A vadiazinha tinha ido procurar a enfermaria para fazer um curativo em sua boca, sendo assim fui chamada pela supervisora para saber o que tinha ocorrido para que a garota aparecesse com o rosto deformado.

Ela havia chamado nós duas para sermos interrogadas separadamente. Enquanto esperávamos num banco fora do escritório da supervisora, dei um aviso à vadia.

– Diga uma palavra que me comprometa e será o seu fim.

– não direi nada, prometo.

Aproximei-me mais dela e com a mãe direita toquei seu rosto.

– Não precisava ser assim, mas ninguém mandou me desafiar. – virou o rosto, logo gemeu de dor. – já vai passar. Coringuinha. – sorri debochadamente.

– Srta. Morgan, por favor, me acompanhe. – pediu a supervisora.

– já sabe – sussurrei -, uma palavra e será a ultima que sairá desse bocão.

Depois de um tempo de espera as duas saíram da sala e a supervisora avisou-me que ela não seria mais minha colega de quarto, pois ela havia dito que era suicida. – minha vontade era de rir, lógico. A garota disse que queria se matar para não ser morta. É, no mínimo, engraçado.

– Até mais, colega! – acenei, ela nada.

Como sabem, os dias nesse lugar é rotina, rotina e mais rotina. Se eu não arranjasse algo para me distrair, bom... isso aqui certamente viraria um massacre. Enjoo das coisas muito fácil e acho que, além da traição, esse foi um dos motivos de eu ter acabado com Isa. Sou o tipo de pessoa – que mata – inconstante, detesto rotina e monotonia. Enjoo fácil de tudo. Não possuo empatia: não entendo o que é estar no lugar do outro, pois acho que isso é impossível. “Eu sou eu e ele é ele”. Não existe um meio termo. Sou excessivamente calculista e tenho – admito – dificuldade em pensar emocionalmente, ajo racionalmente.

Procurei nesses dias ir a biblioteca ler, mas eu nunca havia lido um livro antes, por tanto, não tenho um gênero especifico do qual eu goste. Tentei romance, mas são melosos demais. Bibliografias, tedioso. Fictícios, sem comentários. Drama parecia comédia.

Então, me sobrou historias em quadrinhos; simpatizei.

Gosto de ouvir minha voz quando estou a ler, faço isso quando estou tirando vidas. Narro cada passo em voz alta.

– você está numa biblioteca, sua imbecil. Silêncio! – falou a vaca gorda que administra o lugar.

– foda-se.

Odeio Regras.

Para mim "regras foram feitas para serem quebradas"

– Olha aqui sua...

Foi interrompida – sorte a dela – por uma das guardas.

– Há uma visita para você, Amanda.

Visita? – pensei. - Quem, em sã consciência, iria me visitar? Se for aquela advogada de quinta eu juro que a mato na frente de todos, cagando e andando se ficarei mais tempo aqui. Ela podia muito bem ter recorrido e ter me feito responder em liberdade. – injustiça isso – pensei irônica. Na verdade, foi só um desejo. Desejo de vê-la morrer.

– Vamos! Não tenho o dia todo. – avisou-me.

Respirei fundo e...

– Estou indo.

Seguimos por um corredor enorme, descemos três lances de escadas onde tive que esperar a “madame” recuperar o folego umas seis vezes. Quando chegamos ao vidro que separávamos, nós detentos, das visitas eu o vi. Havia só ele na sala.

Ruivo e com um sorriso de canto a me ver.

– Sua bur... – foi quase. -, desculpe, mas acho que sou a pessoa errada para essa visita. Eu não o conheço e o seu irmão é o menino Dylan...

– Entre! Ele veio ver você! – disse com raiva e desprezo, logo me revistou.

– Ok, ok. – disse levantando as mãos debochando e logo dei um tchauzinho para ela. – Até daqui a pouco, querida.

– sua... – entrei quase que correndo para dentro da sala de visita antes que ela me alcançasse com o cassetete. Não que eu tenha medo dela – ela tem medo de mim-, mas eu tinha de rir da situação, pois vi claramente que ela tem uma queda por ele.

Depois de rir – mentalmente – da situação, fechei completamente a cara e fiquei encarando-o.

– pensei que não fosse me receber... – disse ainda com um sorriso de covas.

Não respondi, pois foi um comentário idiota sendo que eu não tinha escolha de recebê-lo ou não.

–... não vai se sentar? É grátis. – virou comediante o palhaço, agora.

– Se eu quisesse sentar, uma que eu não pediria sua autorização e, outra, se eu quisesse já teria sentado. Afinal, o que você quer comigo? Que eu saiba você tem um irmão aqui e eu não sou ele, como pode ver.

Den

Quando a vi chegar, nossa, meu coração – pensei que eu nem tivesse mais isso -, disparou. Tão linda e assustadora. Ela tinha um sorriso escondido no canto da boca ao provocar a policial que tive de seduzi-la tinha pouco tempo para que ela não dissesse ao Dylan que eu estive aqui e pior, a procura de Amanda.

Logo se virou e fechou seu esplendor. Olhava-me sisuda.

Meu primeiro comentário ficou dispersando no ar sem resposta, a segunda houve, mas a pior esperada. – Mas que assassino seria eu se desistisse por um coicezinho de uma garota?

– Soube que você matou 32 pessoas...

– Não foi o único. – não dava mole.

–... eu também mato. – ela nem piscou com a informação.

– Eu não sou psiquiatra, meu querido. Que você mata pude perceber pela sua expressão corporal e com o modo que trata seu irmão.

Como eu trato meu irmão? – perguntei para mim mesmo.

– De que modo trato meu irmão que a fez deduzir que mato?

– Enquanto ele demonstra todo o afeto que cabe em seu coração sua face não muda em, completamente, nada. Liso. Igual a mim e a qualquer outro assassino.

– Você é muito inteligente, sabe ler as pessoas. Formaríamos uma ótima...

– não.

– Como assim “não”?

– Eu ajo sozinha, seu ego só iria me atrapalhar.

– ego?

– tão grande quanto seu topete.

Sabe provocar.

– Penso que gostou dele. – eu também sei.

Revirou os olhos. – Droga! Não consigo chegar ao ponto.

– O que você quer afinal, hein? Eu posso não ter muita coisa pra fazer aqui, mas te garanto que mata-lo agora iria compensar todo o dia entediante que tenho pela frente. Diga logo o que você quer!

– você.