Down Theater (Terminado) escrita por LuísM


Capítulo 10
Capítulo 10 - Sentimentos jogados ao palco


Notas iniciais do capítulo

E já estamos no capitulo dez, no meio de toda trama. Mas o Down Theater ainda tem muitas peças para serem movimentadas.



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Sentimentos jogados ao palco

–Não. – respondeu.
A sala de Scurra, um apertado pedaço de coisas empoeiradas e sujas. Um incenso já há horas que havia parado de queimar, repousava na prateleira acima do armário de madeira velha. No centro, a mesa de Scurra, completamente vazia, apenas com duas canetas, das quais uma era falhada, bolas de papel amassado, sujeira de apontador, e um pequeno caderno aonde todas as folhas foram arrancadas. Atrás da mesa, uma cadeira de madeira com bordas de borracha, além dela, atrás uma janela que dava para um beco do lado do Down Theater, da onde vinha o pouco de iluminação que preenchia o lugar.
A Cadeira de Caius rangia fortemente em qualquer movimento que fazia, mas isso não parecia incomodar ele, muito menos Scurra.
– Então, a menina que vocês estavam falando não é nenhuma fora das três que participam da peça? – perguntou Scurra.
– Não. – Disse Caius. – É a última vez que vou repetir.
Scurra parecia zangado.
– Você acha que sou um idiota? – Perguntou o Homem de barba mal feita.
– Um bobo na verdade. – rebateu Caius.
– Exato, mas não um idiota – Ele balançou seus sininhos, e acompanhou Caius até a porta. – Se você estiver mentindo, Caius querido – Ele sorriu. – Algo terrível pode acontecer com você sabe quem...
– VOCÊ NÃO...
– Adeusinho – Interrompeu Scurra, fechando a porta na cara de Caius. Enquanto ouvia o mesmo insultá-lo do lado de fora da sala mal iluminada.
Ele encostou-se à cadeira, tirando seu chapéu de bobo da corte, e jogando-o na prateleira.
– Uma menina... – Isso o fez pensar. – Que diabos de menina poderia ser... – Um flash do dia que tudo aconteceu passou por sua cabeça. E a figura de um homem que um dia conhecia amedrontou-o. – Wells... – ele sussurrou baixinho. Dirigiu-se até uma gaveta, aonde uma foto emoldurada se encontrava. Ele a analisou, Dois Homens estavam presentes, sorrindo, e no colo dos dois, suas filhas. – Não... – Ele se surpreendeu. – Poderia ser... - Ele olhou fixamente pra uma das filhas. – A Cria.

Alice,
pensava Mors, antes de dormir. E então puxou o travesseiro mais perto de si, e ignorou a chegada de um bufante Caius distribuindo insultos ao degrau, em que tinha quase tropeçado.
– Desculpe Mors... – O menino disse se enrolando no colchão próximo a porta. -Você ainda está acordado. – ele virou-se. – Maldito palhaço idiota.
Mors se indagou.
– Scurra?
– Sim, ele me perguntou sobre a garota. – Caius sussurrou – Sobre a estranha garota que você encontrou. – Ele deu dois tapas no chão – As paredes e chão tem ouvidos.
Mors entendeu.
– Então você disse a verdade?
– Sim, falei que era a Amy, quase irreconhecível coberta pela poeira. – Ele riu artificialmente. – Não consigo parar de rir desta cena. – ele disse. – Bom estou cansado agora, vou dormir, boa noite.
– Boa noite. – Respondeu Mors.

