Julie e os Fantasmas - Segunda Temporada escrita por Alice e Cecília


Capítulo 11
Lembranças


Notas iniciais do capítulo

Escrito por Alice



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1 semana depois...

– Julie. – Julie continuou mexendo em seu notebook, calada. – Julie. – Bia repetiu. – Você não vai achar nada aí. – Sem resposta. – Julie! – Bia fechou o notebook e Julie virou-se para ela.

– Que foi?! – exclamou, com raiva.

– Você acha mesmo que vai descobrir para onde um guitarrista fantasma poderia fugir, pesquisando na internet? – colocou a mão na cintura.

– Eu tenho que tentar Bia. – ligou o computador de novo, levantando a tela.

– Julie! – fechou o notebook. Julie suspirou com raiva. – Você nem ao menos falou sobre isso desde que aconteceu. Você mal tem prestado atenção a aula! – Julie olhou para ela, irritada. – Se tiver alguma coisa que vai te ajudar a achar o Daniel, não está neste computador aí.

-Você está certa, Bia. Eu tenho que procurar provas concretas. – levantou-se do sofá.

– E você tem que parar de negar que sente falta dele.

– Dele quem? – Julie se fingiu de desentendida.

– Tá vendo. Julie, todo mundo está com saudade dele. Eu, Martim, Félix. Até o Nicolas deve estar sentindo falta daquelas briguinhas diárias. – Julie sorriu.

– Então tá, eu adoro o Daniel, e eu não conseguiria viver sem ele. Feliz? – admitiu Julie.

Julie olhou por um segundo pela janela e viu Daniel sorrindo. Saiu correndo da edícula e foi até à rua, sem falar nada com Bia. Daniel saiu correndo, e era tão burro – ou talvez não – que estava visível para ela. Conseguiu o alcançar. Parece que estava tangível também.

– Daniel. – virou-o pelo ombro. Quando viu seu rostinho bonito de sempre, seu coração quase saiu pela boca, do tanto que estava acelerado. – Daniel! – exclamou, pulando e abraçando ele.

– Julie. – colocou-a no chão. – Vamos conversar em um lugar menos movimentado. – puxou-a pelo braço até a esquina mais próxima. – Julie. Primeiramente, ninguém, absolutamente ninguém pode saber disso. – Julie assentiu – Principalmente uns certos fantasmas que moram na sua casa. – Julie assentiu novamente, sorrindo feito uma boba. Daniel ia falar algo importante, mas quando notou o quanto ela mostrava-se feliz em vê-lo, decidiu abrir seus sentimentos com ela. Sorriu e abriu os braços. – Eu estou tão feliz em te ver. – Envolveu-a em seus braços, e levantou-a no ar. Julie ria como se Daniel tivesse contado a ela uma piada muito engraçada. Colocou-a no chão, rindo também.

– O que eu perdi? – perguntou ele.

– Não muito. Por onde você andou? – respondeu ela.

– Por aí. E você?

– Ah, gracinha. Me conta! Eu quase morri. – disse Julie, rindo.

– Eu conto. Se você repetir a frase que falou com a Bia agorinha mesmo. – ele sorriu, travesso.

– Que foi?!

– Não, a outra.

– Eu tenho que tentar, Bia? - ela revirou os olhos.

– Não! A outra. – Daniel sorriu.

– Você está certa Bia, eu...

– Julie. Você sabe do que eu estou falando. – sorriu e olhou para Julie com aquele olhar que só ela sabia como era.

– Eu adoro você, e eu nunca, nunca conseguiria viver sem você. – olhou-o olhos, sorrindo.

– Eu estava vivendo em um terreno abandonado. E ainda estou. Ninguém mora lá há anos, e eu me apossei. Fico simplesmente tocando guitarra o dia inteiro.

– E sentiu a minha falta? – agora era a vez de Julie.

– Na verdade não. – ele riu. – Mentira. Senti, e muito. – Julie retribuiu o sorriso . – Foi por isso que eu vim. Senti falta das nossas conversas, das SUAS conversas. – Julie riu. – Aí eu não aguentei, e tive que vir.

– Posso te confessar uma coisa? – Daniel assentiu. – Eu passei a semana inteira procurando por você. Eu senti tanta a falta de um chato ouvindo minhas conversas. – Julie sorriu. E os dois se abraçaram de novo. Daniel queria a abraçar mais vezes, mais pensava que Julie não queria. Mas na realidade, ela queria passar a noite, só o abraçando, como se fosse o seu ursinho preferido. – Bem, mas e aí? Vamos só ficar aqui fingindo que nos gostamos, ou você vai me contar mais sobre sua nova vida? – Daniel sorriu e disparou a falar.

– Hum, não é nada de mais. Eu preferia a velha. Com um certo alguém especial.

– Ah é, quem?

– O Félix, claro. – respondeu ele.

– Uhum, o Félix né. Enfim! Quando eu vou poder te visitar?

– Visitar? Como assim, visitar?

– Ué, você não pretende nunca mais me ver, né?

– Não. É claro que não, mas eu não sei se é seguro.

– Que seguro, o quê?! O Demétrius está na nossa mão.

– Eu não estava falando do Demétrius, mas eu te levo.

– Eh!- Julie comemorou e Daniel riu.

Pegou sua mão e começou a andar com ela pela cidade.

– Nossa é meio longe, hein?! – Julie brincou rindo.

– É, um pouquinho.

Finalmente chegaram. Era uma casa toda queimada, cercada por plantações mortas.

– Bela casa. – brincou com a cara do amigo.

– Obrigado.

