- Oi.

Harry chegou à porta de casa, com uma mala e o rosto triste.

- Hm... Oi?

Ele levantou o rosto e eu vi seus olhos inchados e o rosto vermelho. Prestei bastante atenção e notei um pequeno corte no lábio inferior. Algo havia acontecido, isso era óbvio, e eu realmente não estava preparada para saber o que era.

- Posso entrar?

Sua voz era fraca. Eu sentia pena dele, mas então me lembrei de tudo que havia ocorrido. Mágoa. Humilhação. Tristeza. Dor. Traição. Ele era Harry Styles. Eu não podia abaixar a guarda tão simplesmente. Seria assinar uma sentença de morte. Ou sofrer outra vez.

- Eu deveria deixar? – Perguntei com desdém.

- Por favor.

Ele disse, a voz baixa. Eu podia ver que ele estava mal. E, por algum elo – talvez algo criado no passado – eu podia sentir que ele estava mal. Suspirei.

- Entre.

Dei espaço para ele e ele passou com a pequena mala para dentro da sala. Seu rosto mudou, e eu vi algo que me parecia um sorriso. Pequeno, mas um sorriso. E eu vi naquele pequeno sorriso o antigo Harry. O Harry que eu amei um dia.

- E então? – Perguntei. Ele me olhou, confuso – Por que está aqui?

Seu pequeno sorriso foi embora tão rápido quanto veio.

- Eu briguei com Louis.

Claro. Seu melhor amigo, seu braço direito, seu mais famoso bromance. Eu não queria parecer intrometida, mas ele estava na minha casa, duas horas da manhã. Eu tinha o direito de perguntar o que quisesse. E foi o que fiz.

- Por que?

Ele me olhou confuso. Como se fosse algo estranho eu estar perguntando isso.

- Ele... Eu não quero falar sobre isso.

- Styles, você aparece na minha casa duas horas da manhã, pedindo abrigo e não vai me contar por que você e o retardado do Louis brigaram? Se fode garoto – Eu disse, irritada.

- Ele disse que eu estava errado. Que tudo que eu tinha feito era errado. Que eu...

Ele não acabou. Sua voz, antes falha, agora havia parado. Ele chorava soluçando, e aquela cena sim me deu pena. Harry não era mais o mesmo garoto de antes, e eu não sabia se isso era bom ou não. Podia ser tanto um quanto outro. Fui abraçá-lo.

- Não precisa me contar agora. Me conte quando se sentir preparado. Mas você vai me contar, tudo bem? – Perguntei. Ele assentiu.

- Ótimo – Eu disse, continuando – Temos um acordo. Vou levar suas coisas lá para cima. Tenho um quarto de hóspedes pra você ficar até eu decidir o que fazer com você.

Eu peguei as coisas dele e comecei a subir as escadas, quando ele disse:

- Kim?

Tremi. Me virei e perguntei:

- O que foi?

- Eu vou passar um tempo aqui, e acho que...

- Não Styles – Eu interrompi-o – Você fez as escolhas erradas.

E subi. Era hora de crescer. E agora, eu sabia que tinha crescido.

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Ele subiu para o quarto minutos depois de mim. Deitou na cama já arrumada e me deu boa noite. Eu respondi o mesmo e fui para o meu quarto. Lá, encontrei meu diário. Não era bem um diário, era um caderno escondido. Eu sempre escrevia nele desde os meus treze anos, era um jeito de desabafar. Eu tinha poucos amigos, e quando me mudei eles diminuíram consideravelmente. Ainda assim, eu tinha meus amigos e estava feliz assim. Comecei a escrever do mesmo jeito que Katniss faz em um de meus livros favoritos, o último da trilogia de Jogos Vorazes.

“Oi. Sou Kimberly Austtin. Tenho dezessete anos. Moro em Londres desde os quinze. Morei em Holmes Chapel desde os doze. Minha mãe e meu irmão moram no Brasil. Meu pai morreu quando eu tinha cinco anos. Só namorei uma vez na vida. O garoto quebrou meu coração me humilhando. Esse garoto está na minha casa. E eu vou pirar.

Sabe aqueles dias onde você se sente confusa? Não sabe mais o que pensar de todos? Pois é. Eu estou assim agora.

Faz anos que eu deixei de pensar no Styles. Quando ouvi “One Direction” e “Harry Styles” e “Fama” na mesma frase, comecei a tremer. Foi há muito tempo atrás. Tudo bem, não muito tempo. Faz apenas dois anos, mas eu me lembro bem. O “novo sucesso do momento” é One Direction, é o que dizem as revistas e jornais. Às vezes ele não parece o “garoto famoso daquela banda famosa”. É só o Harry, aquele Harry que eu conheci. Lembro-me de estar assistindo a TV e de repente parei em um programa de música, o The X-Factor. E ele entrou, cantando como eu conhecia. A música era seu sonho. E ele conseguiu.

Ele voltou, sabe? E eu não consigo entender como ele me achou. Mas eu não vou perguntar. Não vou dar a ele o gosto de me ver curiosa. Ele agora tem amigos, como o Louis. Eu cheguei a conversar com ele, encontrei-o na rua outro dia e o fiz prometer que não contaria ao Harry que eu estava ali. Eu deixaria Harry acreditar que eu ainda estava no Brasil. Mas Louis é um boca grande que ninguém segura. Eu não gosto dele estar de volta para Londres. Não gosto de ele estar de volta para mim. Tenho medo do que ele pode tentar. Agora, eu preciso dormir.

Amanhã vai ser um longo dia. Xx”

Fechei o caderno e tentei dormir. Passei uma meia hora pensando, acordada. Quando dormi, tive sonhos com meu passado, incluindo Harry.