NU E PJ: O Ladrão De Raios escrita por The Amazing Spider Green


Capítulo 1
Meu amigo e eu entramos na Zona Crepúsculo


Notas iniciais do capítulo

Escutem, eu só queria tentar uma ideia assim, e espero que seja de seu agrado.



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N
A
R
U
T
O

Escute, para você ter alguma ideia, eu não queria ser um meio-sangue.

Se você está lendo esta Fic porque acha que pode ser um, meu conselho é o seguinte: delete esta janela agora mesmo. Acredite em qualquer mentira que sua mãe ou seu pai (se você tiver mãe ou pai) lhe contou sobre seu nascimento, e tente levar uma vida normal.

Ser um meio-sangue é perigoso. É assustador. Na maioria das vezes, acaba com a gente de um jeito penoso e detestável. Mesmo eu, que adora um bom desafio, tenho um certo medo da minha vida, mas consigo esconder.

Se você é uma criança normal, que está lendo isto porque acha que é ficção, ótimo. Continue lendo. Eu o invejo por ser capaz de acreditar que nada disso aconteceu.

Mas, se você se reconhecer nestes capítulos - se sentir alguma coisa emocionante lá dentro -, pare de ler imediatamente (e vá ao banheiro). Você pode ser um de nós (ou está com uma indigestão terrível, mas o que importa é que estas duas coisas são terríveis. Mas eu acho que talvez não seja a indigestão). E, uma vez que fica sabendo disso, é apenas uma questão de tempo até que eles também sintam isso, e venham atrás de você.

Não diga que eu não avisei.

* * *

Meu nome é Naruto Uzumaki.

Tenho doze anos de idade. Até alguns meses atrás, era um ninja de um mundo diferente ao qual estou hoje.

Deixe eu contar desde o começo.

Eu estava na ponte ainda em construção do País das Ondas, com meu melhor amigo e maior rival, Sasuke Uchiha, em meus braços, cheio de agulhas pelo corpo, assim como eu.

– Sasuke? - Murmurei tristemente.

– Essa é a primeira vez que você vê um amigo morrer em batalha. - Haku, um ninja falso da Aldeia da Névoa, disse. - Isso é o que significa ser um ninja.

Eu, naquele momento, senti um ódio profundo queimando em meu peito. Um ódio que nunca esperei sentir. Senti meu coração bater mais rápido, enquanto podia sentir minha pele ardendo, meu sangue fervendo e meus batimentos cardíacos aumentando mais, mais, e mais...

– Cale a boca. - Rosnei com os olhos cerrados e tremidos, assim como todo o meu corpo.

Eu também odiava você, Sasuke, pensei, enquanto o colocava suavemente no chão.

Mas mesmo assim...

Ouvi um "Shhhhhhhhhhhh", como o chiado de um bule quando a água está totalmente fervida.

Eu tremi.

– Ele vai pagar por isso...

Sentia meu corpo agora inflamando de tão quente, enquanto ouvia rosnados guturais e selvagens. Demorou um pouco para eu perceber que eram meus próprios rosnados.

Abaixei a cabeça, sentindo a tensão invadindo cada músculo meu, até que a levantei, e, sem pensar, gritei:

Eu vou matar ele!

Eu olhei tudo à minha volta, e notei que um chakra vermelho e estranho estava me envolvendo, como serpentes rodando de um lado para o outro. Olhei para minhas mãos, para ver que, ao invés das minhas unhas que já me acostumei a ver, estavam garras afiadas e brancas, feitas especificamente para matar uma presa.

Eu sentia uma dor enorme nos dentes caninos, e via que minha visão estava ficando avermelhada, porém melhor.

Eu sentia um ódio profundo. Eu queria matar aquele cara. Eu o odiava. Ele matou meu melhor amigo. Eu queria vingança. Então, por fim, sucumbindo à vontade de matar, coloquei minhas mãos no chão, ficando em uma posição animal, e rosnava como um urso.

Fiquei impaciente, e investi.

GRAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHH!

Meu filho...

Ahn...

Eu logo me vi inconsciente...

* * *

Ao acordar, me vi em cima de uma cama, em um quarto escuro, o que me confundiu. Olhei tudo à minha volta, e notei que ao meu lado estava um tipo de bolsa esquisita, de couro, que só depois de um tempo saberia ser uma maleta masculina.

Olhei para dentro dela, para ver que dentro dela tinham vários pergaminhos e armamentos shinobi de ótima qualidade, o que me surpreendeu. Eu só tinha as piores armas.

Notei que uma carta estava dentro dela também, então a retirei e vi o que estava escrito, para ver uma carta escrita em uma letra cursiva firme, porém suave.

Naruto, suponho que tenha muitas perguntas, mas não poderei respondê-las, pelo simples motivo de ser perigoso demais, e também porque meu irmão está pegando no meu pé. Eu era conhecido como o Yondaime Hokage, mas também sou seu pai. Para o seu mundo, estou morto como Minato Namikaze há doze anos. Eu selei a Kyuubi em você. Não o culparei se me odiar, mas quero que saiba que estou fazendo o melhor que posso por você. Dentro desta maleta estão pergaminhos que contêm os segredos do clã de sua mãe, e armamentos, caso precise se defender.

