Notas Suicidas escrita por Pu_din


Capítulo 2
Anotação n°1:




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Eu não queria deixar-lhe ler meus pecados, nem sei se posso. Na verdade, mal sei o motivo pelo qual escrevo essas malditas anotações, e nem sei por que eu estou perdendo meu tempo com isso. E mesmo relutando contra essa idéia, vou me apresentar: meu nome é Gerard Arthur Way e tenho dezessete anos. Todos os boçais que conheço gostam de me chamar de Gee. Eu odeio que me chamem de Gee, é bom que saibam disso. Eu posso te odiar pro resto da minha vida se algum dia você me chamar assim. Depois eu explico o motivo.
Joseph, meu pai cretino, deve me achar um peso em sua vida, tanto que me perturba um bocado para que eu vá a um psicólogo ou algo que o valha, mas eu nunca cedi. Nunca. Porém, depois que percebi que meu caso estava bem crítico, não tive como fugir. Era necessário.
Minha mãe morreu quando eu tinha dez anos, e nunca consegui aceitar isso. Pra mim ela havia me traído ao me abandonar, pois não é justo crescer sem uma mãe. Eu me sinto muito sozinho só de pensar nisso, o que me deixa um pouco triste. Ela tinha um nome lindo: Anne. Juro que se eu tiver uma filha o nome dela vai ser esse.
Todos falam que eu ando meio esquisito, e o psicólogo disse que meu comportamento se deve à morte dela, principalmente. Mas eu tenho quase certeza de que não é por causa disso. Eu conheci um cara faz uns cinco meses, e ele me abalou. Tirando que depois disso, minha vida mudou de uma hora para outra. Foi vertiginoso.
Mas o pior é que me lembro desse dia como se fosse ontem. Foi assim:

- Gerard! Me espere!...
- Eu estou esperando faz tempo, Hayley. Que merda!
Essa é a Hayley, minha amiga desde o primário. Minha quase-irmã, na verdade. Uma perfeita idiota com cabelos laranja. Eu a odeio. Odeio tanto que chego a amar. Eu sou estranho, eu sei. Já me disseram isso várias vezes...
- Eu me atrasei! Desculpa.
- Se eu perder o emprego a culpa vai ser sua.
- Eu já disse desculpa... Vai me bater, hoje?
- Hoje não.
Nós trabalhamos na mesma lanchonete, aquela do tipo em que pessoas alienadas vão com seus amigos alienados comer comidas alienadas. Esse mesmo. A Hayley e eu somos ‘garçons’, mas eu sou mais um quebra-galho. Sirvo pra tudo, desde que me paguem.
Eu abri a porta de vidro com certa dificuldade – eu não sou um cara forte, nem tenho músculos - , e quando finalmente consegui, fomos barrados pelo nosso patrão, o Sr. Goldheart, e ‘coração de ouro’ é uma coisa que ele não tem, absolutamente. Ou tem, eu ainda não sabia.
- Como é que é, Arthur?? Esse é o terceiro atraso no mês, e eu havia te dito anteontem que...
- Eu já sei. Não vai mais se repetir – disse para poupar a embromação.
- Eu espero que não, pequeno. Entrem...
É incrível, Hayley se atrasa muito mais do que eu e nunca foi ‘alertada’ pelo Goldheart. É, eu sou um pequeno com muita sorte.

O serviço é depois da escola. Quando nos liberam, nós vamos direto à lanchonete, só que Hay demora um século pra se despedir das amiguinhas. Isso me enche, mas eu espero.
Enfim, depois da bronca foi tudo como o habitual: nós servimos os clientes e eles nos pagam. Só que sempre tem aquele safado que quer se achar esperto. E aquele dia foi quando o habitual ficou fora de cena.
- Hey, são quatro dólares – eu disse dirigindo-me a um ser que estava parecendo fugir da minha vista. Ele estava com um moletom com gorro preto que tampava quase toda a droga do rosto, o que não me fez perceber se era homem ou mulher.
- Eu já paguei – disse o ser com voz masculina. É, era um homem, ou uma criança, se for ver seu tamanho.
- Não pagou.
Ele tirou o capuz e me encarou, e eu pensei que ia morrer. Não de medo, ele parecia inofensivo. Ele me olhava de uma forma atormentadora e aconchegante, tudo ao mesmo tempo. Parecia que algo nele me magnetizava, algo acima do meu entendimento. Até hoje eu não sei explicar muito bem. Foi uma sensação estranha.
- Eu paguei sim, pra aquela ruivinha, ali – ele apontou para a Hayley, que estava distraída, no outro lado do balcão.
Eu o fitava sem falar nada. Eu não conseguia. Ficou no ar aquele silêncio constrangedor, mas que foi quebrado pelo próprio garoto, que deu uma gargalhada muda, colocando cinco dólares no meu avental.
 - Fica com o troco, criança – ele sorriu, e foi embora.
Enquanto ele sumia a cada passo que se distanciava da lanchonete, eu o acompanhava com um olhar um pouco incrédulo, e comecei a perceber que algo estava estranho comigo. Balancei a cabeça negativamente e peguei os cinco dólares no meu bolso, voltando-me para o balcão.

Mal tinha percebido que ele acabara de mudar todo o meu destino.


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Notas finais do capítulo

N/A: [E Desculpem a demora, é que minha net não entrava de jeito nenhum ontem ¬¬]