Não, eu não estava bem. Sentia um aperto no peito por ter feito aquilo com Frank. Agora estávamos os dois dentro de seu carro que eu sequer lembro o nome. Frank ficou surpreso por eu ter travado, justo no momento em que as coisas pareciam estar próximas de se acertarem. Mas eu não podia continuar. Algo não me permitia isso. E a visão de Charlie, em meus pensamentos, só fazia com que eu me sentisse ainda pior. Como ele poderia estar em minha mente, mesmo eu estando com o cara que eu amo? Mesmo depois de ter dito a ele que eu o amo? Como isso poderia estar acontecendo?

Estávamos sentados um ao lado do outros, Frank não havia dito mais nada. Ele apenas ligou para Alfred e pediu para que me levasse até minha casa. Minha vontade de chorar estava acabando comigo. Eu mal conseguia olhar para o cara que estava bem ao meu lado. E algo me dizia que as coisas não iriam melhorar quando eu chegasse em casa. Peter provavelmente estava querendo minha cabeça, Claire estava zangada comigo e Charlie... Bom, ele simplesmente estaria lá, e era isso o que me preocupava.

Havia algo diferente. Por que de repente esse medo todo de vê-lo? Só de saber que logo estarei sob o mesmo teto que ele, já sinto um aperto no peito e uma sensação diferente percorrer meu corpo. Quando certas lágrimas teimavam em se acumular, sempre dava um jeito de encondê-las.

- Acho que chegamos. - Frank disse assim que o carro parou.

Eu sentia como se, caso abrisse a boca para falar algo, aquele choro que tanto custei à esconder, sairia. Apenas assenti e lhe dei o melhor sorriso que consegui.

Alfred abriu a porta para mim e, quando eu ia sair, Frank em puxou para um último beijo. O beijei, mas meu peito parecia querer explodir. Num beijo calmo, nos despedimos. Infelizmente, assim que saí de seu carro, senti as lágrimas tomando conta de meu rosto.

Mas, afinal, por que estava chorando? Simplesmente porque não consegui ir adiante com Frank? Acho que não. Eu sabia que não era isso. Estava chorando porque, o simples fato de pensar em Charlie, fez com que eu travasse completamente. E ele nem estava por perto. Eu tinha medo de que isso, significasse algo a mais. Algo que eu não conseguia nem imaginar. Algo que eu não queria imaginar. E, infelizmente, eu teria sim que aceitar a hipótese de que isso seria o que eu estava pensado.

Apertei a maçaneta com força, não sabia se estava pronta para encarar Peter, Claire e... Charlie. Meus olhos estavam inundados pelas lágrimas. Sentia que iria desmoronar, como se não conseguisse mais fixa meus pés no chão. Eu precisava de alguém. Alguém como Claire, que me escutasse e ainda me desse conselhos. Alguém como Peter, que, mesmo me xingando e brigando comigo, eu sabia que me amava acima de tudo. E alguém com Charlie, que eu sabia que poderia fazer com que eu me sentisse melhor sem muito esforço.

Mesmo hesitante, abri a porta. Assim que o fiz, dei de cara com Peter e Claire abraçados no sofá. Quando meu irmão me viu, vi que sua expressão se fechou imediatamente. Estava tarde, e eu não havia avisado a ele que ia sair. Não tinha sequer falado com ele nesta tarde. Sabia o quanto ele estava zangado comigo. Isso só fez com que eu me sentisse pior.

Entrei e fechei a porta atrás de mim. Claire não disse nada, apenas ficou me encarando.

- Desculpa. - foi apenas o que consegui dizer. Depois disso, o choro tomou conta de minha garganta.

Peter correu até mim e ficou parado em minha frente.

- Nina, você tem alguma noção de como eu estou com vontade de ligar para os nossos pais e contar o que você fez? Tem noção de como fiquei zangado e preocupado com você? Não sabe como me senti assim que cheguei em casa e não te encontrei aqui! Não sabe todos os pensamentos sujos que se passaram por minha cabeça! Você é uma irresponsável, Nina, uma irresponsável! Você tinha um compromisso mas mesmo assim achou que sair com seu namorado seria mais importante. Estou decepcionado, mesmo. - Peter disse ainda olhando para mim.

Não consegui dizer nada, já estava aos soluços. Não liguei para maquiagem, ou por ficar com a cara vermelha, só queria um abraço, uma palavra amiga. Estava precisando de Claire mais do que nunca. Continuei chorando. Foi então que Peter percebeu que mais alguma coisa havia acontecido. 

- Eu poderia até sair daqui e te deixar sozinha, aqui, chorando. Mas não vou porque não me perdoaria caso fizesse isso. Nina, Frank fez alguma coisa com você? - ele me perguntou friamente.

Tive que respirar fundo diversar vezes para que pudesse formular uma resposta. Se eu contasse a verdade, teria que contar toda a verdade. Desde Lucas, até Charlie. Não sabia se devia contar isso, afinal Peter e Charlie eram muito amigos. Minha cabeça estava confusa. Aliás, não era exatamente a cabeça. Mas um outro músculo importante.

Olhei para Claire, que assistia a cena sem falar uma palavra sequer.

- Claire... Será... Será que eu e Peter... poderíamos conversar... sozinhos? - digo em meio a soluços.

