Domingo era daqueles dias em que não lhes apetecia fazer absolutamente nada. Talvez a ninguém apeteça. Então Quinn fez aquilo que melhor sabe fazer. Cozinhou. Com muita preguiça, e ao mesmo tempo fora de vontade, levantou-se dos braços de Rachel e preparou o almoço para ambas. A morena ainda deu a ideia de encomendar qualquer coisa, mas Quinn não deixou e foi tratar do assunto. Rachel teve tempo de se levantar e tomar banho, e quando saiu do quarto, com um sweater vestido e de cuecas, Quinn fechou os olhos e sorriu.

- Não vais conseguir!

- Isso é o que vamos ver. – respondeu Rachel enquanto se aproximava da loira de modo insinuante. Quinn, que tinha o avental vestido e uma escumadeira na mão, permaneceu de olhos fechados e com um sorriso maroto. A diva não desistiu e introduziu a mão por debaixo da t-shirt de Quinn subindo-a pelas costas da loira. Quinn ainda a sorrir abriu os olhos.

- Ok, ganhaste! – a loira largou a escumadeira e virou-se rapidamente para a morena e pegou-a ao colo. Rachel soltou uma enorme gargalhada de vitória, mas quando percebeu, Quinn já estava com ela na sala e pronta para a largar em cima do sofá. E assim o fez. Quando a morena sentiu o sofá debaixo das suas costas ia começar a reclamar, mas rapidamente se deu conta que afinal era melhor não o fazer.

- Não! Ok, pronto! Ganhaste tu, mas cócegas não! – a loira sorriu e virou-lhe as costas fugindo para a cozinha. Rachel levantou-se do sofá e foi atrás dela. – O que é o almoço?

- Senta aí que está quase. – A morena sentou-se num dos bancos altos com a bancada da cozinha que fazia de mesa, e ficou de frente para Quinn.

- És uma seca. – reclamou a diva. Quinn largou a escumadeira que entretanto já tinha voltado a pegar, e cruzou os braços enquanto olhava para Rachel com seriedade.

- Porquê? Deves ter muitas razões de queixa. – a morena encolheu os ombros e sorriu. – Estávamos há mais de 24 horas na cama. E eu não acredito que nós sobrevivamos mais tempo sem jejum.

- Depende do que consideras jejum. – e a diva gargalhou de novo.

- Tu tens muita graça meu amor, se tivesses de dar aulas amanhã estavas a reclamar comigo porque tinhas de te alimentar. Já tinhas bebido alguns três batidos diferentes só da parte da manhã.

- Mas não tenho de dar aulas, é o último dia e vai ser só conversar com eles. É o bom da coisa.

- Eu sei, e depois de comer eu vou dar-te tudo o que tu quiseres pela enésima vez este fim de semana, mas eu estou cheia de fome. – respondeu a loira enquanto deitava a língua de fora.

- Amanhã é o tal dia, não é? – disse Rachel enquanto fazia beicinho.

- Sim. Tem mesmo de ser. Eu prometo que vou tentar despachar-me, mas duvido muito que consiga.

- Eu não gosto dessa ideia de não te ver o dia todo.

- Pois, mas infelizmente vai ser o dia e a noite.

- Onde é?

- É num parque em Stamford. Eles querem fazer a sessão de dia e de noite. Vou chegar quase de manhã. – Quinn tinha contado a Rachel que tinha uma sessão de fotografias para fazer no dia a seguir que lhe iria ocupar as 24 horas do dia. Mas a realidade não era exatamente essa. A loira não gostava de mentir à morena, então não mentiu em relação ao sítio para onde ia, só não contou o que ia realmente fazer.

- Isso é longe.

- Não é nada. É já aqui ao lado. – a morena sorriu e apoiou a cabeça nas mãos a olhar para Quinn que estava a servir os pratos. – Voilá! – e pôs os pratos em cima da bancada enquanto ia buscar os talheres, os guardanapos e os copos. Depois sentou-se ao lado de Rachel, não sem antes trazer uma garrafa de vinho branco do frigorifico.

- Que cheirinho… - disse a morena antes de comer a primeira garfada.

- Já pensaste o que vais fazer com os miúdos no segundo semestre? – perguntou a loira enquanto comiam.

- Como assim?

- Vais continuar a dar as aulas normalmente? Ou tens alguma ideia diferente?

- Eu estava a pensar continuar as aulas. Mas porquê?

- Por nada, estava só a perguntar. Lembrei-me de uma ideia que devia ser gira, mas não sei se só num semestre consegues concretizá-la.