Eu o retirei de Konoha, até mesmo dos Países Elementais, e o enviei em um novo lugar. Está nos Estados Unidos, mais especificamente na cidade de Nova York. Como está nesta dimensão, e nela é necessário que garotos da sua idade estudem, o enviei até a Academia Yancy. Você está dentro dela neste momento. Na sua maleta estão os materiais escolares necessários para você.

E, se você puder, leia uma coisa ou outra sobre mitologia grega. Irá lhe ajudar bastante.

Sinto muito por sua vida, meu filho. Eu lhe dei um destino terrível. Um destino que não deveria ser dado a nenhuma alma mortal, principalmente a sua.

Minato

Lágrimas escorriam por minhas bochechas. Quer dizer que agora eu não estava mais em Konoha? Que agora estava em outro lugar? Um novo mundo?

Bem, aquele parecia o início de uma nova vida para mim. Talvez conseguisse ter uma vida melhor, pelo menos. Mudar...

É... Talvez estar naquela nova terra não fosse tão mal assim...

* * *

E, a partir daquele dia, estou na Academia Yancy há uns oito meses, uma escola particular para crianças difíceis que sempre se metiam em encrencas no norte do estado de Nova York.

E sim, isso faz de mim uma criança difícil. Muitos professores dizem isso por eu ter dislexia e o transtorno do déficit de atenção, coisas que inicialmente eu nem sabia o que eram.

Eu odiava a Academia Yancy. Era um local chato e desinteressante.

A única coisa boa era a amizade que eu tinha feito com Percy Jackson, um garoto com cabelos negros desgrenhados e olhos verdes da minha idade, que foi diagnosticado com dislexia e com transtorno do déficit de atenção, como eu. Nós éramos muito amigos principalmente por aqueles motivos. Nós éramos iguais. Entendíamos um ao outro. Era um cara que não prestava muita atenção nas aulas, e que odiava participar da Academia Yancy, e que só fazia aquilo por causa de sua mãe. Ao contar para ele sobre minha origem shinobi, a amizade entre nós só havia crescido. Ele queria muito poder fazer clones para fazer seu dever de casa, o que me fez sorrir.

E aquela amizade me fez conhecer Grover Underwood, outro amigo meu, um garoto magrelo, e que chorava quando ficava frustrado. Devia ter repetido o ano muitas vezes, pois era o único no sétimo ano que tinha espinhas e uma barba rala começando a nascer no queixo. Era aleijado, e tinha um atestado que o dispensava da Educação Física pelo resto da vida, pois tinha uma doença muscular nas pernas. Mas não se enganem por sua aparência frágil. Se você vê-lo no dia de enchilada na cantina, você saberá o que quero dizer. Na minha opinião, ele era um hippie, pelo modo como se vestia e também por ser vegetariano, mas ele ainda era um cara muito legal.

Naquele momento, eu e os meus amigos estávamos sentados nos nossos bancos no ônibus das excursões da Academia Yancy. Percy e Grover estavam sentados juntos, enquanto eu me sentava atrás deles, sozinho, encostado na parede do ônibus, e com as pernas no assento ao lado do meu (eu aproveitava a chance de relaxar as pernas). Nós estávamos naquele ônibus pois iríamos para uma excursão até o Metropolitan Museum of Art, para observar velharias gregas e romanas. Era uma tortura, mas, ao menos, nosso professor de latim, Sr. Brunner, estava indo com a gente.

Sr. Brunner era um homem de meia-idade que tinha uma cadeira de rodas motorizada. Tinha o cabelo ralo, uma barba desalinhada e usava um casaco surrado de tweed que sempre cheirava a café. De primeira vista, parece ser um homem chato, mas era o único professor que eu gostava, pelo motivo de ele contar várias piadas e nos deixar fazer brincadeiras em sala. Era um ótimo professor, na minha opinião.

Eu notei que Percy vestia uma camiseta laranja e um jeans preto, e tênis brancos com detalhes pretos. Grover usava suas muletas habituais, e vestia uma camiseta amarela com um jeans azul que cobria seus sapatos.

No meu assento, eu me irritava (e acho que Percy também, pois ouvia rosnados no banco da frente) por ver como Nancy Bobofit, uma ruivinha cleptomaníaca irritante que adorava atazanar nossas vidas, lançava pedaços de um sanduíche com manteiga de amendoim em Grover, que agora tinha vários pedaços grudados em seus cabelos castanhos cacheados. Ela sabia que Percy não poderia revidar contra ela, pois ele estava sob o risco de ser expulso, e se ele se metesse em mais uma encrenca, ele seria expulso.

Graças a minha audição apurada, pude ouvir Percy murmurar.

– Eu vou matá-la.

– Está tudo bem. Gosto de manteiga de amendoim. - Grover disse, tentando acalmá-lo.

– É, mas segundo minhas últimas estimativas, manteiga de amendoim é para ficar no estômago, não no cabelo. - Rebati, dando um sorriso selvagem. Eu usava um casaco de couro sem mangas, com o zíper aberto e por baixo uma camisa laranja um pouco grossa com as mangas dodradas até os cotovelos, com um capuz laranja, que saía pela gola da jaqueta, e tinha um zíper fechado até a região do peitoral, mostrando uma parte da minha camiseta preta de manga curta, com o desenho do rosto da caveira de uma raposa. Eu também usava um jeans preto largo com as partes do joelho rasgadas e com uma corrente presa na parte onde se põe os cintos, que escondia a maior parte dos meus tênis laranja com detalhes pretos.

