Cento e trinta e dois, cento e trinta e três… Faziam quase vinte minutos que estava contando os azulejos da cozinha mentalmente, enquanto o pai andava de um lado para o outro, resmungando consigo mesmo. Esperar a reação de Ronald Weasley era quase tão insuportável quanto ouvir Hugo e Albus Severus comentando sobre o último jogo de quadribol.

Suspirou baixo, apoiando os dois cotovelos sobre a mesa e a cabeça logo em seguida encima das mãos. Quanto tempo mais aquilo iria durar? Quando Ron finalmente explodiria dizendo que aquilo era um absurdo? Que ela estava ficando louca em cogitar a possibilidade e Hermione interviria, dizendo que era melhor ela decidir seus próprios passos dali para frente, afinal já tinha dezoito anos e sabia o que era melhor para si mesma. As discussões familiares só não eram mais previsíveis porque jamais havia se interessado pelas aulas de adivinhação.

_ Isso é mesmo necessário, Rose? Quero dizer, Nova York é tão longe e… - o ruivo finalmente parou de andar, encarando a primogênita. Os olhos azuis do patriarca pareciam quase que apagados, desesperados para que a filha dissesse que não era necessário a ida para a América.

Claro, Ronald sempre foi tão cuidado com Rose. Só em imaginar a idéia de não ter mais a filha sob suas asas protetoras deixava-lhe desesperado. Ron, ao contrário de Hermione, parecia se renegar à acreditar que os filhos estavam crescendo e querendo construir suas próprias vidas não-tão-perto assim dele.

_ Papai, você sabe que eu quero fazer faculdade trouxa, sempre quis… - Rose parou de falar quando uma risada baixa chegou ao seus ouvidos. Virou-se para o lado a tempo de ver mais um ruivo entrando na cozinha.

_ Você quer ir para Nova York para fazer faculdade, Ros? Ora, mas que orgulho! - As vezes, Rose se arrependia por ter ensinado o irmão a ser tão irônico. Fuzilou-o com o olhar enquanto este sentava-se ao seu lado.

_ Não tem nada melhor para fazer, Hugo? Talvez ir atrás de Lily Luna. - Soltou em vingança, fazendo as orelhas de Hugo ficarem tão vermelhas tanto os cabelos.

_ Está atrás da sua prima de novo, Hugo Weasley? - O pai desviou o olhar de Rose para o caçula que abaixou a cabeça.

_ Rose está louca, pai. E eu nunca corri atrás de Lils, ela quem nunca resistiu à minha beleza. - Rose jogou a cabeça para trás, rindo alto. Ato que fez o irmão ficar ainda mais vermelho, se aquilo era possível.

_ Acho que está andando muito com Severus, Guinho.

_ E você com Dominique. - Lançou, fazendo-lhe revirar os olhos claros.

_ Ainda não acho uma boa idéia, Rosie. - Ronald interveio antes que resultasse em uma discussão, como sempre. _ Por que não tenta alguma aqui na Inglaterra mesmo?

_ Porque ela quer encher a cara sem ninguém para encher-lhe o saco. - Hugo murmurou baixo o suficiente para ambas a irmã ouvir. Rose deixou o braço cair para o lado, de modo que batesse quase que discretamente na cabeça do irmão que bufou.

_ Ora papai, qual é a diferença? Estarei saindo de casa da mesma maneira. E outra, eu e Dominique já combinamos tudo, o senhor sabe. Ela já conseguiu um emprego no Ministério de lá, tia Fleur e tio Bill estão pulando de alegria. Por que não faz o mesmo?

_ Seus tios são desmiolados, eu não sou. Bill comemora por tudo, quase morreu de felicidade quando descobriu que Victoire estava namorando com Teddy. - Ronald sentou-se na frente da filha, revirando os olhos claros. _ É tão perigoso para lá, filha. Não vai conhecer nada, são outros costumes.

Rose escondeu um sorriso. Sabia que o pai estava quase cedendo e sabia muito bem o que tinha de fazer agora.

_ Papai, sabe que pode confiar em mim. E outra, não posso deixar Nick sozinha, ela precisa de mim. - disse estendendo o braço sobre a mesa para tocar na mão do pai e então abriu o seu melhor sorriso, fazendo o irmão bufar. Hugo sabia bem que Rose tinha o pai nas mãos quando fazia aquilo.

Ron fechou os olhos por um instante, respirando fundo. _ Vou sentir sua falta, Rosie. Vai ser horrível ficar sem você.

