Memórias escrita por Não sou eu


Capítulo 4
Luce




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Capitulo 4 - Luce

Luce olhou para todos os lados, tentando se lembrar por aonde viera, mas isso parecia ter sido apagado de sua mente. Estava ali apenas há três meses, ainda não estava tão familiarizada com o lugar, e a escola sendo tão grande, agora parecia ter virado um problema. Não podia ficar parada ali, mesmo a noite alguns monitores ficavam circulando pelos corredores procurando alguém que não estivesse em seu quarto. Eles adoravam ter o prazer de encontrar algum adolescente circulando por ai proibidamente, parecia fazer com que se sentissem superiores. Vezes ou outra Arya comentava algumas coisas que os monitores faziam quando conseguiam capturar algum aluno, e isso fez o estomago de Luce revirar, pelo que ouvira falar, não era nada agradável, e não queria ter que se preocupar com isso também.

Os corredores pareciam iguais, e apenas com a luz da lua que entrava pelas janelas, não se enxergava tão bem assim. Ao seu redor sentiu o ambiente esfriando, e no mesmo instante teve medo até de imaginar o que poderiam ser. Mas não tinha duvida, elas haviam voltado, as sombras sobrevoavam os corredores e Luce sentia sua cabeça rodando. Ela não podia fugir das sombras, elas a encontraria em qualquer lugar. Decidiu fazer a escolha rapidamente, para não ter arrependimento. O corredor a sua direita fora escolhido, Luce deduzia que poderia ter sido por ali que vim era. Quanto mais andava, mais depressa queria ir, a sensação de que alguém a observava a incomodava.

Depois de andar e virar em vários corredores, ela começou a correr por eles. Sentia medo, apesar de não ser exatamente se era por estar escuro ou pelas sombras a acompanhando. Sentia que não estava completamente segura ali, sozinha e perdida. Quando não agüentava mais, decidiu parar para descansar. Quanto tempo levaria para que amanhecesse? Estava com muito frio, assim seu corpo começara tremer sem que conseguisse controlar. E então sentiu alguém tocando seu ombro. Luce congelou esperando pelo pior. Primeiro pensou que fosse um dos monitores, e por um momento sentiu alivio, porque alguém a encontrara, mas depois pensou que a pessoa nem sequer se alarmou por encontrar alguém ali. Quando tomou finalmente coragem para se virar, ficou realmente aliviada.

Jorge a olhava curiosamente, mas Luce queria poder abraçá-lo de tanta felicidade que ficou ao vê-lo.

— O que faz aqui, mocinha?

— Jorge, fico tão feliz ao vê-lo de novo, eu me perdi por esses corredores, e não conseguia voltar para meu quarto.

— Você não devia estar aqui, essa parte do colégio é proibida para os alunos. Venha comigo, você está congelando. Vou arrumar algo para você.

Enquanto seguia Jorge, Luce ficou pensando porque aquela ala era proibida. Podia ser muitas coisas, mas Luce sentia-se tão cansada que preferiu não pensar. Jorge entrou em uma porta e ela o acompanhou. A porta levava para os jardins no fundo do colégio, um jardim que Luce nunca havia visto. A alguns metros, encontrava-se um casebre, todo decorado, mas com uma aparência abandonada. Devia ser muito lindo esse lugar quando a mulher dele era viva, pensou.

Entraram no casebre e parecia até que ninguém morava ali há muito tempo. Luce sentou-se no sofá e Jorge logo depois trouxe-lhe uma coberta. Depois de aquecida, e de ter tomado chá, Jorge perguntou-lhe como havia se perdido.

—Eu fiquei muito triste com algo que lembrei, e então fui procurar um lugar em que pudesse ficar sozinha. Mas depois, não me lembrava como havia chegado até lá. Ainda não tinha me dado conta como essa escola é grande. — Respondeu Luce. A primeira vez que vira a escola, fora através de uma visita. Não entendia porque uma escola para problemáticos havia de ser tão grande. Depois de perceber o luxo que eles davam aos alunos entendeu. Os dormitórios ficavam na ala A, as salas de aula na ala B e o refeitório na ala C. Havia algumas alas, como a que se perdera, que ainda não conhecia, ou não havia ouvido falar ainda.