Grover acabou de se esquivar de outro pedaço do lanche de Nancy.

– Agora chega. - Percy começou a levantar, mas Grover o puxou de volta para o assento.

– Você já está sendo observado. - Ele o lembrou. - Sabe que será culpado se acontecer alguma coisa.

– É, mas eu não estou sendo observado. - Eu disse, com um sorriso malicioso, levantando do meu assento e caminhando pelo corredor do ônibus, parando no assento de Nancy, com um sorriso simpático. - Nancy, eu não sei se você notou, mas está chateando meu amigo, e eu peço a você que pare.

– Ou o quê, Uzumaki? - Ela disse, zombando de mim.

– Ou isso. - Respondi, mantendo o tom simpático, enquanto pegava um pedaço do sanduíche de Nancy, e o jogava para a janela fechada, e quando o pedaço bateu no vidro, um buraco do tamanho dele se formou, enquanto o pedaço voava pelos ares fora do ônibus. - Você entendeu?

– S-sim. - Ela gaguejou, assustada.

– Obrigado. - Agradeci, aumentando o sorriso, e caminhando de volta ao meu assento. - Viram, é assim que se faz.

– Também, com essas habilidades ninja. - Percy resmungou.

Eu apenas ri, achando graça daquilo.

Este garoto me diverte. Gosto dele.– Ouvi uma voz dizer na minha cabeça, uma voz que já conhecia muito bem.

Eu também, Kyuubi, pensei. Eu sorria muito.

Eu sinto um certo ódio do meu pai por ter selado a Kyuubi em mim. Não me julgue mal, sei que ele fez isso pelo bem da vila, mas selar ela dentro de mim? Por que eu? Ele sabia que isso me faria sofrer pela mão dos aldeões. Mas agora eu estava em um outro mundo. Tinha uma nova vida, e minha antiga vida não estragaria aquilo.

Pelo menos, Kyuubi e eu havíamos desenvolvido um tipo de... Ligação. Enquanto estudava na Yancy, a Kyuubi me ajudava com as coisas, e a partir daí desenvolvemos um laço de irmãos, então decidi unir nossos corpos. Agora, ela não estava selada em mim. Éramos um só. Eu era agora parte demônio (pena que não fiquei mais musculoso, ou com feições adultas, mas pelo menos tinha habilidades úteis) mas eu e ela ainda podíamos conversar. Podíamos ter o mesmo corpo, mas ainda tínhamos mentes divididas.

* * *

O Sr. Brunner guiou o passeio pelo museu.

Ele foi na frente em sua cadeira de rodas, conduzindo-nos pelas grandes galerias cheias de ecos, passando por estátuas de mármore e caixas de vidro repletas de cerâmica muito velha preta e laranja (viva ao laranja).

Via que Percy estava de boca escancarada, os olhos com tamanhos de pratos, enquanto olhava tudo à nossa volta. Ri da cara dele.

– É melhor ficar de boca fechada, ou vai entrar mosca.

– Desculpa, é que tudo isso é tão velho, mas parecem coisas tão novas.

– Bom, as pessoas cuidam bem das coisas para que elas continuem em bom estado. - Expliquei, olhando os objetos gregos e romanos.

– Ah, é. Me esqueci que você é um fanático.

– Não sou fanático. Só gosto de mitologia. E o Sr. Brunner diz que nós dois devemos saber sobre ela, que ela é muito importante nas nossas vidas. - Rebati, sorrindo gloriosamente.

– Fácil para você falar. Sabe tudo sobre mitologia. - Ele virou a cabeça, emburrado.

– Eu não sei tudo. - Disse, sorrindo de um jeito maroto, enquanto olhava o museu. - Só sei o essencial.

– Então, por que você é tão ruim quanto eu nas outras matérias?

– He, me pegou.

Como a carta do meu pai mandou, eu comecei a ler sobre mitologia grega em sites, livros, e muitas outras coisas, e, apesar da minha dislexia, eu consegui entender a maioria das palavras que estavam escritas.

Ele nos reuniu em volta de uma coluna de pedra com quatro metros de altura e uma grande esfinge no topo, e começou a explicar que aquilo era um marco tumular, uma estela, feita para uma menina mais ou menos da nossa idade. Contou-nos sobre as inscrições laterais. Eu não prestava muita atenção, pois já sabia muitas coisas sobre a mitologia grega. Eu estava com fones de ouvido, e para escondê-los, eu coloquei meu capuz, e seguia a todos pelo museu de velharias. Mesmo com os fones, eu ouvi Percy murmurar vez ou outra um "Cale a boca" bem irritado. Acho que por alguns alunos idiotas ficarem conversando durante a excursão. Mitologia era a única coisa que Percy não odiava como matéria.

Notei que a Sra. Dodds, outra professora que nos acompanhava, e o motivo da minha desgraça, olhava para Percy e a mim de cara feira.

A Sra. Dodds era uma professora de matemática irritante, velha e chata da Geórgia que sempre usava um casaco de couro preto, apesar de ter uns dois mil anos de idade. Parecia má o bastante para entrar em uma moto Harley bem dentro do seu armário, Percy havia me dito uma vez. Tinha chegado em Yancy no meio do ano (piorando ainda mais minha vida) quando nossa última professora de matemática teve um colapso nervoso (eu sei, é triste).

