As Blue As Love Can Be escrita por Menta


Capítulo 14
A Donzela de Neve


Notas iniciais do capítulo

PENÚLTIMO CAPÍTULO!
Petyr desiste de resistir. Entrega-se, finalmente, ao que cresceu em seu coração por Sansa. Mas será que, disso, resultarão bons frutos?
E um pequeno apelo a todos os meus queridos leitores...
Agora, estou escrevendo uma fic que trata de um personagem que cresceu em estima para mim (hahah). Como bem sabem, sou fã de carteirinha de personagens conturbados, e resolvi escrever uma fic cujo tema principal é comédia, além de um tanto de romance e aventura, cujo protagonista é o Loki, de Avengers, de Thor, em suma, da Marvel. Mas a versão dos filmes, não o personagem true evil de alguns arcos dos quadrinhos, HAHA. A todos os fãs do gênero, peço encarecidamente que leiam a minha nova fic:
http://fanfiction.com.br/historia/270988/Living_La_Vida_Loki/



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Petyr estava cansado. Viajaram por horas ao longo do Vale, sem poderem parar para conhecer os senhores locais, pois Lysa tinha saudades do “pequeno Robert”. É realmente insuportável viver ao lado dela. Havia me esquecido.


Era o seu segundo dia de estadia no Ninho da Águia, e estava atemorizado e exasperado. A segunda sensação, por conta de Lysa e seu mimado filho, e todo o isolamento do local. Fazia parte de seus planos, era verdade, mas isso não significava que se sentisse a vontade lá. Pelo contrário.


E o pior de tudo, estava isolado com sua Cat da juventude, agora de nome Sansa.


Ou Alayne.


Estava atemorizado e confuso por conta de seus sentimentos cada vez mais crescentes pela garota. Sua mera presença modificava o ambiente, e lhe trazia lembranças e sensações inadequadas. Quando olhava no fundo de suas lagoas azuis, era entorpecido pelo mistério e pela beleza incomparáveis de aquela que um dia fora sua amada. Ou tornara-se. Enfim.


Evitava a todo custo a presença dela, por medo de agir de forma a dar a entender suas verdadeiras vontades e intenções. Ainda mais, na frente de Lysa, que já era louca por natureza e poderia vir a surtar a qualquer momento. Já enlouquecera e adoecera o filho, mas ela própria era também um caso perdido.


Portanto, aproveitou sua confusão emocional para visitar os senhores do Vale, prontamente.


Dia após dia, fora de castelo em castelo, conhecendo-os a todos, e vira, especialmente nos Corbray, uma oportunidade de infiltrar-se em seu meio. Lyn Corbray parecia mais solícito a propinas, se é que poderia-se dizer desta forma, ou uma parte dos ganhos de Petyr. Podendo fazer um aliado, ainda mais uma aliança com um homem respeitado por tais altivos – e, entretanto, estúpidos – senhores do Leste, poderia modificar a visão que tinham de sua agora posição de prestígio.


Sorvia feliz o resultado de suas maquinações, enquanto viajava, com as mulas treinadas pelas passagens dos Dedos e alguns criados acompanhando-no, de volta ao Ninho da Águia.


Nevava.


Há muito tempo não via este cenário...


Lembrou-se de, quando muito menino, no primeiro inverno que vira em vida, de Catelyn vestida com um enorme casaco azul Tully, valorizando ainda mais a lindíssima cor de seus olhos. Ela brincava nos jardins do Bosque Sagrado, sua risada melódica e jovial ecoando em sua memória. Isso fora na época em que ainda era pequeno e puro, e o mundo parecia um bom lugar.


Sentiu-se levado por uma nostalgia fortíssima, ao mesmo tempo reconfortante e triste, como a memória da perda de um ente querido...


Para ele, a mais querida de todas.


Perdido em pensamentos, percebeu que haviam chegado nos terrenos do Ninho. Desmontou da mula, e decidiu caminhar ao alvorecer pelos jardins.


