Amor, O Sentimento Dos Infortunados escrita por Anabbey


Capítulo 1
O amor não é para os fracos de coração


Notas iniciais do capítulo

Fanfic criada pela minha amiga Choi e por mim. Ela permitiu que eu postasse, então espero que vocês gostem!
Luís: Portugal
Antonio Fernandez Carriedo: Espanha
Arthur Kirkland: Inglaterra
Boa leitura, até as notas finais!



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O final daquela tarde chegava singelo, fazendo os céus passarem do anil ao alaranjado, rosado e avermelhado. Uma confusão de cores. A mesma confusão que transbordava a mente do português.

Uma mão fora erguida, esta segurando um pedaço envelhecido de pergaminho. Dois rapazes se olhavam, e as batidas de seus corações podiam ser contadas pela platéia imaginária que os cercavam.

E quarenta segundos se passaram exatos, dando a impressão de horas de trocas de olhares.

Cinquenta segundos à outra mão ser erguida, pegando o bilhete com a mesma timidez à qual a outra pendia. O rapaz da pele morena engole em seco, esperando que o outro de cabelos dourados lesse o tal bilhete.

Um, dois, três, quatro minutos se passaram e o rosto do inglês ganhara o tão desejado tom avermelhado. O poema surtira finalmente o efeito desejado? Era isso o que o moreno pensava.

“O que... O que isso significa?”

– A pergunta fora feita em menos tempo do que o português se preparara.

“Um poema para ti.”

Arthur respirava fundo, deixando o ar escapar com pressa pelas narinas. Os lábios abriram-se, e a resposta veio em um sussurro:

“Você me é uma pessoa de extrema importância. Um amigo pelo qual cultivo um carinho especial.”

Aquilo fora pior do que se uma lâmina atravessasse-lhe o peito, como ocorrera certas vezes. Quem diria que palavra tão singela e pura provocasse uma corrosão comparada à de um veneno? Mas o português possuía uma máscara eficiente, construída ao longo dos anos, fazendo com que sua expressão continuasse impassível.

“Amigo...”

– Um inglês desesperado levou a mão ao ombro do maior entre os jovens, com o coração a mil por hora.

“Luís. Está tudo bem?”

– A resposta fora muda, com apenas um afastar dos pés, e a recomeçada da caminhada, pela beira-mar que os rodeava. O rosto do lusitano virara-se encarando de relance os olhos esverdeados:

“Está... Está tudo bem.”

Luís acabara por ignorar os chamados do britânico, caminhando sem um certo rumo, o olhar vagando sozinho. O que era mais uma dor, para quem já viveu tantas?

Quando de minhas mágoas a comprida

Quando de minhas mágoas a comprida

‘Maginação os olhos me adormece,

Em sonhos aquela alma me aparece

Que pera mim foi sonho nesta vida.

Lá nu’a saudade, onde estendida

A vista pelo campo desfalece,

Corro pera ele; e ele então parece

Que mais de mim se alonga, compelida.

Brado: Não me fujais, sombra Kirkland!

Ele, os olhos em mim c'um brando pejo,

Como quem diz que já não pode ser,

Torna a fugir-me; e eu gritando: Inglês...

Antes que diga: mene, acordo, e vejo

Que nem um breve engano posso ter.


Ele recitava baixinho, sem perceber para onde caminhava, por quem passava ou com trivialidades do dia-a-dia. O ombro encontrara-se com outro e uma voz o chamara.

“Luís!”

– Os ombros envolvidos por um braço conhecido, e ao sair do transe, os olhos verde-água encontraram-se com o verde vívido do irmão:

“Luís! Não ignore o seu Hermano!”

Por motivos desconhecidos, ver o irmão à sua frente, oferecendo-lhe um sorriso, fazia com que seu peito latejasse o corte recém-feito. As lágrimas vieram mais depressa do que pôde perceber, e o rosto automaticamente fora virado na direção contrária:

“Hermano...? Por que está chorando?!“

– O espanhol da personalidade animada encontrava-se desesperado e os braços já envolviam o irmão mais novo em um abraço apertado. Como doía, ver alguém a quem entregara secretamente o coração, sofrer daquele modo. Fazia uma cicatriz profunda cortar-lhe o próprio órgão cardíaco. Fazia-o querer preservá-lo apenas para si, longe das decepções desse mundo cruel.

A resposta não viera, tampouco uma reação de repulsa. Havia algo de muito errado com o português.

“Irmão...”

– O lusitano sussurrara, com a voz mais fria que o normal.

“O que foi, Hermano?”

“Por que o amor dói tanto?”

– Finalmente o espanhol idealizara. Luís deveria ter declarado-se ao inglês, e seus sentimentos não foram retribuídos. O alívio que o acometeu fez-o sentir nojo de si. Ele apertou o irmão em seus braços, repensando um pouco nas palavras:

“Se não fosse doloroso, não chamar-se-ia amor. “

Era muito mais doloroso quando falava-se por experiência própria. O abraço fora rompido pelo português, e os olhos de ambos cruzaram-se.

“Irei viajar. Para longe.”

Carriedo mudara a expressão de seu rosto, de apreensiva para preocupada.

“Para onde irás?”

Luís recuara alguns passos, observando o mar tomado pela calmaria, as gaivotas salpicando o céu enegrecido pela hora tardia. O rosto remoia-se em uma dor profunda, profunda demais para ser simplesmente enterrada no coração abarrotado de segredos escondidos.

“O mar mitiga-me a mente.”

O mais novo dera as costas ao embasbacado espanhol, andando em direção à sua moradia.

