Julie e os Fantasmas - Segunda Temporada escrita por Alice e Cecília


Capítulo 9
Console-me


Notas iniciais do capítulo

Escrito por Cecília.
Espero que gostem.



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Julie foi para casa sem dizer uma palavra. Ela jantou normalmente e depois foi para seu quarto. Daniel ficou a fitá-la, mas não atreveu-se a falar alguma coisa.

Ela sentou-se em sua cama. Daniel pôs-se ao seu lado.

– Não é possível que você não esteja sentindo nada. – falou ele.

Julie olhou para ele. Seu rosto não esboçava nenhuma reação. Ela levantou-se e foi até o seu guarda-roupa. Ficou fitando suas fotos com Nicolas, que estavam coladas na porta do armário. Daniel andou até ela e abraçou-a.

Ela finalmente começou a chorar. Daniel apertou-a com força e ela chorou mais ainda. Ele afagou seus cabelos com carinho. Ele pegou a mão dela e a levou até a cama. Eles se sentaram. Daniel pôs seu braço por sob o ombro dela. Julie aconchegou-se no seu colo, até ficar praticamente deitada.

Daniel alisava seus cabelos. Ela ainda chorava, porém falou, soluçando:

– Eu sonhei com ele, Daniel. E quando eu finalmente consegui ficar com ele, ele me troca por uma qualquer. Meu primeiro namorado e ele me traiu. – ela falou mais coisas, porém Daniel não conseguiu entender direito, pois Julie chorava, soluçava e murmurava palavras, tudo ao mesmo tempo.

– Julie, eu sei como é ser trocado. Sei como você está se sentindo. É horrível. Mas o Nicolas que é um verdadeiro cretino. – ele fez uma pausa, e depois continuou: – Eu nunca trocaria você por ninguém. Quem ama de verdade não faz uma coisa dessas.

Julie olhou para cima e fitou seus olhos. Depois, não disse mais nada. Nenhum dos dois falou alguma coisa. Ela parecia estar dormindo. Mas ela só estava calada.

– Daniel – disse ela, após um tempo. – eu tenho aula amanhã. Tenho que dormir.

Daniel beijou-a em sua testa. Ela suspirou.

– Quer que eu fique aqui com você até você dormir? – perguntou ele.

– Por favor.

Daniel levantou-se. Julie segurou seu braço. Ele sorriu e ajeitou-a na cama. Julie ainda usava as mesmas roupas. Ele cobriu-a. Pôs uma cadeira ao lado da cama.

Ele beijou-a na bochecha, com leveza. Depois sentou-se na cadeira. Julie segurou sua mão.

– Daniel – disse ela, com um pouco de sono – é verdade o que você disse? Você não me trocaria por ninguém?

– Por ninguém no mundo. – respondeu ele, sorrindo.

– Me desculpe. – falou ela. Daniel notou que ela tornara a chorar.

– Por quê?

– Por ser tão estúpida. Por chorar. Por ter preferido o Nicolas a você. Eu estava errada.

Ele alisou seus cabelos.

– Julie, estúpido é ele, por te trocar pela Larissa. E não peça desculpas. – ele suspirou. – Eu acho que eu tenho uma parcela de culpa nisso.

– Por quê?

– Talvez se eu não tivesse ofendido tanto o Nicolas para você, se eu não tivesse chingado ele, assombrado ele, brigado com ele, enfim, talvez ele não tivesse te trocado pela Larissa.

– A culpa não é sua, Daniel. Você sempre esteve certo. Eu devia ter te ouvido.

Julie não disse mais nada. Daniel continuou a alisar seus cabelos. Até que ela adormeceu, mas mesmo assim ela não soltou a mão de Daniel.

Julie acordou com o barulho irritante do despertador. Daniel não estava mais lá. Ela foi ao banheiro, tomou banho, lavou seu rosto e tentou deixar-se apresentável. Não olhou para as fotos dela e de Nicolas, apenas vestiu-se.

Desceu para tomar café. Pedrinho havia dormido na casa de Patrick e seu pai já havia saído para o trabalho. Pegou uns biscoitos no pote e quando ela se virou ela viu Daniel, segurando a jarra de suco. Julie sorriu e colocou a jarra na mesa. Sentou-se em silêncio, apoiou sua cabeça em sua mão e ficou um tempo a fitar o suco, só após alguns minutos é que ela comeu um biscoito.

– Está melhor? – perguntou Daniel.

Ela assentiu e comeu outro biscoito. Bebeu um copo de suco, guardou a jarra na geladeira e foi escovar os dentes. Pegou sua mochila e começou a andar para a escola.

– Você vai fazer alguma besteira? – falou ele, quebrando o silêncio.

