Jogos Vorazes- A Dor escrita por RicardoFalcao


Capítulo 15
Assim como eu


Notas iniciais do capítulo

Katniss e Peeta chegam do enterro de Gale, e tentam conversar sobre o assunto e mais coisas.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/237497/chapter/15

Confusa? Sim, demais. Indecisa? Também. Ninguém está com maior dúvida do que a minha nesse exato momento. Snow me propôs, deveria aceitar? Prim aqui comigo, segura, afinal, depois de todos esses anos esse sempre foi meu objetivo, não foi? Não sei. Não deveria estar passando por tudo isso agora, era pra eu estar naquele caixão no lugar de Gale, morta, mas em paz. Longe de toda essa confusão, de todas as preocupações. Não quero mais viver. Estou pronta para morrer.

Olho novamente para a corda de Prim, estava ali no chão, jogada sem importância, assim como estou agora. Me levantei da minha cama e fui em direção a ela, mas olho para trás, e vejo Peeta. As minhas forças se vão, não consigo. Com ele aqui eu não consigo. O que eu sinto por ele me faz querer viver, me suporta. Deveria lutar? Sim. Madge merece isso. Gale merece isso. Prim merece isso.

–Sua mãe chegou. Disse Peeta logo que adentrou meu quarto.

Desci as escadas e olhei para minha mãe, seus olhos estavam vermelhos e sua aparência completamente frustrada. Estava derrotada. Gale não era apenas importante para mim, como já disse, era amigo de todo o distrito 12, não tinha quem não simpatizasse com ele. Era o amigo perfeito.

–Você está bem? Perguntei.

–Sim, estou. Vou para o meu quarto. - olhou para Peeta e falou sussurrando para ele- Faça alguma coisa para ela comer por favor. Durma aqui hoje.

Peeta só assentiu com a cabeça. Minha mãe subiu devagarosamente as escadas, ainda chorando um pouco. Todos ainda estavam completamente abalados com a morte de Gale, imagino como deve estar a família dele nesse exato momento, Hazelle, deve estar péssima. Deveria ser seu filho preferido, não sei. Pais têm favoritismos? Não sei, acho que nunca vou saber. Nunca serei mãe, não vivendo aqui no 12. Olho para Peeta e sinto uma esperança.

– Está com fome? Ele me pergunta.

– Não.

Estava sim. Comemos aquele pedaço de bolo há horas, e assim a fome começava a surgir novamente. Paro por um segundo e começo a imaginar a quantidade de pessoas do 12 que não queriam estar nesse momento vendo alguém perguntando ''está com fome?'', não. Muitas não tem esse privilégio de serem questionadas sobre seu estado de fome, muitas apenas vivem.

– Está sim. Posso ver isso.

– Tudo bem. Estou com um pouco de fome.

–Vou fazer uma massa para comermos. Você acha que sua mãe vai querer também?

–Não sei.

– Pode perguntar a ela? Ele pergunta sorrindo.

Não digo nada, apenas subo as escadas e vou em direção ao quarto dela. Abro a porta e vejo minha mãe se contorcendo, babando, estava tendo uma convulsão.

Grito por Peeta. Ele chega em segundos. Aqui estou eu chorando como uma louca novamente.

– Você precisa fazer alguma coisa!

– Eu... - ele estava relutante- não sei fazer nada, não sou médico, sou apenas um padeiro.

Penso então na única pessoa que poderia ajudar minha mãe nesse momento e só me vem... minha mãe. A única médica do distrito 12. Não conheço mais ninguém.

– O que vamos fazer Peeta? Grito para ele. Ele está nervoso, não sabe o que fazer, põe as mãos na cabeça. Olho para a minha mãe e ela está tremendo como nunca, babando muito, seus olhos revirando.

Peeta sai correndo. Para onde ele foi? Me abandonou aqui? Não, ele não faz isso.

– Aqui.

Ele volta com um livro. Identifico logo, é o livro da minha mãe, o que ele usa para curar pessoas. Peeta folheia as páginas desesperadamente, seus olhos estavam a procura de uma solução. Ele para de folhear.

– Convulsão. Ela tem esse remédio?

Peeta aponta no livro o nome do remédio e saio daquele quarto correndo atrás dele. Olho na primeira estante da cozinha, nada. Na segunda, nada. Vejo ao longe logo em cima do fogão outra estante, e lá está ele, exatamente como na figura do livro. Me esforço para pegá-lo pois está muito alto, e finalmente consigo. Saio novamente em direção as escadas e entro no quarto. Peeta está segurando a língua de minha mãe.

– Ouvi meu pai dizer que se uma pessoa está em convulsão, se deve segurar a língua para que ela não morra sufocada.

Ele tem razão, me lembro dela me dizendo isso também quando era pequena. Tratava muito bem os doentes.

Coloco o comprimido em sua boca e dou um pouco d'água. Ela pára imediatamente. Morreu?

– Ela...