Pisando na neve, deixando pegadas, lembrava-se dos delicados pezinhos de Catelyn, usando grossas botas, correndo pela neve audaciosamente. Não tinha medo de escorregar e se machucar, como Lysa, e virava para trás várias vezes, estendendo a mão, chamando por seu nome e pelo de Petyr.


E foi aí que ele a viu.


Nevava, antecipadamente, sobre todo o Vale. Mas, embora isto fosse uma prévia do inverno, na sua frente, seu eterno outono desabrochava em flor.


Com seus cabelos agora recém-pintados de castanho caindo-lhe pela face, Sansa fitava, atenciosamente, o castelo de neve que construía nos jardins. Estava totalmente imersa em seu trabalho lúdico, enquanto a neve caía displicentemente dos céus. Petyr perguntou-se se ela estaria com frio, exposta a nevasca desta forma.


Estava bem agasalhada, era verdade, e Petyr pensou como, curiosamente, Sansa agora refletia em atitudes a memória de Catelyn, e, porém, sua aparência era de uma moça, indescritivelmente linda.


Agora, percebia Petyr, com seus cabelos morenos, parecia tão diferente, e, ao mesmo tempo, tão parecida com sua mãe...


Sem perceber o que fazia, seu corpo o levou para mais próxima dela. Caminhou furtivamente entre as árvores do jardim para que ela não reparasse que a observava.


Foi então, com um baque de esclarecimento, entendeu que o castelo que ela construía era Winterfell.


Vendo a menina ali, tão pura, tão inocente, e tão bela... Com saudades de casa, da família, da mãe... Como eu.


Sentiu-se verdadeiramente culpado por tê-la feito passar pelo que passou. Sofrera tanto. E, ainda assim tinha o coração tão triste e tão puro a ponto de, mesmo com tamanha aparência de mulher, deixar-se levar pelo seu eu criança, o eu que não sofrera e que ainda tinha esperanças de dias melhores.


Como Petyr sabia ainda viver dentro dele. E ali estava, neste momento, com ele, admirando-a de longe, como sempre fizera com sua eterna amada Catelyn, desde o dia em que se conheceram.


Assim, com o coração aquecido, tomado pela mais forte afeição e devoção pela menina, o homem continuou a admirá-la, até que reparou que ela começara a ter dificuldades na construção de seu castelo. As torres tombavam, e, depois da terceira tentativa de mantê-las em pé, Sansa soltou uma praga em voz alta. Que gracinha. Teve de se controlar para não rir, e decidiu se aproximar dela.


– Comprima a neve em volta de uma vareta, Sansa. – Falou, solícito, abrindo um grande sorriso sincero.


– Uma vareta? - perguntou a menina, subitamente assustada com sua presença.


– Isso vai lhe dar suficiente resistência para se manter, creio eu - disse Petyr. - Posso entrar em seu castelo, senhora? – Deu-lhe um sorriso maroto. Isso dá a entender outra coisa.


Sansa estava desconfiada.


– Não o quebre. Seja...


–...Gentil. - ele sorriu. Não resistiu a piada. Mas ela é casta demais para ter entendido.– Winterfell resistiu a inimigos mais ferozes do que eu. Isto é Winterfell, não é?


– Sim - admitiu Sansa. – Seus olhos azuis brilhavam, contrastando com a palidez do ambiente. Na total abundância do branco, seu azul era como uma luz hipnótica. Petyr simplesmente não poderia desviar os olhos dos dela.


Ele caminhou ao longo do exterior das muralhas, pensando ensimesmado.


– Costumava sonhar com ele, naqueles anos que se seguiram a Cat ter ido para o Norte com Eddard Stark. Em meus sonhos era sempre um lugar escuro e frio. E o pior é que realmente tive pesadelos com isso.