A ruiva soltou um berro alto de felicidade antes de levantar da cadeira e contornar a mesa em três segundos.

_ Você é o melhor, papai! - disse, antes de jogar os braços no pescoço do pai que riu baixo.

_ Mas vai me prometer que mandará noticias sempre e virá nos visitar sempre que possível.

_ Ainda estão nisso? - uma voz feminina fez com que Rose afastasse os braços do pai, com um imenso sorriso nos lábios.

Hermione adentrou a cozinha com algumas sacolas na mão e várias outras segui-lhe como se tivesse vida própria.

_ Papai deixou, mãe, como sempre. - Hugo murmurou.

_ Deveria estar feliz pela sua irmã, filho. Ela fará faculdade trouxa! - Hermione não conseguia esconder a felicidade por sua filha se interessar tanto pelos trouxas.

_ Ele só está assim porque vai morrer de saudades de mim, mamãe. - Rose levantou-se do lado de Ron, contornando a mesa mais uma vez e indo ao lado do irmão. _ Pode ficar tranqüilo, Huguinho, venho lhe visitar sempre. - completou, apertando as bochechas sardentas do irmão.

_ Ai ai, Rose, isso machuca - Hugo afastou as mãos da irmã antes de lançar os braços em torno de seu pescoço. _ Não queria que fosse, tinha a esperança que papai negasse alguma coisa para você, pela primeira vez na vida. Vou sentir saudades da minha irmã chata e implicante. - Ele suspirou, fazendo-a rir baixo.

_ Sentirá falta de mim ou dos meus deveres de casa, Hugo?

_ De você, é claro. Eles eu levarei para Hogwarts.

***

Rose havia subestimado sua prima, mais uma vez. Aquilo era, sem dúvida alguma, muito maior do que poderia imaginar. Muito mais encantador. O apartamento que Dominique havia arrumado era, sem dúvida alguma, um dos lugares mais incríveis que ela já havia visto.

Perfeitamente bem localizado, à exatas três quadras da faculdade de Nova York - a qual fora aceita no curso de direito sem maiores dificuldades -, à duas ruas da entrada do Ministério da Magia e incrivelmente próximo à tudo que elas iriam precisar para viver bem. Além do mais a sacada tinha uma visão incrível de Manhattan assim como a janela de seu quarto. Não era muito grande, também não precisava ser. Apenas para as duas o tamanho era perfeito. O único problema era o banheiro. Apenas um para uso conjunto das duas não daria muito certo uma vez que Dominique era a criatura mais lerda para se arrumar que Rose conhecia. Nick conseguia ser ainda pior do que Roxanne e Lily Luna juntas.

A cidade nova trazia-lhe aquele ar de liberdade o qual a muito não tinha. Conheceria novas pessoas, novos lugares e o mais incrível de tudo aquilo era que estava à um Oceano Atlântico de distância de um certo loiro lhe causava sensações um tanto quanto agradáveis demais. Embora quisesse negar, sabia bem que um dos principais motivos da mudança era a possibilidade de começar de novo. E desta vez, sem Scorpius Malfoy por perto.

Seu coração apertava quando pensava nele. Estava se entregando demais para algo que não teria o menor futuro, mais uma vez. Porém, desta vez não iria, tampouco queria, passar por tudo que já havia passado nas mãos de… Bufou alto. Iria mesmo estragar sua primeira noite com tais pensamentos? De forma alguma.

Apoiou o corpo na janela do quarto ainda bagunçado, sorrindo pela visão à sua frente. O céu começava a perder os tons claros, ganhando uma coloração nova e algumas estrelas. A Lua já se mostrava presente, aparecendo dentre vários prédios ao horizonte. Tão diferente de casa.

_ Rose, Rose, Rose! - O berro de sua prima a fez pular por um segundo, antes de virar a tempo de ver a porta sendo aberta sem nenhuma delicadeza.

A loira adentrou o quarto aos pulinhos, antes de se jogar na cama sem lençol da ruiva.

_ Vamos sair essa noite? Comemorar nossa nova vida e essas coisas? - Comemorar era igual ficar bêbada no vocabulário de Dominique.

_ Eu preciso arrumar as coisas, Nick. - disse, afastando-se da janela e deitando ao lado da prima que revirou os olhos azuis esverdeados para o teto.

_ Amanhã eu te ajudo com isso. Ora, vamos Ros, não seja tão Molly! - Dominique bufou, fazendo a ruiva rir alto.

_ Não me ofenda, Dominique. Compare-me com todas, menos com Molly. - Nick virou-se na cama, ficando de bruços e pernas para o ar, balançando-as ritmadas como uma criança.

