era esperarmos que ela descesse daquela merda de árvore, porque, sejamos sinceros, ela pode ser a famosa “Garota em Chamas”, mas é tão humana quanto todos nós.

–Vou ao rio buscar mais água. – avisei a Marvel e Jean, que estavam sentados á volta da árvore, olhando para Katniss e falando mal dela – Podem dar-me as vossas garrafas de água e eu já volto.

–Ok, mas não se demore muito, o Cato e o Peeta devem estar a chegar. – Marvel estava hesitante e temeroso e eu percebia de onde vinha esse medo. Cato estava completamente intratável. Ele estava sempre a insultar Peeta ou Marvel e não parava de praguejar sobre a “Garota em Chamas” e “as malditas amostras de pessoa da Capital”.

Porém, ele não agia como se um de nós os dois fosse morrer. Pelo contrário, Cato estava completamento aberto a demonstrações de carinho em público, mas mal alguém que não eu tentava falar com ele, Cato voltava a ser a mesma máquina assassina de que a Capital tanto se gabava. E, vou admitir, eu estava contente por Cato estar comigo e não me ver apenas como uma daquelas garotas que ele levava para a cama e ignorava no dia seguinte. Ele me amava e isso tanto me deixava eufórica como, ao mesmo tempo, me despedaçava. E o pior de tudo é saber que esse amor que sentimos um pelo outro não só é proíbido como também está prestes a terminar.

Ainda não sabia o que ia fazer em relação a isso, mas teria de agir em breve. Depois de matar Katniss, talvez eu deixasse algum tributo fazer o seu trabalho. Mas, disso eu tinha a certeza, esse tributo não podia ser Glimmer, nem Marvel, Katniss ou Cato. Talvez eu até simplificasse o trabalho de todos e acabasse com a minha própria vida, mas acho que, por ser carreirista, sou demasiado orgulhosa para isso.

–Clove! – Glimmer me chamou, correndo até onde eu estava, já a andar em direção ao lago – Eu vou com você! – encolhi os ombros e continuei o meu caminho. Se ela queria vir, então que viesse, mas eu não queria ter de conversar com Glimmer.

Chegámos ao lago e tirei da minha mochila as garrafas que Jean e Marvel me deram. Agachei-me e coloquei-as debaixo de água, saboreando a frescura da mesma quando estava em contato com a pele da minha mão. A água estava fresca na medida certa e a vontade de saltar lá para dentro me consumia. Cedendo às minhas vontades, acabei de encher as garrafas de Jean, Marvel e a minha e - depois de colocar a quantidade necessária de iodo para purificar a água - voltei a colocá-las na mochila. Olhei para Glimmer, que também já tinha acabado de encher a garrafa dela, e, com indeferença, disse:

–Vou entrar rapidinho, ok? – ela levantou a cabeça e olhou para mim, com um sorriso falsamente doce.

–Eu vou entar também, a água parece estar boa mesmo. – encolhi os ombros e tirei o casaco.

Não me podia dar ao luxo de molhar as minhas roupas, pois eram as únicas que tinha e já estava a escurecer, pelo que, mesmo que quisesse, não teria tempo para as deixar a secar e vesti-las antes do amanhecer. Ao mesmo tempo que Glimmer, tirei as caças, a blusa, as botas e as meias que usava. Apenas de cueca e sutiã, entrei lentamente no rio.

–Oh! – exclamei quando senti a água em contato com a pele da barriga. Aquilo era estupidamente aliviante – Pelo menos isto eles me deixam aproveitar. – murmurei, refirindo-me á gente da Capital que, naquele momento, devia estar a rir-se de mim.

Dei alguns mergulhos e nadei durante uns minutos e, quando já tinha passado uma meia hora, decidi sair da água.

–Vou sair, Glimmer. – anunciei.

–Espere! – ela me chamou e olhei para a loira, que usava um sutiã absurdamente revelador – Preciso de conversar com você.

–Acho que isso pode esperar até eu sair da água, não quero apanhar um resfriado. – menti, pois o que eu não queria mesmo era ter de ouvir aquela voz falsa e enjoativa.