– Não. Sempre foi quente, mesmo quando nevava. Água das nascentes termais é canalizada através das paredes para aquecê-las, e dentro dos jardins de vidro era sempre como o mais quente dia de verão. - Levantou-se, erguendo-se acima do grande castelo branco. - Não consigo imaginar como fazer o telhado de vidro por cima dos jardins. – A menina parecia insatisfeita, e Petyr sentiu uma pontada de inveja e ciúmes ao vê-la falando assim da Casa de Eddard Stark. Darei-te muito mais. Darei-te o mundo.


Mindinho afagou o queixo, onde tinha a barba antes de Lysa lhe pedir para raspá-la.


– O vidro estava preso em molduras, não estava? Sua resposta são gravetos. Tire a casca deles e cruze-os, e use casca de arvores para ata-los uns aos outros e formar molduras. Eu mostro. - Deslocou-se pelo jardim, recolhendo paus e gravetos e retirando a neve deles. Quando obteve o suficiente, passou por cima de ambas as muralhas com um longo passo e agachou-se no meio do pátio. Sansa aproximou-se para ver o que ele estava fazendo. As mãos de Petyr eram hábeis e seguras, e não muito depois tinha uma treliça de gravetos, muito parecida com aquela que servia de telhado aos jardins de vidro de Winterfell. - Vamos ter de imaginar o vidro, certamente. - Disse-lhe, ao entregá-la a madeira. – Sorriu galantemente, da forma como sabia que ela gostava.


– Isto é perfeito. - Sansa disse, seu rosto iluminado por uma súbita alegria, tão jovial e doce quantos seus olhos que prometiam maravilhas aos homens capazes de admirá-los.


Petyr levantou os dedos e passou-os levemente pela bochecha esquerda de Sansa. - E isto também. - Não pôde se controlar perante o encanto da garota. Tão linda. E tão desamparada... Sentia vontade de abraçá-la firmemente contra o peito, e embalá-la, beijando seus cabelos, se perdendo pelo cerúleo de seus olhos...


– Isto o quê? Ela parecia não ter compreendido. Olhou-o com uma confusão meiga indescritível, e Petyr novamente sentia aquela sensação comum quando estava próximo dela; uma forte vontade de rir por conta de sua amabilidade.


– O seu sorriso, senhora. - Respondeu-lhe, sorrindo também. Desta vez, sinceramente. - Faço-lhe outro?


– Se quiser. - Sansa respondeu, aparentando receio de causar-lhe trabalho. Poderia ficar aqui, assim, por toda a vida.


– Nada me agradaria mais. - E, desta vez, mentiu. Não poderia contar-lhe o que mais lhe agradaria, para não conspurcar sua pureza de donzela...


Ela ergueu as paredes dos jardins de vidro e Petyr as cobria, ambos trabalhando juntos nessa tarefa tão lúdica. Tão igual, tão igual a minha infância com Cat... Porém, esta menina que está do meu lado já é mulher. Sansa acordou-o de seu meigo devaneio, pois não sabia como fazer gárgulas no topo das torres do castelo.


– Tem estado nevando em seu castelo, senhora. Com o que se parecem as gárgulas quando neva? - Observou Sansa fechar os olhos, provavelmente esforçando-se para imaginar as gárgulas. É a coisa mais linda que já vi. Ela abriu-os de novo, e sentiu-se aliviado por retornar a olhar seu azul.


– São só protuberâncias brancas.


– Muito bem. Gárgulas são difíceis, mas só protuberâncias brancas devem ser fáceis. – Falou tal frase brincando com a meiguice da menina, mas ela não aparentou ter percebido. Se soubesse o quanto preciso de ti...


Continuaram a construir juntos o castelo, Petyr completamente absorto pela beleza e pureza do momento idílico que viviam. Sentia-se abençoado e feliz, pela primeira vez em muito, muito tempo.


Subitamente, Sansa tirou neve do topo de uma torre que construíram, a famigerada Torre Quebrada, e atirou em cheio em seu colarinho. Gemeu, surpreso, enquanto a neve escorreu por baixo de suas roupas, tocando sua pele, e ele sentiu um arrepio agonizante gelar sua espinha.