—Ainda bem que a encontrei a tempo, você já estava roxa de frio. Olha se quiser ficar o resto da noite ai, eu não me importo. Não acho uma boa idéia você voltar para seu dormitório agora, os monitores estão por toda parte, fora um milagre eu a encontrar antes deles. — Para um senhor de 70 anos, Jorge era um homem muito amável, e apesar de ser uma pessoa sofrida, não aparentava ter a idade que tinha. Desde a primeira conversa que tiveram, Luce sabia que poderia confiar nele.

—Muito obrigado. Se não tiver problema, vou aceitar passar a noite aqui. Mas Jorge, se aquela ala é proibida o que você estava fazendo lá?

—Criança, aquela ala é proibida para os alunos, não para o zelador. Eu estava sem sono, então resolvi dar uma olhada pelos corredores, para ver se algum moleque intrometido não andava se escondendo. Foi quando ouvi um barulho, e resolvi ver o que era. Você estava tão assustada, que não parecia estar ali por alguma brincadeira de mau gosto. — Ele avaliou Luce, com aqueles olhos pequenos, por baixo dos óculos meia lua, sua expressão perguntava se Luce, realmente não estivera fazendo uma brincadeira pelos corredores, mas por fim pareceu se convencer de não. — Agora, durma um pouco, já são quase 1h da manhã e você precisa levantar cedo.

Luce deitou-se no sofá, e Jorge voltou para seu quarto, apagando a luz da sala para que ela dormisse. Em menos de 5minutos, o sono já havia chegado e ela adormecera.

Acordou com alguém a cutucando, quando finalmente percebeu quem era levantou-se assustada.

—Calma ai Luce, sou eu. — Arya estava em sua frente, com uma expressão muito curiosa, como se achasse aquela cena muito engraçada. Como sempre estava muito bem arrumada, às vezes Luce se perguntava se ela pensava que iria para uma festa, ou simplesmente para uma sala de aula com um monte de adolescentes chatos. Talvez só Luce pensasse assim, como raramente se importava com essas coisas.

— Você me assustou, mas o que está fazendo aqui?

— O zelador pediu para que viesse esse aqui e te acordasse. Primeiro pensei que ele estava fazendo uma piada, mas ele não parece o tipo de pessoa que brinca assim, com qualquer um. Fui ao seu quarto e você não estava lá, então eu vim procurar você aqui, e realmente você dormira aqui. Por quê?

Luce se levantou um pouco sonolenta, mas há muito tempo tivera uma noite de sonos dessas, sem sonhos ou pesadelos. Ouvira só metade do que Arya falara, então só balançou a cabeça negativamente, e saiu à procura do banheiro. A casa não era muito grande, então não foi difícil de achar. Lavou o rosto e arrumou os cabelos, ou pelo menos os deixou um pouco menos armado do que estava. Sua aparência estava em péssimas condições, mas mesmo assim não se importou.

Lucy voltou junto de Arya, e chamou-a para ir embora, precisa ir ao seu quarto pegar seu caderno.

— Ontem a noite eu não estava muito bem, estava meio desnorteada e me perdi. Jorge me achou e como já estava muito tarde, e eu estava com muito frio, ele me deixou dormir em sua casa, foi somente isso. — Contou Lucy a Arya ao caminho dos dormitórios.

— Você é estranha.

E assim a conversa estava encerrada.

Quando entraram na sala de aula ninguém percebeu a presença delas, Lucy estivera com vergonha minutos antes, pensando que alguém iria rir dela ou algo assim, mas pelo menos nada disso acontecera. Tudo correra exatamente bem até o fim do dia, nada de especial. Na hora do jantar fora para o refeitório, e por um momento achou que finalmente tudo estava voltando ao normal ou algo próximo ao normal.

Enquanto estava distraída caminhando em direção ao corredor, alguém a abraçou. Daniel foi o nome que veio em sua mente, logo instantaneamente, mas sentiu falta da eletricidade em seu corpo, toda vez que o tocava. Não podia ser ele. 

— Senti sua falta. — Não, não era Daniel, era Marcus. Quando ele a soltou Lucy forçou um sorriso, mas era obvio que estava desapontada.

—Ah, oi Marcus.

— Você está melhor? Da ultima vez que a vi, você estava sendo carrega por aquele cara, o tal do Grigori. — Luce percebeu que ele fechava os punhos, mas antes mesmo dele perceber que ela havia percebido, ele suavizara suas mãos. Ela sempre gostou da companhia de Marcus, mas naquele momento não sentia vontade para isso.