_ Então vamos vai, por favor! É nossa primeira noite aqui, sem ninguém para encher o saco, sem hora para chegar em casa. - Qual era o sentido de discutir com Nick mesmo?

_ Tudo bem, tudo bem! Só pare de me olhar com essa cara, sabe que funciona melhor com Bill.

_ Como se fosse não tivesse seus truques para manipular o pobre tio Ron.

***

_ Vai ficar com essa cara de paisagem a noite inteira, Weasley? - Entre a música alta, Dominique precisou praticamente gritar dentro do ouvido da prima para que esta a ouvisse.

Rose afastou-se seu olhar da pista de dança completamente repleta de pessoas balançando ritmadas à música, virando-se para encarar a loira.

_ Estou apenas pensativa. - Defendeu-se, fazendo-a bufar.

_ Pensativa? Mande Scorpius para o inferno e pare de pensar nele uma vez na vida. - Rose ergueu as sobrancelhas ruivas com o comentário da prima, escondendo um meio sorriso. Nick bebia e se revela por completo.

_ Quem disse que estava pensando nele?

_ Desde o segundo ano você só pensa nele, Ros. Tenho uma novidade para você, estamos em Nova York, cheia de gente linda e pronta para te conhecer. Tira esse menino da cabeça, criatura! - Rose jogou a cabeça para trás, rindo alto.

_ Quero morrer sua amiga, Nick. - Dominique deu de ombros, dando um gole de sua bebida e olhando em volta.

_ Bem, se você quer ficar sem aproveitar, eu não. Vou procurar pessoas para conhecer. - disse, dando o último gole e apertou a bochecha de Rose. _ Vá procurar um gatinho para se divertir. - Completou, piscando para a ruiva que riu mais uma vez.

Assim que Dominique saiu, Rose permitiu-se suspirar fundo. A prima tinha razão. Não poderia passar o resto da vida pensando em Scorpius, afinal não teria mais volta depois de simplesmente ter sumido da vista dele sem deixar um mínimo adeus… Apesar de ter certeza que Albus Severus, na primeira oportunidade, diria tudo ao loiro. Sentiu suas bochechas corarem só com a imaginação de Severus e Scorpius conversando sobre ela. Conseguia ouvir a voz de Scorpius, sussurrando em seu ouvido, o quanto estúpida ela estava sendo e… Balançou a cabeça, precisava de mais uma bebida.

Caminhou ate o bar decorado e luminoso no meio do salão, pedindo ao barman - um rapaz um tanto quanto bem afeiçoado, diga-se de passagem. - a primeira bebida que viu pela frente e sentou-se em um dos bancos, esperando que este lhe trouxesse o pedido. Precisava se divertir, como fazia antes de se entregar à tentação… A qual tinha nome, sobrenome e encantadores olhos esverdeados que pareciam de ler cada pensamento de Rose.

_ O que uma garota tão linda faz sozinha aqui? - Uma voz masculina chegou ao seus ouvidos de forma sedutora, em contraste à cantada barata. Rose saiu de seus breves devaneios, erguendo os olhos azuis para o recém chegado.

Travou a respiração por um segundo. Por Merlim, ele era lindo! Seus cabelos loiros escuros caiam sobre os olhos verdes tão claros que chegavam a perder a cor próximos à pupila. As feições perfeitamente desenhadas contraídas em um sorriso sedutor nos lábios cheios e rosados. Rose permitiu-se observa-lo de cima a baixo, encarando o peitoral musculoso, coberto por uma blusa branca gola v e um camisa xadrez por cima.

Balançou a cabeça, colocando os pensamentos no lugar. Ora, aproveitar a noite bem acompanhada era melhor amiga.

_ Tentando esquecer tudo por uma noite, talvez. - Ela respondeu, com um sorriso delicado se formando nos lábios. _ Obrigada. - disse ao barman assim que este deixou a bebida à sua frente.

_ Poderia ajuda-la a se esquecer de tudo, o que acha? - Galanteador. Um conquistar barato, concluiu com um sorriso. Lembra-lhe um pouco o primo e melhor amigo no modo que falava. _ A propósito, sou Josh. - Completou, estendendo a mão em um convite.

_ Rose. - Responde-lhe simplesmente, entendendo a mão em sua direção. Josh a pegou delicadamente antes de levantar para seus lábios e dar-lhe um beijo na ponta dos dedos, fazendo-a rir baixo. De fato, era um conquistador.