Ele observa as luvas branco-puríssimo e as mangas cor de azeviche cuidadosamente colocarem um ornamentado prato em sua escrivaninha, ao lado de uma xícara de chá florida. Se trata, como ele percebe, de um denso e consideravalmente simples bolo de chocolate meio amargo com cheiro de framboesas posto dentro de uma inútil, porém bela caixa de renda feita de chocolate ao leite. Ele supõe que será difícil comê-la sem sujar-se, mas ela derrete suavemente ao toque do intrincado garfo de prata. O sabor é um tanto quanto diferente do que ele esperava. Mais rico, no entanto também mais adocicado e só um pouco delicado.

"É doce.", ele comenta, sem desviar os olhos dos papéis, porém sem continuar a ler.

"Não está de acordo com seu paladar?", o homem pergunta, parecendo levemente preocupado. Ambos sabem que ele não está.

"Não, é bom. Do que é feito? A framboesa e o chocolate ao leite eu entendo, mas por que não tem gosto de chocolate meio amargo?"

"Porque temo não ter usado chocolate meio-amargo. A caixa é feita de puro chocolate semidoce, embora eu tenha desenhado as rosas com chocolate ao leite. Quanto ao bolo, é uma criação minha usando o novo chocolate sem açúcar Phantomhive."

"E suponho que o chá seja o que Lizzie me deu, rosas e menta."

"De fato."

"Forte, amargo e frio.", o garoto sorri ironicamente, levantando os olhos, "Minha alma tem o mesmo gosto, Sebastian?"

"Ainda não tive o privilégio de experimentá-la."

"Mas acha que sim."

"Eu não entendo o paladar humano, e você tem consciência disso. Mas se me permite uma suposição, sim, imagino que tenha o mesmo sabor. Forte e amargo, mas não completamente. Parece doce e quente, mas é frio. Black as night or spotless white, como dizem. Como chocolate de alta qualidade."

Como um tabuleiro de xadrez.

Não existem cores no xadrez. Também não existem tons. Realmente, tudo é, como dizem, negro como a noite ou branco imaculado.

E ele não precisa ser lembrado disso. Ele sabe a que cor pertence.