– Isso não foi nada cavalheiresco, senhora. - Sentiu uma súbita raiva percorrer-lhe o corpo. Rejeitando-me. Tal como a mãe.


– Tal como não o foi trazer-me para Ca, quando jurou que me levaria para casa. - Sansa olhava-o, a testa franzida, os olhos fuzilando-o, subitamente irritada. Nunca a vi desta forma. Lembra Cat, quando me censurava.


Já que não quer docilidade, querida, também não vou me segurar mais. É esta a moeda que escolheu? Pois bem. Aparentando grande seriedade, Petyr retornou seu olhar firme, e disse-lhe:


– Sim, enganei-a sobre isso. E sobre outra coisa também...


Sansa aparentou susto, desta vez. Arregalou os olhos azuis, o que novamente divertiu Petyr. - Que outra coisa?


– Disse-lhe que nada me agradaria mais do que ajudá-la com o seu castelo. Temo que também tenha sido uma mentira. Há outra coisa que me agradaria mais. - Inclinou-se para perto dela, que o olhava sem compreender. Aproximou-se alguns passos e puxou-a para si, enlaçando seu corpo. - Isto.


Beijou-a, repleto de desejo, de paixão, de um afã que sabia já ser impossível controlar. Não adiantava negar. Sansa atraía-o infinitamente, aquela jovem Cat, talvez até mais maravilhosa do que a própria mãe, em carne, osso e encantos de ninfa a sua frente. Ele precisava dela, com urgência; era impossível resistir. É minha. Só minha.


Tal não foi sua surpresa que, em meio ao toque de ambos os lábios, aqueles rubros lábios carnudos de moça e sua língua deliciosa responderam-lhe o beijo por meio segundo. O curto período que fosse, Cat jamais lhe retribuíra suas investidas. Seu coração passou a bater aceleradamente, e quase se sentiu perder o chão. Não esperava por isso. Mesmo.


“...Eu amei uma donzela linda como o outono, com o pôr-do-sol nos seus cabelos...”


Surpreso com a reação de Sansa, vacilou por um instante e ela conseguiu se soltar. - O que está fazendo? – Perguntou-lhe, indignada. Outra vez Petyr teve de segurar o riso. Oficialmente, sou um moleque de novo. Sem salvação.


Endireitou seu manto. Precisava controlar-se, ao menos o mínimo possível. - Beijando uma donzela de neve. – Sorriu-lhe, repleto de desejo.


– É suposto que beije a ela. - Sansa apontou indignada para a varanda de Lysa. - A senhora sua esposa.


– E beijo. Infelizmente, MUITO infelizmente. Lysa não tem razões de queixa. - Sorriu encantado para Sansa. - Gostaria que pudesse se ver, senhora. É tão bela. Está coberta de neve como uma pequena cria de urso, mas o rosto está corado e quase não consegue respirar. Estaria corada pelo frio... Ou pelo beijo que quase retribuiu? Há quanto tempo está aqui? Deve estar com muito frio. Deixe-me aquecê-la, Sansa. Tire as luvas, dê-me as suas mãos. - Precisava toca-la. Seu sabor era o paraíso e seu toque, pleno deleite. Não tinha como controlar-se perto da menina. Não havia como.


– Não dou. - Ela o olhava censurando-o. - Não devia ter me beijado. Eu poderia ser sua filha...


– Poderia. - Admitiu, com um sorriso triste. - Mas não é, certo? É filha de Eddard Stark e de Cat. Acho que talvez seja ainda mais bela do que sua mãe, quando tinha a sua idade. Minha ninfa, rainha do amor e da beleza.


– Petyr, por favor. - Sansa parecia desesperada. - Por favor...


– Um castelo! - Robert Arryn apareceu, perto de ambos. Quando não é Lysa a estragar tudo, é o fedelho do seu filho. O mal é congênito. – Pensou Petyr, exasperado.


– Lorde Robert. - Esboçou uma reverência. - Devia estar na neve sem as suas luvas?


