Thor não conseguia se perdoar. Havia perdido o juízo, sabia.

Tinha vergonha de si próprio e vergonha de sequer tentar o contato. Na manhã da segunda-feira que se seguiu, soube por Volstagg que Frandal iria viajar para encontrar com Loki.

Seu coração parou naquele instante. O que ele queria? Que Loki entendesse tudo que ele sentia? Que o esperasse? Além de covarde, egoísta.

Tentou ligar, mas sempre caía na mesma mensagem de caixa postal:

“Olá, aqui é o Loki! Não posso falar ou não quero mesmo...retorno assim que possível e se necessário! Tchau!”

Mandou emails, cartas e até pensou em ir até Londres, mas desistiu. Quanto mais o tempo passava mais ele tinha certeza que merecia passar por aquilo.

E de fato o tempo passou mesmo. Três anos, sim...três anos desde aqueles sete dias do qual ele não conseguia se esquecer nem muito menos superar.

Numa manhã comum de domingo, enquanto assistia o canal de esportes deitado no sofá, Thor recebeu a ligação da atual esposa de seu pai e mãe de Loki:

- Eu estou bem. E a senhora?

- Tudo ótimo! Thor, estou ligando para convidá-lo para a nossa festa de casamento de 25 anos.

- 25? Uau...vou sim, quando?

- Bom, será no próximo domingo, mas com a família é grande e a ocasião especial, nós alugamos uma casa próximo à praia durante todo o final de semana. É na Califórnia, sei que fica de fácil acesso...acabei de te mandar tudo certinho por email.

- Califórnia...tudo bem.

- Parece que foi ontem. E dois anos depois o nosso bebê veio para as nossas vidas. Loki virá com o namorado, aliás! Bom moço ele, apesar que eu acho o nosso bebê bem mais superior que ele. Enfim... vocês já são adultos, tenho que me acostumar em algum momento.

- Loki irá? É certeza?

- Sim. Ele não queria, mas agora não tem desculpas! Terminou a faculdade e agora vive viajando com o namorado. Disse que não curtia festas em família mas eu o obriguei e seu pai fez quase brigou com ele. Não, imagina...ele tem que vir.

- Eu espero que ele vá também. – disse Thor.

Quando ele desligou se sentiu feliz e angustiado. Loki e ele finalmente se reencontrariam. Três anos depois sem se falarem. Thor havia de certa forma se acostumado com a ideia de ter perdido Loki. E sentia ter superado. Até o momento que percebeu que teria que vê-lo com Frandal sem poder dizer nada.

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Quando Thor chegou na sexta-feira à tarde na Califórnia avistou Odin tirando as compras do carro. Estacionou o seu o próximo  e saiu dizendo:

- Oi, pai! Quer ajuda?

- Oi meu filho...quero sim. Leve esses refrigerantes. Como você está?

- Bem...e o senhor?

- Feliz. 25 anos...não é para qualquer um.

- Verdade. E os preparativos?

- Bom, tudo indo certo. Até sua mãe virá para ajudar, acredita? Fiquei imensamente feliz quando ela me ligou hoje dizendo que chegará amanhã à noite.

- Bacana...quem chegou?

- Até onde eu sei você é o primeiro! Pronto...era só isso. Leve essas garrafas, já me ajudará e muito.

Thor entrou e cumprimentou sua madrasta que estava no telefone com uma amiga e fez o sinal de que ele podia entrar e ficar à vontade. Ele então deixou as sacolas e lavando a mão, resolveu explorar a bela e imensa casa.

Seus corredores eram largos e claros. Fazia um lindo dia e Thor resolveu procurar onde ficavam os quartos para se trocar e ir para a praia.

Explorando o corredor de cima, viu uma porta antiga e de vidro que possuía uma luz fraca ligada. Se aproximando, acabou levando um imenso susto ao ver Loki sentando de costas para ele, comendo uma maçã e lendo um livro.

Se certificando que era realmente ele e não um fantasma ou apenas o seu desejo se materializando, Thor parou e o observou atentamente.

Loki parecia sorrir em certos momentos enquanto lia o livro. O achou ainda mais belo do que a última vez, mas tal opinião poderia ser facilmente atribuída à saudade já que para Thor era impossível que o perfeito pudesse ser ainda melhor.

Neste momento, Loki se virou e o viu se assustando por ser observado por nada menos que Thor.

É engraçado quando somos pegos de surpresa. É possível conhecer nossas verdadeiras e genuínas vontades. Na surpresa não há como nos armarmos com defesas, palavras rudes ensaiadas, feições anteriormente pensadas.

- Ah...oi! – disse Thor ficando completamente sem jeito ao entrar na sala e perceber que se tratava de uma pequena biblioteca.

- ...oi! – respondeu Loki fechando o livro e se levantando.

- Eu acabei de chegar.

- Sim, eu também.

- Legal...tudo bem com você?

- Sim e você?

- Tudo.

Os dois desviaram os olhares até que Loki pensou mais rápido e improvisou.

- Você ficou bem de cabelo curto.

- Oi?Ah!Obrigado...já faz um tempo. Tava na hora...- disse o loiro coçando a cabeça enquanto Loki o encarava.

- Como estão todos? Jane, Darcy, Hogun...Volstagg?

- Falo com todos, estão bem. Estou agora trabalhando com o tio da Jane.

- Entendo.

- E você? Tudo bem?

- Sim, sim.

- Legal.

- Ficará até domingo?

- Sim. Nosso pai sabe ser bem persuasivo.

- Se sabe. Ficaremos também... – disse Loki desviando o olhar quando percebeu que Thor que o encarava agora.

- Faz muito tempo...faz muito tempo que não tínhamos contato. Fico feliz em vê-lo.

- Faz mesmo. Se der licença, eu vou ler no meu quarto.

- Oh, claro. Até mais.

- Até.

Loki passou rapidamente e saiu da pequena sala, seguindo o corredor adentro.

Thor tentava respirar normalmente, mas era difícil.

Duas coisas eram certas. Primeira: o tempo faz você fazer coisas que você acha que não conseguiria. O jeito como os dois se trataram, como completos estranhos. Aquilo fez Thor se surpreender com seu autocontrole.

Segunda: nenhum período que ficasse sem ver Loki, o faria deixar de amá-lo. Ele percebeu que todo esse tempo afastado só serviu para fazê-lo sofrer e lembrar da decisão errada que havia tomado.

Neste exato momento decidiu que tentaria naqueles três dias, naquela segunda oportunidade, consertar o dano que havia causado.