–Não! – Glimmer agarrou o meu pulso e olhei para ela inquisitoramente – Nós temos de falar. – já não havia mais o tom doce e divertido, a verdadeira Glimmer se revelava agora num tom de voz ameaçador e gélido.

–Não, não temos. Largue-me! – puxei o meu pulso, mas a garota era mais forte que eu e continuava a apertar a mão á volta do meu pulso – Me larga, Glimmer! – rosnei e ela riu, largando o meu pulso.

–Oh, que medo! – levou a mão ao peito e olhou-me com desprezo – Nós temos sim de conversar, Clover. E você só vai sair daqui quando acabarmos! – num momento rápido e imprevisível levei o meu punho ao rosto de Glimmer, dando-lhe um soco em cheio no olho. O soco foi leve, mas o suficiente para a fazer soltar um grito colérico e histérico.

–Nunca, nunca mais me chame de Clover, entendeu?

–Porquê? Não lhe agrada esse nome, Clover? – Glimmer, já recuparada do meu soco, riu e aproximou-se de mim.

O lago já não me aprecia tão acolhedor naquele momento e juro que me estava a controlar ao máximo para não afogar aquela loira ali mesmo.

–É, eu não gosto.

–Ah, mas eu também não gosto que você seja a puta que é e olhe só, cada dia que passa você fica apenas mais oferecida! – o sarcasmo e a ofensa presentes naquela frase me tiraram do sério, mas também me deixaram confusa.

–De que porra você está falando?

–Não se faça de desentendida, Clove Breil. - os olhos de Glimmer faíscavam de raiva e eu aposto que os meus estavam no mesmo estado – Eu sei bem qual é o seu plano.

–E o qual é o meu plano, então? – cruzei os braços sobre o peito numa postura desafiadora.

–O seu plano é usar os garotos como sua proteção! – isto só pode ser uma piada de mau gosto! – É por isso que está a “namorar” com o Cato e foi por isso também que você se atirou ao Marvel e ao Peeta!

–Onde raio você foi buscar essa ideia sem cabimento, hein? – a minha vontade era de rir, mas raiva vinha em primeiro lugar – Que eu saiba, a oferecida do grupo é você, Glimmer, não eu. E, já agora, eu namoro mesmo com o Cato e por nada nesse mundo eu ia me atirar ao Marvel ou ao Peeta. Eles estam livres, mas, meta isso na cabeça, sua loira estúpida, - eu estava praticamente a rosnar e Glimmer estava vermelha de ódio e, ao mesmo tempo, era possível ver alívio nos seus olhos quando eu disse que não me ia atirar ao Marvel – o Cato é só meu!

–Desde quando? – ela encolheu os ombros e eu dei um passo em frente.

–Desde sempre, sua vadia! – com isso, saltei para cima de Glimmer.

Levei as minhas mãos á cabeça dela, fazendo força para baixo com o objetivo de a colocar debaixo de água. Mesmo sendo mais alta que eu e um pouco mais forte, Glimmer foi apanhada de surpresa e, por essa razão, consegui aquilo queria, mas apenas por alguns segundos. Recuperada do choque, Glimmer, ainda submersa, deu-me um murro na barriga, algures onde ficaria o meu estômago. No início não senti muita dor, mas sabia que isso era o efeito da adrenalina e que quando saisse dali ficaria com um belo e dorido hematoma. Glimmer voltou a repetir os murros e, sem ar, deixei-me cair para trás, mergulhando na água que agora era demasiado fria para ser considerada agradável.

–Jean! – gritei quando voltei á superfície. Não queria mesmo que Jean viesse até cá, apenas queria distrair Glimmer e isso pareceu resultar – Jean! – repeti e vendo Glimmer distraída, a olhar para o caminho de onde tinhamos vindo, saí do rio e rastejei até ao meu casaco – Surpresa!