Desde o primeiro dia, a Sra. Dodds adorou Nancy Bobofit e concluiu que eu e Percy tínhamos sido gerados pelo diabo. Ela apontava para mim e Percy o dedo torto, nojento e horrivelmente enrugado e dizia: "Agora, queridos", com a maior doçura, que eu considerava nojenta, e eu e Percy sabíamos que íamos ficar detidos depois da aula por um mês.

Certa vez, depois que ela fez a mim e ao Percy apagarmos as respostas em antigos livros de exercícios de matemática até meia-noite, Percy disse a Grover que achava que a Sra. Dodds não era gente, o que eu concordei e comentei, dizendo que ela estava mais para um demônio. Ele olhou para nós, muito sério, e disse:

– Vocês estão certíssimos.

O Sr. Brunner continou falando sobre a arte funerária grega, e eu, como adorava coisas gregas, retirei os fones e agora prestava atenção absoluta às explicações.

Finalmente, Nancy Bobofit, abafando o riso, falou slgo sobre o sujeito pelado na estela. Eu ia dizer para ela calar a boca, mas Percy me impediu:

– Quer calar a boca?

Saiu mais alto do que eu esperava que saísse, e acho que ele também não esperava que saísse tão alto.

O grupo inteiro deu risada, enquanto eu apenas revirava os olhos. Idiotas. O Sr. Brunner interrompeu sua história.

– Sr. Jackson - disse ele -, fez algum comentário?

O rosto de Percy conseguiria ser comparado ao de um tomate. Ele disse:

– Não, Senhor.

O Sr. Brunner apontou para uma das figuras na estela.

– Talvez possa nos dizer o que esta figura representa.

Percy olhou para a imagem entalhada e pude ver grande alívio em seus olhos. Aparentemente reconheceu a estela.

– É Cronos comendo os filhos, certo?

Me surpreendi, pois Percy não era exatamente um expert em mitologia grega.

– Sim. - Disse o Sr. Brunner, claramente insatisfeito. - E ele fez isso porque...

– Bem... - Ele olhou para o teto, tentando se lembrar, mas não conseguia, então, tentando ajudar, falei antes que ele pudesse.

– O retardado, que era o Bam, Bam, Bam dos Titãs, havia recebido uma profecia que contava que, quando seus filhos fossem crescidos, tomariam o poder dele, e ele iria se ferrar com tudo. - Ouvi Percy suspirar de alívio. - Então, tomando o caminho da covardia, e agindo como um boiola, por não enfrentar seu destino, ele comeu filho por filho, que eram os deuses. E sem molho! Quem diabos come alguma coisa sem molho? - Aquilo atraiu risadinhas da turma. - Enfim, aquilo só fez com que a profecia se concretizasse, e o fez se ferrar em um desastre de proporções épicas, pois a esposa havia escondido Zeus e dado uma pedra para ele comer. Cabeça dura. - Aquilo tirou mais risadinhas do grupo, incluindo do Sr. Brunner. - E quando cresceu, Zeus enganou Cronos e o fez vomitar seus irmãos e irmãs.

– Eca. - Disse uma das meninas atrás de mim.

– De qualquer forma, assim, ocorreu a guerra entre os deuses e os titãs, e os deuses venceram. - Terminei, recebendo risadinhas do grupo. - Mas eu acho estranho isso, pois, apesar de serem deuses imortais e terem crescido na barriga de Cronos, imagino um deles dizendo: "Olhe, irmão caçula, eu ainda estou vivo e cheio de ácido do estômago. Vamos nos abraçar e comemorar."

Aquilo fez os garotos, inclusive o Sr. Brunner, rirem, e as garotas gemerem de nojo.

Atrás de mim, Nancy Bobofit murmurou para uma amiga:

– Como se fôssemos usar isso na vida real. Como se fossem falar nas nossas entrevistas de emprego: "Por favor explique por que Cronos comeu seus filhos."

– E por que, Sr. Jackson e Sr. Uzumaki... - Começou Sr. Brunner. - Parafraseando a excelente pergunta da Srta. Bobofit, isso importa na vida real?

– Se ferrou. - Murmurou Grover, e eu ri.

– Tome na cara. - Murmurei também, sorridente.

– Calem a boca. - Chiou Nancy, a cara ainda mais vermelha que seu cabelo.

Pelo menos Nancy também foi enquadrada. O Sr. Brunner era o único que a pegava dizendo algo de errado. Tinha ouvidos de radar, uma audição que parecia ser melhor até que a minha, que foi melhorada por ser parte demônio, e agora eu tinha uma audição melhor que a de um gato e um cachorro, juntos.

– Não sei, Senhor. - Percy respondeu, encolhendo os ombros.

– Bom, por mais que eu deteste, e por mais que Nancy seja burra, concordo com ela nesse assunto. A menos que fôssemos até a Grécia, não precisaríamos saber dessas coisas. - Disse, dando de ombros.

– Entendo. - Sr. Brunner pareceu desapontado. - Bem, meio ponto para cada um. Zeus, na verdade, deu a Cronos uma mistura de mostarda e vinho, o que o fez vomitar as outras cinco crianças, que, é claro - como disse o Sr. Uzumaki -, sendo deuses imortais, estavam vivendo e crescendo sem serem digeridas no estômago do titã. Os deuses derrotaram o pai deles, cortaram-no em pedaços com sua própria foice e espalharam os restos no Tártaro, a parte mais escura do Mundo Inferior.

