Down Theater (Terminado) escrita por LuísM


Capítulo 3
Capítulo 3 - Uma peça um tanto quanto incomum




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/239862/chapter/3

Uma peça um tanto quanto incomum

Um silencio absolutamente atormentador ecoou por todo esqueleto destruído do Down Theater, o mundo lá fora, além da porta de madeira caindo aos pedaços que nos apresentava ao átrio da construção antigamente majestosa, havia parado. Não havia som de carros, nem suas buzinas, não havia o barulho de comerciantes gritando os preços de seus produtos, e nem os passos rápidos das pessoas atrasadas para seus compromissos. Tudo havia parado, respeitando a ultima frase que Scurra havia dito. Todos os sete personagens, também permaneciam em silêncios, imóveis, fitando a cara um dos outros, e o sorriso malicioso do homem vestido de bobo. Mas em suas cabeças, e em seus pensamentos, estava grandes perguntas, grandes tremores, duvidas, e medo. O nome da peça seria assim tão perturbador? Talvez não, aquilo até soava bobo, um título que até uma criança de três anos poderia ter inventado, mas naquelas situações, não havia nada de inocente ou bobo, se aquele titulo tivesse sido dito em qualquer outro lugar, o máximo que iria arrancar das pessoas é riso, mas então por que todo mundo fechou-se em silencio?
“Scurra domina o mundo” Foi o que ele disse. Aquilo, contado de uma maneira, mesma que maliciosa, mesmo em tom de brincadeira, era estranha. Um homem que particularmente não parecia ser completamente sano, reunindo crianças em um teatro destruído, propondo uma peça, e em troca distribuindo realizações de milagres, no momento em que o nome da estranha peça foi dito, bem é de se esperar que todos ficassem em silêncio.
– Ele só pode ser maluco.
Foi o que Dáhlia sussurrou, quase que impossível de ser ouvido. Apenas Mors e suas habilidades auditivas refinadas conseguiram ouvir a frase de preocupação da menina de rabo de cavalo e aparência madura. E no fundo era tudo no que estavam pensando, sobre a falta de sanidade, não só do homem mais sim também de toda a situação em que estavam.
A Impressão estranha de perigo que Mors havia sentido assim que entrou no Teatro, passou por sua espinha novamente. Mors havia tido certeza que Scurra era louco desde o momento em que havia ouvido sua primeira frase. Em sua voz, era escondido um mistério, era como se o homem quisesse que as sete crianças soubessem que ele é louco. Mas o porquê, Mors não podia dizer ao certo.
– Desculpem pelo titulo, vejo que para vocês não soou bem – disse Scurra mordendo o canto do lábio – Mas não planejo mudá-lo.
Novamente Caius quebrou o silêncio.
– Deixando o nome idiota da sua peça igualmente idiota de lado. – cuspiu ele – Como pode garantir que realizará nossos desejos?
Scurra riu.
– Não se preocupem, não serão tapeados – disse ele – mas só posso mostrar-lhes a prova, no primeiro dia da peça.
Caius bateu fortemente na poltrona.
– Eu sabia! – gritou ele. – Não podemos confiar em você seu velho maluco! – ele havia se levantado da cadeira novamente bufando – Não serei obrigado a ficar nesse lugar horrível. Vou embora, vocês se forem idiotas o bastante, continuem aí.
– Por favor Caius, volte... – Scurra tentou impedir a saída de um dos seus personagens.
– Não! Velho maluco! – gritou Caius se dirigindo a saída.
Mas assim que tocou a maçaneta da porta. O Chão tremeu absurdamente, fazendo quase Mors cair da poltrona. Um barulho de parede rachando foi ouvido, e muito pó caiu em cima dos ombros de Caius e seus cabelos loiros.
– Mas que diabos é isso?!
Então o pobre menino foi surpreendido por cima, um dos pilares que segurava um dos camarotes, despedaçou em mil pedaços, e o camarote, sem nenhuma coluna que pudesse sustentá-lo caiu como uma bomba no chão, espalhando pedaços de madeira que o serviam de piso, e grandes partes de mármore que davam pelo menos o tamanho de dois Mors. Uma pedra minúscula voou na nuca de Tommy que gritou como se tivesse sido picado por um enxame de marimbondos.