Glimmer olhou para mim em choque e apenas teve tempo de mergulhar quando uma das minhas facas voava em direção á cabeça dela. Mesmo não tendo atingido o meu alvo, a faca deve ter atingido o braço ou uma das mãos de Glimmer, pois, rapidamente, a água á volta dela foi ganhando um tom familiarmente avermelhado. Era sangue e, tenho de admitir, nunca me senti tão feliz por ver sangue. Mas uma vontade de voltar a cortar Glimmer atingiu-me com toda a força e tive de me conter para não atirar todas as minhas facas naquela loira estúpida. Já tinha gastado uma faca com ela e mais tarde teria de voltar ao lago para ir buscá-la.

Com um sorriso vitorioso, vesti-me, enquanto Glimmer voltava á superfície e olhava para mim com desprezo e ódio. Quando já estava a voltar para o nosso pequeno acampamento á volta da árvore onde Katniss estava “instalada”, pude ver Glimmer a sair do lago. Ela cambaleava e choramingava de dor, enquanto tentava limpar um corte aparentemente não muito profundo na curva do pescoço. Sorri maldosamente e virei as costas, a batalha tinha sido vencida por mim, mas a Guerra ainda estava por terminar.

–Já voltei! – anunciei quando cheguei onde Jean e Marvel estavam. Jean olhou para mim, preocupação evidente nos seus olhos, mas Marvel olhava para trás de mim, onde Glimmer devia estar, ainda a vestir-se.

–Está tudo bem? – perguntou Jean – Ouvimos um grito. – sorri e sentei-me ao lado dela.

–Oh, sim, está tudo bem. A água estava muito fria e a Glimmer assustou-se quando entrou lá dentro. – Jean assentiu e pareceu acreditar na minha mentira, mas Marvel olhava para mim desconfiado.

Tirei a mochila das minhas costas e entreguei-lhes as garrafas de água.

–O Peeta e o Cato já chegaram, - disse Marvel, sem olhar para mim – mas decidiram voltar. O Cato foi procurar por algum tributo e o lover boy foi buscar comida.

–Por falar em lover boy, - levantei a cabeça, mirando Katniss – como estão as coisas aí em cima, Katniss? – ela abriu um sorriso arrogante.

–Muito bem, por acaso. Vocês deviam subir também! – tirei uma faca do meu casaco e mostrei-a.

–Não acho que você fosse gostar dessa nossa visita aí em cima, Katniss. Talvez seja melhor você descer e, - acrescentei – mesmo que não queira, em algum momento terá de o fazer.

–Quem sabe? – ela encolheu os ombros e olhou diretamente nos meus olhos.

Os olhos cinzentos de Katniss podiam ser considerados misteriosos, mas não o suficiente para esconderem o medo que ela sentia, mas não demonstrava. Eu sabia que Katniss tinha medo, qualquer pessoa na situação dela teria, mas, vamos admitir, ela estava condenada e talvez fosse morrer ainda naquele dia.

–Não tem saudades do seu amigo?

–Quem? O Peeta? – assenti e ela abanou cabeça – Não, nem por isso.

–Ah, que pena! Seria tão bom ver o casal de amantes desafortunados juntos mais uma vez! – virei a cabeça e deitei-me no chão – Aproveite bem os seus últimos momentos, “Garota em Chamas”, porque eles em breve vão terminar.

*

Já era de noite. Estavam todos a dormir menos eu e Jean – que era quem estava a vigiar Katniss. Eu não conseguia dormir por uma simples razão: Cato e Glimmer estavam deitados tão perto um do outro que os seus ombros quese se tocavam. Eu estava deitada no meu saco-cama e não conseguia desviar os olhos deles. O meu peito doía e a minha cabeça também. Aliás, eu sentia dor por todo o lado. Era horrível ver aquela imagem estupidamente perfeita. Porque Cato e Glimmer fiacavam bem juntos. Eram ambos altos – ele mais que ela, obviamente -, loiros e bonitos. Mas eu não queria que Cato ficasse com alguém que não fosse eu. Eu não queria que ele beijasse nenhuma outra garota, nem que a tocasse como me tinha tocado a mim. Cato era só meu e eu era só dele. E era por isso que eu não percebia porque é que ele estava ali, com ela. E a minha vontade era de ir ali e separá-los, mas Jean não me deixou ir. Ela insistiu que eu podia falar com Cato de manhã, quando Katniss estivesse morta. Mas eu não queria esperar.