Seus olhos pararam. Estavam fixos. Peeta me olhava com insegurança. Estou com medo.

– Katniss...

Olho novamente para ele, coloco a mão em seu peito, e... está batendo. Seu coração está batendo. Ela começa a respirar euforicamente. Seus olhos se movem agora com rapidez. Um olhar de generosidade.

– Filha.

Ela me puxa de encontro a ele, e me dá um abraço.

– Obrigada.

– Você deveria agradecer a Peeta, ele lhe salvou.

Ela olha com gratidão a Peeta.

– Você é mesmo um menino de ouro, inteligente. Tudo o que minha Katniss precisa agora.

Olho surpresa, ela estava me aproximando de Peeta?

– Bom. -ele está com vergonha- obrigado.

– Por favor não faça mais isso. Digo a ela.

– Está tudo bem agora. É que Gale... bom... esse remédio que Peeta me deu agora me fará dormir pela noite inteira. Vão para a cozinha, estou bem.

–Está mesmo?

– Sim, estou. Podem ir. Muito obrigada mais uma vez Peeta.

Saímos dali aliviados. Olho para Peeta diferente.

– Você... salvou minha mãe.

Ele sorri.

– Era o certo a se fazer.

– Muito obrigada.

O abraço. Ele retribui. Fico ali sentindo seu corpo junto ao meu. Quente, confortável.

– Hoje é o desfile dos tributos. Você quer ver?

Me sinto indecisa novamente. Deveria assistir minha irmã lá, no meio de toda aquela gente? Passando o que passei no ano anterior?

– Sim, ligue a televisão.

Peeta o faz. Me sento no sofá da sala, e fico atenta. Já vai começar. Ouço a música da capital, e aí aparece, o símbolo de Panem, e lá está Caesar Flickerman, sua roupa impecável, sorrindo como sempre.

''Vamos agora ao tão esperado desfile dos tributos da septuagésima quinta edição dos jogos vorazes. Primeiro, como de costume, o distrito 1.''

Assim se passam todos, os carreiristas dos primeiros distritos, todos fortes, decididos, com garra e vontade de matar. São todos iguais.

''Aqui estão os tributos do distrito 11.''

Passa o casal de inocentes, os dois devem ter a mesma idade de Prim. Parecem tão frágeis e indefesos. Não posso deixar de pensar que serão os primeiros a morrer, pode parecer rude, mas bem... é a realidade. E nos jogos vorazes isso é o que não falta.

''E por último mas não menos importante, do distrito 12, Primrose Everdeen e Leon Treasus.''

Olhei atenta a televisão, meus olhos se encheram de lágrimas. Prim.

'' Uma observação importante a se fazer sobre os tributos do 12, é que a tributo feminina é irmã da vencedora dos jogos do ano passado, Katniss Everdeen.''

Todos já sabiam disso com certeza, eu havia marcado a história dos jogos vorazes ao fazer ter pela primeira vez dois vencedores, eu e Peeta.

Eu apenas chorava, Prim estava ali, com seus olhos abatidos, parecia ter chorado. Não fez o que fiz no ano anterior, não pegou na mão de Leon. Me pergunto pela primeira vez quem deve ser o orientador deles, Haymitch? Não, não poderia ser ele, afinal ele estava aqui conosco no enterro de Gale. Todos sabem que os mentores são vencedores dos distritos, mas, os únicos vencedores que o distrito 12 já teve foram eu, Peeta e Haymitch. Se todos nós não estamos lá, então... quem está?

''Assim estão apresentados os tributos de todos os distritos de Panem na septuagésima quinta edição dos jogos vorazes. Vamos agora ouvir uma palavra do ilustre presidente Snow.''

– Não quero ver isso.

Desligo imediatamente a televisão. Estou encostada no sofá, chorando. Ela estava ali tão frágil. Por que? Por que ela tem que estar ali? Deveria subir imediatamente naquele palanque do palácio da justiça e anunciar isso para todo o distrito 12, mas aí vejo no que isso deu, a morte do meu mehor amigo. Não posso arriscar novamente, quem seria agora? Peeta? Não, não posso.

– O que foi?

Peeta me pergunta assustado. Ele não deve estar entendendo nada realmente. Tenho que contar para ele da proposta de Snow, não vou conseguir segurar isso por muito tempo.

– Tenho que lhe contar algo...

E assim falo, sobre tudo. O encontro com Snow e sua oferta. Ele fica chocado, mas cada vez mais interessado em minhas palavras. Seus olhos estão atentos.

– Não sei o que fazer.

Ele pega em minha mão. Espero que ele diga para que eu aceite a proposta, mas o que ele diz contraria tudo o que eu imaginava.

– Katniss, você não pode aceitar a oferta de Snow.

Indecisa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

COMENTEM, por favor! Gostaram do capítulo? *--*
Só escrevo o próximo se alguém comentar, os motivos são óbvios :P



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Jogos Vorazes- A Dor" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.