Notas Suicidas escrita por Pu_din


Capítulo 4
Anotação n°3




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Após todo esse show por parte de Tracy, consegui acalmá-la e tirar aquela história de herói da cabecinha fútil dela. Bem, eu tentei tirar, mas nunca adianta.
Levei-a até sua casa, que não ficava muito longe dali, e até hoje eu me arrependo de fazê-lo. A caminhada até lá só reforçou minha aparência de bom moço.
Deixei-a no portão e fui embora. Só me lembro de ter chegado em casa às onze e meia, e o senhor Joseph tratou de me censurar. Pra falar a verdade, eu nem faço questão de ouvi-lo.
Entrei no meu quarto e tomei um banho de quatro horas. Depois de colocar meu pijama improvisado já fui dormir. Pra minha felicidade, no outro dia teria aula.  

Logo de manhã, lembro-me de ter acordado com a cabeça em chamas. Doía até a alma, e eu parecia estar febril, mas eu tinha que ir pra escola. Não me recordo muito bem, mas deveria ter alguma tarefa a ser entregue, ou algo do tipo.
Coloquei minha calça rasgada e uma camiseta bem surrada e fui pra casa da Hayley, como de costume. Ela fala que eu pareço um mendigo com essa calça, e eu morro de rir, mesmo sem ter graça alguma. É que eu gosto dos rasgos, eles mantêm o ambiente bem arejado.
- Oi Gerard – ela abre a porta de sua casa com a aparência de ter acordado um minuto antes - Que cedo... Entra.
Ela afastou o corpo para eu passar, e sua mãe, que me considera como um filho, logo veio me cumprimentar, oferecendo todos aqueles doces coloridos. Eu me considero um tarado por doces coloridos, e não pude não aceitar.
Enquanto comia todas as guloseimas, Hayley se arrumava em seu quarto, e logo depois de um curto tempo, desceu as escadas. E ela roubou de mim o último doce que estava na minha caixinha de doces coloridos. Quis matar, só que não deu tempo.  Hayley já havia me puxado para fora de sua casa.
- Você agora me deve um doce colorido – disse, só para atormentá-la. É o meu passatempo preferido.
- E você me deve quinze dólares...
- Você não me deve mais nada, então... – eu e ela ríamos como hienas. Eu estava com o humor em alta nesse dia, mesmo febril.
Enquanto andávamos até a escola, contei-lhe sobre o cara que queria sair sem pagar a conta, ressaltando, no final, o assalto na rua sem-saída.
- Sabe, – ela comentava – ele deve ser novo por aqui. Nunca o tinha visto. E como ficou a cara Tracy?! Essa eu queria ter visto...
- Eu achei que ela ia morrer, sabe? Não deu pra fingir que não estava vendo aquilo tudo...
- Se fosse eu, com certeza fingiria ser autista, só pra não fazer nada – ela bufou e balançou a cabeça, fazendo seus cabelos laranja voarem contra o vento. - Eu odeio aquela garota.
- Ah! Você odeia todo mundo, Hayley. Cala a boca.
- Não odeio, não! – ela riu e socou de leve meu magro ombro. – Eu não odeio você.
- Então você me ama? – fitei seus olhos de modo cretino, e logo a fiz cair na risada.
- Eu não te odeio. Isso já basta...
Nesse momento, nós já havíamos entrado na escola, e corremos apressadamente para a nossa sala, pois o pátio estava totalmente deserto. E ao chegar lá mal dava para ver lugares vazios. Havia uma manada de idiotas ocupando todas as cadeiras boas, e só havia outras duas semiquebradas no fundo e uma na frente, onde Hayley fez questão de sentar primeiro. 
Tentei ficar em uma, só que minha bunda fez questão de acabar de quebrar o assento. Pra resumir, quase caí e morri. Mas depois achei uma um pouco melhor. Eu odeio as mesas e as cadeiras da escola, eu sempre tenho a sorte de pegar as mais destruídas.