—Estou melhor, pode-se dizer que foi uma semana difícil. — Forçou um sorriso, e então seus olhos se perderam pelo corredor, onde se encontrava Daniel. Ele estava vestindo uma jaqueta preta e Jens preto, o que o deixava com um ar tão charmoso. Olhei novamente para Marcus que parecia estar falando, mas não havia ouvido nada.

— O que acha? — Marcus olhava ansioso, e Luce não conseguia se lembrar o que ele dissera.

— Legal.

—Ótimo então, está marcado. As 8horas eu passo no seu quarto.

Antes que Luce pudesse falar que não poderia ir, ou que não havia ouvido o que dissera, ele saiu pelo corredor com um sorriso de quem finalmente havia conseguido. O peito de Luce se apertou, seja lá o que fosse que tinham marcado, não poderia dizer que não ia, isso magoaria muito Marcus, e ele era seu amigo, não conseguiria fazer isso.

Olhou para o lugar onde Daniel estava alguns minutos atrás, mas não o encontrou. O relógio em seu pulso marcava que faltava meia hora para as oito. O que lhe deixava com pouco tempo. Foi para seu quarto, tomou um banho e colocou uma calça e uma blusa branca. Arrumou o cabelo, mas não exagerou na maquiagem, não sabia aonde iria.

Marcus não se atrasou. Ao dar oito horas no relógio ele bateu a sua porta. Luce tinha que admitir, ele era lindo. Ele era alto e tinha as costas largas, o que dava aquele ar de segurança. Ele vestia uma calca Jeans, uma blusa branca e uma jaqueta de couro. Seus olhos pretos eram penetrantes, e ela se perguntou como notara isso só agora. Ele sorriu desconcertado, como se estivesse lembrando uma piada muito engraçada.

— O que? — Perguntou Luce sem entender.

— Você está linda.

Sentiu seu rosto corar, mas levemente. O que estava fazendo? Ela nunca havia sentido nada em relação há Marcus alem da amizade, e sempre soubera que nunca iria sentir. Mas algo no interior do seu estomago estava lhe alertando de que algo estava mudando. Mesmo assim, algo não saia da sua mente. Daniel. Luce o procurava em cada lugar que estava, e por mais estranho que fosse ela ainda conseguia sentir seu eletrizante toque sobre sua pele. Depois de tudo que havia acontecido naquela semana, finalmente seu dia estava normal, nada de ruim havia acontecido.

— Preciso confessar uma coisa. — Como Marcus não a interrompeu, ela continuou. — A parte que você me falou onde iríamos eu não escutei, desculpe.

Ele sorriu, e segurou sua mão a puxando para fora do quarto. Quando estavam se encaminhando para o saguão principal Luce soltou sua mão. Não queria todos o olhassem e começassem a cochichar.

— Então, não vou contar, será um segredo.

Quando chegaram ao jardim, Marcus fez um sinal com a mão para as arvores. Luce não entendeu o que significava, então só ficou olhando. Um a um foram saindo dos arbustos algumas pessoas, quando todos já tinham ido, Marcus a puxou para que os acompanhassem, mas o tempo todo tomava cuidado para que as vermelhas não registrassem aquela fuga. Ela nunca havia se perguntado por que Marcus estava neste colégio, agora já tinha uma duvida de quem realmente ele era infringindo as leis tão facilmente. 

— O que estamos fazendo? — Perguntou. Eles já estavam próximos da arvore que Luce costumava sentar perto, se encaminhando para a cerca da grande floresta.

— Calma Luce, não acredito que você nunca fez isso antes? — Sua risada era um pouco sombria, uma risada que Luce nunca havia ouvido antes.

— Ei Marcus, não estou achando uma boa idéia isso.

— Luce, para de ser medrosa.

Quando ela olhou a frente o grupo de pessoas que estava há alguns minutos a sua frente, haviam desaparecido. Assim que se aproximaram da cerca, Marcus tirou um grande galho de uma arvore de perto da cerca, deixando se ver um grande buraco dando acesso a floresta. Ele indicou à Luce que atravessasse, mas ela não se sentia confortável em fazer isso. Mesmo assim, não tinha gostado que houvesse a chamado de medrosa. Ele não a conhecia, não sabia nada do que havia passado.