- Conta-me tudo.

- Não é nada de especial meu amor, e se calhar só para o ano é que conseguias fazê-la.

- Conta-me!!! – disse a diva impaciente. Quinn riu-se e deu um beijinho na ponta do nariz da morena.

- Sei lá, podias fazer uma peça com eles. Prepará-la e apresentá-la no fim do ano. Com os teus contactos arranjas um teatro Off-Broadway para a apresentação. – Quinn disse aquilo despreocupada, tanto que não notou o brilho que se formou nos olhos de Rachel ao ouvir a ideia.

- Isso é uma ideia brilhante! Brilhante!!! – a diva riu-se feliz e beijou Quinn. – Os miúdos vão adorar essa ideia, eu tenho a certeza. Um musical é perfeito. Podíamos fazer o “West Side Story”, ou o “The wizard o foz”, ou o … oh meu deus não! Não podemos fazer o “Funny Girl”!!!

- Come. – disse Quinn a rir-se.

- Estou a falar a sério. É brilhante!

- Rachel, tu és a encenadora, não vais estar no palco. Duvido que deixes alguém interpretar a Barbra no teu lugar. – e a loira sorriu a dizê-lo.

- Sim. – disse a morena desiludida.- Tens razão. É uma ofensa. – e fez uma pausa. – Mas podemos fazer uma versão alternativa do “Rent”.

- Logo pensas nisso. Come. – disse novamente Quinn a rir-se. O telefone da loira tocou e ela atendeu despreocupada e sem olhar para o número. – Sim?...É a própria… Ah sim, sim! Como está?... Sim, claro, diga… Ai é?... Não, não há problema nenhum… Então depois de amanhã… Está certo… Sim, não se preocupe, fica combinado então… De nada, obrigada eu… Boa tarde, com licença. – e desligou.

- Quem era?

- Adivinha? Amanhã já não vou fazer a sessão, ficou para depois de amanhã.

- A sério? Mas depois de amanhã eu estou em casa. – disse Rachel a fingir beicinho.

- Eu sei coração, mas eles estão com um problema na iluminação e para não ter de ir lá dois dias ficou para depois de amanhã.

- Ah não! Dois dias não! – Quinn riu-se com a reação de Rachel.

No restaurante Massimo e Judy conversam acerca de dia 1 de Janeiro. Ambos estão entusiasmados com os preparativos e não se cansam de trocar ideias.

- O Leroy disse que a festa de natal e os anos da Brittany e a passagem de ano são festas suficientes para que a Rachel não se dê conta do que está a acontecer nas costas dela. – disse Judy a Massimo.

- E tem razão, era preciso ser muito perspicaz para perceber alguma coisa.

- Eles vêm daqui a quatro dias.

- E o Kurt? Quando é que ele está a pensar vir tirar as medidas às pessoas? Eu estou preocupado com o fato.

- Já disseste isso. Não te preocupes, acho que ele e o Dave foram a Lima visitar a família e chegam dentro de uns dias. A Quinn disse que eles vinham ao jantar de Natal.

- Qual foi a desculpa que ele inventou para a Rachel para não passar o Natal com a família em Lima e só vir depois com o irmão nos anos da Britt?

- Nenhuma. Trabalho, supostamente.

Enquanto os dois conversavam, John entrou na cozinha.

- Judy, está lá fora uma menina à procura da Rachel.

- Que menina?

- Não sei, só perguntou por ela. – Judy despiu o avental e limpou as mãos a um pano.

- Vamos lá ver. – respondeu a loira mais velha.

Já no salão uma jovem que Judy reconheceu de a ver sair da academia, estava em pé com um sorriso.

- Olá, boa tarde. – disse Judy simpática.

- Boa tarde, desculpe o incómodo, eu achei que a Rachel estivesse por cá.

-Não, ela está em casa. Mas se for importante eu chamo-a.

- Não, não deixe estar, eu só passei aqui porque estava em caminho do sítio para onde eu ia. – Judy estranhou a resposta mas simplesmente sorriu. – Então eu depois falo com ela amanhã na academia. Obrigada e desculpe de novo.

- Não faz mal. Mas se ela entretanto vier, quem é que eu devo dizer que cá esteve?

- Ah, deixe lá. Não se preocupe. – respondeu a jovem com um sorriso simpático. – Boa tarde. – e ao ouvir Judy a devolver o “boa tarde”, desapareceu pela porta da saída.

A loira mais velha voltou à cozinha onde comentou com Massimo aquela situação. Mas rapidamente os dois mudaram de tema de conversa.