– Nossa, que bela família. Ela é um exemplo a ser seguido. Queria uma família dessas. - Comentei, fazendo todos rirem ainda mais.

– E com esse alegre comentário - disse Sr. Brunner alegremente -, é hora do almoço. Sra. Dodds, quer nos levar de volta para fora?

A turma foi retirada, as meninas segurando a barriga, os garotos empurrando uns aos outros e agindo como bobões.

Percy, Grover e eu estávamos prestes a segui-los quando o Sr. Brunner disse:

– Sr. Jackson, Sr. Uzumaki.

Eu sabia o que vinha a seguir, e sentia que Percy também sabia.

Dissemos a Grover para ir andando. Então nos voltamos para o professor.

– Senhor? - Dissemos juntos.

O sr. Brunner tinha aquele olhar que não deixa a gente ir embora - olhos castanhos intensos que poderiam ter mil anos de idade e já ter visto de tudo.

– Vocês precisam aprender a responder à minha pergunta. - Disse ele.

– Sobre os titãs? - Percy perguntou.

– Sobre a vida real. E como seus estudos se aplicam a ela.

– Ah. - Dissemos juntos, embora eu tivesse a impressão de que aquela frase tinha um duplo sentido.

– O que vocês aprendem comigo, meninos - disse ele -, é de uma importância vital. De vocês, aceitarei apenas o melhor, Percy Jackson e Naruto Uzumaki.

Eu estava começando a ficar zangado, aquele cara ficava nos pressionando demais.

Quer dizer, claro, era legal em dias de torneio, quando ele vestia uma armadura romana, bradava "Olé!" e nos desafiava, ponta de espada contra giz, a correr para o quadro-negro e citar pelo nome cada pessoa grega ou romana que já viveu, o nome de sua mãe e deuses que cultuavam. Mas o Sr. Brunner esperava que eu e Percy fôssemos tão bons quanto todos os outros a despeito do fato de que temos dislexia e transtorno do déficit de atenção, e de que Percy nunca tirou uma nota acima de c-, e eu c. Não - ele não esperava que fôssemos tão bons quanto; ele esperava que fôssemos melhores. Está bem, eu podia aprender uma quantidade pequena, porém suficiente de nomes e fatos, mas não podia escrevê-los direito, e muito menos Percy, que nem mesmo sabia os nomes direito.

Murmuramos alguma coisa sobre nos esforçar mais, enquanto o Sr. Brunner lançava um olhar longo e triste para a estela. Será que ele esteve no funeral daquela menina? He, nem pensar.

Ele nos disse para sair e comer nossos lanches.

* * *

A turma se reuniu nos degraus da frente do museu, de onde podíamos assistir ao trânsito de pedestres pela Quinta Avenida.

Acima de nós, uma imensa tempestade estava se formando, com as nuvens mais escuras que eu já tinha visto sobre a cidade. Imaginei que talvez fosse o aquecimento global ou qualquer coisa assim, porque o tempo em todo o estado de Nova York estava esquisito desde o Natal, como dissera Percy. Tivemos nevascas pesadas, inundações, incêndios nas florestas causados por raios, um enorme número de incêndios sem explicações no estado. Eu não teria ficado surpreso se fosse um furacão chegando.

Ninguém mais pareceu notar, o que era muito estranho. Alguns dos garotos estavam jogando biscoitos para os pombos. Nancy Bobofit tentava afanar alguma coisa da bolsa de uma senhora e, é claro, a maldita Sra. Dodds não via nada.

Percy, Grover e eu nos sentamos na beirada do chafariz, longe dos outros. Percy pensava que, se fizéssemos isso, talvez ninguém descobrisse que éramos daquela escola - a escola para esquisitões lesados que não davam certo em nenhum outro lugar. Eu não me importava muito, mas iria aonde meu melhor amigo fosse.

– Detenção? - Peguntou Grover.

– Não. - Percy respondeu por mim. - Não do Brunner. Eu só gostaria que ele às vezes me desse um tempo. Quer dizer, não sou um gênio, diferente do Naruto.

Eu revirei os olhos naquilo. Percy sempre achava que eu era um gênio, mesmo sabendo que eu era o fracasso da Academia quando ainda fazia parte do mundo ninja.

Tentando levantar o humor, comentei:

– É como se ele soubesse algo que não soubéssemos. Será que nós somos filhos desses deuses gregos?

Nos entreolhamos, e desatamos a rir, embora a risada de Grover parecesse uma risada nervosa e forçada, como se eu tivesse acabado de descobrir como destruir o universo.

Depois de uns dois minutos, Grover não disse nada por algum tempo. Pensei que ele ia nos louvar com mais um de seus comentários filosóficos profundos para nos fazer sentir melhor, mas ele só disse:

– Posso comer sua maçã, Percy?

Percy entregou a maçã a ele.

Vi que Percy observava os táxis que passavam descendo pela Quinta Avenida. De repente percebi o que ele pensava.

– Pensando na sua mãe?

– Sim. - Respondeu Percy, cabisbaixo. - Não aguento pensar que ela está sendo molestada por aquele idiota do Gabe.

