Vincent olhou temeroso para a taça de sangue em suas mãos e lentamente a levou aos lábios. Era essencial que Markus bebesse. Fechou os olhos.

Bill não entendia porque o amigo estava tendo reações tão estranhas. Era só um copo de sangue com vinho... Não era? Vincent era um vampiro, porque ele hesitaria em beber sangue? Desviou seu olhar para Kirian, que olhava fixamente para o príncipe, então viu Alexia... Apertando fortemente entre as mãos um frasco vazio.

Seus olhos se arregalaram e suas pupilas dilataram-se. Seu sangue estava ali!

- Vincent! – chamou antes que o amigo ingerisse a bebida – Posso... Experimentar?

Quase todos na sala o olharam espantados, Kirian logo mudou a sua para aprovação e Markus parecia muito curioso.

- Você... Um humano Puro? – ele perguntou realmente admirado.

- Sou uma pessoa muito curiosa, Markus – Bill disse pegando a taça da mão de Vincent – E quando se passa tanto tempo na companhia de vampiros, não tem como não querer saber como é o gosto de sangue, principalmente misturado com vinho, que eu nunca vi antes.

O jeito que Bill falava parecia tão espontâneo e casual que qualquer um acreditaria que ele dizia a verdade... E quem pensasse isso não estaria errado se olhasse por um certo ponto de vista. Realmente Bill tinha a curiosidade, mas não tanta assim.

Ele sorveu lentamente o conteúdo da taça. Não era ruim, mesmo para um humano. A textura era grossa e o gosto levemente salgado, o vinho tinto que havia sido misturado dava um sabor especial, como se fosse um tempero.

 - Eu gostei – ele disse entregando a taça vazia para Markus – Beba um pouco também, Markus, você está mais pálido do que o normal.

La Rochelle, França...

- Não! – Tom sentou-se na cama de súbito.

Gustav e Georg correram tranquilizar o amigo, mas Ariel permaneceu sentada em sua poltrona.

- Calma, Tom, foi só um pesadelo. – Gustav disse sentando-se ao lado dele.

- Não... – disse o guitarrista com os olhos vidrados em algum ponto invisível – Bill... Bill!

- Bill está com Vincent – disse Georg – Ele vai ficar bem.

- Deixem-no – disse Ariel sem desviar sua atenção do livro – A hora do Bill está chegando, ele sente isso.

- HORA DO BILL? – Gustav praticamente berrou de surpresa – Desculpe, hora do Bill? Como assim?

Ariel suspirou e fechou o livro.

- Todo Puro tem um destino. – ela explicou - Ao contrário dos humanos comuns, os Puros não podem mudar seus destinos, podem apenas fazer as escolhas certas para aproximá-lo ou afastá-lo. Bill decidiu adiantar e ele sabia disso quando foi com Vincent. Mas eu estou mesmo é preocupada com o Tom.

- Que destino é esse? E porque preocupada com o Tom? – perguntou Georg.

- Dar sua vida humana por quem ama – Ela disse em tom de lamento – E Tom pode sofrer quando chegar a hora, e me refiro à dor física junto com psicológica... Ele pode não aguentar, porque a dor do Bill será imensa. – terminou mordendo os próprios lábios.

- Espere um pouco – disse Tom olhando para Ariel como se a previsão de seu sofrimento não fosse importante – Você disse “dar sua vida humana por quem ama”. Bill é só metade humano. O que vai acontecer com a outra metade?

Cluj Napoca, Romênia...

Vincent pensava em vários modos de derrotar Markus. Pela luta com Jeanne, percebeu que em combate físico Markus teria uma vitória esmagadora, só poderiam vencer através da inteligência, e mesmo assim...

Olhou a tapeçaria, os móveis, os quadros, bem como os vidros de bebida alcoólica sobre uma mesinha. Poderia facilmente incendiar o lugar, apenas aquele cômodo bastaria se obstruíssem a porta, que era o único meio de sair da sala.