– Foi você que fez o castelo, Lorde Mindinho? - Argh. Chamando-me assim, eu, seu padrasto. É da corja da mãe, de fato.


– A Alayne fez a maior parte, senhor. - Sorriu a contragosto, pelo uso de seu apelido por um pirralho, e pela interrupção.


– Era para ser Winterfell. - Sansa disse, com alívio em seus olhos. Acredite, senhora, não lhe desejo mal algum... Apenas... Desejo-lhe. Petyr encarou-a avidamente.


Robert começou a confabular com Sansa, e, pegando o boneco que levava consigo, passou a destruir a construção que ambos construíram juntos. Sansa gritou, para a surpresa de Petyr, mandando que parasse, e começou a puxar o boneco, ao que Robert puxou-o para a direção contraria, rasgando-o pela cabeça, separada do corpo.


Robert começou a estremecer. Argh. Mais um ataque do pirralho.


Prontamente, Petyr pegou nos pulsos do garoto e chamou Meistre Colemon, que veio ligeiro.


Ao ver o menino sendo levado ao longe, os criados que vieram observar a cena olharam horrorizados para Sansa, agora com o boneco decapitado em mãos. Petyr, entretanto, achou divertido. Tem mesmo o espírito de Cat.


– Se as historias forem verdadeiras, esse não é o primeiro gigante cuja cabeça acabou nas muralhas de Winterfell.


– São só historias. - Disse secamente Sansa, afastando-se a passos largos. Não se irrite, querida. Ensinarei-lhe a gostar. Petyr teve de se segurar para não lamber os lábios, olhando de esguelha para Sansa à distância.


Passadas algumas horas na biblioteca dos Arryn, estudando sobre as linhagens do Vale, Lothor Brune irrompeu a porta, seus olhos arregalados, repletos de medo e preocupação.


– Do que trata-se esse disparate? – Petyr perguntou-lhe, a voz fria, mas a irritação óbvia.


– Senhor. Perdoe-me, mas... – O homem bufava. – É Lysa. Ela trancou-se na sala do Portão da Lua, e levou Sansa consigo. Temo que tenha dado ordens aos guardas para não permitirem a entrada de ninguém, e para que eles mesmos também não ousassem entrar na sala. Está lá com ela, e com Marillion. Temo que seja para...


– Abafar quaisquer gritos. Há quanto tempo estão lá? – Petyr sentiu o terror tomar conta de seu corpo, mas não permitiria que ninguém percebesse seus verdadeiros sentimentos.


– Cerca de dez minutos, senhor.


– Entendi. Distraia os guardas, entrarei por uma passagem a qual só eu tenho acesso. – Olhou para o homem firmemente, e ele compreendeu o recado. Lothor Brune saiu em disparada na direção dos guardas, e Petyr, para a entrada do Senhor do Vale.


Petyr saiu correndo também. Não poderia perder tempo.


Está se esquecendo de algo muito importante, querida Lysa. Seu corpo, sua mente e coração estavam todos tomados pelo ódio mais profundo que já sentira em vida, o mesmo quando vira Brandon ousar tomar a mão de Cat, ou quando soubera que fora Tywin e os Frey os mandantes por trás do Casamento Vermelho. Está se esquecendo de que eu JAMAIS cometo o mesmo erro duas vezes.


Sem fôlego, chegou a entrada do Senhor, e, antes que percebesse, já estava no Grande Salão.


Seu coração parou de bater por instantes. Marillion cantava a um canto do salão, e, próxima da abertura para uma queda de mais de 500 metros abaixo do Salão, Lysa, desvairada e raivosa, tentava empurrar a jovem Catelyn pela porta da lua. Não. É Sansa. Não é Cat, é Sansa. Rapidamente, meneeou a cabeça, para espantar seu pensamento confuso, e falou, em alto e bom tom para que ambas ouvissem-no.


– Alayne. Qual é o problema aqui? – Seu coração acelerara a ponto de pensar que pararia.