A voz da razão lá no fundo da sua mente gritava para que ela saísse correndo, e voltasse para seu quarto. Mas o seu orgulho foi maior, e ela assentiu para si mesmo e atravessou a cerca. A escuridão tomava conta do lugar, sentiu o a temperatura do ar cair, e sua nuca se arrepiasse. Logo em seguida sentiu uma mão em suas costas, fazendo para que ela andasse. Ela não conseguia enxergar nada, mas o escuro não parecia ser um problema para Marcus.

Depois de algum tempo andando pela floresta, Luce avistou uma claridade vinda em sua direção.

Ao se aproximar da luz, ela entendeu onde eles estavam indo. Onde a floresta acabava tinha outra cerca, e assim que passaram pela cerca, a menos de quatro metros encontrava-s uma pequena praia, onde todos da escola pareciam se encontrar. Muitas pessoas correndo pela areia, e algumas fogueiras espalhadas pela praia. Havia barracas também, e seguindo olhar para frente, conseguia ver uma pequena cidade.

— Nossa, eu não estou entendendo. Esse tempo todo atrás dessa floresta enorme havia uma civilização.

— Bem-vinda à festa.

Uns grupos de pessoas que estavam sentados em volta fogueira, acenaram para Marcus, ele segurou a mão de Luce para que a seguisse. Ela não se sentia à vontade andando de mãos dadas com ele, mas parecia rude soltar sua mão do seu aperto. Alguns minutos depois de estar sentada em volta da fogueira também, Arya apareceu e se juntou a eles. Todos estavam rindo e fazendo brincadeiras das quais Luce não estava nem prestando atenção. Um olhar penetrante passou por ela, e ela viu que ele a olhava. Com um aceno de cabeça Luce entendeu o que queria dizer, ele a estava chamando para que fosse até ele.

Mesmo que achasse um pouco estranho, ela não conseguia dizer não. Daniel parecia mais lindo do que sempre estivera. Ele estava parado a poucos metros, perto de uma barraca. Usava uma camisa preta e um Jens preto.

Levantou de onde estava sentada e foi a sua direção, sem se importar com alguém a olhando.

— O que você está fazendo aqui? — Sua voz não tinha o mesmo tom de suavidade que tinha na primeira vez que Luce a ouviu. Ele parecia sério, e preocupado. Mas suas palavras a feriram, ela não entendia o que ele estava fazendo, não havíam trocado mais que duas palavras para ele a tratasse como se fossem tão íntimos.

— O que?

— Volte para a escola, agora.

— Não estou entendendo. Quem é você para me mandar fazer alguma coisa? — Estava totalmente nervosa, pelo tom de voz que ele estava usando com ela. Ele nem ao menos a conhecia, ele não tinha o direito de mandar fazer algo. Ela devia sair de perto dele, mas algo a prendia ali.

— Aqui não é seguro. — Vendo que não adiantaria nada, ele abaixou a cabeça. Depois sorriu, mas mesmo assim não parecia tão sincero, havia um sinal de preocupação em seus olhos. — Vamos dar uma volta comigo.

Mesmo que sentisse que não iria, ele a surpreendera pelo jeito que a tratara. Mas ela queria ir com ele, saber o que tinha a dizer, ouvir tudo que pudesse sobre ele. Ela o seguiu, ele caminhava direto para onde a poucos minutos estava sentada com Marcus. Luce sabia o que ele iria fazer, tentar levá-la para escola, e pensando bem, se fosse ao seu lado, ela não iria recusar. Toda vez que estava perto dela, ela sentia que não conseguia raciocinar direito, como se ele tivesse um poder sobre ela.

— Por que disse que não era seguro? — Ela sentia a preocupação, mas não entendia o porquê. Ninguém a iria machucá-la, pelo menos era o que pensava.

— Não é nada. Eu só disse aquilo para que conseguisse fazer com que você me acompanhasse. Queria ficar um tempo sozinho com você. — O sorriso brincou em seus lábios, e Luce teve a impressão de que ele dissera aquilo para disfarçar a verdade.

— Não acredito.

Ele não disse nada, mas isso foi um sinal para que Luce sentisse que algo estava acontecendo. Nesse tempo, eles já tinham alcançado a cerca que separava a praia da floresta. Luce atravessou e olhou para a floresta, a tempo de ver uma sombra se movimentar a sua frente. Prendeu o grito em sua garganta, e sentiu sua nuca se arrepiar. A sombra parou de se movimentar e Luce percebeu que não era somente uma sombra, daquelas que sempre estavam a rodeá-la. Aquela era diferente, ela estava tomando forma, como se fosse um fantasma. A sombra foi para trás de uma arvore, e Luce saiu correndo a procura dela. As lágrimas queimavam seus olhos, ela conhecia aquele fantasma ou sombra, ela sabia quem era, e a cada passo correndo por floresta adentro, ela sentia seu coração se apertar.