Depois que a fumaça e o pó que haviam impedido a visão do acidente desapareceram, todos olharam diretamente para aonde Caius estava, que tremia, no chão, olhando fixamente para o camarote em pedaços que quase arrancara sua vida.
– Você teve sorte Caius – disse Scurra, com um falso rosto triste – Esqueci de avisar-lhes que depois que aceitaram entrar na peça, o Teatro não os deixará sair – ele tossiu secamente – Se tentarem, terão de pagar a saída do roteiro com a própria vida – disse ele olhando para cada uma das crianças – Se tentarem desistir, vocês morrem.
O caos foi absoluto, Tommy começara a chorar, Amy estava imóvel com cara de medo, Caius permanecia no chão chocado, Rune e Dáhlia começaram a gritar pedidos de socorros, Vicente estava o que parecia ser feliz. E Mors, estava em silêncio, analisando tudo o que aquele teatro estava lhe proporcionando, desconfiado, juntando os pontos.
– Nenhum choro, e nenhum pedido de socorro irão resolver – disse Scurra – Vocês aceitaram participar da peça, agora terão de cumprir com suas palavras.
– E Quando é que aceitamos participar?! – Gritaram Dáhlia e Rune ao mesmo tempo.
Scurra sorriu maliciosamente.
–Assim que pisaram no Teatro – ele balançou seu sininho – Vocês estão aqui por sua própria vontade. Não obriguei ninguém a vir aqui.
– E o que aconteceria se não viéssemos? – perguntou Mors.
– Vocês morreriam – Scurra sorriu novamente – Foi por isso o que eu quis dizer com “pensar sobre sua trágica ausência” Mors, Digamos que ela, seria realmente trágica.
Mors engoliu em seco, percebendo a sorte de ainda ter seu pescoço inteiro, e não ser atingindo por um camarote na cabeça. Se não tivesse errado o caminho de volta para o orfanato, ele estaria provavelmente morto.
– E como vamos dormir, comer e ir pra escola?! – perguntou Tommy preocupado.
– Não se preocupem, armei dois camarotes com camas, concertei o Banheiro do segundo piso, e comprei todo tipo de comida e bebida, que precisaremos até o cessar de cortinas – Scurra, refletiu um pouco – E quanto a escola, não se preocupam não a verão até o termino da peça – Ele riu – Acho que pelo menos isso é um ponto positivo.
Para Mors, isso era realmente um ponto positivo, não seria incomodado pelos roncos ou meias sujas de Tácio, muito menos precisaria enfrentar uma batalha para ir ao banheiro, nem apanharia até sua cabeça estourar de Gilbert e sua gangue, tudo parecia favorável, é claro se você não levasse em conta que você está preso com seis crianças e um psicopata.
– Mas e nossos pais e nossos amigos?! – perguntou Rune horrorizada por ter que conviver com pessoas que nunca viu na vida.
–Já lhes disse, não se preocupem - disse Scurra – Eles digamos, estão amineziados. Se é que essa palavra existe.
– Você está dizendo que nossos pais nos esqueceram? Nossos amigos? todos? – perguntou Dáhlia horrorizada.
–Exatamente.
Mors, refletiu um instante, quem é o homem que está em sua frente? Um homem com um poder tão imensurável, tão grandioso, que poderia matar qualquer um que quisesse, apagar a memória de quem escolher, isso seria mesmo um homem? Mas pelo menos, seus poderes, seriam a garantia do desejo de Mors se tornar realidade. A fuga da realidade.
– Você está dizendo que Ela me esqueceu?! – Disse um Caius restabelecido, acordado pelo fato de sua “Ela” não se lembrar mais dele, e então correu em direção de Scurra com o punho fechado em mãos. Mas assim que foi desferir o golpe, Scurra segurou seu braço, e Caius gritou – MALDITO!
–Relaxe meu querido – disse Scurra segurando o punho de Caius – Assim que terminarem a peça, a memória de seus amigos e parentes serão restabelecidas, mas senão...
– Morreremos e seremos esquecidos para sempre – disse um Mors calmo – Em outras palavras, é como se nunca tivéssemos existido.
Um Scurra satisfeito sorriu. Maliciosamente, seu olhar circulou a mente pensativa e calma de Mors.
– Você é literalmente um desgraçado – exclamou Mors – Mas não poderia ser diferente, o que eu poderia esperar de um homem vestido de bobo? – Mors sorriu do mesmo modo que Scurra, com a malicia estampada pelo seu rosto – Nunca tivemos nenhuma escolha ao não ser participar disto não é? – Mors disse ainda calmamente – Isso nunca foi uma peça comum.