–Durma, Clove. – murmurou Jean. Fechei os olhos e suspirei.

–Se tiver a oportunidade perfeita, mate-a por mim, pode ser? – ouvi o riso baixo de Jean.

–Claro.

Passados alguns minutos eu já dormia e, mais uma vez, tive pesadelos.

Mas nesses pesadelos quem me assombrava era Cato, vestido formalmente, mais belo do que nunca, no altar de uma igreja – que era demasiado elegante e bem perservada para pertencer ao Distrito 2. Ao lado dele estava Glimmer, ela usava um longo e volumoso vestido branco cheio de folhos e brilhantes. E eu estava na entrada da igreja, com os pés pregados ao chão e o rosto lavado de lágrimas de tristeza, dor e ódio. E foi no momento em que os lábios de Cato estavam quase a tocar os de Glimmer que eu acordei, sobressaltada e assustada pelos gritos das pessoas que estavam á minha volta.


http://www.youtube.com/watch?v=olHnyslc-OM

–Clove! – Cato grita, pegando nos meus pulsos e praticamente me arrancando de dentro do saco-cama – Saia daí! Corra!

Estou confusa e atordoada, mas percebo que algo de muito errado está a acontecer. Estão todos a gritar e a correr de um lado para o outro. Vejo Marvel a balançar as mãos no ar e a correr para o lago, fugindo de algo. Não vejo Jean nem Peeta e, mesmo que quisesse, não teria tempo para isso. Sinto uma picada dolorosa no meu braço e outra no meu pescoço e, devido ao zumbido perto dos meus ouvidos, percebo o que está a acontecer: um ninho de vespas teleguiadas caiu!

Já ouvi falar desses insetos. São uma espécie de mutantes, cujo veneno é perigosamente fatal e doloroso, além das alucinações terríveis que essas picadas causavam. Entendi então porque Cato me mandava correr. Ele queria que eu fosse para o lago, pois a única forma de não ser picado até á morte pelas teleguiadas era mergulhar no lago, onde, de certeza, elas não nos poderiam alcançar.

–Clove, corra! – Cato repetiu. Ele empurrava-me em direção ao lago, enquanto tentava afastar algumas teleguiadas do seu rosto – Por favor, corra! – e foi isso mesmo que eu fiz.

Corri desesperadamente em direção ao lago, largando acidentalmente a mão de Cato durante o processo. Sentia dor em várias partes do meu corpo e sabia que tinha sido picada por aquela merda de mutantes. Olhei á minha volta e procurei por Cato. Ele estava á minha frente e, segundos depois, saltou para o lago, emergindo apenas uma vez para chamar o meu nome, mas logo voltou a submergir na água gelada. As teleguiadas estavam por todo o lado. Elas tinham sido concebidas para matarem as suas vítimas e era isso que estavam a fazer, nada mais do que aquilo que lhe mandavam. Uma voz na minha cabeça murmurou “Você é como elas, como esses insetos. Você é uma peça neste jogo, apenas isso. Para a Capital, para os seus pais, para Cato, você é apenas uma peça no jogo, totalmente substituível”. Abanei a cabeça, recebendo mais uma picada na minha mão – que eu tanto balançava no ar, tantando em vão afastar as teleguiadas do meu rosto. Afastei qualquer pensamento da minha mente e preparei-me para o que ia fazer a seguir. Olhei uma última vez para onde Cato estava submerso, engoli uma lofada de ar e corri ainda mais rápido para o lago, sentindo duas picadas – uma na perna e outra na testa, acima da sobrançelha.