– Depende do que você chama de besteira. – respondeu ela, sem olhá-lo. No meio do caminho, encontraram Bia. Ela cumprimentou Julie, mas esta por sua vez não respondeu. Bia olhou com cara de desentendimento para Daniel e ele fez um gesto que significava “esquece”.

– Acordou de mau humor, hein? – Bia de repente pareceu lembrar-se de algo: – Ah... Nicolas. Você seguiu ele. Não foi?

Julie não respondeu, apenas continuou a andar. Daniel fez que sim com a cabeça.

– Ah. – foi tudo o que Bia disse. Os três continuaram em silêncio até chegarem na escola. Shizuko pediu para falar com Bia e ela foi. Julie e Daniel ficaram sozinhos.

Foi então que ela viu Larissa conversando com umas meninas. Julie olhou-a com raiva.

– Se eu pedir para você assombrá-la....

– Não. – respondeu Daniel. -Julie, já basta eu ter assustado o Patrick, não vou fazer isso a ela também.

– Por quê? – perguntou Julie, virando-se para ele. – Você gosta dela? Ah, gosta sim. – ela sorriu. – Nenhum garoto escapa do charme dela, não é? Primeiro o Nicolas, depois você.

– Julie, para com isso. Eu não vou assustá-la, mesmo que você queira. – ele completou. – E eu não gosto dela. De onde você tirou essa ideia?

– Se você não vai me ajudar, então não precisa ficar aqui. – respondeu ela, indo em direção a Larissa.

Daniel percebeu o que ela ia fazer, mas não falou nada. Julie estava perto de Larissa quando Nicolas apareceu em sua frente, bloqueando seu caminho.

– Me deixa passar.

– Espera, Julie, a gente tem que conversar.

– Por que você não conversa com a sua amiguinha? Ou melhor, por que não a beija?

– Julie, olha, foi ela que me beijou.

– Eu vi, vocês se beijaram. – lágrimas de raiva cintilavam em seus olhos, mas ela não as derrubou.

– Ela me beijou! – exclamou Nicolas.

– Não me importa quem beijou quem primeiro. Você me traiu.

– Julie...

– Eu não acredito que troquei o Daniel por você.

– Ele é outro, um...

– Nicolas, saia da minha frente.

– Não. Temos que conversar.

Julie olhou para Daniel e disse para Nicolas:

– Saia da minha frente, por favor. Não me force a derrubá-lo.

– Julie, você sabe que não consegue. Para de bobagem e vamos conversar.

Julie fez que sim com a cabeça para Daniel. Ela empurrou Nicolas, mas ele era forte e continuou ali, bloqueando o caminho. Daniel empurrou-o com tanta força que Nicolas caiu no chão e ficou ali, ainda derrubado, olhando para Julie, incredúlo.

– Eu te avisei. – disse Julie. Ela foi em direção a Larissa. Daniel falou:

– Julie, eu só te ajudei a derrubar o Nicolas porque ele é um cretino, não pense que eu vou...

– A Larissa também é uma cretina. – respondeu Julie. Ela parou na frente da garota. Larissa olhou-a de cima a baixo e levantou-se.

– Pois não? O que quer?

Julie riu ironicamente.

– Você sabe o que eu quero.

– Se eu soubesse eu não teria perguntado, queridinha.

– Você queria tanto o Nicolas, então fica com ele para você. – falou Julie, irritada. – Só toma cuidado porque ele já traiu a namorada dele com uma garotinha imbecil.

– Do que você me chamou? – perguntou Larissa, ofendida.

– Imbecil. Sabe o que significa?

Larissa esbofeteou Julie no rosto e ela caiu. Julie levantou-se, e estava pronta para responder ao ataque, quando Daniel segurou sua mão.

– Você não pode brigar com ela, Julie. Não caia ao nível dela. E você vai levar advertência.

Julie teve um momento de clareza. Ela ajeitou sua roupa e disse:

– Aproveite bem o Nicolas. – e saiu.

Daniel falou:

– Vamos conversar em um lugar menos movimentado. – e levou-a até a biblioteca.

Julie cruzou os braços.

– Julie, você não devia ter feito isso.

– Eu já fiz. E não se preocupe, não vou falar de novo com nenhum dos dois apaixonados. – Julie saiu e foi até a sala. Daniel não a seguiu, apenas foi para casa.

Julie contou a Bia tudo o que acontecera. Bia consolou-a, dizendo que Nicolas não a merecia. Julie disse-lhe sobre Daniel.

Bia sorriu.

– Ele gosta de você. De verdade. Talvez devesse dar uma chance a ele.

Julie olhava pensativa para o quadro.

– Nunca daria certo. Um fantasma e uma viva. Por mais que eu goste um pouco dele e ele de mim, nós temos que saber disso: nunca daria certo.