Esquecera-se completamente de Daniel, a única coisa que conseguia pensar era em encontrar a sombra. A cada vez que pensava que estava próxima, a sombra corria dela, um sorriso já estava formado em seus lábios, como se estivesse brincando com Luce. Ela já tinha uma forma perfeita, fazendo com que Luce sentisse que iria desmaiar por ver aquilo. Em um descuido, ela perdeu o equilíbrio e tropeçou em um tronco de arvore caído no chão. Ela caiu e sentiu uma dor queimar por dentro de sua pele. Tentou se levantar, mas sentiu sua perna fraquejar, o sangue manchando sua calça. Olhou em direção a onde avistara a sombra pela ultima vez, nada. Ela tinha sumido novamente. Logo atrás ouviu passos em sua direção, e percebeu que Daniel estava vindo em sua direção.

— O que aconteceu? Você está bem? — Ele parou e percebeu que o estrago já estava feito. Ele adquiriu uma expressão da qual eu não conseguia identificar o que estava pensando, ou sentindo. Luce percebeu que estava corando, por estar naquela situação na sua frente. — O que aconteceu?

— Não foi nada, eu só pensei ter visto alguém gritando ajuda. Mas era minha imaginação. — Ela sorriu para demonstrar que estava tudo bem, mas era uma péssima mentirosa.

— Venha, vou te ajudar a chegar à enfermaria. — Ele se apoiou para pega-la no colo, mas ela o afastou. Não era assim tão fraca ou dependente.

— Não preciso, eu vou andando. — Ele se afastou e esperou para que levantasse. No momento em que forçou sua perna a manter controle e andar, ela cedeu e caiu novamente na terra. Ele gargalhava e isso realmente irritou Luce. Tentou mais uma vez, com dificuldade, e conseguiu manter equilíbrio, andar alguns passos, antes de sua perna ceder novamente.

— Você não precisa ser tão orgulhosa assim. — Ele esticava sua mão em sua direção, mas ela o ignorou.

— Não, eu consigo.

Ela tentou mais uma vez, antes dele a pegar a força e levantá-la do chão. Depois de se debater, e falar que aquilo não era preciso, ela deixou que ele a carregasse. Mas ainda sentia seu orgulho ferido. Quando chegaram ao terreno da escola, ele tomou um caminho diferente, do qual Luce não conhecia. Uma entrada pelos fundos, não havia vermelhas, nem monitores. Subiu alguns lances de escadas, até seguir por um corredor, que os levou aos dormitórios. Daniel abriu a porta do seu quarto, e colocou com cuidado sobre a cama.

— Pensei que iria me levar para a enfermaria.

— Não acho que seja uma boa idéia. Você não deve ter uma desculpa tão boa assim para elas não suspeitarem de nada.

Ele foi até o banheiro, trouxe uma toalha molhada, segurou sua perna, e com um simples puxão rasgou a perna da calça na altura da coxa. Luce prendeu a respiração, aquela era sua calça favorita, e agora não tinha mais solução. Olhou para seu ferimento e seu estomago embrulhou, não era nem um pouco fã de sangue. Daniel passou o pano molhado sobre o machucado, e depois procurou um pano para enfaixar sua perna.

Quando o curativo estava pronto, ele sentou-se ao lado de Luce na cama.

— Você sempre me surpreende. — Daniel estava com uma expressão séria, mas ele aquilo parecia mais um pensamento em voz alta, do que um elogio.

— Por que diz isso?

— Acho que é hora de você descansar. — Ele sorriu como se soubesse que ela já havia entendido que ele mudara o rumo da conversa. — Sonhe comigo, Anjo.

Ele saiu fechando a porta atrás de si. Convencido, pensou.

Luce percebeu que seu coração batia forte dentro de seu peito, e mesmo que estava começando a achar ele um tanto idiota, convencido, e nada confiável, ela gostava do que sentia em relação a ele. Mas algo ainda não estava bem, não, com certeza. Ela sabia o que havia visto, não era sua imaginação, ela tinha visto o fantasma de Penn. 


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