– É ela. - Lysa agarrava os cabelos de Sansa, apenas aumentando a ira inenarrável de Petyr. - O problema é ela. Ela beijou-o. – Lysa gritava esganiçadamente, descontrolada.


– Diga-lhe. - Suplicou Sansa. - Diga-lhe que estávamos só construindo um castelo... – Seus lindos olhinhos azuis repletos de lágrimas, marejados como um mar de ressaca. Não chore, vou te proteger do monstro. Vai dar tudo certo.


Cale-se! – Gritou Lysa. - Não lhe dei licença para falar. Seu castelo não interessa a ninguém.


– Ela é uma criança, Lysa. A filha de Cat. O que você acha que estávamos fazendo? - Petyr fingia para Lysa que a via dessa forma, tentando parecer-lhe distante de Sansa, desesperado com o desfecho que poderia surgir da situação.


– Eu ia casá-la com Robert! Não tem gratidão. Não tem... Não tem decência. Você não é dela para que o beije. Não é dela! Estava dando-lhe uma lição, só isso. – A mulher quase babava, tomada por sua loucura e pelos efeitos da bebida.


– Estou vendo. - Petyr afagou o queixo, fingindo falta de emoções, para que Lysa se acalmasse o mínimo necessário para arrancar Sansa de seus braços. - Acho que ela compreende agora. Não é verdade, Alayne?


– Sim. - Soluçou Sansa. O coração de Petyr parecia ter se partido ao meio. - Compreendo. - Os olhos de Sansa lacrimejavam incessantemente, e Petyr desejava, mais do que tudo, puxá-la para si e confortá-la. Vai dar tudo certo. Eu prometo.


– Não a quero aqui. - Os olhos de Lysa também choravam, mas Petyr não sentia compaixão alguma por ela. Apenas ódio. Apenas todo o rancor e ira acumulados ao longo dos anos, desde que fingira ser Cat na noite em que ele lhe tirou sua virgindade, e trouxera a si todos os seus posteriores infortúnios. - Por que foi que a trouxe para o Vale, Petyr? Este não é o seu lugar. Não pertence a este lugar.


– Sendo assim, mandamo-la embora. De volta a Porto Real, se quiser. - Andou na direção delas, calculadamente. - Agora largue-a. Deixe-a afastar-se da porta.


NÃO! – Lysa puxou a cabeça de Sansa novamente, a neve rodopiando em volta deles, suas saias esvoaçando com o ruído do vento. - Não pode deseja-la. Não pode. Ela é uma garotinha estúpida de cabeça oca. Não o ama como eu o tenho amado. Eu sempre o amei. Já demonstrei isso, não foi? - seu feio rosto estava repleto de lágrimas. - Eu dei a você o presente de minha virgindade. Teria dado também um filho, mas eles assassinaram-no com chá de lua, com tanásia, menta e losna, uma colher de mel e uma gota de poejo. Não fui eu, eu nunca soube, só bebi o que o pai me deu...


– Isso passou e está feito, Lysa. Lorde Hoster está morto, e o seu velho meistre também. Aproximou-se mais. - Caiu outra vez no vinho? Não devia falar tanto. Não queremos que Alayne saiba mais do que devia, não é? Ou Marillion. – Maldita. Mil vezes maldita.


Lysa continuou irascível, estúpida, louca, ignorando a tudo e a todos.


– A Cat nunca lhe deu nada. Fui eu quem arranjou sue primeiro posto, fui eu quem fez com que Jon o trouxesse para a corte para podermos ficar perto um do outro. Prometeu-me que nunca se esqueceria disso.


– E não me esqueci. Estamos juntos, tal como você sempre desejou, tal como sempre planejamos. Mas largue o cabelo de Sansa... - Começou ele mesmo a desesperar-se, esquecendo de tratá-la por Alayne. Nada mais importaria, se a perdesse naquele momento.


