Memórias escrita por Não sou eu


Capítulo 11
Luce




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Luce não conseguia pensar em nada especificamente, tudo em sua cabeça estava uma bagunça. Faltavam alguns passos para que Daniel percebesse que ela estava ali, alguma coisa a fez parar. Alguém segurava seu braço fortemente, e quando notara quem era sentiu-se nostálgica.

— Ele não pode te ver, vem comigo agora. — A voz de Matt estava rouca e aflita. Antes que Luce protestasse, ele já a estava arrastando para a cerca. Quando estavam subindo as escadas para os dormitórios, Luce conseguiu murmura um gemido. Desde o que vira em Daniel, não conseguira falar coisa alguma, como se estive perdida em próprios pensamentos.

— Luce fala alguma coisa. Estou a horas perguntando como você está, e nada acontece.

— Eu não sei.

— Finalmente você disse algo. É normal para uma humana ficar assim, sem reação, quando vê alguém como Daniel, na sua forma verdadeira.

— Alguém como Daniel? O que ele é?

— Vamos lá Luce, você já deve ter tirado suas próprias conclusões por si mesmo, sei que não é tonta.

Um anjo, ele é um anjo. Foi à primeira coisa que veio em sua mente, mas a idéia disso ser possível era tão ridícula que queria acreditar que não poderia ser verdade.

— E você, o que é? Não, eu sei. Você é igual a ele.

— Em partes, sim.

— O que quer dizer com em partes?

— Não é nada. Descanse, sim?

Antes que Luce conseguisse fazer mais alguma pergunta, ele saíra pelo corredor, sem escutar os protestos dela. Entrou no quarto e jogou-se na cama. Não sabia ao certo o que pensar, mas estava com medo. Podia ser besteira mais não queria ver Daniel, e nem saber mais nada a seu respeito. Era egoísmo da parte dela, mas aquilo era estranho demais para se lidar. De repente soube quem poderia responder essas perguntas sem respostas, alguém que poderia saber muito mais do que aparentava.


Bateu na porta e esperou.

— Entre.

— Tem um minuto diretor?

— Claro Luce, sente-se por favor. — Luce sentou-se de frente para o diretor, que estava sentado atrás de sua grande mesa de madeira. Ela olhou ao redor sem entender as tantas pinturas e antiguidades espalhadas por todo o escritório. Era assustador.

— Com o que posso te ajudar?

— Podia começar me explicando o porquê de me contar aquela história maluca sobre anjos.

— Achei que seria uma boa história para uma menina que gosta de aventuras.

— Por favor, eu não sou idiota. Sei que você sabe muito mais do que quer me dizer, eu agüento, mas me diga logo, tudo que sabe.

Ele se levantou e foi até o grande armário de madeira e de lá pegou uma pequena caixa de madeira. Quando voltou a se sentar, Luce percebeu que sua expressão de diretor mudara, agora parecia um tanto triste.

— Eu realmente esperava que esse dia não chegasse, pensei várias vezes em tentar fugir do destino e nunca precisar te conhecer, mas então o destino te trouxe e não tive coragem de lutar contra ele. — Ele abriu a caixa e de lá pegou um colar, sua corrente era dourada e pingente era um pequeno pássaro vermelho. Fin estendeu o colar para Luce que por sua vez aceitou. Segurando o colar pode sentir uma sensação estranha, um tremor se apoderou dela e então o colar brilhou intensamente.

Era uma sensação maravilhosa, fechou os olhos e sentiu o poder correndo por suas veias, se sentia poderosa de certa forma, seu coração batia fortemente e tudo parecia magnífico. Como uma viagem, tudo foi muito rápido, quando abriu os olhos, não estava mais no escritório de seu diretor, se encontrava em uma floresta. Atrás de si ouviu uma explosão, então muitos homens surgiram de trás das arvores, correndo, pareciam extremamente assustados. Luce não tinha tempo para se perguntar onde estava ou o que estava acontecendo, a única certeza que tinha, era que precisava correr o mais rápido possível.


Luce abriu os olhos e se viu rodeada de arvores e muito mato. Primeiro pensou que estava na grande floresta da escola, mas ao olhar em volta percebeu que tudo estava muito diferente. Estava com um pouco de dificuldades para se levantar, suas pernas estavam bambas e sua cabeça girava. Nesse momento ela poderia admitir que não era tão corajosa quanto pensara que era. Não conseguia entender como chegara ali e onde estava e o fato de estar perdida sabe-se onde, a deixava com muito medo.

Conseguiu andar alguns metros até conseguir avistar um pequeno vilarejo. Pelo jeito que as casas foram construídas, Luce deduzia que não estava mais no século XXI, algumas pessoas estavam se aglomerando, no que indicava ser uma mercearia, e conforme Luce ia se aproximando podia entender que aquilo se tratava de uma discussão.

As mulheres usavam vestidos longos e rodados, alguns mais bonitos que outros, e os homens (nome da ropa). Tudo era estranhamente fascinante, Luce podia se imaginar ali os observando enquanto criava um de seus quadros, mas não podia perder com tempo com isso, se estava ali era por alguma razão importante. Ela começou a sentir os olhares apreensivos em sua direção, então se lembrou do que estava usando, calça jeans uma blusa regata branca e um all star branco, nada apropriado. Não tinha dinheiro, então poderia comprar roupas novas, mesmo assim arriscou-se a entrar em uma pequena loja que encontrara.