Fechei o meu casaco o máximo possível – pois temia perder algumas facas quando mergulhasse – e, com impulso, saltei para água. Soltei um grito agudo quando senti a água gelada em contato com a minha pele. Aquilo tinha mesmo de ser obra dos Idealizadores, porque a água não estava assim quando eu e Glimmer tomámos banho. Sustive a respiração e deixe-me afundar na água, quanto mais fundo estivesse mais segura estava das teleguiadas. Abri os olhos e procurei Cato na água. Tentei chamá-lo, mexendo as mãos e gritando, mas isso apenas fez com que eu engolisse água e que, sucessivamente, a mesma invadisse dolorosamente os meus pulmões. Fechei os olhos devido á dor das picadas que, agora, intensificava-se cada vez mais. Aquilo era uma verdadeira tortura.

Quando voltei a abrir os olhos, já não estava dentro de água. Já não estava na arena e muito menos estava na Capital. Eu e Cato estávamos algures no Distrito 2, cada um com uma arma na mão. O lugar ao nosso redor era-me desconhecido. Havia várias árvores que eram estranhamente altas e o chão estava coberto de pedras redondas e bizarramente brilhantes.

–Clove, - ele disse num tom hostil que me deu arrepios. Ele nunca falou assim comigo. Cato apontava a sua espada na direção do meu peito e percebi que eu fazia o mesmo com a minha faca – desista. Um de nós tem de morrer. E, lamento dizer isto, será você.

–Não. – murmurei, no entanto, o que eu queria dizer era que “sim, eu concordo”, mas não tinha controlo sobre a minha voz e continuava a snetir uma sensação de ardor na garganta – Eu não vou perder, Cato. Eu sou uma carreirista, não posso perder. – a expressão de Cato era assustadora, até parecia que não era eu quem ele estava a ver naquele momento.

–Eu. Não. Vou. Perder. – com isso, Cato começou a correr na minha direção e eu na dele. Mas, no momento em que o metal da espada ia perfurar a minha pele, o cenário mudou e Cato desapareceu.

Agora, eu estava debaixo de água novamente, com os braços estendidos para cima e as pernas moles. Podia sentir a dor causada pelas picadas e o veneno parecia arder dentro das minhas veias. Mesmo a agonizar, eu não consgeuia dizer nenhuma palavra nem mexer o dedo do pé. Eu sabia que as alucinações estavam apenas no início, pois em caso algum eu tentaria matar Cato, mas duvidava que fosse aguentar tempo suficiente debaixo de água para poder dizer que sobrevivi às alucinações. Mesmo que eu quisesse emergir, não conseguia, era como se tivesse perdido o controlo total co meu corpo.

Sentia a minha pele arder. Como se estivesse a ser consumida por chamas, como se eu estivesse a ser consumida por chamas. Eu sabia que o fogo que Katniss e Peeta usaram no desfile era falso, mas queria que fosse verdadeiro. Queria que eles tivessem tido aquela morte terrível e tão temida. Queria que eles queimassem por dentro e por fora. Porém, quem estava a queimar era eu. Não havia chamas, não havia fogo, mas havia aquela dor excruciante que parecia conumir cada célula do meu corpo. Mas eu estava mais indefesa que nunca, dependente de ajuda de alguém que me afastasse daquele pesadelo. Daquela alucinação.

De repente, Glimmer apareceu á minha frente. A pele dela estava verde e a ela estavam agarradas algumas algas, que brilhavam quando algum raio de luz passava pela água e incidia nelas. Glimmer sorria maldosamente para mim e estava de braços abertos. Atrás dela pude ver Marvel e Jean, com olhares maliciosos na minha direção. Tentei gritar ou mexer-me, mas não conseguia, algo me incapacitava de me defender.

–Qual é a sensação de ser a vítima? – Marvel perguntou, nadando até mim e tocando no meu queixo com aquelas mãos asquerozas. Tentei afastá-lo,mas, mais uma vez, eu estava totalmente impotente – Como é saber que vai morrer e não há ninguém que a proteja? – “O Cato vai me proteger, seu miserável!” eu gritava na minha mente, mas não havia sinal de Cato.

Marvel riu e desceu a mão até ao meu pescoço. Atrás dele, Glimmer nadou também até nós e, num movimento demasiado rapido para ser verdadeiro, moveu o pé até ao meu estômago. Senti-me ridicúla naquele momento, nem gritar de dor eu conseguia.