– Ei, relaxe, cara, se ela aguentou aquele idiota até agora, pode aguentar mais um tempinho, e além do mais, daqui umas semanas saímos desse buraco. Bom, pelo menos vocês... - Eu disse, pois eu não tinha lugar para ir. Não tinha casa, nem mãe, e nem pai, então acho que ficaria na Yancy.

– Não fica assim. Se quiser, pode ficar lá em casa. - Percy disse, sorrindo, enquanto colocava a mão no meu ombro.

Apenas sorri para ele, agradecido.

O Sr. Brunner estacionou a cadeira de rodas na base da rampa para deficientes. Comia aipo enquanto lia um romance. Um guarda-chuva vermelho estava enfiado nas costas da cadeira.

Eu estava prestes a destampar a caixa que continha meus rolinhos e meus bolinhos de arroz quando Nancy Bobofit apareceu diante de mim com as amigas feiosas - imagino que tivesse se cansado de roubar aos turistas - e deixou seu lanche, já comido pela metade, cair no colo de Grover.

– Oops. - Ela arreganhou um sorriso para Percy, com os dentes tortos. Nossa, Percy tem razão, as sardas de Nancy eram tão laranjas que parecia que tivessem pintado o rosto dela com Cheetos líquido.

Vi que Percy tentou ficar calmo, como eu. Eu tomava respirações pesadas tentando me controlar. O orientador da escola dissera a mim e a ele um milhão de vezes: "Contem até dez, controlem seus gênios." Mas eu sentia uma ira enorme. Não sei o que aconteceu, mas tudo ficou escuro.

Não me lembro de ter tocado em Nancy, mas quando voltei a mim Nancy estava sentada com o traseiro no chafariz, berrando:

– Percy e Naruto me empurraram!

A Sra. Dodds se materializou ao nosso lado.

Algumas das crianças estavam sussurrando:

– Você viu...

– ... A água...

– ... Parece que a agarrou...

– E a sombra...

– ... Parece que a empurrou...

Eu não fazia ideia do que elas estavam falando. Tudo o que sabia era que eu e Percy estávamos ferrados... Outra vez.

Assim que se certificou de que a pobrezinha da Nancy estava bem, prometendo dar-lhe uma blusa nova na loja de presentes do museu etc. e tal, a Sra. Dodds se voltou para nós. Havia um fogo triunfante em seus olhos, como se eu e Percy tivéssemos feito algo pelo qual ela esperara o semestre inteiro. Velha maluca...

– Agora, queridos...

– Sabemos. - Percy e eu resmungamos ao mesmo tempo. - Um mês apagando livros de exercícios.

Não foi a coisa certa para dizer.

– Venham comigo. - Disse a Sra. Dodds.

– Espere! - Guinchou Grover. - Fui eu. Eu a empurrei.

Percy e eu olhamos para ele perplexos. Não podia acreditar que estivesse tentando nos proteger. Ele morria (e quando digo morria, quero dizer morria mesmo) de medo da Sra. Dodds.

Ela lançou um olhar tão furioso que fez o queixo penugento dele tremer.

– Acho que não, Sr. Underwood. - Disse ela.

– Mas...

– Você... Vai... Ficar... Aqui.

Grover nos olhou desesperadamente.

– Tudo bem, cara. - Percy disse a ele. - Obrigado por tentar.

– É, cara. Você é o melhor. - Eu disse, piscando em um jeito de dizer que íamos ficar bem.

– Queridos. - Latiu a Sra. Dodds para nós. - Agora.

Nancy Bobofit deu um sorriso falso.

Lancei-lhe meu olhar de marca que dizia "você vai morrer, sua maldita". E ao ver que ela zombou, resolvi liberar um pouco do meu chakra da Kyuubi, e senti minhas garras e minhas presas crescerem, tinha certeza de que meus olhos estavam vermelho-sangues, e vi que ela tremeu de medo. Ótimo. Retirei o chakra e me virei para enfrentar a Sra. Dodds, mas ela não estava lá. Estava postada à entrada do museu, lá no alto dos degraus, gesticulando impaciente para nós.

Como ela chegou lá tão depressa?

Olhei Percy e vi que ele estava tão confuso quanto eu.

Tenho milhares de momentos desse tipo - meu cérebro adormece ou algo assim e, quando me dou conta, vejo que perdi alguma coisa, como se uma peça do quebra-cabeça desaparecesse e me deixasse olhando para o espaço vazio atrás dela, e Percy me disse que com ele acontecia a mesma coisa. Quando fomos conversar com o orientador da escola, ele nos disse que isso era parte do nosso déficit de atenção, era meu cérebro que interpretava tudo errado.

Eu não sei quanto ao Percy, mas eu não tinha tanta certeza.

Fui atrás da Sra. Dodds, sendo seguido por Percy.

No meio da escadaria, Percy e eu olhamos para Grover lá atrás. Ele parecia pálido, movendo os olhos entre mim e o Sr. Brunner, como se quisesse que o Sr. Brunner reparasse no que estava acontecendo, mas o professor estava absorto em seu romance.

Voltamos a olhar para cima. A Sra. Dodds desaparecera de novo. Estava agora dentro do edifício, no fim do hall de entrada.

Essa mulher é um saco.– Disse a Kyuubi na minha mente.