Rachel estava deitada por cima de Quinn no sofá da sala, estava tudo desligado e elas estavam somente a conversar carinhosas quando o iphone de Rachel dá sinal de mensagem. O telefone estava em cima da bancada da cozinha e a morena estava demasiado confortável a receber mimos de Quinn.

- Não vais ver? – perguntou a loira enquanto distribuía beijinhos suaves pela cara, nariz e lábios de Rachel.

- Não me apetece, não quero saber. – respondeu Rachel com os olhos fechados e a sorrir.

Passaram duas horas desde que ambas adormeceram naquela posição no sofá. Como era de esperar, Quinn estava com o sentido da hora de jantar e por isso acordou antes de Rachel. Levantou-se e acomodou o corpo de Rachel em algumas almofadas, deu um beijinho nos lábios da diva e ela resmungou. Já na cozinha a loira preparou tudo para começar a fazer o jantar. Não passou nem meia hora quando Quinn vê a luz do telemóvel de Rachel ligar em sinal de recebimento de uma mensagem. Como o sistema do iphone permite que metade da mensagem e o seu remetente apareçam no ecrã, sem querer, Quinn percebeu que aquele era um número que não constava na lista telefónica de Rachel, e a mensagem começava com: “Já tenho saudades de olhar para ti e ver no…”. A loira estranhou aquela mensagem, mas preferiu esperar que Rachel acordasse para ver a sua reação. Quinn confiava nela com todas as suas forças e não era uma mensagem que ia mudar isso. Passados alguns minutos, uma Rachel ensonada entrou na cozinha e deixou um beijo molhado nos lábios de Quinn. Depois esfregou os olhos e sentou-se à bancada da cozinha em frente à loira.

- Está quase o jantar. – disse Quinn em tom amoroso.

- Adormeci. – respondeu Rachel ensonada.

- O teu telefone vibrou. – Rachel pegou no aparelho e viu, sem ler, que tinha duas mensagens.

- Tenho duas mensagens. – e começou a explorar o sistema. Quinn discretamente olhou para ela que tinha um sorriso brilhante a nascer nos lábios. – Quando é que tu paras de fazer estas coisas? – disse Rachel contente.

- Fazer o quê? – perguntou Quinn curiosa.

- Estes detalhes românticos. – e levantou o telefone afirmando que se referia à mensagem.

- Rachel, eu não fiz nada. – disse Quinn relativamente séria.

- Como não?- e a morena assustou-se quando percebeu que Quinn realmente estava a falar a sério.- Eu recebi uma mensagem de um número que não conheço a dizer isto…- e mostrou o telefone a Quinn que leu rapidamente a mensagem.

“Já tenho saudades de olhar para ti e ver nos teus olhos o brilho de uma estrela.”

Quinn franziu o sobrolho e olhou para Rachel que estava seriamente preocupada.

- Eu não sei quem é. – Quinn percebeu que Rachel estava desconfortável e esboçou um suave sorriso com o intuito de a acalmar.

- Algum fã teu. Não me admira nada. – acrescentou a loira, agora com um sorriso amoroso.

- Não gosto disso.

- Da primeira vez não te queixaste. – gargalhou Quinn para acalmar o ambiente.

- Da primeira vez eras tu.

- Se calhar foi engano.- disse a loira na tentativa de relativizar o assunto. – Não tinhas duas? Se calhar a outra era a pedir desculpa.

- Não. A outra era a da tarde que eu não quis vir ver. E era a Mia a dizer que tinha de falar comigo porque tinha de faltar a uma aula no início do semestre. – Rachel ignorou a primeira mensagem e nem sequer respondeu à aluna. Estava verdadeiramente intrigada com o remetente daquela segunda mensagem. – Vou ligar. – disse decidida. Quinn olhou para ela surpreendida e acabou por sorrir ao ver a indignação de Rachel. A morena ligou para aquele número, mas após tocar três vezes, a chamada foi rejeitada. – Rejeitaram-me a chamada! – disse a diva ainda mais indignada que anteriormente.

- Vês? Se calhar foi engano e agora tem vergonha de atender. Eu também teria depois de uma mensagem dessas. – e a loira riu novamente. Rachel deixou o assunto de parte naquele momento, mas não se esqueceu completamente dele.

- Queres ajuda?

- Não coisa boa. Quero que aguentes um bocadinho mais que está quase pronto.

- Vou só à casa de banho fazer xixi. – disse Rachel marota. Quinn riu-se e recebeu o beijinho rápido que Rachel lhe deu antes de desaparecer da cozinha.