Num segundo, tudo á minha volta desapareceu e voltei a estar sozinha, debaixo de água e afundar-me cada vez mais. Sabia que estava a morrer, as picadas das teleguiadas eram fatais e eu tinha sido picada demasiadas vezes. A minha visão começou a ficar turva e a escurecer. Já não sentia dor, estava leve e pesada ao mesmo tempo, o que – nem sei como nem porquê – me deu vontade de rir. Não sabia o que me aguardava na escuridão que parecia estar de braços estendidos para mim, mas talvez o fato de me estar a afogar diminuísse o número de alucinações. Talvez.

Magoada e triste, pensei em como Cato não estava ali para me salvar. Mas, afinal, não era isso que eu queria? Morrer era o meu objetivo desde que Cato se voluntariou e agora eu tinha a oportunidade que tanto desejara. Só me restava aceitar que o momento da minha morte tinha chegado. No entanto, magoava saber que Cato não tinha tentando salvar-me, mas talvez assim fosse mais fácil. Talvez Cato não fosse sofrer tanto com a minha morte como eu pensava. Talvez Cato nem precisasse da minha ajuda para ganhar os Jogos Vorazes. E isso me magoava e me deixava orgulhosa ao mesmo tempo. Porque o garoto, não. O homem que eu amava era forte o suficiente para ultrapassar a minha morte e realizar aquilo que eu mais desejava: que ele ganhasse.

Então, com um pequeno sorriso de satisfação nos lábios, deixei que os longos braços da escuridão me abraçassem. “Ganhe por mim, Cato” foi o último pensamento que tive antes de cair na inconsciência.


Cato POV

http://www.youtube.com/watch?v=VF95mJQ1oQc&feature=g-all-s

Saí da água rapidamente. Vi Clove quando estava debaixo de água, ela estava segura. Em breve ela também saíria do lago. Não havia nada com que me preocupar.

Sacudi o cabelo – fazendo com inúmeras gotas de água saltassem para o chão - e corri até ao acampamento. Como eu pensava, Jean estava estendida no chão, o corpo inchado e cheio de picadas de teleguiadas. Jean estava irreconhecível e, evidentemente, morta. Eu sabia que Jean tinha sido simpática com a Clove durante estes dias. Por isso ela tinha a minha consideração, mas apenas por isso. Até preferia que tivesse sido o anormal do Marvel no lugar da garota. No entanto, eu estava feliz. Era menos um tributo no meu caminho.

Continuei á procura de mais alguém. Glimmer também estava morta e, tal como Jean, caída no chão e completamente irreconhecível. “Menos essa chata para aturar”. Glimmer tinha sido insuportável. A garota estava sempre atrás de mim e eu até gostava disso, mas apenas em pequena quantidade. Aliás, com Clove ao meu lado eu não precisava de mais ninguém. A minha pequena era melhor que qualquer outra garota, eu só precisava dela.

Olhei melhor para o corpo de Glimmer e estranhei algo. O arco dela não estava ali. Nem as setas. Gritei de raiva quando percebi o que tinha acontecido. A “Garota em Chamas” tinha lançado o ninho de teleguiadas em cima de nós. Ela tinha planeado ver-se livre de nós e, muito provavelmente, a estúpida tinha tido a ajuda de Peeta. Pelo menos isso provava que ele não queria a Clove, a minha Clove. Senti o ódio borbulhar no meu sangue quando me vieram á cabeça imagens deles os dois juntos, como naquela noite em que a Clove saiu da tenda e foi conversar com ele.

–Corra, Katniss! – era a voz do bastardo. Virei-me da direção de onde vinha a voz e o vi, gritando para a garota, que já estava distante, correndo – Fuja!

–Traidor! – acusei. Peeta olhou para mim com surpresa e determinação nos olhos. Ah, então ele queria armar-se em corajoso? – Já salvou a donzela em perigo?

–Sim e não me arrependo disso. – ri sem vontade. Afinal ele era ainda mais burro do que eu pensava!

–Não vai implorar por perdão ou algo do género?