Entraram na casa e era ainda pior por dentro. Toda escura e quebrada. Não havia nenhum móvel, apenas num canto havia uma guitarra bonita.

– Você não tem medo de roubarem ela?

– Não. É um bairro abandonado. É um dos esconderijos de fantasmas que o Demétrius não conhece. Foi até fácil conseguir uma casa. Todo mundo aqui é amigo. Ninguém rouba de ninguém.

– Queria que o mundo fosse assim. – Daniel ignorou seu comentário e continuou mostrando a casa a ela.

– É ali que eu durmo. – apontou para um canto, onde havia um colchão novo com alguns lençóis também novos em cima. – Eu ganhei dos fantasmas daqui.

– Queria o mundo fosse assim também. – novamente ignorando o seu comentário, ele continuou:

– E aí, decorou o caminho? – Julie levantou uma sobrancelha. – Ué, pra me visitar todos os dias. Quer fazer? Faz direito. – ela sorriu e mordeu o lábio inferior. – Porque eu não vou te mostrar de novo. – sorriu, travesso.

– Ah é, vai brincar de difícil? Eu também sei brincar. – sorriu sapeca.

– Então siga as regras e jogue justo. – falou ele.

– Eu distribuo as cartas. – encarou-o nos olhos, ainda sorrindo.

– Vai para casa beijar seu namorado. – Julie sorriu de novo, imitando aquela carinha angelical de Daniel.

Julie saiu, olhando para trás. Seu telefone tocou. Era Nicolas.

– Oi. Amanhã... Que horas? A mesma de agora? Foi mal tenho compromisso. Uhum tchau. – desligou. – Tenho outros compromissos – sorriu para Daniel.

No dia seguinte...

– Amanhã. Não dá ...

No dia seguinte do dia seguinte...

– Aí! Para Daniel! – Daniel parou de fazer cócegas nela. Julie atendeu o telefone. – Oi. Não, Nicolas.

Na semana seguinte do dia seguinte...

– Não Nicolas, eu saio com você amanhã! Tchau. Também gosto de você. – Desligou o celular. – Ah, esse Nicolas é muito insistente. – Daniel riu.

– Quer saber Julie?! Eu tenho que te confessar uma coisa!
– O quê? – perguntou ela, rindo.

– Você embaralha as cartas muito bem!

– Para Daniel! Me fala! – bateu em seu braço.

– Aí! Ainda bem que eu não sinto dor – fez ela rir. Ele amava isso. – Eu gostei muito, muito mesmo desse tempo que passamos juntos.

– Disponha. – ela riu, imitando sua voz.

– Na verdade, eu vou te dar um presente! De agradecimento. – Daniel falou apontando ao nada.

– O quê? – riu mais ainda.

– É surpresa, mas é uma coisa que eu tinha quando eu era vivo.

– Hum. Então tá, eu vou pra casa beijar meu namorado, como você diz. – sorriu e saiu. Quando puxava a porta Daniel interrompeu-a.

– Ah! Dá um alô para o panaca por mim. Acho que ele está com saudades. E fala para ele aproveitar bem a sua saliva enquanto ele ainda a tem.

– Pode deixar, viu?! – brincou rindo de sua fala.

Assim que Julie deixou a sala, Daniel palhetou uma nota, na sua guitarra, pois não conseguiria passar um dia sem tocá-la.

Foi para a sua velha casa, onde tinha sido criado. Geralmente, quando ele ia ali (toda semana) visitar sua mãe, ele se sentia feliz. Ela já estava mais idosa e havia tido só um filho. Não era casada, e criara Daniel sozinha. Como ela estava velha e estava com Alzheimer, não reconhecia o filho, e não lembrava de sua morte, apenas tinha uma vaga lembrança de seu nome e de como aparentava quando criança, Daniel visitava-a visível.

– Oi mamãe. – disse, agachando-se a frente da poltrona que ela se encontrava, tricotando um suéter com as mãos trêmulas. – Você se lembra de mim? – ela continuou em silêncio. Suspirou e continuou: – O que você está fazendo aí? É uma meia?

– Não... – falou, com a voz rouca. – É um suéter. Para você. – esticou as mãos com dificuldades.

– Para mim? – sorriu, pegando o casaco com cuidado. – Que bonito! – ficaria emocionado se não estivesse morto. – Vou usar com muito caminho, tá? E... Será que eu posso fazer uma visitinha no quarto do Daniel?

– Pode. Avisa para ele tomar banho.

– Aviso sim. – entrou no quarto. Fazia anos que não entrava lá. Chegou perto de sua cama. Tantas lembranças, tantas memórias. Viu seus bonecos em cima do leito. Pegou um que era seu favorito. Lembrou-se de quando Martim e Félix levavam os seu bonecos e eles brincavam naquele quarto. Foi até a cômoda e ficou olhando suas fotos. Fotos com amigos, com família... Como era bom se lembrar de vez em quando!

Era tanta coisa para ver, que tinha se esquecido de seu ponto central. Pegar o presente de Julie. Aproximou-se da mochila que continha o presente. Era um colar, que ele havia comprado para Mariana quando vivo, e estava na mochila quando morreu. Abriu-a com cuidado e a caixinha estava do mesmo jeito que havia deixado. Pegou-a e ficou olhando o embrulho que tinha feito.

Saiu pela porta, e virou-se para dar uma última olhada. Quando virou-se de volta, havia uma jovem de cabelos longos e loiros. Seus olhos verdes reluziram com a luz do dia.

– M-Mariana?


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Notas finais do capítulo

No próximo episódio:
Daniel enfrentará um fantasma do seu passado