Seria de se esperar que, entre Zoro e Sanji, Sanji, sendo a borboleta festiva que ele é, amasse algo como o Natal. É animado, colorido, amoroso, tem muita comida... Mas, esse não era o caso. E não é como se Zoro amasse Natal ou algo do tipo, mas não tinha nada contra...nem a favor, basicamente como se sentia a respeito de todas essas datas consideradas “especiais”. E depois do escândalo que seu namorado fez no Halloween quando Zoro não se fantasiou e de ser chutado no queixo por falar que não achava nada demais do dia dos namorados, Zoro estranhou quando não recebeu nenhuma crítica por bocejar diante da ideia de comemorações natalinas. Sanji decorou o navio de forma mecânica, não ficou feio, mas dava pra sentir que ali não havia o mínimo de empolgação, passou o Natal trancafiado na cozinha e mal trocou duas palavras com todo mundo. Agora, no segundo Natal que o bando passava junto, não era diferente.
Ele continuava a realizar seus afazeres normalmente, mas Zoro percebia que havia algo estranho. Sanji passou o dia inteiro o enxotando a qualquer mínima aproximação da cozinha com a desculpa de que ‘não era da sua conta, sua planta enxerida’ e a noite inteira para lá e para cá, servindo comida, retirando biscoitos do forno, terminando a sobremesa, enchendo as taças e as canecas de todos. Nunca passando mais tempo do que o necessário fora da cozinha, e nunca oferecendo a todos mais do que sorrisos dolorosamente forçados.
Zoro sabia que, o que quer que fosse, deveria ter algo com a infância dele, assim como tudo que fragilizava aquele homem sempre tão forte. E seu palpite estava correto. O fato era que, enquanto os outros feriados foram apresentados a ele ao longo de sua vida, o Natal sempre foi uma presença constante. Uma dolorosa presença.
Todo ano era a mesma coisa. Sanji tentava fazer biscoitos com todo empenho e amor, e era menosprezado a cada tentativa. Tentava agradar seu pai de todas as formas, mas Judge dizia a ele que a única coisa que queria ganhar de Natal era Sanji conseguir não perder para seus irmãos. “Onde está meu presente? Você sempre estraga meu Natal, Sanji.” ele dizia, enquanto os outros três esmurravam Sanji no chão e ele chorava lágrimas amargas de culpa e dor. O único gosto de todos os seus Natais era o sabor ferroso e metálico do sangue em sua boca. Tudo apenas piorou quando ele começou a passar o Natal na masmorra gelada e solitária. Embora abrissem sua máscara de ferro para que pudesse comer, o gosto do metal frio jamais deixava o fundo de sua boca.
Ele achava que tinha que fingir. Que se não colocasse um sorriso no rosto e se matasse de cozinhar para o bando todos perceberiam sua tristeza e ele estragaria tudo para todos. Que se passasse muito tempo com algum deles iria contaminá-los com seu desânimo. Porque, por mais que demonstrassem a ele de novo e de novo o quanto ele era amado e aceito, no fundo aquela criança usando a máscara de ferro ainda existia enterrada em seu peito, e ela achava que não era merecedora de nada.
A festa já havia acabado, todo mundo estava indo dormir. As pálpebras de Zoro estavam quase o traindo. Seus olhos, perigosamente se fechando, enquanto ele via um borrão de cabelos dourados passando. Acorda, porra. Ele pensou, com grande esforço. Ele geralmente bebia até desmaiar em qualquer oportunidade que tinha. E sinceramente, antes ele sequer ligava pra o que vinha depois da festa. Mas, agora estava duelando consigo mesmo para conseguir acordar. Se forçando, com a cabeça girando e os músculos cansados de uma luta mais cedo, a abrir os olhos e se levantar do chão.
“Você está bêbado.” Sanji disse, claramente nem um pouco impressionado, assim que Zoro chegou do seu lado na cozinha, onde ele lavava todos os pratos e panelas utilizados na ceia.
“Fes-ta.” Zoro respondeu devagar, como se estivesse explicando algo a uma criança de cinco anos. “Você também devia ‘tá.”
“Vá dormir, idiota.”