Ela olhou para meu irmão sugestiva, pareceu ficar em dúvida sobre o que fazer. Mas no final, se levantou e foi até nosso quarto. E eu realmente não sabia como seria na hora de dormir, estava com medo disso.

Peter segurou de leve meu braço e me guiou até o sofá. Mordi o lábio inferior com força, não sabia se estava pronta para contar a ele. Respirei fundo e comecei:

- Peter, não sei ao certo por onde começar, mas prometo que vou te contar tudo. Não fui assistir a peça de Claire porque Frank me levou para um SPA hoje de tarde. Eu queria ir, juro que queria, mas acabei perdendo o horário, e não sabe como estou me sentindo horrível por isso. Depois disso, fomos para a tal premiere, e foi um saco. Quando saímos, Frank disse que queria me levar para um lugar. Eu estranhei na hora, cheguei até a ficar com medo. Mas era apenas sua antiga casa. Assim que nós entramos, ele...

- Ele te forçou? Te machucou? Nina, como pode aceitar ir? Vou matá-lo, e em seguida vou matar você por ser tão burra! - Peter em interrompeu.

- Peter, calma. Nós não fizemos nada. E esse é o problema - digo sentindo as lágrimas voltarem.

Peter arqueou a sobrancelha e pareceu confuso. Ele não falou nada, não perguntou coisa alguma, então achei melhor continuar:

- Lembra-se de Lucas, certo? Da época em que namoramos? Bem, um dia antes de Claire e eu virmos para Nova Iorque, nós dois... nós dois... nós... ele... - não consegui terminar. Travei assim que voltai a me lembrar do que havia se passado naquela noite. 

Peter pareceu entender o que havia acontecido, pois, assim que terminei de falar, ele franziu o cenho e cerrou o punho. Notei que ele parecia estar com mais raiva, com muita raiva. Era esse meu medo. Tinha medo do que ele poderia fazer. Peter era explosivo, quase sempre agia por impulso, e, na maioria das vezes, se arrependia. Segurei seu braço, mas ele se levantou tão subtamente que me assustou.

- O que ele fez, Nina? Me diz o que Lucas fez! - ele disse exaltado.

Meus olhos se enxeram de lágrimas novamente. Não consegui dizer com palavras o que havia acontecido. Apenas abaixei a cabeça e esperei que ele se desse conta do que havia acontecido. 

- Toda vez que eu sentia que as coisas estavam começando a esquentar entre mim e Frank, eu travava por medo de acontecer a mesma coisa que aconteceu com Lucas. Eu nunca contei nada para ninguém por... medo, sei lá. Mas ontem contei para Frank, logo depois que ele contou sobre sua família. Me senti mais a vontade para contar a verdade para ele, mas, quando nós estávamos quase... Bom, você sabe, eu simplesmente travei. Na verdade, não travei simplesmente, teve um motivo. Mas esse motivo, parece ser tão... surreal, que custo a acreditar.

Peter pareceu ter se acalmado um pouco, mas ainda estava alterado. Passava as mãos no cabelo constantemente, andava de um lado para o outro, não conseguia caber dentro de si.

- E, por que você travou? - ele perguntou.

- Porque... Porque eu imaginei que Charlie estava comigo, e não ele. - digo sentindo meu rosto corar.

Encarei Peter por um minuto e vi que seus olhos se arregalaram. Ele parecia estar mais surpreso do que quando fizemos uma festa surpresa para o mesmo. Ele parecia não ter acreditado em minhas palavras, estava completamente abismado.

- Nina, você o que? Charlie? Mas o que você realmente sente por ele? - Peter me perguntou.

E aquela era a pergunta que mais se repetia em minha mente. O que eu realmente sentia por Charlie? Qual era a verdade? Eu não sabia ao certo. Não sabia o que eu sentia. Na verdade, eu acho que estava começando a entender o que se passava. Mas entender não bastava, pelo menos eu pensava isso. Sentia que precisava conversar com Charlie. Mas eu não sabia exatamente o que dizer. "Então Charlie, eu só queria conversar contigo e dizer que estou começando a ter sentimentos mais fortes por você e eu não sei ao certo o que fazer sobre isso". 

- Eu... não... sei. - digo com o resto de voz que ainda me restava.

Peter se sentou ao meu lado e segurou minha mão.

- E você sabe o que ele sente por você? - me perguntou.

Levantei a cabeça subtamente. O que ele queria dizer com isso? Senti meu coração bater mais forte, minha respiração se alterou. Naquele momento, tive uma pequena ideia do que poderia estar se passando comigo. E também, poderia estar se passando com Charlie. 

Fiquei em silêncio, sem dizer uma palavra sequer. Apenas encarei Peter, esperando que ele me desse uma resposta. Mas, assim como eu, ele preferiu não me dizer nada.

- Peter? - uma voz que veio de trás de nós disse, era Charlie - Será que Nina e eu poderíamos conversar?

Peter me olhou e depois olhou para o amigo. Senti meu rosto esquentar, sabia que estava mais vermelha do que um tomate. Encarei o chão, achei melhor não olhar para Charlie naquele momento. 

- Claro, já estava indo dormir. Boa noite - meu irmão beijou minha testa e saiu.

Respirei fundo e observei Charlie se aproximar. Eu precisava esclarecer certas coisas, e estava sentindo que aquele era o momento.