O assunto estava encerrado, e Antonio sabia disso.


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O barco estava pronto para zarpar a qualquer instante. O motivo do atraso era a conversa em que Antonio prendia Luís, como tentativa de fazê-lo esquecer aquela loucura.

“Os mares são perigosos! Não é lugar de um pirralho como você!”

O rosto do mais jovem contorceu-se em ódio, fazendo com que aquele que proferira tais palavras se arrependesse.

“Sou adulto o suficiente para saber o que é melhor para mim! Não mandas no que faço há séculos!”

O espanhol pensou em ficar calado. Mas o orgulho falara mais alto.

“Um inútil como você deveria ter ficado sob minha proteção!”

Um estalido rompera o silêncio que se agravara, a mão pendia no ar e a face do espanhol avermelhara-se com o tempo em que começara a arder. O mais novo lançara-lhe um olhar chateado, enquanto voltava a dirigir-se ao navio, mandando içarem as velas.

Deu uma última olhara para trás, avistando o irmão a afagar o próprio rosto, com o olhar fixo em sua figura. À medida que a nau afastava-se do porto, este ia desaparecendo da vista do lusitano, assim como a imagem do espanhol.


Resolveria as coisas quando retornasse.


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As ondas batiam no casco da nau, levando a maresia para cima, fazendo com que os tripulantes inalassem aquele ar denso e salgado, tão diferente do que nas cidades havia. A nau portuguesa já passara por diversas aldeias, em muitos pontos do continente africano, muçulmano e agora dirigia-se às tão famosas Índias, utilizando a frota de Vasco da Gama. O português observava o céu cinzento daquela malfadada quinta-feira. O mar estava revolto e batia com violência na navegação lusitana.

Passara por diversas vilas.

Todas pelas quais passara, deixara um legado. Um dos segredos mais desesperados de seu coração esbanjado, despedaçado, destroçado.

As palavras de seu coração, que insistia em sentir um maldito sentimento humano.

Um rebuliço inesperado soou no navio, e um balançar perigoso do mesmo causou pânico nos marujos. A chuva despencara das nuvens negras, assim como os trovões passaram a rasgar os céus.

Ordens eram gritadas pelo estupefato capitão, sendo atendida por alguns, ignoradas por outros. Mas não Luís. Este permanecia imperturbável, com a mente vagando longínqua. Levou a pequena cruz, que usava no pescoço, aos lábios, fechando os olhos por segundos.

Segundos necessários para formar-se a onda de sua desgraça, de seu naufrágio, de seu sono eterno.

Luís reabrira os olhos, percebendo encontrar-se ao fundo do oceano. Ainda tinha chances de salvar-se, se começasse a regressar à superfície nesse exato momento. Mas algo pesava-lhe como chumbo no peito, que fazia-o afundar cada vez mais, até encostar-se no mais profundo rochedo, enfurnado nas águas escuras de alguma parte insignificante da imensidão azul.

Os olhos foram fechando-se e as últimas bolhas de oxigênio escapavam-lhe os lábios.

Ele descobriu então, nos poucos segundos de vida, que este era o preço de um coração abarrotado de segredos, tristezas e decepções. Um coração de alguém que não queria ser salvo.

E que agora encontrava-se inanimado, nas profundidades de um labirinto perdido.



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Alguns anos passaram-se desde a partida de Luís, e como própria conclusão, de seu desaparecimento, de sua morte. O espanhol encontrava-se sentado em um banco, o rosto enterrado nas mãos, as quais os cotovelos apoiavam-se nos joelhos flexionados. O pesar reinava no coração de Antonio, assim como a culpa e tristeza. As últimas palavras que declamara ao irmão foram cruéis, venenosas.

Uma movimentação repentina fora percebida ao seu lado, e ao espiar pelo canto do olho, vira o desnorteado e abatido inglês. O coração queimou com um sentimento ruim, o ódio tomando cada fibra do seu ser.

Os punhos cerrados, os músculos tensos. Aquele era o homem que havia desprezado os sentimentos daquele que tanto clamava. A tensão impregnou o local, acompanhada de um silêncio mortal.

Um cantarolar suave rompeu aquele silêncio terreno, e uma garota de cabelos claros atravessou aquela parte da beira-mar, sorrindo para as águas cristalinas que quebravam-se em ondas tranquilas.


“Amor, que o gesto humano na alma escreve
 Amor, que o gesto humano na alma escreve,
Vivas faíscas me mostrou um dia,
Donde um puro cristal se derretia
Por entre vivas rosas e alva neve.
A vista, que em si mesma não se atreve,
Por se certificar do que ali via,
Foi convertida em fonte, que fazia
A dor ao sofrimento doce e leve.
Jura Amor que brandura de vontade
Causa o primeiro efeito; o pensamento
Endoudece, se cuida que é verdade.
Olhai como Amor gera, num momento
De lágrimas de honesta piedade,
Lágrimas de imortal contentamento.”

Arthur e Antonio reconheciam quem poderia ser o autor daquela tão límpida poesia. E ao lembrarem-se de seu rosto moreno, seus olhos de um brilho de menino, e seu sorriso tão raro não se reprimiram em abaixar as cabeças e chorarem baixinho.


"Que me quereis, perpétuas saudades?"




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Notas finais do capítulo

Uma história do nosso lusitano favorito, cheia de drama e recheada de Camões, digna ao nosso amado poeta taciturno! Ou não, huhu.~~
Espero reviews com críticas, sugestões, elogios, enfim, qualquer coisa que me ajude a melhorar e a me deixar sorridente! Beijos, até a próxima fanfic!~