Quase no mesmo instante que parou de falar, Caius pegou no sono, ressonando.
Mors então, estava sozinho, enquanto Vincent falava dormindo, Caius ressonava, e Tommy permanecia quieto, quase morto, com sua respiração baixa.
Mors voltou todos seus pensamentos para Alice. Não para o papo de Guardiões, muito menos sobre matá-los ou não. Ele quase nem pensou nisso, egoísmo por parte dele, e ele mesmo sabia. O menino só queria vê-la de novo, não sabia o motivo, porém queria estar perto dela. Então dormiu, segurando as esperanças de encontrá-la nos sonhos. E Assim o fez.
Ela apareceu, num grande santuário, com pilares detalhados em sua formação com desenhos de histórias passadas. Mors estava frente uma gigante escadaria, que dava até o templo flutuante no espaço. Ele permanecia na ilha flutuante, coberta de grama bem cortada e brilhante. A sua esquerda vários pilares quebrados, empilhados desordenadamente em cima um dos outros. Em sua direita, um grande canteiro de flores, de todos os tipos e todas as cores, seu cheiro, assumia envolta de toda ilha.
– Mors? – Perguntou a voz de Alice. - O menino voltou sua atenção ao templo, esperando que Alice, saísse de lá. Porém se decepcionou. Nada saiu de lá.- Não estou aonde você pensa. – Ela disse.
Desta vez, Mors conseguiu captar donde a voz havia vindo, e para sua surpresa, dava para o canteiro de flores. Ele então vislumbrou-a como se fosse a primeira vez novamente. Ela estava vestida apenas de branco, com um véu negro em sua cintura, e um colar de estranhas pedras também brancas. O que deixava-a extremamente pálida, e seus cabelos brancos se perdiam em sua própria roupa, e o olho de Mors, não conseguiu distinguir aonde seus fios terminavam e sua roupa branca começava. E ela estava ali, deitada dentro do canteiro, com as flores espalhadas ao seu redor.
– Não espera de mim um convite? Espera? – Disse, ela, sem ao menos tirar os olhos do céu estrelado.
Mors se aproximou, deitando-se também em cima das flores. Ele encostou sua cabeça na barriga de Alice. Ela riu, porém nada fez, além de acariciar os cabelos negros do menino, tão escuros, comparando com os dela.
– Você é ousado demais, garoto. – Ela disse mexendo nas pontas de seus fios. – Eu gosto de seu cabelo. – Ela pensou um instante. – Tão familiares.
– Isto é mesmo um sonho? – perguntou o menino.
– Sim. – ela assentiu. – A pergunta é, se ele é meu ou seu. Ou, é um sonho cruzado.
– Sonho cruzado. – Ele riu. – Nunca ouvi falar disso.
– Claro que não, tolo. – Ela acompanhou a risada. – É o nome que dei, pra quando duas pessoas se comunicam em um só sonho.
– Duas pessoas num só... – Ele sorriu. – Isso parece loucura.
Ela então se sentou, colocando a cabeça de Mors em seu colo, e agora estávamos igual da primeira vez que Mors a vira. Ela continuou acariciando seus cabelos. Enquanto olhava o rosto do menino.
– Seus olhos... – ela reparou. – Eles são a única coisa com qual eu não me sinto familiarizada. – Ela vislumbrou-os totalmente, pareciam tão castigados e cansados.
– É por que eu sou cego. – ele demorou a dizer. – uma aberração, deve ser isso que te deixa acanhada.
– Cego? – ela zombou. – Como então conseguiu me ver até agora?
– Toda vez que entro na peça, volto a enxergar.
– Peça? – ela fechou a cara. – Quer dizer, aqui?
– Sim, este mundo. – ele pensou um pouco. – Mas isso é um sonho, então não tem contato com a peça...
– Talvez... – a duvida foi deixada no ar.
Uma grande pausa se fez, enquanto os dois fitavam-se. Até que a voz suave de Alice interveio.
– Não me sinto acanhada. – Disse ela. – Sobre seus olhos... – ela continuou. – você já enxergou algum dia?
– Não me lembro... de muita coisa da minha infância. – ele suspirou triste. – Nem de meus pais.