Concordo, pensei. Ela com certeza vai nos fazer comprar uma blusa nova para Nancy na loja de presentes.

Mas aparentemente não era esse o plano.

Nós a seguimos museu adentro. Quando finalmente a alcançamos, estávamos de volta à seção greco-romana.

A não ser por nós e a Sra. Dodds, a galeria estava vazia.

A Sra. Dodds estava postada de braços cruzados na frente de um grande friso de mármore com os deuses gregos. Ela fazia um ruído estranho com a garganta, como um rosnado, só que mais estranho do que o meu, quando entro no modo da Kyuubi.

Mesmo sem o ruído, eu teria ficado nervoso. Mesmo que eu tivesse Percy comigo, é esquisito estar sozinho com uma professora, especialmente a Sra. Dodds. Algo no modo como ela olhava o friso, como se quisesse pulverizá-lo... E o seu chakra... Era medonho e estranho...

– Vocês estão nos criando problemas, queridos. - Ela disse.

Percy e eu nos entreolhamos e concordamos com a cabeça. Dissemos:

– Sim, Senhora.

Ela ajeitou os punhos de seu casaco de couro.

– Vocês acharam mesmo que iam se safar desta?

A expressão em seus olhos era mais que furiosa. Era perversa.

Mas ela não pode fazer isso, pensei, nervoso. Ela não pode machucar os próprios alunos.

Percy disse:

– Nós... Nós vamos nos esforçar mais, Senhora.

Acenei em acordo.

Um trovão sacudiu o edifício.

– Nós não somos bobos, Percy Jackson e Naruto Uzumaki. - Disse a Sra. Dodds. - Seria apenas uma questão de tempo até que descobríssemos. Confessem, e vocês sentirão menos dor.

Eu não fazia ideia do que diabos ela estava falando.

Tudo o que pude pensar foi que os professores haviam descoberto que eu fazia os deveres de casa dos outros alunos, contanto que pagassem. Ter o kage bunshin no jutsu era bastante útil para aumentar os negócios. Ou talvez tivessem descoberto o estoque ilegal de doces que Percy vendia no seu dormitório. Ou que tivessem descoberto que eu e ele não fizemos o nosso trabalho em dupla sobre Tom Sawyer na Internet sem nem ter lido o livro, e agora iam retirar nossas notas. Ou pior... Iam nos obrigar a ler o livro!

– E então? - Exigiu.

– Senhora, nós não... - Percy tentou dizer.

– O seu tempo se esgotou. - Sibilou ela.

Então algo muito estranho aconteceu. Os olhos dela começaram a brilhar como carvão de churrasco. Os dedos se esticaram, transformando-se em garras. O casaco se fundiu em grandes asas de couro. Ela não era humana. Era uma bruxa má e enrugada, com asas e garras de morcego e com uma boca repleta de presas amareladas - e estava prestes a me fazer em pedaços. Eu sabia quem era, mas me esqueci do nome... Ah, quem era mesmo?

– Nossa, e eu achando que você não podia ficar mais feia! - Gritei, rindo como um louco.

Percy me olhou como se eu tivesse um parafuso a menos.

A Sra. Dodds, ou o que quer que fosse, rosnou e avançou na nossa direção, mas eu, por causa do meu déficit de atenção, decidi ser impulsivo e senti o chakra da Kyuubi me fortalecer, enquanto minhas unhas viravam garras e unhas viravam presas, e minha visão estava vermelha, então sabia que meus olhos estavam vermelhos, e tirei duas kunais dos bolsos que continham kanjis dentro, e joguei-as na direção dela, que se desviou e avançou mais furiosa e louca (se é que isso é possível).

Eu dei meu próprio rosnado animal para ela.

– Não vou permitir que encoste no meu amigo!

Eu a agarrei e a joguei para longe, e ela voou e se estatelou no chão. Gemi de dor. Nossa, foi um barulho tão horrendo que até eu senti dor.

– Grrrrrrrrrrrrrrr... - Rosnei, em frente ao Percy, como uma muralha. - Percy, esconda-se.

Se possível, as coisas ficaram mais estranhas do que já estavam, acredite se quiser.

O Sr. Brunner, que estava na frente do museu um minuto antes, foi com a cadeira de rodas até o vão da porta da galeria, segurando uma caneta e duas luvas-sem-dedos de couro preto. Uma delas continha um desenho de uma raposa que se parecia muito com a Kyuubi (até nas nove caudas), na palma, enquanto a outra tinha o desenho de um animal que parecia... O Kraken?

– Olá, meninos. - Gritou ele, e lançou a caneta e as luvas pelo ar.

A Sra. Dodds deu um bote para cima de nós.

Com um gemido agudo, Percy conseguiu se esquivar por pouco. Ele agarrou a caneta esferográfica no alto, mas quando ela atingiu sua mão já não era mais uma caneta. Era uma espada - a espada de bronze do Sr. Brunner, que ele sempre usava em dias de torneio.

A Sra. Dodds virou-se para mim com uma expressão assassina nos olhos.