–Não preciso do seu perdão, Cato. A Katniss está bem e isso é o suficiente. – ele estava a falar a verdade, mas isso não era o suficiente para calar a voz que, na minha cabeça, clamava por vingança. Vingança por tudo. Por ter traído o nosso grupo, por estar a enfrentar-me, por ajudar a Katniss e por ter andado atrás da Clove.

–Ainda bem. – ergui a espada e, dando alguns passos na direção de Peeta, vi o ferro perfurar-lhe a pele da perna. Eu queria matá-lo. Oh sim, queria muito matá-lo, mas a Clove estava á minha espera e ela era mais importante que tudo o resto – Vemo-nos no Inferno, loverboy. – cuspi-lhe no rosto. Peeta tinha caído devido ao impato da espada na perna dele e tinha a perna cheia de sangue, o corte era profundo e a more era iminente, mas seria o suficiente para o fazer agonizar durante algumas horas ou dias.

Saí dali rapidamente. Glimmer e Jean estavam mortas. Peeta ia morrer em pouco tempo e a “Garota em Chamas” estava viva. Mas uma pessoa mais importante que todas essas juntas, aliás, mais importante que todas as pessoas do planeta – incluindo eu – juntas. Era Clove. A minha pequena, a garota das facas. A garota que tinha os olhos mais belos. Os olhos dela eram grande e verdes escuros, eram hipnotizantes e levavam-me á loucura. Era possível saber o que ía prla cabeça da Clove só por olhá-la nos olhos, era como um espelho que refletia os pensamentos dela. E eu sabia que isso só funcionava comigo, só eu podia saber o que ela pensava só por olhar nos olhos dela. E saber isso apenas aumentava o meu sentimento de possessividade sobre ela, a ligação que nós tinhamos e a dependêndia que snetia por aquela garota baixa e de cabelos negro e sedosos. Eu adorava o cheiro dos cabelos de Clove e ela zombava várias vezes disso. Na verdade, eu adorava tudo nela. Só a maneira como ela respirava era o suficiente para me fazer ficar encantado. Apenas Clove sabia o quanto eu gostava dela, mas eu ainda não lhe tinha falado sobre a profundidade dos meus sentimentos e teria de fazer isso em breve, pois já não me restava muito tempo para o fazer.

Tentei correr até ao rio, mas o veneno das teleguiadas já se estava a fazer sentir. A minha visão estva turva e era-me difícil andar, mas eu tinha de ter a certeza que Clove estava bem, principalmente quando algo me dizia que ela não estava.

Marvel estava deitado em cima de algumas pedras e parecia estar ainda pior que eu. Podia matá-lo naquele momento, eu queria matá-lo naquele momento, mas ele ainda podia vir a ser útil. Pelo menos quando já não estivesse sobre o efeito do veneno das teleguiadas. Marvel tinha os olhos fechados e gritava, provavelmente estava a ter uma alucinação.

Abanei a cabeça e procurei a Clove. Olhei para os arbustos, para as pedras onde ela podia se ter deitado, olhei para todos os sítios á minha volta, mas não havia sinal dela. Começei a entrar em pânico. Onde raios aquela garota se tinha metido? Eu saí de perto dela por menos de cinco minutos e ela desapareceu! Fechei os olhos e massagei a minha têmpora. “Calma, Cato, tenha calma. Não se ouviu nenhum canhão, ela está viva. Ela está bem. Ela tem de estar bem”.

–Clove! – a minha tentatica de gritar não resultou, a minha voz pouco passou de um simples murmurio – Clove, onde você está? – então, de repente, uma luz se fez na minha cabeça. Era óbvio, se Clove não estava em terra, ela tinha de estar… - Clove! – consegui gritar tanto quanto queria. Eu já não estava apenas em pânico, aquele sofrimento de não saber se ela estava bem era ainda pior do que qualuqer dor física.