A Noite infinita circulava-os, ali em seus sonho com as flores. Eles se calaram para ouvir o barulho do vento que se transportava do templo, até as flores, fazendo suas pétalas voarem.
– Alice – Mors interrompeu o silêncio. – Você por acaso sabe algo sobre o guardião mais próximo depois daquele?
Ela pareceu ficar brava. Deixando a cabeça do menino as flores, sentando um pouco mais longe. O menino então, sentou-se.
– Por favor, precisamos saber o que nos espera.
– Você... – Ela bufou. – Você me prometeu que não mataria nenhum guardião a mais!
Ele lembrou-se da mentira.
– Eu sei. – ele continuou mentindo. – e eu não vou matar mais nenhum, porém eu preciso das informações, eu vou apenas falar com ele.
– Falar, e o que teria que falar com um guardião?
– Exatamente. – Mors segurou a mão suave da menina, tão branca e macia. – Eu precisão saber o que exatamente ele guarda. Ou você talvez saiba...
Ela pensou um pouco, ainda com a cara fechada.
– Não sei se posso contar. – ela bufou. – Tudo bem, Mors, eu vou dizer o que eu sei sobre o próximo guardião. Porém... – ela continuou áspera. – Se você quebrar sua promessa, os guardiões serão o menor de seus problemas. – ela encarou-o – Eu mesmo te enfrentarei.
No que eu me tornei?, pensou Mors, Mentindo e enganando-a, logo ela, com quem eu mais quis estar em toda minha vida, Mas tudo isso é necessário, para que os outros tenham direito a seu desejo. Não, eu sou egoísta demais para pensar nisso, o que eu realmente quero é descobrir, o porquê de tudo isso. Scurra, eu irei desvendá-lo.
– Eu já prometi não? – disse Mors.
E então a menina cochichou em seu ouvido tudo que sabia sobre o próximo guardião. Depois disso, os dois partiram para conversar sobre outros assuntos. E Mors apesar da culpa de estar mentindo, só queria permanecer o máximo possível ali com ela.

O antigo sofrimento que sentira pela falta de Mors, se tornou raiva, e só nesse conflito, ela conseguiu entender, que ela estava gostando mesmo dele. Porém, mal tinha entrado em sua vida, e outra já tinha aparecido em seu lugar. Ciúmes, sim ela mesmo o admitira, e agora, ela estava empenhada, em tirá-lo dos braços da “Menina de cabelos brancos”, custe o que custar. A pobre Dáhlia, mal conseguia entender os conflitos de pensamentos, de sua pobre situação e insanidade.
A Menina se deslocou até o camarote, aonde virará o dormitório masculino, ela ignorou o bom dia de Rune, que subia as escadarias. Entrou sorrateiramente no dormitório masculino. Onde apenas Mors e Vincent estavam dormindo.
– Mors? – perguntou a menina.
 O Sono leve do pobre garoto, o despertou. E Alice foi perdida no fundo de sua mente, enquanto o rosto dela era substituído vazio de seus olhos cegos, assim notou a respiração de alguém familiar, Dáhlia. Mors escondeu sua irritação respondendo-a:
– Dáhlia... – ele dizia, com sua boca seca, e lábios quase grudados. – O que você está fazendo aqui... – ele a fitou o nada um instante apenas imaginando o rosto da garota. A menina estava deitada no mesmo colchão que ele, porém sem utilizar o mesmo cobertor, não por que a menina não queria, e sim por que ele era pequeno demais até para Mors. – E mais importante... Por que está deitada aqui?
A garota se afastou envergonhada. Ela sentou-se, porém não olhou para Mors, tremendo de vergonha, e no fundo, ciúmes.
– Eu queria saber Mors... quem era a tal garota? –perguntou Dáhlia.
– É alguém que eu encontrei no mundo atrás da cortina, ela me salvou. – Ele respondeu, mas sua ingenuidade não conseguia entender o motivo da pergunta. -Porque a pergunta?
–É que...
Interrompendo-os, Amy entrou no quarto. Aonde gritou:
– O almoço está pronto pessoal! Vamos descer logo. – ela viu Vincent dormindo, e então aproveitou para pegar uma almofada do lado da entrada do camarim, e atirou em sua cara. O menino acordou num susto.
– Quem... Amy, isso terá retorno! – ele riu, enquanto a menininha compartilhava um grande sorriso.
– Estou ganhando Vice, três a um. – ela riu – você dorme demais. – ela então desceu a escadaria, avisando novamente. – O almoço vai esfriar!
Maldita Amy, pensou Dáhlia com ódio. Desde que voltaram do segundo ato e a aparição misteriosa garota, Dáhlia se irritava facilmente. E Amy tinha estragado sua conversa. Já que com Vincent acordado e disposto a se trocar, ela tinha que descer até o palco. E assim fez, saiu, bufando.
– Mors, depois conversamos melhor. – avisou-o.
Mors continuava, não entendido. E vendo sua cara, Vincent interveio.
– Mulheres. – ele disse, enquanto trocava de camisa. – Estranhas e confusas.
– Vincent, falando em mulheres... – Mors se levantou. – Não diga nada sobre Alice a Scurra.
– Certo... Mas por que? – perguntou o menino intrigado.
– Ela pode ser a respostas das perguntas que tanto fizemos em nossas cabeças até agora. – Mors, arrumou seu cabelo. – Ela poderá nos ajudar a descobrir o que esse teatro de mentiras realmente é.
Vincent concordou.
–E tem mais uma coisa Vice – Disse Mors, caçoando do apelido do menino. – Eu sonhei com Alice. – disse retomando a seriedade. – E ela me contou o que nos espera no próximo ato... Porém não podemos simplesmente dizer isso a Scurra. – Seus olhos negros, pareciam se tornar ainda mais escuro. – E desta vez precisaremos de mais do que apenas espadas.