Atrás do balcão se encontrava uma linda garota, que deveria ter a mesma idade que Luce. A menina não havia percebido a presença de Luce ainda, seus olhos estavam perdidos mais adiante no moço que conversava com ela. Ele era alto e tinha cabelos pretos como a noite, seu porte era de um jogador de futebol, tinha uma expressão controladora, mas ao mesmo tempo charmosa. Luce prendeu a respiração e se escondeu atrás de uma pilha de vertidos.

— Pode me chamar de Sr. Walts, e como devo chamar à senhorita?

— Clear, só Clear.

— Tudo bem então, só Clear.

— Ei, Sr. Walts, ficou sabendo do acontecido com aquela jovem, Lucendia?

A expressão de Matt mudou ao ouvir aquele nome, parecia um pouco triste.

— Sim, uma pena, era uma boa moça. Se me permite agora, devo me partir. Até mais só Clear.

Assim saiu por porta afora. Luce levantou-se de onde estava escondida e foi até o balcão. A menina ficara pálida de repente e então saíra aos gritos para fora da loja. Mesmo que tivesse sido muito estranho Luce aproveitou a chance para trocar suas roupas por um vestido. Quando saiu da loja tomou cuidado para que ninguém visse seu rosto. Voltou para a floresta, no lugar onde acordara, precisa encontrar um jeito de voltar para seu tempo, para escola.

— Sabe, como você chegou até aqui é um grande mistério para mim.

Luce se virou e viu Matt parado a observando. Ele estava diferente do que o via na escola, as roupas que estava usando o deixava muito mais bonito do que o habituou, e com esse pensamento Luce corou levemente. — Vamos lá Luce, sei que você não é a Lucendia. Não conseguiria se passar por ela jamais, ela tinha cabelos bem maiores que o seu. Como chegou aqui?

— Quem é Lucendia? Eu não sei como cheguei aqui, eu estava no escritório do diretor e então eu acordei nessa mata, em outro século, pelo que imagino.  E você como chegou aqui?

— Às vezes gosto de voltar para essa minha lembrança, é uma das melhores que tenho.

— Não entendo o que quer dizer.

— Às vezes nós anjos, podemos voltar para nossas lembranças por alguns meios. Alguns anjos não gostam, acham que o passado não deve ser revivido, mas eu discordo, gosto de sentir cada momento da minha existência repetidas vezes.

— Daniel também faz isso?

— Ah não, Daniel é um dos que gosta de deixar no passado o que é passado, para ele as coisas são mais complicadas do que para mim.

O olhar de Matt era triste, como se aquilo não fosse exatamente uma lembrança boa. Antes que Luce percebesse ele estava a segurando pela cintura, fortemente. Ele não estava mais usando camisa, deixando assim as coisas mais complicadas para Luce. Podia sentir que estava ficando constrangida pelo contato físico tão direto. Ele não parecia se importar, parecia natural para ele. E então asas gigantescas surgem nas suas costas, o que deixa Luce muito apavorada, mas Matt mantém seu aperto forte. Segundo depois ela começou sentir que seus pés não tocavam mais o chão. De um jeito estranho descobria que tinha medo de altura e que isso não era uma boa hora.

Luce começou gritar desesperadamente para que ele a colocasse no chão, o que parecia o divertir muito, pois a cada protesto ele subia mais e mais. Sua respiração era quente no pescoço de Luce, e a cada momento podia sentir um pequeno tremor, de certa forma isso a confortava. Quando finalmente pousaram, Luce saiu correndo para trás de alguma arvore e vomitou, sua cabeça girava e seus olhos ardiam com as lágrimas que não chegavam. Depois de algumas horas conseguiu se recuperar voltando para perto de Matt, que por sua vez já colocara sua camisa e trouxera água para ela.

— Por que fez isso?

— Havia alguém se aproximando, não podia deixar que a vissem, é arriscado demais.

— Obrigada. — Era o mínimo que podia fazer, agradecer por ter a protegido, apesar de fazer passar tão mal, como nunca passara em toda sua vida.

— Sério? Você está me agradecendo por ter feito você voar comigo e ter passado mal? Se soubesse que você é tão medrosa assim não teria feito isso.

— Cala boca, não sou medrosa coisa nenhuma, só não gosto de altura, só isso.

— Tudo bem então, eu acredito. — Matt gargalhou e Luce se juntou a ele. A tempos não conseguia rir daquele jeito.

— Ei Matt, por que ninguém nunca me conta a verdade?

— Não é que não te achamos capaz de não suportá-la Luce, é só que estamos tentando protegê-la de um jeito que você não entende. E não sou eu quem lhe deve resposta, não posso ajudá-la. Desculpe.

— Só queria saber o que significa tudo isso, e porque tudo na minha vida sempre está ligado ao Daniel. Eu o conheço a algumas semanas e parece que foi a minha vida inteira. E nem sei o que sinto por ele.

— Essa é a pior parte não é? Não saber quem você é.

— E então, qual é a sua história?

— A minha? Não é nenhum pouco interessante, só mais um anjo que caiu.

— Não vou forçá-lo a me contar, está tudo bem.

— Agradeço isso.

— Mas você queria que eu soubesse da existência dos anjos, quando me recomendou aquele livro não é mesmo?

— Sim, foi. Não queria que você vivesse no escuro para sempre.

Não parecia a resposta certa, mas Luce não insistiu. A noite chegara e com ela o cansaço também, antes que percebesse havia adormecido.











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