Pela lógica os únicos vampiros seriam o círculo mais próximo de Markus, os responsáveis por sua segurança, que estavam certamente do lado de fora da sala esperando para atacar. Se conseguissem atrair todos para dentro, e então incendiar... Seria perfeito.

Kirian, ao lado de Selene parecia ter chego à mesma conclusão.

- É bonito ver que ainda existe amizade – Markus disse enquanto virava-se para colocar a taça na mesinha – Ainda mais entre espécies diferentes... O triste é ver que seres da mesma espécie são capazes de se apunhalar pelas costas.

- Sabe como é a lei da sobrevivência, Markus – disse Vincent – Os mais fortes sobrevivem.

- De fato – Dracul concordou – Só que esse é um truque muito baixo! – ele gritou jogando a garrafa contendo o a mistura com o sangue de Bill contra a parede – Como chegaram mesmo a cogitar a possibilidade de eu não ter percebido o cheiro?  Acho que superestimei vocês e não são dignos de minha piedade, matarei todos e foda-se Amélia, ela é a próxima!

Um arrepio subiu pela espinha, então, sem pensar nas consequências, Bill pegou um caco da garrafa que havia caído próximo a si e fez um corte em seu pulso.

Selene gemeu de dor e mordei o próprio lábio, agarrando-se a Kirian, que mantinha os braços dela imobilizados. Alexia e Vincent olhavam assombrados para o Puro que chegava perigosamente perto de Markus, este travou todos os músculos de seu corpo.

- Você disse que ficou com sede depois de lutar com a Jeanne – Bill disse com a voz firme, embora por dentro estivesse temeroso – Eu te ofereço o meu sangue, pode sugá-lo.

“Bill, não” uma voz ecoou em sua cabeça... Tom, de alguma forma o seu amado irmão sabia o que estava acontecendo.

“Vai ficar tudo bem” respondeu em pensamento, incerto tanto de Tom ouvi-lo quanto de suas próprias palavras.

- Eu não sou burro, Kaulitz, sei o que acontecerá comigo caso eu prove do seu sangue... Mas você sabe o que acontecerá com você?

- O quê?

- Você sentirá seu sangue queimar, será como ter ácido sulfúrico correndo por suas veias, será tanta dor... Será que você aguentaria, parece tão frágil... – Markus provocou.

Bill não pôde deixar de ter medo. A ideia de se contorcer de dor não lhe era nada atrativa, mas então olhou em volta, para os vampiros que não mediram esforços para mantê-lo salvo e nunca pediram nada em troca.

Alexia, que tinha deixado Tom para tentar pôr fim ao vampiro que ameaçava a vida dele; Vincent, que perdera várias horas de seu tempo para treiná-lo e, mais do que isso, fora seu amigo e companheiro; Kirian, a quem pôde confiar seu sangue e o amor de sua vida... E Selene, que sofreu dias seguidos por sua proximidade e por quem finalmente sentiu um amor diferente daquele que tinha por Tom, completamente diferente.

Tom... Sentiria sua falta, mas sabia que o irmão ficaria bem, em boas mãos e cercado por amigos.

Georg, Gustav, David, seus fãs... Eles superariam a sua morte, o Tokio Hotel poderia continuar com um novo vocalista, Andréas tinha uma boa voz... Só estava curioso para saber o que inventariam para justificar sua morte, a única coisa que, por ironia, jamais saberia.

O mais engraçado era que agora percebia que desde o começo seu plano não foi voltar vivo.

Tudo isso passou pela sua cabeça como um flash. Todos os seus amigos dependiam apenas de sua decisão, eles fizeram tanto por si... Era hora de retribuir.

Buscou em seu interior a coragem, a ousadia e a força para dar o seu veredicto.

- Eu, sinceramente não me importo, Markus, está na hora de eu retribuir tudo o que eles fizeram por mim – sua voz, para a felicidade do próprio, não falhou em nenhum momento.