Bia parou de sorrir. A professora chegou a sala e começou a aula. Larissa parecia estar planejando algo, mas Julie não se importou; ela tinha três amigos fantasmas.

Quando Julie voltou do recreio, encontrou em sua mesa uma carta. Era de Nicolas, dizendo que ele ainda gostava dela, que Larissa era atirada, que ele queria ser só amigo dela e que ela o beijara... Julie amassou e jogou fora a carta antes mesmo de terminar de ler.

Na saída, uma amiga de Thalita, Carolina, estava parada no portão. Ela foi até Julie. E ela estava acompanhada por Larissa.

– O que vocês querem? – perguntou Julie quando as duas a pararam.

– Julie, eu me sinto mal por tudo isso. Deixa eu explicar tudo, por favor. – falou Larissa, e milagrosamente, ela não soou tão arrogante e metida, estava quase que... arrependida.

– Não. – respondeu ela.

– O que você tem a perder? – disse Carolina. Julie resmungou e disse “vá em frente”.

– Julie, eu sou uma novata na escola. Cheguei há pouco tempo, não conhecia ninguém, sem amigas...

– Eu sei o que novata quer dizer. – cortou Julie, secamente.

Larissa ignorou seu comentário e continuou a falar:

– De inicio, eu estava afim do Nicolas e havia tentado conquistá-lo. Mas quando eu vi o jeito que ele te olhava... Queria que um garoto olhasse assim para mim um dia. Então eu decidi deixar o Nicolas em paz. Até que me contaram quem você era.

Carolina intrometeu-se.

– Eu disse a ela sobre a Thalita. Contei tudo, como você roubara o Nicolas dela, como você sempre fora melhor que ela...

– Foi aí que... – Larissa calou-se e olhou para Carolina.

– Bem, eu disse que iria ajudá-la na escola se ela tirasse o Nicolas de você.

– Ajudá-la? Nem sabia que você era inteligente. – disse Julie. Mais uma vez, as meninas ignoraram seu comentário.

– Desculpa, Julie. Eu fiz errado em beijá-lo. Ele ainda gosta de você.

– Como eu vou saber que você não está inventando tudo isso? – perguntou Julie.

– Porque se ele realmente estivesse gostando de mim ele não iria ficar se explicando para você. Com certeza ele te largaria rapidinho para ficar com alguém do nível dele. – Larissa disse, voltando a ser arrogante e orgulhosa; voltando a ser ela mesma.

Julie não disse nada, apenas saiu. Daniel apareceu ao seu lado.

– E se for verdade o que ela disse? – perguntou ela.

– Você devia conversar com o panaca amanhã. Decidir o que irão fazer. – disse Daniel.

– Você tem razão. – respondeu Julie, sorrindo.

Continuaram a andar, até que Daniel avisou:

– Eu vou dar uma volta.

Julie concordou. Quando ele estava indo embora, ela disse:

– Ah, Daniel. – ele virou-se. – Obrigada por cuidar de mim ontem. Obrigada.

– Disponha. – respondeu ele, sorrindo. Daniel continuou a andar. Às vezes ele gostava de caminhar, em vez de apenas aparecer nos lugares.

Julie entrou em sua casa. Foi à edícula. Fazia um tempo que ela não conversava com Martim e Félix.

Martim e Félix estavam fantasiados. Félix na bateria e Martim segurando seu baixo. E Nicolas estava na guitarra. Com a guitarra de Daniel.

Nicolas sorriu.

– Como você entrou aqui? – perguntou Julie. A cara de culpado de Martim era tão evidente que ela nem quis ouvir a resposta.

– Julie, me desculpe. Eu gosto muito de você. Nunca mais falarei com a Larissa, nem com nenhuma garota, se você quiser. Mas, por favor, não me deixe.

Julie não respondeu àquilo, apenas disse uma coisa que não tinha a ver com toda aquela história.

– Nicolas, se o Daniel te vê com a guitarra dele, ele vai...

Nicolas não a ouviu, pois ele começara a tocar Para Sempre Nós. Julie sorriu. Involuntariamente, ela voltou a sentir algo por ele. Nicolas, o garoto que ela sempre gostara, que ela tanto lutara para namorar, que era um nerd escondido... Tantas histórias. Valeria a pena jogar tudo fora por causa de uma garota imbecil?

Nicolas estava tocando bem. Ele até cantou, e sua voz não era tão ruim.

Foi então que Julie viu Daniel entrar na edícula. E ele olhou para Nicolas, tocando a sua guitarra. A sua guitarra. A sua tão amada guitarra.


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Notas finais do capítulo

No próximo episódio:
Nicolas também tera uma revelação e Daniel tomará uma escolha.