Por fim, a professora chega, e começa a falar um monte de frases incompreensíveis. O lugar que eu estava era um lixo, mal dava para ouvir o que ela dizia, e a metade do meu cérebro estava ocupado em manter-me equilibrado naquela carteira terrível. As poucas coisas que entendi foram graças aos gestos dela, que apontava para todos os lados. Ela devia aprender a falar em símbolos de surdo-mudo, seria melhor.
Depois de interpretar os gestos, consegui entender que a professora havia feito um sorteio de duplas, ou coisa parecida. Eu sempre caía com a Hayley, então esperei ela vir até o fundo. Ela, às vezes, é muito folgada, e agora era a minha hora de ser também.
Esperei uns cinco minutos, até que a professora veio até a mim, e pôs-se a falar:
- Gerard, esse será seu parceiro.
E de trás dela emergiu uma criatura que eu não esperava ver: o cara sacana da lanchonete! Fiquei atônito.
A professora aponta pro garoto, apresentando-o:
- Seu nome é Frank Iero. Qualquer dúvida pergunte, tudo bem? Bom trabalho pra vocês – ela sorri e nos deixa a sós, em silêncio, como na primeira vez.
- Então você é o Gerard A. Way, não é? – ele diz com um pequeno papel na mão, no qual estava meu nome. Sorriu timidamente e afastou do rosto o gorro fixo ao seu costumeiro moletom negro, olhando-me com aqueles olhos desbotados e hipnotizantes. Só nesse momento pude perceber que eram verdes. Só um pouco menos ávidos que os meus.
- É. Sou eu – limitei-me a responder. Ele tinha o cabelo bagunçado, igual ao meu também.
- É...  – ele olha para os lados, como se procurasse algo - Onde eu sento?
Eu olhei em volta, mas só a minha carteira estava em um estado melhor. Por sorte um garoto havia abandonado uma boa, então apontei para ela, e Frank logo entendeu o recado.
Arrastou a carteira para perto de mim e sentou-se, abandonando nos seus pés uma mochila que deveria ter cerca de vinte anos. E mais uma vez veio o silêncio.
- Eu sou o Frank – ele apresentou-se novamente e sorriu, e tenho certeza que só foi pra cortar o silêncio.
- Eu sei. A professora falou – comentei seco.
- Ah...
Na verdade eu estava com medo de falar com ele, e estava com uma vontade incontrolável de falar sobre o furto que ele cometeu, mas fui com calma. Ele não parecia perigoso nem nada, mas mesmo assim tive o cuidado de manter a boca fechada.
Frank balançou a cabeça na negativa, e um leve murmúrio fez com que meus nervos se congelassem:
- Você está com medo de mim, Gerard...
Quase que meu cérebro esquece de me manter em equilibro, e eu quase me esborracho dolorosamente no chão. Meu Deus... ele lê mentes!
- Eu?? Que nada! Impressão sua...– exclamei um pouco alterado, tentando esconder minha surpresa.
O único gesto que fez foi sorrir, e com isso ele já respondia todas as minhas perguntas, sem mesmo saber quais eram. Na verdade, nem eu sabia quais eram. Iero deu uma gargalhada muda, e desviou o olhar para as paredes.
- Você é novo por aqui, Frank? – puxei assunto.
Ele, que fitava sua mochila de vinte anos, levantou o olhar e respondeu com um leve sorriso:
- Sou. Fui transferido faz uma semana.
- Eu nunca te vi aqui na sala...
- É que faz pouco tempo que me matricularam aqui. Hoje é meu primeiro dia – sorriu novamente.
- Sei... A gente tem que fazer o trabalho, não é...
- Verdade. Eu vou perguntar pra professora o que é pra fazer.
- Tudo bem...
Ao ver aquele ser que lê mentes (!) se afastar de mim, comecei a ficar confuso. Ele parecia ser tão amigável! Por que, então, ele roubou a Tracy? Por que tentou me tapear na lanchonete? Ele não tinha nenhum bocado de violência nos movimentos ou no tom da voz, e parecia até ser um cara normal. Simplesmente normal. Isso tudo fez minha cabeça girar.


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Notas finais do capítulo

[/ EEE *---* por hj é só , e por causa do feriado eu vou demorar um pouco pra postar , mas q do eu fizer eu aviso todo mundo ! bgs.:*