Os meninos, e as meninas foram separados por camarotes, os únicos que ainda estavam inteiros, o que é um milagre comparado com a aparência do teatro. Scurra, tinha mesmo tudo em mente, havia um colchão para cada menino, com lençóis limpos e travesseiros novos. Ele havia também posto uma grande mesa retangular no meio do palco, com oito cadeiras contadas.
Depois de toda discutição no átrio do teatro, Scurra havia dito para que os personagens se conhecem melhor, o que é claro não ocorreu os jovens simplesmente, tentaram não falar uns com os outros. Scurra saiu para seus aposentos, uma sala pequena que antigamente foi a sala de algum artista renomado, agora cheia de pó e cupins.
Ainda antes de visitar seus camarotes, o pequeno Tommy havia escorregado na escada, Mors que estava atrás dele, rapidamente se moveu para segurar Tommy. E então o mesmo gritou, não por causa de sua queda, e sim por Mors tocá-lo.
– Desculpe, tentei ajudá-lo – disse um Mors calmo.
– Tire suas mãos imundas de mim! – gritou o menino se atirando para o canto do corredor.
– Já tirei, desculpe, mas se você mesmo não notou você iria cair escada baixo.
– Como pode falar comigo deste modo?! – gritou o menino se encolhendo, como se tivesse medo de Mors – Sua aberração. – o menino se movia para trás rastejando.
– Olha aqui! – Disse um Mors enraivecido, que partiu para cima de Tommy, segurando o menino pelo colarinho – Eu não sou diferente de você, e a única aberração aqui é seu preconceito idiota, e isso apenas tirando o fato de eu ter salvado sua vida um minuto atrás! – Mors recolheu-se, largando-o – Você acha que eu não percebi que você se escondia de mim desde o momento em que me viu?
Tommy riu doentiamente.
– É que eu só não gosto de estar no mesmo ambiente de uma aberração genética.
Um forte murro foi dado no corredor, não por Mors, e sim por Caius. O que deixou Tommy ainda mais assustado.
– Seu mimadinho bastardo! – gritou Caius – Aprenda a ser gente seu verme, a única aberração genética aqui é você, seu idiota!
Tommy amendotrado, correu escada abaixo, esbarrando propositalmente em Mors. Caius bufou.
– Filhinho de papai idiota – Disse ele.
– É, já estou acostumado com esse tipo de atitude – disse Mors.
– Não deveria – disse Caius – Você, é normal como qualquer um aqui. – Caius fechou a mão, e olhou pela escadaria – Nenhum deficiente é uma aberração... ela não é uma aberração.
–Você tem uma visão incomum sobre mim – Disse Mors intrigado. – Mas quem é “Ela”?
– Isso não importa agora. – Disse Caius calmo, de um jeito que Mors não tinha o visto desde que entrou no Teatro – Qual seu nome mesmo?
– É Mors – disse um Mors sorridente, e com um gesto de amizade, os dois se cumprimentaram, apertando forte as mãos.
– O meu é Caius, Bom melhor irmos jantar, provavelmente o bobo está nos esperando – Caius lembrou do incidente nada divertido de hoje, mas escolheu rir – Afinal, não queremos um outro camarote caindo em nossas cabeças.

Quando chegaram, realmente Scurra estava esperando-os. No palco Havia uma grande mesa retangular, com cadeiras contadas, três do lado esquerdo, três do lado direito, e uma em cada ponta. O homem vestido de bobo indicou o lugar de cada um, e assim, Mors teve que ficar na ponta, de frente a Scurra.
Mesmo não vendo, Mors pode notar os pratos da Mesa, sentiu um odor de frango assado, pão doce, arroz temperado com frutas, um pernil fatiado, salada fresca, e laranjas cortadas. Um grande banquete, que Mors tinha duvidas que Scurra houvesse preparado sozinho, ainda mais, que pelo o que sabia não havia nenhuma geladeira, cozinha ou até mesmo um fogão para preparar tudo.
– Podem comer meus queridos – Scurra sorriu tomando um vinho vermelho como sangue – Não está envenenado, até por que é difícil achar um bom veneno hoje em dia.
A Hipótese de estar envenenado mesmo que negada por Scurra, deixou todos os sete com receio por seu prato. E então Vincent atacou, encheu seu prato, com alimentos que talvez nunca tivessem chegado ao seu paladar. Mors decidiu se servir, afinal estava com fome, e se fosse para morrer envenenado, que pelo menos seja de barriga cheia.
As meninas começaram a comer logo após, enquanto Scurra só observava. Tommy exibiu uma cara de desgosto, dizendo que nunca comera um frango tão ruim em sua vida. O que era estranho para Mors e Vicente, que nunca tinham comido algo com gosto tão bom em suas vidas modestas.
– Então... Quando começaremos a atuar? – perguntou um Vincent de boca e barriga cheia.
– Ah! Logo após que acordarem – Scurra tomou um gole do vinho – Todas suas roupas, e tudo que precisam para viver aqui até o fim da peça, foi colocado em suas camas, então não se preocupem. E o banheiro no fim do corredor do segundo piso também está concertado. E se por um acaso precisem de mim, estarei na primeira sala a direita, atrás da parede do palco.
– Você parece ter pensado em tudo. – disse um Mors satisfeito.
Scurra sorriu, enquanto um pouco do vinho escorreu pelos seus dentes, parecendo com sangue de verdade.
– Amanhã, a peça começará. Estejam prontos.