– Não largo! Vi-os aos beijos na neve. Ela é exatamente como a mãe. Eu sei. LARGUE-A. Catelyn beijou-o no bosque sagrado, mas nunca foi a sério, ela nunca quis você. - Cada palavra de Lysa era uma facada em seu coração, e seu ódio tornava-se maior e mais denso. - Por que foi que a amou mais? Era eu, sempre fui eeeeeu!


– Eu sei, amor. - Ele deu mais um passo. E estou aqui. Tudo o que tem de fazer é pegar na minha mão, vamos. - Estendeu-a para ela. - Não ha motivos para todas essas lágrimas.


– Lágrimas, lágrimas, lágrimas– soluçou ela histericamente. - Não há necessidade de lágrimas... mas não foi isso o que disse em Porto Real. Disse-me para pôr as lágrimas no vinho de Jon, e foi o que eu fiz. Por Robert, e por nós! E escrevi a Catelyn e contei-lhe que os Lannister tinham matado o senhor meu esposo, tal como você disse para fazer. Isso foi tão inteligente... Sempre foi inteligente, eu disse ao pai, disse: Petyr é tão inteligente, subirá bem alto, subirá, subirá, e é doce e gentil e tenho o seu bebê na barriga... Por que foi que a beijou? Por quê? Agora estamos juntos, estamos juntos após tanto tempo, tanto, tanto tempo, por que é que havia de querer beijaaaaa-la?


– Lysa. - Petyr suspirou -, depois de todas as tempestades que aguentamos, devia confiar mais em mim. Juro, nunca mais sairei do seu lado, enquanto ambos formos vivos. O que durará poucos segundos, para você.


– Sério? - perguntou ela, chorando. - Oh, sério?


– Sério. Agora solte a garota e venha aqui me dar um beijo. De despedida, querida.


Lysa atirou-se em seus braços, e ele se segurou para não torcer-lhe o pescoço. Não, não sujaria as mãos.


De esguelha, reparou que Sansa, pobrezinha, engatinhava até um pilar próximo, o qual agarrou com todas as forças, completamente atemorizada, um dos pés descalços, cujo sapato deve ter caído no azul. Já passou, querida. O monstro já vai embora. Para nunca mais importunar nem você, nem a mim.


Petyr deixou Lysa chorar em seus braços por um momento, e depois pôs as mãos em seus braços, dando-lhe um leve beijo.


– Minha esposa querida, pateta, ciumenta. - Disse, com um risinho. - Eu só amei uma mulher, garanto.


Lysa sorriu, abobalhada. - Só uma?


– Só a Cat. - Sorriu-lhe, mas não com alegria. Sorriu-lhe um sorriso macabro, de quem sempre a odiara, de quem nutrira rancor por ela por toda uma vida. Finalmente, em seus derradeiros momentos finais, deixou Lysa ver por trás da mascara do que realmente sentia por ela. E, assim, empurrou-lhe para o azul.


Lysa não chegou a gritar. Petyr viu seu gordo corpo descrevendo um semi-arco e caindo para as alturas.


Marillion olhou-o, repleto de terror. Você é o próximo. Ousou desejar o que era meu, e teria deixado-a morrer. O cantor tentou esboçar palavras. - Você... Você...


Os guardas gritavam do lado de fora, esmurravam as portas com suas pesadas lanças. Lorde Baelish pôs Sansa em pé, também pálida como a neve do inverno que se aproximava.


– Não se machucou? - Quando ela balançou a cabeça, apertou-a contra si, abraçando-a forte, finalmente aliviado. - Então corra, deixe os guardas entrar. Depressa, não há tempo a perder. Este cantor matou a senhora minha esposa.


Viu Sansa correr desesperadamente à porta, e Marillion olhava-os paralisado, sem esboçar reação. Petyr olhou de esguelha a porta da lua que deixava o vento frio entrar no Grande Salão. E agora, finalmente livre.


O meu azul me aguarda.



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Notas finais do capítulo

E aê, galerinha linda! O próximo capítulo é o final... Pelo menos tenho minha fic nova pra me consolar. ;-;