Dark Cloud escrita por Mamoru


Capítulo 4
Capitulo IV




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- Vamos lá Mana-chan. Seja um bom amigo e compre-me um refrigerante – disse Tetsuya.

Encarei-o descrente. Ele queria mesmo isso?

- Porque você mesmo não compra, Kurokumo? – perguntei e seu rosto ficou vermelho de raiva. Não por rebatê-lo, mas por chamá-lo assim. Ele resolveu fingir que o apelido não o afetava.

- Vamos, vamos! Só um refrigerante. Você não se considera... bom... o – de repente Tetsuya começou a cair de onde estava encostada e como reação tentei segurá-lo.

Consegui pegá-lo antes que caísse, mas quando senti sua pele percebi que estava pegando fogo. O que aquele cara estava fazendo ali? Estava obviamente com febre.

E agora estava desmaiado.

Levei-o para a enfermaria e ele era estranhamente já conhecido por lá.

- De novo? – a enfermeira perguntou infeliz.

- O quê? – disse confuso.

Ela somente balançou a cabeça e pediu que eu o colocasse em uma cama, que ela cuidaria dele. Sem alternativas, voltei para a sala, já que o intervalo tinha acabado.

Eu podia não ser amigo de Tetsuya, mas fiquei preocupado com ele. Aquele de novo não parecia bom sinal. Como posso dizer, eu não queria ele me enchendo, mas também não desejava nenhum mal para ele, longe disso.

Mais tarde resolvi passar lá novamente e sem querer ouvi o final da conversa dos dois.

- Dessa vez você ficou desmaiado por bastante tempo e está um pouco anêmico. Tem certeza que essa febre é normal? – perguntou ela preocupada.

- Não se preocupe sensei, eu sei bem o que tenho. A senhora não pode fazer nada, na verdade, poderia talvez... Mas eu prefiro assim – disse ele vindo em direção a porta, enquanto eu me aproximava e pude ver seu sorriso triste para ela. – Eu já me acostumei com a ideia.

- O que você tem? – perguntou com voz suspeita e embargada.

Tetsuya hesitou por um momento, então deu de ombros e disse.

- Isso realmente importa? – retrucou sorrindo triste e saiu, quando deu de cara comigo. – Oh, aí está você Mana. E o meu refrigerante? – perguntou, voltando ao nosso assunto, como se nada tivesse acontecido.

- Eu pago se você me explicar uma coisa – falei sem dar muitas voltas.

- Claro, mas tem que ser do que eu quero – advertiu e eu dei de ombros.

Comprei o refrigerante para ele e nós dois sentamos em um banco.

- Se você não falar rápido, eles vão me encontrar – falou e eu sabia que se referia ao seus amigos vândalos da escola.

- Você está doente – comecei e ele me interrompeu.

- Isso não é uma pergunta, Mana – alegou.

Suspirei. Ele não tinha paciência.

- Como eu nunca percebi isso? – perguntei finalmente.

- Você vive na Lua, como quer notar alguma coisa. Eu já estava doente quando comecei a te irritar, a diferença é que agora... – ele desistiu o que ia dizer.

- Agora...?

- Agora eu estou na crise blástica da minha leucemia. É isso – ele disse exasperado.

Eu não entendia muito bem dessa doença, mas um pressentimento ruim surgiu no meu estômago.

- O que isso quer dizer? – perguntei hesitante.

- Basicamente, que eu estou no estágio final da doença. Que eu vou morrer em breve – disse aparentando calma, mas pude notar quando amassou levemente a lata.

Fiquei calado. O que eu poderia dizer? De repente, estava ali o garoto que me perturbou durante um ano me dizendo que tinha pouco tempo de vida. Eu não tinha ideia do que dizer para ele. Julguei que o silêncio seria mais apropriado.

Ele suspirou.

- Eu não quero ninguém com dó de mim e não quero passar meus últimos dias trancafiado em um hospital fazendo quimioterapia e esperando alguma doação de medula óssea. Até mesmo fazendo isso eu poderia não sobreviver nesse estágio. Eu prefiro ficar assim. Minha mãe respeita minha opinião e é isso que importa, mas se mais alguém da escola descobrir sobre isso, poderá espalhar e todos ficarão com uma pena que eu dispenso. Eu falo pra você por que... Bom, você mesmo já disse que não tem para quem contar nada – ele disse e riu, fazendo uma pequena pausa. – Às vezes eu me sinto assim também, eu não posso falar da minha doença com ninguém. Deve ser horrível não poder falar nada com ninguém o tempo inteiro.

Quando ele começou aquele pequeno discurso tão calmamente, passei um tempo tentando reconhece-lo. Não parecia o Tetsuya que eu conhecia, que chegava ao ponto de parecer imperativo.

Ali estava um cara falando sobre sua doença, totalmente conformado com o fato de que iria morrer em breve lhe contando que...

- É por isso que você vem sempre tentar falar comigo? – perguntei hesitante, com medo de estar errado. – Porque acha que eu não devo gostar de ficar sozinho?

- No começo sim – admitiu.

- Mas eu fico sozinho porque gosto – contei a ele.

- Eu percebi isso. Agora o que eu queria realmente era fazer você perceber a sorte tremenda que você tem e está desperdiçando, ficando sozinho – disse amassando a lata, sem conseguir esconder mais sua frustração comigo encarou-me com os olhos marejados. – Você tem aí uma longa vida se estendendo para você, vários possíveis amigos. É um cara legal, tem valores bons, se deixar que os outros te notem eles também vão perceber isso Mana. Porque se esconde?! Frustra-me ver alguém como você! Eu agradecendo por cada dia que acordo e você olhando para o céu só vendo o tempo passar!

Dei de ombros devagar.

- Eu não tenho o que fazer com minha vida Kurokumo. Se eu pudesse eu dava ela a você. Eu poderia ter amigos, mas não tenho por escolha própria. Eu não tenho mais família e não tem me esperando quando chego em casa. Ninguém nunca esperou nada de mim e eu nunca dei motivos para isso – disse olhando para a lata em sua mão.

- Eu espero algo de você! – disparou.

Levantei o rosto para encará-lo. Ele estava decidido, chorando... Mas decidido.

- Eu vou fazer você mudar Mana, nem que seja a ultima coisa que eu faça. Literalmente.


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