- Bill, não – Selene gemou.

- Desculpe-me, Sel. Eu te amo, e quando voltar a La Rochelle, diga ao Tom que eu o amo. – Bill disse olhando em seus olhos.

La Rochelle, França...

“- Desculpe-me, Sel. Eu te amo, e quando voltar a La Rochelle, diga ao Tom que eu o amo. – Bill disse olhando em seus olhos.” Tom leu em voz alta.

- Bill, eu também te amo... – o guitarrista disse vendo suas próprias palavras aparecendo no livro.

- Como assim? Ele vai se matar? – Georg perguntou com os olhos arregalados.

“- Como assim? Ele vai se matar? – Georg perguntou com os olhos arregalados.” Tom repetiu as palavras do amigo segurando um riso.

- Mentira! Eu não arregalei os olhos! – contestou o baixista.

- Briga com o livro – Tom respondeu rindo.

- Parem vocês dois – Gustav os censurou – É do Bill que estamos falando. Que idiota, eu não continuo no Tokio Hotel sem o Bill, mesmo o Andréas sendo meu amigo.

- Eu também saio – disse Georg.

- Eu nunca ficaria em um lugar onde o Bill não esteja... Eu vou morrer junto com ele. – disse Tom de modo sombrio.

Os G’s o olharam assustados, mas Ariel mantinha-se impassível ao lado da janela à luz da lua. Dera o Livro do destino a Tom para que ele pudesse ler junto aos amigos, era justo que eles soubessem em tempo real o que acontecia com Bill.

- Mas Tom, ele não vai...

- Eu sei, Gusti, mas eu não vou aguentar – disse o guitarrista deixando uma lágrima cristalina e solitária marcar seu lindo rosto. – Estão aparecendo mais coisas.

“- Calma aí – Markus se impôs – Você fala como se eu realmente estivesse disposto a te morder”...

Cluj-Napoca, Romênia...

- Calma aí – Markus se impôs – Você fala como se eu realmente estivesse disposto a te morder.

- Você está, Markus, você está sedento – Bill respondeu – E quebrou a sua única garrafa de sangue, eu sou o único humano aqui e creio que não vá querer morder vampiros para sentir um sangue mais viscoso e menos apetitoso.

- Você está certo quando disse que estou sedento, por isso eu me contento com sangue vampiro – Dracul respondeu entrando no mesmo jogo.

- Não quando você tem um humano tão perto – o Puro respondeu aprofundando ainda mais o corte, deixando que seu sangue pingasse e começou a se aproximar perigosamente de Markus.

Alexia avançou para detê-lo, mas Vincent a segurou.

- Foi a escolha dele, temos que respeitar, ele respeitou quando tomamos as nossas. – disse o príncipe.

Markus recuava na medida que Bill se aproximava, até que percebeu o quanto estava sendo patético e tentou avançar contra o Puro. Porém, para a sua infelicidade, tinha segurado justamente nos braços de Bill, inclusive no machucado e a pressão fez o sangue sair ainda mais. Markus começou a tremer levemente, sua respiração ficou um pouco mais pesada. Escorregou a mão para a região machucada e sentiu a textura do sangue. Então, como se voltasse a si, soltou Bill e ia se distanciar, mas o artista o segurou com a mão boa, fazendo-o olhar em seus olhos.

- É o que você quer e o que você precisa, eu serei o seu alimento, suga o meu sangue.

Se fosse premeditado Bill nunca teria conseguido, mas na hora ele se esqueceu de um pequeno detalhe que foi a única coisa que fez dar certo.

A musculatura de Markus enrijeceu-se e como se estivesse sendo controlado por fios invisíveis. Aproximou-se de Bill e encravou seus dentes no alvo e macio pescoço do Puro.

Alexia fechou os olhos e abraçou-se com Vincent, Selene chorava abraçada com Kirian.