Dragões.
Disse Vincent, na sala apertada aonde o incenso de Scurra afetava todo ar puro. O palhaço se espreguiçou na cadeira, fazendo-a ranger. O homem parecia não ter dormido. Ele tinha se barbeado, porém muito mal, metade da barba continuava ali, e a onde estava com varias e feridas, e um corte perto da boca, que sangrava sem aviso prévio. E suas feições faciais pareciam mais cansadas. Suas olheiras estavam muito mais visíveis do que ultimamente.
– Dragões? – ele se perguntou. Seu tom estava muito mais sério do que o de antes. – E como é que pequenos atores como vocês sabem disso? – Sem sorrisos maliciosos, o bobo continuou. – Conheceram algo interessante atrás do portal? E esse algo anda lhe contando coisas que nem eu sei...
– Errado. – respondeu Mors, antes que o homem descobrisse. – Foi um sonho... Quero dizer, um sonho de Vincent.
– Sim – auxiliou Vincent, ainda com a calça do pijama que Scurra havia lhe dado. – Eu às vezes, premedito coisas... E elas realmente acontecem
Scurra parecia ainda pouco convencido. Um homem enganador como ele, era difícil de enganar.
– Assim como o sonho de que Mors morreria? – perguntou o homem, desta vez com seu sorriso, porém não malicioso, e sim frio.
– Bem, esse não se tornou realidade. –Alice me salvou, pensou Mors. Porém ele não podia ficar no mesmo beco sem saída, que levaria Scurra a descobrir Alice. – Amy me salvou.
– Sim, e no sonho, eu não tinha certeza absoluta do que via. – Disse Vincent um pouco nervoso.
O Ar do lugar dava a Mors náuseas.
– Entendo. – Porém Scurra parecia não entender, ou melhor, parecia desconfiar. – Então neste sonho, você viu que o próximo ato envolverá um dragão.
– Não só um... vários. – disse Vincent.
–Vários Dragões? – Scurra sorriu. – Em um sonho você não conseguia ver completamente se uma pessoa morria. No outro, você tem certeza absoluta que vários dragões participariam da peça. – Ele não parecia feliz. – Esse mundo dos sonhos não é? Lugar confuso. – A ferida em sua face, começará a sangrar, porém Scurra não deu a mínima. – O que vocês querem de mim, exatamente?
– Algo que nos dê a chance de sobreviver. Afinal, o que é uma peça sem nenhum personagem? – Disse Mors. – Algo que nos faça voar. 
– Voar... – Scurra pensou, e aquilo deliciava seu humor. Ele sorriu. – Tenho o certo pra vocês, então não se preocupem...
– E também queremos que você adiante o ato. – Disse Mors. – Porém longe dos dragões, para que podermos treinar nossas habilidades um pouco.
Scurra parecia cada vez mais desconfiado. Porém o homem aceitou.
– Certo, um dia apenas. – Ele sorriu. – Aí então a peça começa.
Mors e Vincent concordaram.
Os dois saíram da sala, satisfeitos.


A Noite caiu de pressa. E Scurra voltou para sua sala depois do banquete. Ele acabara de sentar em sua poltrona quando sua porta abrira. O homem estava a espera de Mors, Caius, ou Vincent. Requerendo ainda mais auxilio para o terceiro ato. Porém Dáhlia apareceu, tremendo:
– O que a senhorita...
Alice! – Dáhlia respondeu. Com os olhos frios. – Alice, esse é o nome da menina.


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Notas finais do capítulo

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