Mors, subiu com a ajuda de Caius, e em seu camarote improvisado, tocou as roupas em sua cama, aquelas não eram suas roupas velhas e usadas do orfanato. Eram novas, dobradas, e de qualidade. Aquele havia tomado o lugar do óculos, como seu melhor presente. Vincent também ganhara, assim como Mors, roupas meias, e até uma escova de dente nova. A Noite caiu em silêncio. E Mors dormiu, esperando por a tão importante peça, que determinará o seu próprio desejo.

Todos acordaram cedo talvez, assim como Mors por ansiedade, Scurra posicionou cada um no palco por ordem de tamanho e sexo, meninos primeiro, moças ao lado.
– Espero que tenham dormido bem, agora, vamos ao primeiro Ato de nossa peça. Prontos?
As crianças concordaram com a cabeça.
– Esse ato se chama “Adeus”.
Uma sensação de náusea passou por Mors, O Palco havia começado a tremer, o Down theater havia esfriado, e uma brisa gelada, circulou o palco, e também sua espinha. Algo estava se formando das cortinas vermelhas do Palco. Pedaços de pedra vindos dos próprios entulhos do Teatro destruído, formavam o que parecia uma porta.
– O QUE DIABOS ESTÁ ACONTECENDO?! – Gritou Caius, vendo a estranha imagem que se formou em sua frente.
Assim Scurra, foi até a porta, girou a maçaneta e abriu a porta, sorrindo. Aquela imagem negra e brilhante, estampava a porta, que não direcionava para nenhum cômodo, mais sim para algo muito maior. Uma ventania poderosa começou a puxar os sete jovens para dentro do portal. Que se moviam em direção dele sem escolha, Enquanto Scurra, que estava mais próximo do portal, ficava imóvel.
– Scurra?! – Gritou Mors, tentando dar passos para trás, contra o vento – Que diabos é isso?!
O vento aumentou, e algumas partes destruídas do teatro foram puxadas para dentro do portal, um pedaço de madeira, granito despedaçado, e até uma poltrona, Pedaços da cortina eram rasgados e atraídos até aquele escuro negro. A atração aumentou, e um botão da nova camisa que Mors havia ganhado voou em direção do Portal. E um Scurra rindo maleficamente como nunca, ilustrava aquela cena apocalíptica.Tommy foi o primeiro, como era fraco, não conseguiu ir contra a corrente de ar, e gritando “Socorro!” foi levado para dentro do portal. Mors continuava lutando conta a atração, cada vez mais forte. Amy estava a menos de meio metro do portal, quando puxou Dáhlia, levando-a consigo para o negro. Uma poltrona foi arremessada na direção de Vincent, que desequilibrado, voou junto a ela e adentrou o portal. Rune, tentando segurar na borda do palco, foi surpreendida quando o pedaço de madeira em que segurava quebrou, e junto a ela desapareceu no Portal.
– SCURRA! – Gritou Mors, voando para dentro do portal. Que em um movimento errado, bateu no canto da porta, se segurando. Se viu um escuro infinito que o cercava atrás de si. O vento desequilibrou o pobre Caius que voou em direção do portal, por cima de Mors, que tentou rapidamente segurar sua roupa, mas sem sucesso, Caius já estava longe e preso na imensidão.
–NÃO! – gritou Mors.
O Único que ainda não tinha sido levado foi Mors, que com uma única mão segurava no canto da porta, que separava-o de um destino desconhecido.
– Agora, a verdadeira peça começa – disse Scurra, com o sorriso mais assustador que havia dado até então.
–SCURRA! - E essa foi o ultimo grito de Mors, antes que sua força acabasse e que o infinito em negro o engolisse por completo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Down Theater (Terminado)" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.