La estava ela novamente, contemplando o teto, deitada sozinha em sua cama. Seus pensamentos sempre tomavam um rumo diferente quando deitada, tomavam um rumo triste, não que quando a garota estivesse mais desperta seus pensamentos fossem sorridentes, porém ao deitar-se parecia que essa tristeza acumulada por uma curta existência tornava-se nostálgica.

                O que se passava por sua mente? Nem ela poderia afirmar com certeza, sabia apenas que acabara de concluir que era a boneca de uma adulta de 10 anos, um termo ridículo, pensou ela, porem que a perseguia.

                Por algum motivo sentia se como uma boneca de pano – sempre as achei mais interessantes que as de qualquer outra - no começo amada, presa a alguém... Sua dona?Uma garotinha de apenas 10 anos - ou talvez tivesse o dobro da idade, não que importasse, era apenas um numero mero símbolo- que tenta parecer mais velha, uma garotinha que tenta largar a boneca e mostrar a todos que cresceu. Já brincara muito com ela, agora não mais.

                A boneca é posta em uma estante, sozinha. Desejando voltar no tempo, quando achava que era amada, desejando não ser um mero enfeite, um mero objeto.

                Tão só, angustiada, manipulável. Não consegue viver sozinha, infelizmente fora abandonada. E agora?

                O pó acumula-se em seu cabelo como anos, os olhos da boneca refletem o que ela, sem nunca absorver nada. Manha, tarde e noite, e assim a inocência vai se esvaindo, os meses se passam, as cordas e laços são cortados, e ele esta livre finalmente, ao menos livre das cordas, pois ainda se sente naquela estante, mas sabe ela, ao menos que com esses de pó que nunca se esquecerá de sua boneca de pano como sua dona a fez.