Sem pensar duas vezes, saltei para o rio. Mergulhei para o fundo e abri os olhos, procurando por ela. Não foi difícil encontrá-la, os braços de Clove estavam estendidos para cima e os cabelos dela também, enquanto a minha pequena se aproximava cada vez mais do fundo do rio, coberto de areia. Reparei que ela tinha os olhos fechados e fiquei ainda mais preocupado, ela não tinha aguentado o veneno, foi demais para ela. Nadei até Clove e, já a sentir os meus pulmões doerem, agarrei-a pela cintura e puxei-a para a superfície.

–Clove. Clove, acorde! – sacudi-a, ainda dentro de água, mas ela não acordava – Por favor, Clove, acorde! – passei as mãos pelo rosto de Clove e assustei-me ao sentir quando a pele dela estava fria.

Levei-nos para terra e coloquei o corpo de Clove a poucos metros de Marvel – que já estava incosciente. Juntei as minhas mãos e pressionei-as sobre o peito dela repetidamente. Aos poucos, água foi saindo pela boca de Clove, que continuava desmaida. Quando já não havia mais nada que eu pudesse fazer, deitei-me ao lado dela e abraçei-a,contemplando aquela rosto único e que podia ser extremamente maldoso – e isso era algo que me fazia gostar ainda mais dela, amá-la ainda mais.

O penteado que o estilista de Clove lhe tinha feito estava desmanchado. Eu gostava daquele penteado, porque deixava o pescoço dela livre e não tapava aquele rosto tão doce e amargo ao mesmo tempo. Cuidadosamente e com as mãos a tremer, afastei as mdeixas negras do rsoto de Clove e contemplei-a. Aquelas orbes verdes estavam tapadas pelas pálberas cerrados e a expressão do rosto dela era serena, demasiado serena para eu me sentir bem. Levei os meus lábios aos dela, tocando-os rapidamente. Eu apenas queria sentir aquele sabor que apenas ela tinha, aquela força magnética que tornava impossível eu estar longe de Clove. E, mesmo estando incosciente, ela continuava a ter tudo isso. Mas Clove não estava bem assim. As nossas roupas estavam encharcadas e íamos acabar por morrer de hipotremia se o sol não aparecesse rapidamente, mas eu sabia que não faltava muito para isso acontecer.

Eu queria poder chorar e fingir que nada daquilo estava a acontecer, mas seria em vão. Eu e Clove estávamos mesmo nos Jogos Vorazes e um de nós nunca voltaria a Casa. E o que mefazia sentir pior é que só antes de entrarmos na arena é que ganhámos coragem para sermos mais do que amigos. E eu sempre senti amis do que amizade pela Clove. Sempre pensei nela como a única garota que eu não podia machucar e a única pesso no Mundo inteiro que podia fazer isso comigo, machucar-me de tal forma que eu quisesse morrer – tal como agora. E era horrível saber que ela tinha de sofrer por causa da Capital. Logo ela, a única pessoa que conseguia fazer-me sorrir genuinamente. A única pessoa que conseguia fazer-me preocupar tanto. A única pessoa pela qual eu morreria. Tudo isto é irónico se pensar nas pessoas que matei e do gosto que tive em fazer isso e, agora, sou eu quem tem de temer pela sua vida. Aliás, não é só pela minha vida que temo é também pela de Clove.

Antes de entrar na arena, jurei a mim mesmo que continuaria a ser aquele garoto implacável e sem remorsos. Um carreirista. Mas isso é impossível. Porque desde o momento em que conheci a Clove eu deixei de ser um carreirista. Toda a aquela conversa sobre não ter sentimentos e não ter fraquezas não resulta comigo, porque a Clove é isso mesmo, a minha fraqueza, o meu Paraíso e Inferno pessoal. E sem ela eu fico num Purgatório vazio e frio. É isso mesmo, eu amo aquela baixinha irritante e sádica e sei que ela sente algo parecido por mim. E ainda bem que ela sente isso, porque eu não sei o que faria se ela não sentisse.

Beijei a testa e o nariz de Clove, sentido sob os meus lábios a temperatura assustadora que ela tinha. Se não fosse pelo fato de ela estar a respirar, eu podia dizer que Clove estava morta. Mas eu não ia deixar isso acontecer. Nem agora, nem nunca.



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Notas finais do capítulo

Até dia 7! Comentem!



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