La Rochelle, França...

Tom soltou um grito assustador e deixou o livro escorregar de suas mãos encontrando o frio piso de mármore.

O corpo do guitarrista foi para trás chocando-se com o fofo colchão, Georg e Gustav levantaram-se assustados, Ariel calmamente abriu o livro na página certa e viu que a escrita tinha parado, aquilo significava que tinham mais uma escolha a se fazer.

- Gustav, vai chamar a Melanie; Georg, procure o Victor. Rápido – ela ordenou vendo os dois saírem do quarto imediatamente.

Tom contorcia-se em cima da cama e suava muito. Ariel colocou a mão em sua testa, acalmando-o por um momento e conseguir tirar sua camisa.

Sim, estava acontecendo, a marca do puro estava brilhando.

- Tá queimando – Tom disse tentando levar a mão á marca – Tá queimando, faz parar.

- Tom, calma, não dá pra fazer parar, isso acontece quando um Puro é mordido. Você precisa ser forte. – ela respondeu.

- Eu não consigo, eu vou...

- Tom, não desmaia agora, ressista!

- AAAAAAAAAAHHHHHH – ele gritou.

Victor e Melanie entraram no quarto como um trovão.

- Porque mandou chamá-lo? – Melanie perguntou apontando para o vampiro loiro – Ele não é confiável.

- É o único médico que ficou aqui, além do mais ele não seria idiota de tentar algo contra o Tom. – a princesa respondeu ferina. – Victor, ajuda ele.

O vampiro loiro foi até o guitarrista e o examinou.

- Nada bom, ele está com febre alta... – disse – Para ele ser atingido eu acho que o irmão dele está sofrendo muito.

- Eu acho que não – disse Melanie vendo o livro – Ariel, dá uma olhada nisso aqui.

“Bill sentia um pequeno incômodo, mas nada tão forte como Markus havia dito. Uma lágrima pendia de seus belos olhos âmbar porque deixaria para trás tudo o que mais amava, mas ele não sentia dor, não sentia quase nada. Sentia seu sangue sendo puxado para fora de seu corpo, sentia uma ardência onde Markus estava com os dentes encravados, sentia a dor do corte no pulso, mas tudo aquilo não era nada”.

- O Tom está recebendo toda a carga, mas por que? – ela se perguntou.

- Ariel, vamos perdê-lo – disse Victor segurando o pulso de Tom.

- Não, não podemos – ela respondeu – É a marca, ela que faz isso.

- Seja o que for, se ele está recebendo toda a dor, sendo um humano comum ele não vai aguentar, seria normal se ele recebesse um pouco, mas toda? Ariel, é impossível, se quiser que ele continue andando por essa terra, ele vai ter que ser transformado, e como consrte de um membro do Conselho, você pode fazê-lo sem a autorização da Amélia – Victor disse sério – E acredite, a rivalidade que eu tenho com o tal de Bill não tem nada a ver com isso, eu sou médico e no trabalho eu sou profissional.

Ariel assentiu, confiava nele.

- Não, não me transforme – Tom gritou – Eu não vou viver eternamente sem o Bill!

- Tom, seu lesado – Georg chegou perto do amigo e lhe deu um tapa na cara – Você não ouviu o que a Ariel disse antes? Bill não vai morrer, caralho, aceita logo essa porra de transformação antes que eu mesmo te mate! – os olhos do baixista estavam cheios de lágrimas que escorriam livremente por seu rosto – Por favor, irmão, se não é capaz de fazer por você, faça pela gente... Faça pela gente – Georg suplicou.

Gustav aproximou-se e colocou uma mão no ombro de Georg.

- Tom nós estamos aqui com você. – disse o baterista – Enfrentamos muita coisa juntos. Se você quiser ir, pode ir, mas saiba que logo em seguida eu irei e depois o Georg.

Tom olhou para os amigos por um segundo, e fechou os olhos.