Sem alternativa, dei um back-flip e agarrei as luvas-sem-dedos, mas quando as pus, estava segurando duas lindas lâminas - na minha mão direita estava uma espada com a empunhadura negra e na ponta tinha nove caudas de bronze que pareciam se balançar, e com uma lâmina vermelho-alaranjada, mas ao invés de ter uma ponta, ela tinha o formato da cabeça de uma raposa com as presas arreganhadas. O que havia na minha mão esquerda não era uma espada, e sim uma foice com uma empunhadura cinza que tinha uma ponta parecida com dez caudas se contorcendo, e uma lâmina negra-cinzenta, parecida com um machado, mas eu sabia que era uma foice, de alguma forma, e a ponta dela era igual a da primeira, mas ao invés da cabeça de uma raposa, tinha a cabeça do Kraken, gorda e terrível.

– Meu Kami.

GRAAAAAAAAHHHHHHHH!

Me virei para ver que a Sra. Dodds voava na nossa direção. Percy estava ao meu lado, de joelhos bambos, e quase deixara sua espada cair, mas ele conseguiu manter-se firme. Nós nos olhamos e acenamos, concordando um com o outro.

– Morram, queridos!

Preparamos nossas espadas, e desferimos três golpes. Percy no ombro, e eu desferi dois golpes, a foice na cintura, e a espada foi enfiada no peito, e as lâminas passaram direto por ela, como se ela fosse de água: Zaz!

A Sra. Dodds era um castelo de areia debaixo de um ventilador. Ela explodiu em areia amarela, reduziu-se a pó, sem deixar nada além do cheiro de enxofre, um grito estridente que foi sumindo e um calafrio de maldade no ar, como se aqueles olhos vermelhos incandescentes ainda estivessem me olhando.

Nós estávamos sozinhos.

Havia uma caneta esferográfica na mão de Percy. Duas luvas-sem-dedos estavam cobrindo meus pulsos, sem mais espada ou foice sendo empunhadas por mim.

O Sr. Brunner não estava lá. Não havia ninguém lá além de nós.

Vi que as mãos de Percy ainda estavam tremendo. Talvez tivéssemos imaginado tudo aquilo. Já temos dislexia, déficit de atenção e hiperatividade. Só faltava sermos esquizofrênicos. Ou isso, ou tínhamos comido lanche estragado.

Será que nós havíamos imaginado tudo aquilo? Mas como pudemos imaginar a mesma coisa?

– O que houve?

– Eu não sei, Percy, mas seja o que for, não é bom.

Voltamos para o lado de fora.

Tinha começado a chover.

Grover estava sentado junto ao chafariz com um mapa do museu formando uma tenda em cima de sua cabeça. Nancy Bobofit ainda estava lá, encharcada do banho no chafariz (o que me fez dar uma risadinha), resmungando para as amigas feiosas. Quando nos viu, disse:

– Espero que a Sra. Kerr tenha chicoteado seus traseiros.

– Quem? - Respondemos.

– Nossa professora. Dãã!

Nós piscamos. Não tínhamos nenhuma professora chamada Sra. Kerr. Perguntamos a Nancy de quem ela estava falando.

Ela simplesmente revirou os olhos e nos deu as costas.

Perguntamos a Grover onde estava a Sra. Dodds.

– Quem? - Respondeu ele.

Mas Grover primeiro fez uma pausa, e não olhou para nós, portanto, pensei que estivesse tirando uma com a nossa cara.

– Ah, você sabe, uma velha chata QUE TENTOU NOS MATAR! - Gritei baixinho a última parte.

– Não tem graça, cara. - Percy disse a ele. - Isso é sério.

Um trovão estourou no alto.

– Por que eu tenho a impressão de que entramos na Zona Crepúsculo? - Sussurrei para Percy, que acenou com a cabeça.

Percy e eu vimos o Sr. Brunner sentado embaixo do guarda-chuva vermelho, lendo seu livro, como se nunca tivesse se mexido.

Fomos até ele.

Ele ergueu os olhos, um pouco distraído.

– Ah, é a minha caneta e as minhas luvas da sorte. Por favor, traga seu próprio instrumento de escrita no futuro, Sr. Jackson. Sr. Uzumaki, obrigado por achar minhas luvas da sorte. E, por falar nisso, está se sentindo bem? Está com os olhos vermelhos.

E foi então que percebi que ainda estava com as feições da Kyuubi, então virei o rosto, enquanto voltava ao normal, e ao sentir o chakra completamente vazio, me virei novamente para o Sr. Brunner e sorri, agora completamente normal. Sorte a minha que meus riscos nas bochechas não ficaram mais espessos, como ocorre na maioria das vezes em que me transformo.

Percy entregou a ele a caneta, enquanto eu entregava as luvas. Não tinha notado que ainda as estava segurando.

– Senhor - Percy disse -, onde está a Sra. Dodds?

– Ele olhou para nós com a expressão vazia.

– Quem?

– A outra professora que nos acompanhava. A Sra. Dodds. Professora de iniciação à álgebra. O motivo da minha desgraça eterna. - Desta vez quem se pronunciou fora eu.

Ele franziu a testa e se inclinou para a frente, parecendo ligeiramente preocupado.

– Percy, Naruto, não há nenhuma Sra. Dodds nesta excursão. Até onde sei, nunca houve uma Sra. Dodds na Academia Yancy. Estão se sentindo bem?

Eu suspirei, irritado.

– É, entramos na Zona Crepúsculo.

Percy concordou, enquanto um confuso Sr. Brunner nos olhava preocupado.


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Notas finais do capítulo

E aí? Quem gostou, me envie um Review.